RPG é a sigla para “Role-Playing Game”, isto é, “jogo de interpretação de papéis”, em tradução livre. O gênero foi responsável por turbinar a indústria de games e é mais antigo do que todos nós imaginamos.
O mercado está em constante mutação e hoje, apesar de estar morno, o RPG marca um enorme nicho de jogadores e tem perfeitamente a capacidade de se renovar, pois a montanha-russa que essa indústria representa está dando vez à carnificina agora.
Se fizermos um panorama das fórmulas mais comuns adotadas atualmente, é possível classificar os RPGs em dois tipos: os americanos (vide Mass Effect, Dragon Age, Fallout 3, Skyrim etc.), em que há ação em tempo real, um elaborado sistema de diálogos e escolhas que podem definir o caráter e o rumo de seu personagem, e os RPGs japoneses – os ditos “J-RPGs” –, games que usam o ingrediente mais antigo do gênero: batalhas em turnos e outras características “orientais”.
O fato é que, para o gênero chegar aonde chegou e lapidar o mercado de games como ele é hoje, uma batelada de jogos de RPG foi necessária para “ensinar” a indústria e definir paradigmas. Nesse sentido, o primeiro PlayStation – ou PS1, PSOne, como preferir – foi uma peça importantíssima no processo.
Se o Super Nintendo foi o console a dar o pontapé inicial no gênero, o PS1 foi o video game que usou e abusou de suas possibilidades e definitivamente se consagrou como o reduto do RPG. Duvida? Então veja nossa seleção de clássicos e relembre os melhores games do gênero na década de 1990 para constatar por que o PS1 ficou conhecido como “o console do RPG”!
Xenogears
Squaresoft. Ao ler ou pronunciar “Square”, é inevitável que qualquer um de nós se lembre dos grandes RPGs do passado. E Xenogears certamente integra esse rol.
Lançado em 1998, o game combina as estruturas tradicionais do gênero com uma das marcas registradas da Square, o sistema “Active Time Battle”, em combates baseados em turnos e estilos de artes marciais bastante originais. Tudo isso regado a um belo enredo influenciado por correntes filosóficas de Sigmund Freud e Friedrich Nietzsche.
Xenogears foi bem aceito pela crítica e conquistou os jogadores, tendo alcançado notas entre 80-100 nos principais veículos especializados da época.
Chrono Cross
Um dos RPGs mais queridos entre os fãs, Chrono Cross, lançado em 1999, é uma extensão do universo de Chrono Trigger, lançado em 1995 para o SNES.
Chrono Cross foi desenvolvido por alguns programadores que participaram de Trigger, incluindo o famoso diretor de arte Yasuyuki Honne e o planejador de som Minoru Akao. Acho que nem é preciso dizer o quão lindas são as trilhas sonoras desses dois jogos, não é mesmo?
A história de Chrono Cross segue a interessante temática de mundos paralelos e realidades alternativas. O game traz um sistema de combos que permite ao jogador escolher entre três níveis de ataque e juntá-los de forma a produzir um conjunto de golpes efetivos.
O jogo teve ampla aceitação mundial e arrancou a raríssima nota máxima do site Gamespot, ficando entre 90-100 em outras análises.
Alundra
Um clássico! Alundra foi um dos primeiros RPGs a serem lançados para o PS1 em 1997 e muito aclamado pela crítica e pelos jogadores.
Com sprites em 2D bem trabalhados e mecânicas de combate eficientes, o game conta a história do personagem Alundra, que descobre, logo no início do enredo, que consegue entrar no sonho das pessoas.
Os personagens carismáticos são um destaque à parte, e os puzzles, dificílimos e muito criativos, deixaram os jogadores de cabelo em pé.
Final Fantasy VII
Bem, talvez um dos títulos mais importantes elencados nesta seleção (quem sabe o mais importante), FF VII dispensa comentários.
Lançado em 1997, o jogo foi o primeiro da série a utilizar gráficos 3D, apresentando personagens em belas paisagens pré-renderizadas. A produção do game começou em 1994, e ele foi originalmente planejado para o SNES. Contudo, como os cartuchos do console da Nintendo não tinham memória suficiente, a Square decidiu lançar FF VII no PS1.
A tela de batalha é uma representação em 3D de uma determinada área, como o interior de um edifício, um campo, um trem etc. A fórmula é tradicional: estratégia baseada em turnos e muita customização. As andanças contam com vários minigames e enigmas ao longo do percurso. Ao desvendá-los, o jogador é premiado com os melhores itens.
A história de Cloud Strife junto aos outros personagens é digna de cinema (ou mais que isso). E ah, não podemos deixar de mencionar a épica trilha sonora composta por Nobuo Uematsu, veterano da série e jogador declarado de todos os games da franquia.
As menções honrosas ficam por conta de Final Fantasy VIII e IX, belíssimos games que são os favoritos de muitos jogadores, mas que, por uma convenção do mercado, vivem à sombra de Final Fantasy VII. Final Fantasy Tactics segue outro estilo, mas também é um dos jogos mais memoráveis do console da Sony!
Parasite Eve
Parasite Eve inovou ao combinar dois conceitos de forma muito eficiente: RPG e terror. Ele é quase que uma mistura do survival horror de Resident Evil com os ingredientes de RPG de Final Fantasy.
Também desenvolvido pela Square, Parasite Eve conta a história de Aya Brea, uma jovem agente policial novata que acaba descobrindo verdades sobre o seu passado após um trágico incidente num teatro de Nova York.
O gameplay permite que exista uma mobilidade que era pouco comum em RPGs tradicionais de sua época. O sistema de mira e os combates dinâmicos trouxeram outro ar ao jogo e entregaram uma experiência muito gratificante e bem recebida por crítica e jogadores.
Parasite Eve 2, sua sequência direta, focou mais na ação do que no RPG e, por isso, perdeu um pouco do fiel nicho da franquia, ainda que tenha resguardado o charme original da série. Nós do BJ sinceramente esperamos que ela ressurja algum dia.
Vagrant Story
Um dos poucos jogos a arrancar a cobiçada nota 40/40 da exigente Famitsu, Vagrant Story é mais um RPG da Square que foi lançado apenas em 2000, no final do ciclo do PS1.
O game mistura RPG com elementos de ação e aventura ao disponibilizar customização de armas e armaduras, mecânicas de puzzle, estratégia e combates dinâmicos. Os personagens e ambientes em 3D dão o tempero necessário para envolver o jogador.
Por ser um jogo de final de geração, Vagrant Story testa praticamente todo o potencial do hardware do PS1 ao trazer belas texturas e artwork em estilo cartunesco com cenários medievais de muito bom gosto. A arquitetura impressionante é acompanhada por cenas cinematográficas inspiradas em Metal Gear Solid, ou seja, elas se desenvolvem ao longo da história e exploram a psique dos personagens.
Legend of Mana
Lançado em 1999 e pertencente à série “Mana” (alguém aí se lembra também de Secret of Mana?), Legend of Mana possibilita a escolha de um personagem masculino ou feminino para cumprir missões feitas em mapas específicos.
O game oferece a oportunidade de duas pessoas jogarem cooperativamente em alguns momentos e um modo ativo de batalha, em que o jogador pode executar uma ação a qualquer momento, diferentemente de outros jogos de estratégia de batalha dos RPGs tradicionais.
A trilha sonora, composta por Yoko Shimomura (que já trabalhou em Final Fantasy), é um deleite à parte e traz canções memoráveis.
Star Ocean: The Second Story
Segundo jogo da série Star Ocean, o game, lançado em 1998, dá ao jogador a opção de jogar como Rena ou Claude, com uma jornada que pode sofrer mudanças e terminar de diferentes maneiras dependendo das escolhas feitas.
A jogabilidade é semelhante à da maioria dos RPGs: o jogador vai de cidade em cidade e calabouço em calabouço para coletar itens, enfrentar inimigos num sistema tradicional e eventualmente se ramificar em missões secundárias.
O destaque fica por conta das batalhas épicas, por vezes demoradas, e dos personagens carismáticos inseridos num enredo que explora outros planetas em conspirações intergalácticas.
Lunar: Silver Star Story Complete
Lunar: Silver Star Story Complete é um remake de Lunar: The Silver Star, de 1992. O game foi inicialmente lançado para o extinto Sega Saturn e depois portado para o PS1, versão que recebeu sutis melhorias em texturas e cenários.
Com um simpático enredo que conta a história de Alex, um jovem de uma cidadezinha que sai para o mundo em busca de parceiros, o game é um RPG de visão aérea que remete a Final Fantasy: Tactics, Disgaea e outros que seguem esse estilo.
Lunar: Silver Star Story Complete teve recepção calorosa do público e da crítica, com várias sequências lançadas nos anos seguintes.
Grandia
Outro game que foi lançado primeiramente para o Sega Saturn e depois portado para o PS1 em 1999, Grandia é um RPG da Game Arts que ficou em produção por mais de três anos. Por ser um projeto ambicioso, o game foi colocado ao lado de Final Fantasy VII, Chrono Cross e outros blockbusters da época.
A jogabilidade é um ponto forte de Grandia: o personagem interage com vários objetos nas cidades e calabouços, e as batalhas não são geradas aleatoriamente. O jogador tem a opção de escolher se quer lutar ou não, uma vez que todos os inimigos ficam visíveis no mapa. Essa característica foi adotada também em outros RPGs da época.
Com oito personagens jogáveis e uma enorme gama de habilidades e magias, Grandia se consagrou por apresentar todas as mecânicas de um tradicional RPG da melhor forma possível. Seu longo período de desenvolvimento correspondeu às expectativas.
Valkyrie Profile
Inspirado em elementos da mitologia nórdica, Valkyrie Profile, lançado em 1999, trouxe um grande enredo e belos figurinos dos personagens.
Com um sistema de batalhas mais dinâmico e gráficos acima da média, o game da Square foi sucesso de crítica e de público e ganhou várias sequências nas plataformas da Sony nos anos seguintes ao lançamento.
Há também uma versão para Nintendo DS chamada Valkyrie Profile Covenant of the Plume, lançada em 2009, que segue a mesma fórmula dos antecessores.
É muito RPG para um console só!
Fizemos questão de não enumerar os jogos supracitados, tamanho é o acervo de RPGs que existem para o PS1. Há ainda Breath of Fire III e IV, The Legend of Dragoon, Dragon Valor, Dragon Quest VII… Não faltam títulos do gênero ao console.
E você, se lembra de algum RPG do saudoso PS1 não citado aqui?