O efeito mais duradouro que DayZ provocou em mim foi a vontade de que meu personagem finalmente sucumbisse à sede e morresse. Graças a um entre os vários bugs presentes na versão Alpha do título, me vi preso dentro do subsolo ligeiramente transparente de uma casa sem a opção de sair de minha armadilha involuntária.
Como o jogo impede que você crie outro personagem enquanto aquele que você controla está vivo, me vi forçado a pedir para que outros jogadores acabassem com minha vida. Somente assim é que finalmente consegui explorar o cenário deste game que nasceu como um mod e agora ganha vida própria como um produto individual.
Atualmente, DayZ passa por sua fase de testes Alpha, o que não quer dizer que você já não possa pagar o preço de um título completo para experimentá-lo. Graças ao sistema “Early Acces” do Steam, é possível atuar ativamente no processo de desenvolvimento do game — o que significa tanto a possibilidade de aprender como sobreviver antes de outras pessoas quanto ter que lidar com diversos problemas de código que só devem ser corrigidos no futuro.
Um mundo solitário
Ao iniciar DayZ, você é jogado em um canto aleatório de um mapa (geralmente próximo a uma cidade) com uma única missão: sobreviver. Como você não conta com nada além de uma lanterna e algumas vestimentas simples, o primeiro passo para concretizar essa tarefa é vasculhar as casas ao redor em busca de algum objeto que possa servir como arma: o que pode ser tanto um machado quanto uma simples chave-inglesa.
Também é uma boa ideia estocar itens comestíveis e água, já que a manutenção de seu personagem exige o consumo frequente de alimentos. Além disso, aproveite para procurar itens de vestimenta, pois isso pode ajudá-lo a tornar mais resistente aos elementos da natureza e providenciar proteção contra ameaças ambientais.
Mesmo sendo simples, esse processo se mostra bastante tenso graças à ameaça constante de que um zumbi possa surgir a qualquer momento para atacá-lo: algo que, na prática, não acontece com tanta frequência quanto se poderia esperar. A ameaça constante das criaturas, somada ao fato de que as casas abandonadas geralmente estão vazias, faz com que o jogador se sinta tenso, já que tudo parece conspirar para que ele morra em algum momento — sensação que, infelizmente, diminui em questão de pouco tempo.
O grande problema da versão inicial de DayZ é o fato de que ela está praticamente vazia, mesmo nos servidores em que há uma quantidade respeitável de jogadores. Isso se deve principalmente ao fato de o jogo apostar em um mapa gigantesco que peca pela falta de NPCs e itens: em um apocalipse zumbi, é difícil aceitar que somente meia dúzia de monstros povoa os cenários.
No entanto, o que mais faz falta é a presença de itens, especialmente aqueles responsáveis por saciar a sede e a fome de seu personagem. Embora seja compreensível a falta de suprimentos durante uma situação do tipo, os desenvolvedores do título parecem levar isso a um grau extremo que prejudica a diversão proporcionada pelo jogo — poucas coisas são mais frustrantes do que passar horas andando somente para ver seu personagem morrer desidratado porque nenhum dos ambientes explorados possuía sequer um pouco de água.
Humanos: a verdadeira ameaça
Embora os zumbis de DayZ não devam ser tratados com desdém, eles não podem ser considerados a verdadeira ameaça do jogo. Como em todo bom apocalipse zumbi, é na hora de lidar com humanos (representados por outros jogadores) que você realmente deve se preocupar.
Já que todos estão lutando pelo mesmo objetivo e precisam compartilhar dos mesmos recursos, não raras vezes ser avistado por outra pessoa significa que você vai morrer — ou ser assaltado. Claro, também é possível simplesmente se deparar com pessoas que não querem nenhuma confusão e só pretendem seguir seus caminhos sem problemas, mas essas devem ser tratadas como uma exceção desse universo decadente.
Dessa forma, não é difícil se ver montando estratégias para tentar sobreviver que envolvem desde o afastamento completo de outras pessoas até o acesso a servidores menos movimentados para pegar suprimentos. Como o jogo mantém as informações de seu personagem inalteradas independente de onde você estiver jogando, muitas vezes é melhor entrar em um mundo vazio para conseguir armamentos antes de se aventurar em um espaço habitado por outras pessoas.
Claro, também é possível seguir o caminho de produções como The Walking Dead e os filmes de George A. Romero e montar seu próprio grupo de sobreviventes para enfrentar os perigos de DayZ. No entanto, fique atento ao fato de que isso também acompanha um clima de tensão constante e não é difícil ver alguém considerado um amigo se voltar contra você caso os suprimentos disponíveis estejam atingindo níveis muito baixos.
Já no estágio inicial de desenvolvimento, não é incomum se deparar com histórias de jogadores que foram algemados e forçados a comer comida estragada, simplesmente para o deleite de seus captores. Da mesma forma, também já surgiram na internet contos de atos de caridade surpreendentes, nos quais uma morte iminente foi evitada por um bom samaritano — mais do que meros relatos de terceiros, essas são situações pelas quais você mesmo pode passar a qualquer momento.
Incompleto, mas ainda assim atraente
Embora a compra da versão atual de DayZ não seja recomendada para quem gosta de jogos já completados, é impossível não se deixar afetar pelo charme único que o título já apresenta. Grande parte disso se deve ao fato de que as mecânicas criadas pela Bohemian Interactive realmente fazem você se sentir parte de um mundo vivo — mesmo que tudo o que seja possível conferir até o momento seja o esqueleto sobre o qual uma experiência mais rica deve ser construída.
Listar o que falta ao título é tarefa fácil: carros, maior seleção de equipamentos, ambientes mais variados e uma interface mais convidativa são somente alguns dos pontos. No entanto, mesmo sem esses elementos, o game consegue atrair simplesmente pelas possibilidades que promete oferecer futuramente, mesmo que ainda não seja possível saber com certeza quando elas se tornarão realidade.
Com mais de 870 mil cópias vendidas até o momento, a Bohemian Interactive tem em mãos a oportunidade de construir um game capaz de entregar exatamente aquilo que seus consumidores desejam. O fato de o título ainda estar em estágio inicial de desenvolvimento permite que o estúdio incorpore ideias e adicione elementos conforme a demanda por eles surge, sem ter que se preocupar necessariamente em mexer em estruturas já pré-estabelecidas.
Caso alguém me perguntasse se vale a pena investir os quase R$ 80 necessários para participar da fase de testes de DayZ, sugeriria que é melhor guardar esse dinheiro no momento. No entanto, também afirmo que vale a pena ficar de olho no processo de evolução do jogo, já que, pelo pouco que ele mostra até o momento, não será nenhuma surpresa se a sua versão final se tornar um verdadeiro fenômeno de vendas e de público — basta que os desenvolvedores sigam a fundo a filosofia de que “se bem feito, pode dar certo”.