De acordo com o Guinness World Records, o primeiro modelo do Kinect vendeu 8 milhões de unidades em apenas dois meses de prateleiras. Essa quantia fica ainda mais impressionantes quando se considera que foram mais de 133 mil unidades vendidas diariamente — relegando a uma segunda posição distante mesmo o lustroso iPad, da Apple (foram 2 milhões de unidades no mesmo período).
Mas há também outro valor que normalmente não é mencionado, embora seja também digno de nota. Pouco tempo após o primeiro rompante de vendas, a primeira versão do aparato sensível a movimentos da Microsoft já contava 10 milhões de unidades vendidas, contando também com 10 milhões de jogos vendidos para o periférico.
Parece muito? Depende de como se vê a coisa. Considerando-se a relação plataforma/jogos, apreende-se daí que, em média, cada dono do primeiro Kinect comprou apenas um único jogo — fazendo supor, com alguma razão, que há realmente boas cabeças no setor marqueteiro da Microsoft, as quais, aparentemente, poderiam até vender areia no Saara.
De resto, a história já foi contada: inovação, questões relacionadas ao público hardcore, certa falta de precisão etc. Mas os tempos são outros, certo? Diferentemente da sua primeira aparição, o segundo Kinect surgiu com uma série de melhorias, as quais vão desde uma diminuição considerável da latência até a possibilidade de leitura de batimentos cardíacos em programas de exercícios.
Talvez não seja arriscado dizer que, também nos demais fronts — Nintendo e Sony —, prevaleceu durante geração anterior certo período de experimentação tecnológica, relegando as proposta de jogos mais parrudas ou a promessas... Ou à atual geração 2.0 dos controles sensíveis a movimentos. E isso tanto com a nova PlayStation Camera quanto, à sua maneira, com o controle/tablet do Wii U.
Propostas 2.0
Embora nem o Kinect e nem a nova PS Eye tenham mostrado até o momento todo o seu prometido poder de fogo na forma de títulos — desconsiderando-se piadas de mau gosto como a de Fighter Within, vale dizer —, o potencial atual dos aparatos de captura de movimentos certamente permite algumas ideias do que, enfim, seria possível conquistar com tecnologias mais fieis às propagandas das empresas.
E, bem, embora nós provavelmente ainda estejamos um pouco longe da precisão mostrada em filmes como Minority Report, com certeza é possível imaginar alguns títulos ou propostas que casariam muito bem com as novas versões dos periféricos. Na verdade, um bom começo poderia passar pelas materializações do que foi prometido e alardeado lá pelos idos de 2010.
Será que agora vai?
Diferentemente do que ocorreu com o PlayStation 3 e o Xbox 360, tanto a Sony quanto a Microsoft tem tratado agora as tecnologias de captura de movimentos não como uma perfumaria curiosa, mas sim como elementos essenciais ao que deve ser a pedra fundamental dos consoles atuais: uma interação mais intuitiva.
“Como um designer de jogos, acaba sendo bem pouco natural mapear [movimentos reais] em um controle não parece algo natural”, disse Phil Spencer, da Microsoft, por ocasião da apresentação do Kinect que acompanha o Xbox One.
“Se eu simplesmente quero que minhas tropas se reúnam ao meu redor e me sigam, é muito mais fácil dizer ‘Comigo’ do que tentar descobrir se é preciso um comando para a direita ou para a esquerda no direcional.” Ok, a coisa poderia mesmo começar por aí.
- Command & Conquer
Aproveitando a oportunidade, por que não começar uma lista do que ficaria bem nos atuais controles sensíveis a movimentos justamente pelos games de estratégia? De fato, não seria demais imaginar uma jogabilidade inteiramente independente de controles convencionais.
Talvez o tradicional Command & Conquer servisse bem à transição, colocando-o para selecionar unidades com mão direita, deslocar o mapa com a esquerda e, por fim, dar ordens gritando em alto e bom tom para o seu Xbox One ou PlayStation 4. Isso provavelmente ainda conferiria um “ardor” extra às batalhas em ambiente online.
Naturalmente, o mesmo poderia funcionar com praticamente qualquer outro bom título de estratégia — o que ainda ajudaria a reverter o senso-comum relativo à dificuldade de se encontrar bons títulos do gênero para consoles.
- Fight Night
Sim, é verdade que Fighter Within deixou um gosto bem ruim na língua — fazendo supor se, afinal, não é melhor deixar os hadoukens e shoryukens a cargo do bom e velho gamepad. Entretanto, não convém condenar todo um potencial por conta de um único título ruim, certo?
Além disso, dado o bom histórico dos controles de captura de movimento com esportes, parece razoável acreditar que um título de luta de limites mais estritos, como Fight Night, poderia garantir algumas boas horas de exercício e diversão — considerando-se que você não acabe disparando um jab em um vaso ou um uppercut no lustre da sala, naturalmente.
E, bem, caso semelhante precisão ainda seja um sonho distante, sempre é possível apostar em uma jogabilidade híbrida. De fato, bons jogos têm ensaiado mecânicas que se utilizam, simultaneamente, de movimentos corporais e pressionamento de botões. Mesmo assim... A ideia de disparar um shoryuken pulando, berrando e (eventualmente) acertando o teto é bastante atraente, hein?
- Madden
Embora o aqui chamado de “futebol americano” não conte ainda com muitos seguidores nestas bandas, vale lembrar que, lá fora, Madden é uma das principais franquias responsáveis por manter os cofres da Electronic Arts devidamente cheios.
Dessa foram, parece razoável supor que uma boa prova do potencial alardeado sobre as novas gerações — tanto do Kinect quanto da PlayStation Eye — poderia vir de um Madden inteira ou parcialmente controlado pelos sensores de movimentos.
Além de precisar se deslocar rapidamente para pegar um passe de várias jardas, você ainda poderia transmitir mensagens aos demais jogadores por meio da captura de voz. Seria indispensável, é claro, que o dispositivo em questão fosse capaz de reconhecer aqueles números todos berrados antes de colocar a bola em jogo! Ainda haveria a possibilidade de bater recordes em número de mobílias quebradas.
- NBA 2K
Sim, você já “jogou” basquete lá em Kinect Sports 2. Mas aquele não deve ser o limite, certo? Afinal, por que não pensar mais longe, imaginando como seria encontrar, digamos, o Kinect 2.0 em completa integração com uma franquia do naipe de NBA 2K?
Ok, ainda restaria o desafio de tentar um “swish” ou uma enterrada quando — convenhamos — não há nenhuma bola real nas mãos. Talvez fosse o caso para uma jogabilidade híbrida, quem sabe? De qualquer forma, a área de cobertura bem maior do novo Kinect pareceria perfeita para capturar todas as nuances do movimento corporal associado ao esporte.
- Rock Band (ou Guitar Hero)
Tenho que confessar: sempre me senti meio besta chutando, arremessando e rebatendo as bolinhas imaginárias de Kinect Sports. Entretanto, por algum motivo, jamais tive qualquer problema em tocar inúmeros instrumentos musicais confeccionados em puro ar atmosférico — air guitar, air drums, air sax, air oboé etc.
E, bem, talvez eu não seja o único. Dessa forma, que tal um Rock Band ou Guitar Hero que agregasse à clássica experiência do air guitar pontuações, modos campanha, multiplayer e demais características? Isso provavelmente seria coisa para o novo Kinect — que, diferentemente do primeiro, não confunde mais os seus dedos com a superfície de uma frigideira.
- Splatterhouse
Splatterhouse deve ser o jogo perfeito para o final de um dia particularmente estressante. Já na época dos Arcades e do Mega Drive era incrivelmente prazeroso rodopiar aquele taco de baseball, fazendo espatifar contra a parede todo tipo de monstruosidade cheia de fluidos — cuja morte, mesmo que virtual, não chocava tanto a moral e os bons costumes, é claro.
Bem, mas enquanto a ilha do Dr. Moreau permanecer perdida, infelizmente será impossível pegar um taco real e sair espatifando criaturas nefastas... De forma que tanto o Kinect quanto o PlayStaton Move poderiam proporcionar uma bela terapia anti-stress, permitindo girar armas variadas no ar e descarregar combos variados. Além disso, seria uma oportunidade para redimir o velho Rick da falha genética de 2010...
- Dragon Ball (e Cavaleiros do Zodíaco?)
É isso aí, encha os pulmões de ar e mande ver em um sonoro “Kaaameeeehaaameeehaaaaaa!” Na verdade, seria difícil encontrar uma utilidade mais nobre para as funções de reconhecimento de voz, não? Juntamente com o grito, você ainda teria de desempenhar todos aqueles movimentos potencialmente constrangedores... O que seria ótimo! (Sim, nós resolvemos ignorar a última tentativa para o Xbox 360).
A mesma proposta também poderia reconciliar os Cavaleiros do Zodíaco com os games. Naturalmente, nesse caso, deveria haver uma tradução para o português — incluindo as adaptações um tanto “atravessadas” dos nomes dos golpes feitas pela saudosa Gota Mágica.
Pegando rabeira na realidade virtual
Embora, por si só, a tecnologia de captura de movimentos já encerre um belo potencial para jogos — desde que exista um mínimo de precisão —, é interessante imaginar o tipo de fruto que poderia surgir de um possível casamento com outra proposta que tem atraído os holofotes atualmente: a realidade virtual.
Embora tentativas relacionadas já andem por aí desde a época do Mega Drive (sim, é verdade), fato é que projetos como o Oculus Rift e Morpheus finalmente trouxeram a distopia de “O Passageiro do Futuro” um pouco mais para perto — sem, necessariamente, incluir um jardineiro homicida na bagagem.
E o potencial aqui parece ser enorme. Afinal, além de se ver rodeado por todos os lados por um universo alternativo em alta definição, você ainda poderia se movimentar e até mesmo enxergar partes do corpo na forma de milhares de polígonos virtuais — talvez com uma armadura ou simplesmente com um bíceps completamente irreal.
Enfim, considerando-se que as novas versões do Kinect e do PlayStation Eye possam mesmo cumprir tudo o que foi prometido, o resultado pode mesmo ser uma imersão sem precedentes. Nesse caso, o céu deve ser o limite — pelo menos até o momento em que o Morpheus e o PlayStation Move possam conduzir o bom e velho Kratos para mais um massacre de divindades.
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