Devo admitir uma coisa: eu gosto de ver meus jogos favoritos sendo adaptados nos cinemas. É um sentimento quase masoquista, eu sei, mas sempre me divirto com o resultado final. Não que eu ache esses filmes bons — longe disso! —, mas acompanhar as novidades de produção, ver o desastre se montando, reclamar durante todo o processo e acabar com um sonoro “Eu já sabia” é um daqueles pequenos prazeres da vida que você aprende a apreciar com o tempo.
Só que, por mais amargo que seja o gosto da derrota que nos sobe à boca sempre que vemos um game nas telonas, a verdade é que aqueles que conseguem chegar às salas de cinema são, na verdade, vencedores. Você já deve ter reparado que chega a ser bem comum ver uma franquia ser licenciada aos grandes estúdios de Hollywood, mas que nem todos os projetos saem do papel.
E são esses filmes problemáticos os mais divertidos de acompanhar. Trocas de diretor, roteiros sendo reescritos, conflitos criativos, dedo de produtora e mais uma dezenas de outros fatores fazem com que algumas adaptações nunca cheguem de verdade à Nona Arte. Se você já cansou de levar tapa na cara com decepções cinematográficas, torcer para que o filme morra na praia é o alento que nos resta. E não são poucas as obras que acabam nessa situação.
A novela Uncharted
O recente anúncio de que The Last of Us vai virar filme deixou muita gente animada, mas meu espírito pessimista puxou o freio de mão, me deu um tapa e esfregou a já lendária adaptação de Uncharted na minha cara que eu lembrasse que é preciso segurar um pouco entusiasmo.
Quando a Sony disse que veríamos Nathan Drake nas telas do cinema, todo mundo ficou feliz. As histórias do personagem traziam um clima aventuresco que não víamos desde Indiana Jones e que funcionaria muito bem com o público atual. É uma fórmula simples e divertida, mas que deu tanto problema que muita gente já perdeu as esperanças de vê-la se tornar realidade.
O mais curioso é que Uncharted já esteve, de certo modo, em um processo bem avançado de produção, tendo inclusive seu astro. O ator Mark Wahlberg havia sido escolhido para protagonizar o longa e rumores apontavam que Scarlett Johansson e Amy Adams disputavam o papel de Elena.
O problema é que tivemos uma enorme dança das cadeiras que reformulou a equipe criativa e a coisa toda começou a desandar. O roteiro — que colocava Drake como membro de uma família de ladrões de antiguidades — também passou uma diversas reescritas e o futuro ficou cada vez mais incerto.
Atualmente, o longa continua em fase de pré-produção e a Sony Pictures contratou Seth Gordon para assumir a direção. A promessa é que as gravações comecem até o fim deste ano, mas nunca se sabe o que pode acontecer até lá.
Halo: quando um não quer, dois não filmam
Se Hollywood já adaptou até mesmo Batalha Naval, por que ela continua a ignorar uma das maiores franquias da atualidade? A verdade é que não foram poucas as tentativas de levar Halo para o cinema, mas eles nunca deram muito certo.
E um dos principais empecilhos para isso era a própria Microsoft, cujas exigências para a liberação dos direitos assustavam todos os estúdios interessados. Foi em 2005 que, depois de muita luta, a Fox e a Universal chegaram a um acordo com a companhia e deram início ao que seria a transposição da saga de Master Chief para as telonas.
O projeto tinha tudo para ser bem grandioso. Peter Jackson, de “O Senhor dos Anéis”, havia sido nomeado produtor executivo e o diretor Neil Blomkamp ficou com a responsabilidade de dirigir o longa.
Só que problemas internos atacaram mais uma vez e Blomkamp desistiu de sua participação. Segundo ele, este seria seu primeiro grande trabalho e ele queria ter a liberdade de fazê-lo do seu jeito, algo que uma adaptação não permitira. O curioso é que ele usou alguns dos conceitos imaginados em Halo em “Distrito 9”.
E como as desgraças nunca vêm desacompanhadas, a desistência do diretor foi apenas o primeiro golpe ao maior voo de Master Chief. Após essa saída, o roteiro foi reescrito, a produção foi paralisada algumas vezes e os estúdios logo ligaram a luz de emergência. Diante disso, não demorou para que os direitos da série retornassem à Microsoft.
É claro que isso não enterrou os planos de expandir o universo da saga. Steven Spielberg demonstrou interesse em assumir o projeto e, mais tarde, foi apresentado como um dos responsáveis por fazer com que a franquia se transforme em uma websérie exclusiva do Xbox One.
Para consolar os fãs, Halo ganhou uma série em live-action batizada de Forward Unto Dawn que serve mais para expandir o universo do que para adaptá-lo.
Alguém se lembra de Bioshock?
Quando o primeiro BioShock chegou aos consoles, todo mundo enlouqueceu. O clima, a trama e a tensão criados pelo pessoal da Irrational logo empolgou dos grandes estúdios de cinema. Afinal, pense no potencial existente em trazer Rapture para a grande tela.
A Universal comprou a ideia, anunciando o projeto em 2008. Segundo a produtora, a estreia mundial deveria acontecer em 2010 e o filme usaria uma tecnologia semelhante à usada em “300” para recriar os cenários da cidade submarina. O problema é que isso envolve muito dinheiro e isso acabou gerando uma série de complicações.
O diretor escolhido para dar vida a esta história foi Gore Vebinski, de “Piratas do Caribe”. No entanto, a redução no orçamento de US$ 200 milhões para apenas US$ 80 milhões não foi bem aceita, uma vez que o custo de produção certamente iria exigir bem mais que isso, o que exigiria adaptações criativas com as quais Vebinski não estava disposto a lidar. Assim, ele largou o cargo.
Outro ponto de conflito que dificultou a adaptação de BioShock foi a classificação indicativa. Tanto Vebinski quanto seu sucessor, Juan Carlos Fresnadillo, haviam imaginado um filme para maiores de 17 anos, o que não agradou a Universal. Afinal, um público mais adulto significa uma audiência mais restrita e, consequentemente, mais limitada.
Diante disso tudo, Ken Levine decidiu jogar tudo para cima e cancelar toda e qualquer tentativa de fazer um longa-metragem em Rapture. Com o fechamento da Irrational, é possível que a 2K decida ressuscitar o conceito e insistir mais uma vez. Ou não.
Metal Gear e Mass Effect: dois pelo preço de um
A dupla Metal Gear e Mass Effect também recebeu promessas de aparecer no cinema. No entanto, com exceção do anúncio, nada mais se falou sobre as duas adaptações.
A razão para isso é justificável. Quando oficializou a existência dos projetos, o produtor Avi Arad deixou bem claro que teríamos de esperar um bom tempo para que pudéssemos ver essas obras na grande tela. No caso de Metal Gear, por exemplo, o período de produção deve começar daqui a três anos, uma vez que ainda é preciso chegar a algumas conclusões com o próprio Hideo Kojima.
Com Mass Effect, a situação é ainda mais delicada. De acordo com Arad, a missão espacial de Shepard pode levar entre cinco e seis anos para ficar pronta. Isso significa que ainda teremos de esperar um bom tempo até que tenhamos alguma informação realmente relevante sobre ela.
God of War — ou quando nos esquecemos dos deuses
A ida de Kratos nunca chegou a ser anunciada oficialmente pela Sony ou qualquer outro estúdio, mas os rumores sobre o processo de produção deixavam bem claro que algo estava em andamento nos bastidores. Tanto que o próprio criador da série God of War, David Jaffe, trouxe algumas declarações a respeito disso.
Como se isso não fosse o suficiente, a dupla Marcus Dunstan e Patrick Melton confirmou seu trabalho no roteiro da adaptação, deixando bem claro que a ideia de levar o deus da guerra para as telonas realmente existiu em algum momento. Segundo eles, a trama mostraria a origem do personagem, mas com uma pegada mais humana para se diferenciar de outras películas com a temática mitológica, como “Fúria de Titãs” e “Imortais”.
Contudo, o tempo passou e ninguém mais falou nada sobre isso, deixando o pobre Kratos preso em um limbo qualquer. Quem sabe um dia, não é mesmo?
Por onde anda Marcus Fenix?
Quem também quase deu as caras nas salas de cinema foi Marcus Fenix e o restante do elenco de Gears of War. Em 2007, o estúdio New Line Cinema anunciou que havia adquirido os direitos da série e que o próprio Cliff Bleszinski seria o produtor executivo.
Além disso, Len Wiseman foi confirmado como diretor e a história se passaria antes dos acontecimentos do primeiro jogo, contando como Fenix obteve sua cicatriz. Apesar de esse roteiro ter sido reescrito algumas vezes, tudo parecia estar indo bem.
No entanto, a vida é uma caixinha de surpresas e a New Line voltou atrás, diminuindo orçamento inicial de US$ 100 milhões. Isso fez com que o longa tivesse de ter sua trama refeita mais uma vez e, de quebra, ainda fez com que Wiseman abandonasse o projeto.
Por enquanto, Gears of War não foi oficialmente cancelado, mas ninguém comentou mais nada sobre o assunto.
Procura-se um Colossus
Voltemos a 2010 para lembrar que nos prometeram um filme inspirado no épico Shadow of the Colossus. Ninguém nunca entrou em detalhes do que esperar, a não ser o roteirista Justin Marks, que comentou um pouco sobre os planos da Sony na época.
Em uma entrevista ao jornal Los Angeles Times, Marks afirmou que a ideia era trazer a mesma experiência do jogo, ou seja, colocando o protagonista para lutar contra os 16 colossi ao longo da película para salvar a vida de uma garota.
Além disso, o produtor Kevin Ping Chang também deu alguns indícios do que estava por vir. De acordo com ele, a intenção da Sony era fazer com que cada batalha fosse única e significativa, em vez de um amontoado de cenas de ação.
Contudo, como o tempo fez questão de nos mostrar, a coisa não foi muito para frente. A previsão era que o longa-metragem chegasse às telonas no início de 2012, mas estamos em 2014 e ninguém mais comentou dos gigantes de pedra.
Sumidos, mas nem tanto
Além desses filmes que já foram cancelados ou que estão em limbo há alguns anos, há outras adaptações que já foram confirmadas, mas que há algum tempo não recebem grandes novidades. A diferença é que, nesses casos, o sinal de alerta ainda não apareceu e as coisas continuam dentro da normalidade — ou assim esperamos.
A Ubisoft, por exemplo, ainda aposta alto na adaptação de Assassin’s Creed e já temos um Splinter Cell a caminho, com Tom Hardy no papel de Sam Fischer. O filme inspirado na franquia de espionagem está previsto para estrear no ano que vem. E o estúdio ainda deixou bem claro que está interessada em transformar Watch Dogs em filme.
Além disso, tivemos o recente anúncio de que a Sony vai fazer um longa-metragem de The Last of Us. Nada foi dito sobre os atores que vão interpretar Joel e Ellie e muito menos o diretor que cuidará do processo de criação. No entanto, sabemos que o direto do jogo, Neil Druckmann vai ser um dos responsáveis por manter a qualidade da película próxima daquilo que vimos no original.
Por fim, e não menos importante, o curioso Warcraft. O elenco já foi apresentado e, ao que parece, a produção parece estar bem adiantada. Resta saber se vai prestar. Até lá, continuamos céticos — e reclamando, como sempre.
Categorias