Já faz algum tempo que a indústria dos games deixou de ser uma infante de fraldas, ao passo que vem crescendo e se tornando mais importante a cada dia que passa. Esse aumento exponencial da categoria pode ser observado nas recentes divulgações de números referentes ao balanço financeiro de cada uma das companhias do ramo, sendo que a soma de todas as partes já é capaz de fazer com que os produtores cinematográficos hollywoodianos fiquem de olhos arregalados.
Certamente, quem estava presente nas décadas de 1970 e 80 nunca iria imaginar que a qualidade das produções poderia chegar a patamares tão altos e que esses trabalhos ocupariam um papel de tanta relevância no mundo moderno. Vale lembrar que toda essa condição operacional se encontra em uma transição de gerações de consoles, o que significa que teremos mais um salto tecnológico nos próximos anos.
E, como tudo o que existe dentro da sociedade humana, quando o que é novo toma seu lugar de direito dentro de um contexto, alguns conceitos são taxados de ultrapassados e acabam cedendo cada vez mais espaço para os recém-chegados, até desaparecerem. Dessa forma, enquanto entendemos a indústria dos games como um meio de produção de arte tecnológica, é inevitável que o “progresso” traga mudanças e substituições do que uma vez foi considerado vanguardista ou tendência.
Você está certo disso?
Para contextualizar esse acontecimento natural, basta pensar no quanto a forma de sua própria sala de estar (“quarto de games”, recanto dos heróis, quartinho de jogos ou seja lá como você chame seu refúgio gamer) também mudou. Para começo de conversa, onde antigamente era preciso de algo robusto para comportar uma enorme televisão “de tubos”, hoje só necessitamos de um mero apoio ou até mesmo um suporte na parede — para pendurar sua TV fininha como um quadro.
Além disso, os cômodos de uma casa são inundados pelas ondas transmitidas pelo seu roteador WiFi, que provê a conexão necessária para conectar seu PC ou console ao mundo de jogatinas virtuais. Fora isso, a variedade de monitores com entrada para cabos HDMI ou de televisões que contam com altas resoluções (e com modos especiais para games) também ajudaram a confundir e unificar as plataformas. Sem contar que as mídias, que antes eram compostas por placas envoltas por cartuchos plásticos, agora não passam de meros dados armazenados em discos rígidos externos ou internos.
E é justamente sobre essas mudanças interessantes que o TecMundo Games vai falar nesse artigo. A intenção é compilarmos algumas das maiores tendências sobre as quais se baseavam a construção de games que hoje correm o risco de só chegarem aos ouvidos dos mais jovens por meio de leituras ou de relatos de irmãos mais velhos. Assim sendo, então vamos às 11 grandes tendências que desapareceram na última geração de video games!
O tempo passa para todo mundo, inclusive para os fios
Que tal comprar um controle novinho de Xbox One com fio? Ou você prefere aquele que vem totalmente livre dos cabos de conexão obrigatórios? Pois se suas sobrancelhas franziram ao ler que o mais recente console da Microsoft poderia contar com a obrigatoriedade de o joystick ser ligado ao dispositivo, então saiba que isso já foi algo em que os jogadores tropeçavam, fazendo com que o console sofresse uma queda ao chão, levando consigo as fitas e possivelmente o seu progresso no jogo.
Escolhas morais dentro dos jogos
Títulos como o icônico RPG Fable (da Microsoft) e BioShock (da 2K Games) dispõem de um sistema interno que gera desafios diferenciados de acordo com o seu comportamento dentro da aventura. É possível optar pelas ações inescrupulosas ao matar cidadãos inocentes, roubar casas e mesmo se aliar a gangues de conhecidos malfeitores.
Por outro lado, também é possível escolher salvar as pequeninas garotas em troca de menos prêmios materiais, mas com a certeza de ficar com sua consciência limpa. E assim saberíamos se você seria um personagem “bom” ou “mau”, adicionando o que deveria funcionar como um critério adicional para o enredo de cada título. Mas isso está caindo por terra, uma vez que as produções de mundo aberto não ligam de maneira tão definida para atitudes de bondade ou maldade...
Memory cards
Não pense que sempre foi possível iniciar uma aventura, jogar um pouco e salvar seu progresso para retornar mais tarde. Essa regalia só começou a se popularizar na era dos consoles de 32 bits (com o primeiro PlayStation), na qual você dispunha de um acessório físico, que deveria ser encaixado no console logo abaixo da entrada dos controles, a fim de gravar dados dos games.
No entanto, essa mesma função é feita dentro dos discos rígidos internos das plataformas mais modernas, o que tornou a peça externa completamente obsoleta.
Multiplayer com tela dividida offline
Em um tempo anterior, no qual nem todo mundo dispunha de uma conexão fácil com a internet, as produções geralmente proporcionavam maneiras para que os gamers jogassem em conjunto usando uma mesma tela. E foi justamente esse recurso que tornou o game GoldenEye 007 (do Nintendo 64) um dos multiplayers mais sensacionais de todos os tempos.
Com a popularização das conexões de rede, as desenvolvedoras têm deixado cada vez mais de lado essas funcionalidades offline e se concentrado apenas nas partidas em rede. Portanto, essa tendência também entrou em desuso.
Distribuição obrigatória em mídia física
Uma das prerrogativas mais aguardadas para a oitava geração dos consoles é justamente a jogatina feita diretamente por streaming, ou seja, em tempo real e sem a necessidade de uma mídia física. Além disso, para que Blu-rays e DVDs sejam produzidos, ainda é necessário adicionarmos o custo da logística que o processo exige (para que o jogo chegue da fábrica até o vendedor), fazendo com que haja mais atravessadores e, consequentemente, mais taxas embutidas no preço final.
Portanto, os jogos baixados no ambiente virtual e armazenados nos HDs (internos e externos) já estão se sobrepondo aos seus irmãos materiais, o que já configura uma tendência antes do streaming. Além disso, também podemos inferir que, com o fim das caixinhas que contêm as mídias físicas, os manuais de instruções dos games também deixarão de existir.
Exclusividades tendem a diminuir
Pela mesma razão que as mídias físicas podem deixar de habitar esse planeta, o nicho das exclusividades deve ser cada vez mais segmentado, principalmente se levarmos em conta produções AAA (ou hollywoodianas). Esse tipo de jogo tende a se tornar cada vez mais inviável devido ao custo do desenvolvimento em relação ao posterior mercado de abrangência.
Em outras palavras, uma vez que os poderosos novos consoles e os computadores compartilham uma arquitetura de desenvolvimento cada vez mais semelhante, as empresas devem expandir ao máximo suas possibilidades de retorno em vez de restringi-las. Portanto, em algum tempo não será nenhum absurdo vermos algo como Uncharted para Xbox One ou Gears of War para PlayStation 4.
Controles físicos com captura de movimento
É inegável que o Wiimote (o joystick do Wii) imprimiu uma grande revolução no mercado inteiro de games ao entregar uma inédita captura de movimentos aplicada diretamente à jogabilidade das produções. Prova disso é a reação que Sony e Microsoft foram obrigadas a ter, lançando o PS Move (para PlayStation 3) e Kinect (para Xbox 360).
No entanto, esse último aparato tecnológico conseguiu dar um passo à frente do que o controlador da plataforma da Nintendo apresentou ao mundo. Em vez de precisar segurar um dispositivo físico, bipartido ou não, em cada uma de suas mãos, o acessório do console da Microsoft disponibiliza uma área virtual de captura sem exigir nada — além de uma distância mínima e máxima.
Assim, mesmo que a tendência da captura de movimentos tenha sido mantida, o uso de dispositivos adicionais para isso definitivamente será erradicado da linha de produção das companhias.
O fim do mascaramento de defeitos gráficos
Os jogos de PlayStation 3, Xbox 360 e Nintendo Wii corriqueiramente recebiam aplicações de efeitos de iluminação dinâmica (HDR) e do chamado bloom, a fim de compensar a falta de capacidade de processamento gráfico das plataformas. Mais uma vez o custo de produção é o que fala mais alto, pois essas funcionalidades servem para não alongar demais o tempo de desenvolvimento.
Esses recursos são mais facilmente notados quando comparamos as versões dos consoles com outras desenvolvidas em definições bem maiores, feitas para rodar em computadores mais poderosos. Felizmente, com as capacidades motoras dos consoles da oitava geração, esses fenômenos tendem a não existir mais.
Portagens de games de consoles para computadores
Depois que Microsoft e Sony resolveram criar sistemas de arquitetura de jogos mais parecidos, o mercado acaba de ser colocado frente a uma situação inédita: as produções podem ser desenvolvidas levando em conta as particularidades de cada plataforma. Isso fará com a portagem de um título de console para o computador seja imensamente mais fácil, o que reflete na qualidade final do trabalho.
Portanto, não espere mais ver um trabalho tão malfeito quanto o que a From Software fez na versão de Dark Souls para PC.
Inscrições obrigatoriamente pagas em MMOS
Depois que a conexão com internet ficou muito mais acessível aos gamers e que os MMOS não mais são exclusividade de computadores, ficou praticamente inviável lançar um título desse gênero que exija inscrições e taxas dos gamers desde seu primeiro acesso. Essa cobrança ainda sofre com a existência de inscrições pagas nas redes online exclusivas de cada um dos consoles, como a PSN Plus e a LIVE Gold.
Mas é claro que as microtransações não seguem essa mesma tendência, principalmente devido à enorme incidência desses recursos em aplicativos para dispositivos móveis.
Fim do uso indiscriminado da Segunda Guerra Mundial como temática
E para que essa lista não pareça apenas um apanhado de recursos técnicos que devem deixar de existir, vale lembrar que a tendência do uso da Segunda Guerra Mundial como temática para qualquer tipo de jogo está cada vez menor. Talvez pelo fato de o assunto ter sido amplamente desgastado nos últimos anos ou talvez pelo aumento da concorrência no mercado, o fato é que está cada vez mais comum nos depararmos com guerras fictícias ou com conflitos hipotéticos.
Como grande prova dessa prerrogativa podemos citar duas das grandes franquias baluartes do FPS nos games, que são Battlefield e Call of Duty. Ambas abraçam acontecimentos contemporâneos ou futuristas, frente aos conflitos entre Aliados e Eixo ocorridos na metade do século passado.
E o que deve chegar?
Enfim, depois de um grande passeio pelas tendências que devem deixar de existir dentro de algum tempo, é inevitável pensarmos que para cada uma delas existe algo em vias de chegada. E, mais importante de tudo, vale afirmar que nem todas essas mudanças trazidas pelo avanço tecnológico são necessariamente positivas, como a liberação quase indiscriminada de patches no dia de lançamento dos jogos — o que indica que eles não devem ter sido finalizados de maneira adequada.
Além disso, é bom ficarmos de olho nas transmissões de jogos direto da nuvem (via streaming), o que deve ocorrer em um futuro bem mais próximo do que imaginamos. Na mesma via de evolução, ainda é possível apontar o retorno da ideia de realidade virtual aos games (vide Oculus Rift) e na adesão cada vez maior de realidade aumentada.
Isso tudo sem contar que os dispositivos secundários para os consoles, que proporcionam interação com gadgets (como o controle em formato de tablet do Wii U ou o futuro SmartGlass da Microsoft) também são tendências fortíssimas para o futuro.
Para terminar, falta a opinião mais importante de todas: a sua. O que você acha dessas tendências que povoaram o imaginário de gamers e desenvolvedores por muito tempo, mas que agora são consideradas ultrapassadas? Será que o futuro nos reserva surpresas diferenciadas ou será que poderemos prever o futuro do mercado, assim como vemos analistas como Pachter ou de empresas como a Wedbush fazer?
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