Era no tempo das lan houses. As pequenas lojas se abarrotavam de jovens e adolescentes que passavam a tarde se divertindo em partidas em rede, soltando gritos eufóricos e os mais diversos palavrões durante os mais intensos combates de Counter-Strike.
Nos fins de semana imperavam os torneios, e os jogadores colocavam todas as suas habilidades à prova. Surgiam as lendas impecáveis na mira e na estratégia. Como muitos dos garotos dessa época, comecei a me interessar pelos games, mas pelo lado competitivo e único que eles ofereciam.
Nunca dei sorte no Counter-Strike, por mais que sempre fosse divertido buscar os rankings mais altos do servidor da lan house. Preferia jogos mais estratégicos, e mergulhei profundamente no Warcraft III – até que surgiu a dúvida que me persegue até hoje: “Será que existem torneios desse jogo?”.
Com essa pergunta eu descobria, pouco a pouco, o mundo dos eSports — conduzindo um interesse que foi dos jogos de luta à DotA, sem esquecer de passar por Quake, Starcraft, Age of Empires e inúmeros outros games.
É impressionante acompanhar e participar de torneios de games. Há uma delicada linha que liga a diversão e a vontade de vencer, explorando a fundo todas as formas que o jogo te oferece para conquistar a vitória. Um constante aprimoramento de estratégias e habilidades, tudo envolto pela adrenalina da competição – um conjunto de sentimentos que são compartilhados por qualquer atleta esportivo e que, até então, era levado a sério por poucos patrocinadores, jogadores e organizadores de eventos.
Como o eSport mudou por aqui...
Com quase oito anos acompanhando games competitivos, vi a Wold Cyber Games representar uma das competições de maior representatividade no país e no mundo. A “Olimpíada dos Games”, como era chamada. Jogadores viajavam para trazer medalhas de Guitar Hero, Need for Speed, Carom 3D e Warhammer.
Vi também a Made in Brazil ganhar a Electronic Sports World Cup da fnatic e ser declarada a melhor equipe de Counter-Strike do mundo. Houve sucesso nos cenários, mas alguns pontos incomodavam os campeões quando voltavam: estrutura e incentivo.
Por anos os grandes torneios foram fechados nas lan houses, reunindo uma pequena dimensão de entusiastas na porta para assistir às partidas rodando ao vivo na televisão da loja. As seletivas da WCG começaram a sair desse âmbito, mas o público ainda era restrito e pequeno.
Poucos eram os eventos que traziam grandes competições em espaços grandes e envolvendo vários jogos. A queda do número de lojas trouxe um problema para os fãs do esporte eletrônico nacional: haveria ali uma dificuldade de se reunir fisicamente e estimular as competições.
Por sorte, a decadência das lan houses coincidiu logo depois da chegada de jogos populares e gratuitos. League of Legends foi ganhando uma ótima dimensão pela sua fórmula de jogo simples e atrativa, englobando uma massa cada vez maior de jogadores novatos e experientes.
O sucesso estimulou torneios por todo o mundo, incluindo o Brasil. Isso fomentou um cenário competitivo organizado, criando equipes profissionais e aumentando o interesse do público pelas “grandes estrelas” do jogo.
Nesse tempo, eu ganhei um enorme interesse pelo gênero MOBA. A paixão pelo Warcraft III me carregou também para o DotA, estimulando a participar de torneios em Curitiba (chegando até a ganhar um, olha lá!).
Em pouco tempo também ficaria intrigado pelo sucesso do título da Riot Games, passando a me dedicar um pouco mais em League of Legends para tentar uma “carreira” – vencendo também um torneio por aqui. Mas ficou por isso, e passei a mais acompanhar o cenário competitivo do que, de fato, participar dele. E ando me surpreendendo muito com ele.
O primeiro dia do X5 Mega Arena me mostrou o quanto o eSport cresceu. Por mais que League of Legends se destaque pela legião de fãs e pelos jogadores profissionais, o gênero de tiro continua forte e eufórico.
Cross Fire, Combat Arms e Point Blank rivalizam, mas o público é representativo para os três títulos, capaz de animar e prestigiar os eventos de uma forma diferente dos que presenciava nas lan houses. Antes os gritos dos jogadores soavam pelos corredores estreitos – hoje eles são abafados pela emoção da plateia.
Jogos que emocionam
Mas não são apenas os jogos de tiros que arrancam gritos nos torneios. Você provavelmente já sentiu esse tipo de adrenalina ao ver uma linda virada em um game de luta – e como esquecer aqui a incrível e clássica jogada de Daigo Umehara em Street Fighter III: Third Strike?
As competições do gênero, apesar de um pouco discretas frente ao eSport tradicional, datam desde as primeiras casas de fliperama e são muito mais antigas que os primeiros confrontos de Counter-Strike. Seu público sempre foi fiel e dedicado, mas nem sempre contou com grande apoio.
Apesar de não ter acompanhado a febre dos fliperamas, títulos clássicos como Super Street Fighter II Turbo e Ultimate Mortal Kombat 3 me interessaram pelas partidas competitivas. Esse interesse se prolongou até os recentes jogos e até me colocou em alguns torneios, mas com nenhum sucesso.
Mas isso fez com que eu entrasse em uma comunidade que, apesar de não contar com um público grande, demonstra união desde os tempos em que uns ensinavam aos outros quais eram os melhores combos e punições de cada personagem.
Outras comunidades menores se destacam, mas não têm tantas oportunidades de se reunir como todos os jogos citados por aqui. Call of Duty, Battlefield, FIFA, Pro Evolution Soccer, Quake, World of Tanks e tantos outros títulos são apenas alguns exemplos dispersos em meio a uma imensidade de games competitivos. E aposto que, mesmo que não esteja nos palcos do torneio, cada jogador com uma história única para contar de uma competição emocionante ou uma partida inesquecível.
Isso me lembra que Warcraft III também me emocionou muito por todo esse tempo. Por alguns dias, perdi a inscrição da seletiva nacional da WCG 2006, e me preparei um ano inteiro para a classificatória seguinte que, infelizmente, nunca mais aconteceu.
Os anos se seguiram e os torneios internacionais continuaram até que, no final do ano passado, a organização deu adeus ao jogo com uma belíssima homenagem. Vi partidas que me emocionaram passando a última vez no telão, e bateu um sentimento de perda, mas também de orgulho. O eSport já fazia parte de mim.
E o futuro?
As competições de games cresceram. Elas deixaram os ambientes sufocantes das lan houses e das casas de fliperamas para integrar palcos em meio a uma multidão que acompanha cada movimento dos melhores do mundo.
Os video games representam agora um meio de entretenimento que não apenas se reserva ao ato de jogar, mas também de assistir. O sucesso do Twitch.tv está para comprovar isso, e eventos cada vez maiores e com ambiciosas premiações estão dando um tempero atrativo e emocionante para todos acompanharem as competições.
E o Brasil não está de fora dessa febre. Apesar de muito atrasado frente aos Estados Unidos e à Coreia do Sul, ele está fazendo os primeiros passos em direção à profissionalização de jogadores de video game. Basta ver o sucesso do X5 Mega Arena e do Campeonato Brasileiro de League of Legends.
Equipes profissionais, patrocinadores interessados, eventos grandes e premiações chamativas finalmente estão se entrelaçando – demorou muitos anos, mas finalmente estes quatro pontos da bússola estão guiando o eSport para um futuro promissor. Estou mais animado que nunca para conhecer o que nos aguarda nessa linha do tempo, e você?
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