Existe uma teoria que diz que quase todos os jogos baseados em narrativas de outras mídias são ruins. Até 1999, havia uma tese semelhante a respeito de filmes baseados em quadrinhos. Os X-Men de Brian Singer foram responsáveis pela quebra desse paradigma, capitaneando o que entendemos hoje em dia como a principal tendência de Hollywood durante o século XXI. Depois de dez anos longe dos mutantes, o diretor volta a comandar um filme da equipe em X-Men: Day of a Future Past.
Desde a sua criação, em 1963, a equipe do professor Xavier tem se mostrado uma especialista em romper este tipo de barreira. No campo dos games, são poucas as franquias externas (isto é, oriundas de outras mídias) que podem clamar tantos jogos de qualidade quanto os X-Men. Ainda que a equipe detenha também um número razoável de títulos ruins, devemos lembrar que até mesmo Zelda possui dois jogos para o Phillips CD-i.
Para celebrar o lançamento do novo filme dos mutantes no cinema, o BJ decidiu relembrar os principais games lançados sobre a série. É importante lembrar que nossa lista decidiu se focar apenas nos jogos da equipe dos X-Men, ou seja, nada de títulos solo, como Wolverine Adamantium Rage, crossovers, como X-Men Vs. Street Fighter, ou jogos com toda a Marvel, como Ultimate Alliance.
The Uncanny X-Men (NES - 1989)
Os X-Men começaram a sua carreira no primeiro console da Nintendo. Produzido pela infame LJN, o título é considerado um dos piores da carreira dos mutantes. Neste jogo, você deve escolher entre Wolverine, Ciclope, Homem de gelo e Tempestade para enfrentar a Irmandade de Mutantes do Magneto.
The Uncanny X-Men ficou marcado pela sua visão top-down (ou aérea) e um alto grau de dificuldade. Zerar o jogo sem a ajuda de um segundo jogador é praticamente impossível. Para piorar, não existe qualquer tipo de dica disponível durante o título e a escolha de determinados personagens para algumas fases pode ser mortal.
X-Men: Madness in Murderworld (PC, C64, Amiga - 1989)
O segundo jogo dos X-Men fez uma coisa incrível: conseguiu ser ainda pior que o primeiro. Com gráficos toscos e uma jogabilidade lenta e medonha, X-Men: Madness in Murderworld é uma atrocidade em todos os sentidos e, quanto menos lembrarmos deste jogo, melhor.
X-Men II: The Fall of the Mutants (PC - 1990)
X-Men II continua a tendência desta primeira leva de jogos ruins, mas pelo menos este título até tenta alguma coisa diferente. Com a maior seleção de personagens jogáveis até X-Men Legends II, este jogo misturava elementos de clássicos do primeiro The Legend of Zelda com o cenário mutante.
Apesar de algumas ideias interessantes, o problema estava ainda na ausência de trilha sonora, na jogabilidade lenta, movimentação truncada e em uma narrativa pouco interessante. O resultado é um título que ainda estava muito longe de agradar aos fãs dos heróis mutantes.
Spider-Man and the X-Men: Arcade's Revenge (Mega Drive, SNES, 1992)
O primeiro crossover do X-Men no mundo dos games não chega a ser um jogo bom, mas é melhor do que todos os anteriores. Um título de ação e plataforma em duas dimensões, nele você intercala fases com os diferentes X-Men e com o Homem-Aranha para enfrentar o vilão Arcade.
Além do Cabeça de Teia, você pode jogar com Ciclope, Wolverine, Tempestade e Gambit. Todos os personagens tem seus poderes e habilidades bem representados, exceto pela Tempestade, que fica limitada às fases de água. O jogo tem os seus méritos, mas seu principal defeito foi ser o antecessor de uma enorme sequência com alguns dos melhores títulos da equipe.
X-Men Arcade Game (Fliperama - 1992)
Um dos jogos mais populares de todos os tempos nos fliperamas, X-Men Arcade Game é um verdadeiro colosso para até seis jogadores. Neste beat’em up clássico, você deve atravessar fases com hordas de inimigos até derrotar um chefão ao final de cada uma. Todos os grandes vilões da Irmandade dos Mutantes aparecem aqui: Pyro, Blob, Mística, Juggernaut e, como não poderia deixar de ser, Magneto.
Na história, os X-Men devem resgatar Kitty Pride e o professor X das garras do seu arqui-inimigo. Entre os personagens jogáveis estão Wolverine, Ciclope, Colossus, Noturno, Tempestade e Dazzler. Esta última ficou famosa por ser a personagem que ninguém queria jogar com, ainda que ela tivesse um poder relativamente útil. Com gráficos incríveis e ação alucinante, X-Men Arcade Game é até hoje um dos melhores jogos dos filhos do átomo.
X-Men (Mega Drive, Game Gear - 1993)
A premissa desse jogo funcionaria para qualquer história dos X-Men: a Sala de Perigo entrou em curto-circuito devido a um vírus e agora os membros da equipe presos lá dentro precisam sobreviver a todo tipo de situação e inimigos. Como Wolverine, Ciclope, Gambit ou Noturno, você visita os principais locais do universo mutante, como a Terra Selvagem, Genosha e o Mojo World, sempre em uma mistura de plataforma com ação em duas dimensões.
X-Men para Mega Drive ainda tem alguns defeitos, os gráficos não são tão bacanas quanto o do rival no Super Nintendo e existem pequenas falhas de jogabilidade, como uma péssima precisão de dano nos inimigos. Apesar dos problemas, o jogo é lembrado com muito carinho pelos fãs e até hoje pode ser considerado um título muito divertido.
X-Men: Children of the Atom (Arcade, PlayStation, SEGA Saturn - 1994)
X-Men: Children of the Atom pode ser considerado o jogo mais importante desta lista. Além de ser um título de luta absolutamente incrível, ele foi o primeiro a criar uma série de mecânicas que se tornaram sinônimos de outros jogos de luta da Capcom durante a década de noventa. Lutadores que voavam, cenários que mudam, barras de energia com superespeciais, tudo isso teve sua origem aqui.
Children of the Atom foi uma verdadeira revolução entre os jogos de luta e traria depois dele clássicos como Marvel Super Heroes, X-Men Vs. Street Fighter e Marvel Vs. Capcom. Todos estes títulos usavam ou expandiam conceitos inventados neste arcade de luta dos mutantes, que certamente é até hoje um dos melhores jogos da equipe de Xavier.
X-Men: Mutant Apocalypse (SNES - 1994)
Junto com o fliperama de Children of the Atom, a Capcom também lançou um título para o Super Nintendo, Mutant Apocalypse. O jogo é um beat’em up de primeira qualidade, uma das grandes pérolas da era dos 16 bits como só a empresa japonesa sabia fazer. Com cinco X-Men jogáveis, Wolverine, Gambit, Ciclope, Psylocke e Fera, você pode explorar fases individuais para cada um deles e depois escolher o seu personagem preferido para a parte final do jogo.
Com sprites absolutamente belos e uma jogabilidade quase perfeita, X-Men Mutant Apocalypse é uma prova definitiva que os jogos dos mutantes também poderiam funcionar bem nos consoles. Apesar do título referenciar outro vilão clássico, o grande antagonista da narrativa era Magneto em seu Asteroide X, uma saga derivada diretamente das HQs.
X-Men 2: Clone Wars (Mega Drive - 1994)
Os donos do console rival ao Super Nintendo não ficaram para trás e ganharam um jogo à altura da obra-prima da Capcom. X-Men 2: Clone Wars é uma sequência que melhora muito o primeiro jogo para Mega Drive, com novos gráficos, jogabilidade mais rápida e responsiva e uma excelente seleção de fases e vilões.
O título traz os mesmos protagonistas de Mutant Apocalypse com a adição de Noturno, de longe um dos melhores personagens do elenco mutante. Outra característica que também é muito interessante é a possibilidade de usar os demais X-Men para lhe auxiliar nas missões, aparecendo para matar inimigos, acessar locais difíceis e dar aquela ajuda contra o chefão da fase.
O importante é que, na geração 16 bits, tanto os fãs da SEGA quanto os fãs da Nintendo ganharam um jogo único e incrível para o seu console preferido.
X-Men 2: Game Master’s Legacy (Game Gear - 1995)
É um pouco estranho que o primeiro jogo para Mega Drive dos X-Men tenha recebido uma versão em Game Gear no ano seguinte. A parte surpreendente dessa história é que o pequeno portátil da Sega ganhou uma sequência exclusiva que também utilizava o nome X-Men 2. O jogo não é exatamente bom, mas, para o Game Gear, um console tão carente de títulos, ele causou uma impressão suficientemente positiva.
X-Men 3: Mojo World (Game Gear - 1996)
O último jogo da série no Game Gear é também o mais fraco. Os programadores claramente não queriam fazer mais uma sequência e decidiram entregar um título mal finalizado e extremamente curto. Seguindo a história clássica do mundo de Mojo, alguns X-Men são capturados e cabe a Wolverine, Ciclope ou Vampira salvá-los do reality show comandado pelo alienígena.
No final, o que temos aqui é um jogo ruim em um console irrelevante que poucas pessoas tiveram o desprazer de jogá-lo.
X-Men: Mutant Academy (PlayStation - 2000)
Misturando um pouco a jogabilidade dos títulos da Capcom com o visual de Tekken, X-Men: Mutant Academy é um jogo de luta em 3D com a equipe mutante. Relativamente bem recebido na época, o jogo foi o único derivado do primeiro filme de Brian Singer e surpreendeu a crítica por ser um game decente de luta.
Os gráficos não eram os mais interessantes, misturando um pouco o visual do filme com o dos quadrinhos tradicionais. Apesar das falhas, Mutant Academy renderia mais duas continuações de relativo sucesso.
X-Men: Mutant Wars (Game Boy Color - 2000)
Lançado junto com o DVD do primeiro filme, este pequeno beat’em up permitia que o jogador controlasse Wolverine, Ciclope, Tempestade, Gambit e o Homem-de-gelo em uma aventura contra as forças da Irmandade dos Mutantes.
Com uma jogabilidade ruim e um sistema truncado que te obrigava a trocar de personagem o tempo todo, Mutant Wars é certamente um dos jogos de ação em duas dimensões mais fracos dos mutantes.
X-Men: Mutant Academy 2 (PlayStation - 2001)
O sucesso do primeiro Mutant Academy levou ao desenvolvimento de uma sequência bem superior ao título original. Com muito mais personagens (até o Homem-Aranha apareceu no jogo) e um sistema de combos um pouco mais complexo, Mutant Academy 2 tinha tudo que era esperado de um bom game de luta, abrindo o caminho para o que viria a ser o melhor título desta série: X-Men Next Dimension.
X-Men: Reign of Apocalypse (Game Boy Advance - 2001)
O último jogo dos X-Men exclusivo para um portátil surpreendeu pelo seu salto de qualidade em relação ao seu antecessor (Mutant Wars). Em Reign of Apocalypse, Wolverine, Ciclope, Tempestade e Vampira voltam do Mojo World para encontrar um planeta completamente dominado por Apocalipse. Agora, os mutantes terão que enfrentar até mesmo os seus antigos aliados se quiserem retornar a sua dimensão original.
Outro clássico beat’em up em duas dimensões, Reign of Apocalypse apresenta visuais mais consistentes e um sistema de evolução derivado dos jogos de RPG, no qual cada X-Men pode ganhar pontos de atributos a serem distribuídos de acordo com a vontade dos jogadores. Apesar de curto, o título pode ser considerado o melhor jogo da equipe em consoles portáteis.
X-Men: Next Dimension (PlayStation 2, Xbox, GameCube - 2002)
Considerado o melhor jogo de luta em 3D dos X-Men, Next Dimension é uma evolução direta da série iniciada em Mutant Academy. Além dos modos tradicionais de seus antecessores, este jogo marca a estreia de modo história, no qual você deve utilizar os diferentes personagens do jogo ao longo de uma narrativa baseada nos quadrinhos.
Com boa jogabilidade, um número elevado de personagens únicos, cenários repletos de interação e uma história divertida, Next Dimension perde apenas para o clássico eterno da Capcom, Children of the Atom, na disputa pelo título de melhor jogo de luta da equipe mutante.
X-Men Legends (PC, PlayStation 2, Xbox, GameCube - 2004)
X-Men Legends é certamente a melhor série de jogos dos X-Men depois de seu auge na primeira metade da década de 90. Um jogo de ação que misturava RPG com beat’em up, sua característica mais legal era seu modo cooperativo para até quatro jogadores ao mesmo tempo. No jogo, além de evoluir seu personagem preferido conforme ele ganhava experiência, existem também dezenas de itens pelas fases que tornavam o seu personagem ainda mais único e interessante.
Na história, você podia controlar praticamente todos os principais X-Men dos quadrinhos, tentando ensinar o sonho de Xavier para a recém-chegada Magma e impedir que a Irmandade de Mutantes do Magneto atacasse a humanidade. Além da evolução progressiva da sua equipe de mutantes, outros elementos de RPG apareciam no jogo, como a escolha de falas e a liberdade de seguir as missões pelas quais você se interessava mais sem ordem particular.
X-Men Legends II: Rise of Apocalypse (PC, PlayStation 2, Xbox, GameCube - 2004)
X-Men Legends II conseguiu o enorme triunfo de ser considerado ainda melhor do que o seu antecessor. Na continuação, os X-Men e a Irmandade são obrigados a trabalhar juntos para impedir a ascensão de Apocalipse, que capturou quatro mutantes com algo que ele chama de DNA harmônico para amplificar seus próprios poderes. Com um escopo muito maior do que o primeiro, Rise of Apocalypse visitava os principais locais do universo mutante, desde a mansão X até a distante Terra Selvagem.
Os visuais mantêm a tradição estabelecida pelo primeiro jogo, com personagens em gráficos de cell-shading ao lado de ambientes renderizados em três dimensões. A opção torna mais fácil a distinção dos personagens de seu cenário e faz o alto grau de interatividade das fases ser ainda mais interessante. Outro ponto alto de X-Men Legends II é a possibilidade de jogar com quase vinte personagens (incluindo o Homem de Ferro), entre membros da equipe X e clássicos vilões da Irmandade, como Magneto.
O sucesso da série levou ao desenvolvimento de Marvel Ultimate Alliance, até hoje o melhor jogo de ação e aventura com um grande gama de heróis da Marvel, reunindo diversos grupos como: os X-Men, os Vingadores, os Defensores e o Quarteto Fantástico.
X-Men: The Official Game (PC, PlayStation 2, Xbox, GameCube - 2006)
Com um título um pouco prepotente, o jogo “oficial” dos X-Men pretendia funcionar como uma ponte entre o segundo e o terceiro filme. Para isso, os atores da saga cinematográfica reprisaram seus papéis no game contando uma história que ajudasse a explicar os eventos de X-Men 3: The Last Stand.
Os três personagens jogáveis são Wolverine, Homem de Gelo e Noturno, cada um com fases e estilos de jogo completamente diferentes. Wolverine luta contra inimigos em um beat’em up de ação 3D, Noturno usa seus poderes de teleporte em níveis intricados cheios de plataformas e, por fim, no maior estilo de Star Fox, Homem de Gelo viaja em alta velocidade em um shooter “sob trilhos”. Infelizmente, nenhum dos segmentos é realmente bom, sendo um caso típico de um jogo derivado de filme de baixa qualidade.
X-Men: Destiny (Xbox 360, PlayStation 3, DS, Wii - 2011)
X-Men: Destiny tinha tudo para ser o melhor jogo baseado na franquia dos mutantes. A Silicon Knights, empresa responsável pelo desenvolvimento do título, prometia um RPG totalmente aberto e baseado em suas diferentes escolhas. Na pele de um novo mutante, você criava um personagem do zero sem histórias prévias que poderia tanto se aliar aos X-Men quanto à Irmandade de Mutantes. O cenário era um período de turbulência política na cidade de São Francisco quando forças antimutantes começavam a ascender na cidade.
Apesar da premissa interessante, no fim das contas o título se revelou um grande fracasso graças principalmente a uma jogabilidade repetitiva, falta de ritmo à trama e diversos bugs que atrapalhavam muito a experiência do jogador. X-Men: Destiny praticamente sepultou a desenvolvedora que o produziu e, até o momento, nenhum jogo dos X-Men foi anunciado para consoles depois dele.
Uma trajetória carente de bons títulos nos anos mais recentes
Os X-Men possuem um número muito grande de jogos de qualidade, o que pode ser considerado uma surpresa se levarmos em conta o quão raro são bons títulos de personagens oriundos de outras mídias. Infelizmente, na última década, apenas X-Men Legends e sua sequência fizeram realmente um bom trabalho com a equipe mutante.
Só nos resta mesmo torcer que a volta de Brian Singer à cadeira de diretor, com seu novo X-Men: Days of Future Past, traga mais sucesso e visibilidade à equipe e que isso seja traduzido em novos e bons jogos dos heróis mutantes.