A E3 2014 já está no passado. Será que ela deixou saudades? Bem, para este humilde redator que vos escreve (presente no evento junto a Durval Ramos e Matheus Voltolini), talvez, mas não necessariamente para a indústria. Isso porque o formato da feira no Los Angeles Convention Center, apesar de objetivo, filtrado e segmentado a um público-nicho, parece demonstrar sintomas de desgaste.
O contrato da organização que cuida da feira (a ESA, sigla para Electronic Software Association) com o referido local expira em 2015, ou seja, a associação estará livre para alterar o palco do evento e, por tabela, o formato dele.
Ainda que o sistema de segurança e credenciamento da E3 seja rigoroso, não há dúvidas de que o evento tomou proporções globalmente apelativas e, para atender à crescente imprensa de games, aos desenvolvedores, às marcas e aos industrialistas, talvez exista uma necessidade – ainda que sutil – de atender a esse público cada vez maior, pois convém relembrar sempre: os games pertencem a uma categoria muito mais “universal” hoje do que em outrora.
Novidades em pré-conferências, e só – até mesmo a BGS é capaz de saciar aqueles que não foram à E3
As pré-conferências de Sony, Microsoft, Ubisoft e Electronic Arts, que tipicamente rolam um dia antes do início da E3, foram, de um modo geral, bastante mornas. A Nintendo adotou o mesmo modelo que utiliza há anos e fez um streaming do Nintendo Direct para mostrar suas novidades em vídeo (bastante eficiente, aliás).
Apesar da empolgação momentânea, não há dúvidas de que, ao pararmos para refletir sobriamente sobre as novidades anunciadas, temos algumas belas novas IPs, sequências e remasterizações: Scalebound, Let It Die, Phantom Dust, Halo 5: Guardians, The Master Chief Collection, Grim Fandango, Star Fox, Zelda, Bloodborne, Dead Island 2 e mais. Será que isso foi o suficiente para chacoalhar a indústria?
A EA e a Ubisoft só mostraram aquilo que já havia sido anunciado. E esse talvez foi o elemento mais “estraga-surpresas” dessa E3: tudo que supostamente poderia ser apresentado durante a feira foi “spoileado” semanas ou dias antes. Por que não deixaram para oficializar Far Cry 4 no evento? Ou o novo Assassin’s Creed? Ou Battlefield Hardline? A ausência de anúncios bombásticos só serviu para coroar o espírito morno.
Público ainda filtrado, mas em crescimento exponencial
A própria Electronic Software Association, que, conforme mencionado, é o órgão que cuida da E3, reconhece e admite que o público-alvo da feira mudou. A proposta do evento é simples: fornecer um espaço que agregue publishers e permita que elas apresentem seus produtos, os quais, no curto, médio ou longo prazo, devem fomentar a indústria.
Mas essa mesma indústria mudou bastante. Como a internet está difundida em escala mundial, o acesso à informação se transformou numa rotina de uma mão só – nunca contramão ou mão-dupla. Em outras palavras, a coisa se mexe de forma tão dinâmica que, já que estamos em pista de uma mão só, os leitores costumam saber dos fatos antes mesmo de nós, jornalistas. A adoção do formato mobile, os streamings, os YouTubers da vida, os podcasts e tantos outros meios digitais pavimentam o caminho para que a E3 fique, digamos, mais “fria”, e ela precisa apresentar atrações mais “premium” ao público que transpira para estar lá.
O sentimento ao pisar no Los Angeles Convention Center é único, sim, mas a relevância que isso tem para a indústria é cada vez mais “morna” – justamente pela necessidade de reinvenção que o evento tem em cima dos fatores supracitados. A Brasil Game Show, que neste ano ocupará todos os pavilhões do Expo Center Norte, em São Paulo, não dá apenas um “aperitivo” da E3, ela praticamente oferece um banquete completo do que rolou. Pois lhes garanto, é tudo bem parecido.
Queda no número de estandes e marcas. O que fazer para se reinventar?
A E3 2014, de acordo com as estatísticas levantadas pelo Games Industry, viu um declínio no número de estandes e marcas presentes. Os pisos de cima, por exemplo, davam lugar a uma quantidade muito maior de marcas, segundo o site. Esse lance de misturar “indústria” e “consumo”, no meu humilde ponto de vista, precisa ser reavaliado (para coexistirem, um precisa do outro, é claro).
A E3 dura três dias. O que impede a ESA de abrir a porteira do evento ao grande público, por um dia que seja? Ou, por exemplo, dos três dias em que a feira rola, deixar um para a indústria (varejo, desenvolvedores, publishers, representantes de marcas etc.), um para os consumidores (todos nós) e um para a imprensa? Trabalhar com uma filosofia diferente não custa nada – e mudar os ares parece ser algo necessário no caso da E3.
A Comic Con, por exemplo, trabalha de forma parecida. O evento, que mistura um pouquinho de tudo do universo geek (games, quadrinhos, action figures, cinema, séries etc.), costuma dedicar apresentações à indústria antes de abrir as portas ao grande público – que entra na farra do que rolou com os industrialistas. Falar em “indústria” é muito chato, mas falar em “consumo” é muito legal. A fusão desses dois conceitos é a chave que a E3 precisa encontrar.
A E3 corre o risco de cair na mesmice por estar sempre atrelada aos blockbusters e aos "títulos garantidos", por, digamos, ter medo de ousar e, assim, encolhe com o tempo. Como a indústria está passando por uma transformação – e os jogadores cada vez mais veem games de forma amadurecida –, a E3 talvez precise tirar uma casquinha disso, dessa transformação.
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