Trial: as tradicionais demos de video game estão mudando... E para melhor

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O que é uma demo? Podemos dizer que, antes de tudo, se trata de uma versão demonstrativa de um material, como o próprio nome sugere. No mundo dos games, a demo serve para oferecer um gostinho do gameplay do produto.

Com jogos eletrônicos, diferentemente de outras mídias como música ou livros, não basta ter noção da trama ou saber que alguém que você respeita trabalhou no produto. Experimentar um pouco da ambientação, das mecânicas, da sensação que o game provoca ao ser jogado pode ser crucial no momento da decisão de compra. Daí a importância de uma versão demonstrativa.

Porém, uma demo também é uma forma de fazer marketing, visto que ela não deixa de ser uma “amostra grátis” do produto vendido, um “test drive”. Ela não serve para entregar a você toda a experiência do jogo, mas sim convencê-lo a comprar o jogo.

Isso nos leva a um ponto importante: a demo é uma parte do game que é cuidadosamente selecionada para causar boas impressões nos potenciais compradores. E isso pode significar um grande problema para os jogadores.

O inconveniente da demo tradicional

Frequentemente — até mesmo aqui, no BJ —, há situações em que jornalistas relatam que experimentam demonstrações de jogos que ainda não foram lançados em feiras e que gostaram do que viram.

Quando o jogo é lançado, porém, às vezes o segundo contato vem acompanhado de grande decepção, pois o padrão de qualidade exibido na demo era ilusório; uma experiência roteirizada e meticulosamente planejada para gerar um sentimento positivo em quem a jogou.

Sem contar que há certas demonstrações que limitam demais o conteúdo, revelando muito pouco do jogo. Imagine ir até uma loja de informática para comprar um smartphone e o vendedor só deixar que você veja o funcionamento da excelente câmera de 12 megapixels, mas não permitindo que você confira o desempenho do hardware do celular. Você se sentiria seguro o bastante para investir algumas centenas, senão milhares, de reais no aparelho?

Uma proposta diferente

Imagine agora que, em vez de limitar seu acesso a apenas uma fase do jogo ou a certos personagens selecionáveis, a versão demonstrativa de um game desse ao jogador acesso livre ao jogo como ele é... Mas por um período limitado de tempo.

Basicamente, é nisso que consiste a ideia da versão de avaliação ou “trial”, um conceito que já existe há muito tempo na comercialização de diversos softwares e até games independentes, mas que só agora está sendo aplicado em grandes plataformas de jogos do mercado.

Electronic Arts

Essa parece ser uma das estratégias de empresas como a Electronic Arts, que ofereceu recentemente, para serem jogados gratuitamente por alguns dias, títulos como Kingdoms of Amalur: Reckoning e Battlefield 4 em sua plataforma Origin. Já o EA Access, o programa apelidado por alguns de “Netflix dos Games” e que ficou conhecido pela polêmica do seu sistema de assinatura, também está promovendo iniciativas semelhantes.

“Cada jogo é diferente, então cada trial também será. Em alguns títulos, você poderá jogar um dos modos do jogo por um tempo limitado, enquanto em outros você poderá ir para o jogo completo”, diz a página oficial do EA Access. “E, visto que você estará sempre jogando o game real, qualquer progresso que fizer jogando será salvo quando o período se encerrar”.

“Diferentemente das demos, que são pedaços individuais do jogo feitos para dar a você um gostinho, mas que não entregam a experiência completa, quando você joga um trial através do EA Access, você está jogando o jogo de verdade por um tempo limitado”, explica a descrição.

Microsoft

A Microsoft também prometeu iniciar um programa que permitiria que assinantes Gold da Xbox Live tivessem acesso a demos de certos jogos por um período de 24 horas. Um usuário do Reddit publicou a imagem abaixo dizendo: “Sim, eu estou na versão prévia do programa. Eu já possuo o jogo, então isso não funciona para mim.”

Um usuário do Twitter então perguntou ao perfil oficial de suporte do Xbox: “Não tenho certeza se o ‘Dia do Jogue de Graça’ é uma novidade que está por vir ou não. Estou apenas checando”. A resposta da empresa confirmou e disse que eles “entrariam em contato em breve”. Parece que está confirmado, só falta um pronunciamento oficial.

Prós e contras

A discussão sobre qual formato é melhor certamente já existe e gera controvérsia. Isso vai depender, é claro, do gosto pessoal do jogador. Há pessoas que prefeririam, por exemplo, ouvir as primeiras três faixas musicais de um álbum na íntegra em vez de escutar apenas o refrão de 12 delas... E há pessoas que prefeririam o contrário.

Naturalmente, o sistema de trials não é perfeito. Sua primeira desvantagem nessas propostas pioneiras, quando comparado à demo, é que, enquanto assinante do EA Access ou da Live Gold, você está pagando por seu acesso, enquanto as demos são disponibilizadas gratuitamente.

Por outro lado, as demos, como já mencionamos, são parte de uma estratégia de marketing, enquanto os trials oferecem o jogo real, com todas as suas virtudes e defeitos expostos.

Como a própria descrição do EA Access avisa, se você testar o game e decidir comprá-lo, “não precisará baixar ou instalar nada, você pode continuar de onde parou e continuar jogando”. Se o jogo for ruim, no entanto, será um processo de download razoavelmente demorado feito à toa.

O importante é entender que a grande vantagem do trial é que você está jogando o game em sua totalidade. É possível ver vários modos, ver o visual na versão final, experimentar como é a sensação de tê-lo em seu console.

Qual prevalecerá?

Dificilmente o formato de demo tradicional entrará em extinção, pelo menos por enquanto. Pedir para um jogador pagar para ter acesso aos trials não é algo que funcionará para todos. Entretanto, caso essas iniciativas tenham sucesso, é possível que outras publishers e donas de plataformas também venham a aderir à onda, o que geraria competitividade e, provavelmente, vantagens para o consumidor através de propostas mais vantajosas.

Ainda que você julgue que pagar para ter acesso a trials não valha a pena, essas empresas não estão pedindo dinheiro por algo sem valor. O sistema “buffet livre” pode influenciar bastante a decisão de alguém na hora de comprar. O jogo como ele é está ali e não há espaço para maquiagem.

Fornecer a oportunidade do trial em jogos de grande porte foi uma ideia muito feliz, apesar de tardia, visto que é algo que estava debaixo de nossos narizes há bastante tempo. O fato é que demos são elaboradas para persuadir a você, potencial comprador, e os trials oferecem uma experiência muito mais completa e honesta.

Infelizmente, as plataformas que estão começando a oferecer essa experiência a estão dando apenas para “clientes VIP”. Mas a boa notícia é que, se a moda pegar, é possível que vejamos uma nova tendência de democratização do formato em um futuro próximo.

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Fontes

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