A indústria de games já respirou ares mais criativos nas décadas passadas. Com o tempo, é natural que algumas tendências sejam sobrepostas e que exista a tão dita (e difamada) “reciclagem”, processo em que tudo se imita, nada se cria. Não que isso seja ruim, mas que transforme as novidades em coisas “mais do mesmo”, ainda que exista espaço para a originalidade.
Verdade ou não, o fato é que alguns nomes ecoam no mercado e, hoje, se pararmos para refletir, conseguimos constatar o tamanho da importância que tais nomes têm para ditar o ritmo de certas práticas no futuro. Shigeru Miyamoto, Fumito Ueda, Hideki Mikami, Cliff Bleszinski, David Jaffe e um tal de Shinji Mikami são apenas alguns dos nomes que tiveram (e têm, é claro) papel fundamental na indústria.
Mikami tem uma fórmula especial: ele é versátil, sabe brincar com o terror e tem grandes sacadas em seus títulos. Como diretor, produtor executivo, produtor criativo, roteirista, modelador, designer e provavelmente alguma outra habilidade não citada aqui, o artista – em sua acepção mais completa da palavra – tem um portfólio invejável que prova por que games como Resident Evil 4 e The Evil Within são tão bons. Aliás, se você ainda não leu a análise deste último game no BJ, clique aqui. Trata-se da obra mais recente do autor (e nós adoramos).
Mikami, passa a receita?
Certamente ele responderia “não”, apesar de o criador não ter problemas em divulgar suas inspirações e influências. Todo e qualquer mínimo detalhe é observado por Mikami. A porta sendo aberta lentamente em Resident Evil, por exemplo, foi inspirada em Sweet Home, um game de 1989 para o jurássico Famicom. As animações de portas (quadradonas, é claro) foram diretamente trazidas para Resident Evil.
Vamos começar a lista com jogos que você certamente conhece:
1. Resident Evil, 1996, como diretor e produtor
Dispensa comentários, correto? Mesmo como produtor, Mikami supervisionou todo o departamento de criação nos projetos dos quais participou. Resident Evil foi o pontapé inicial na carreira do artista e a grande alavanca para sua trajetória profissional na indústria. O game praticamente inaugurou – ou consagrou – o gênero Survival Horror, já sondado antes por Alone in the Dark.
2. Resident Evil 2, 1998, como produtor
Como produtor, Mikami financiou a maior parte do desenvolvimento de Resident Evil 2 e acreditou na sequência até o fim. Sucesso: o game vendeu mais que o original e também é referência máxima no mercado.
3. Resident Evil 3: Nemesis, 1999, como produtor
A sequência imediata de RE 2 – imediata mesmo, pois se passa apenas algumas horas após os eventos do game – traz de volta Jill, uma das personagens favoritas da franquia, no papel central. Aqui, Mikami financiou um projeto que deu foco a Nemesis e criou o “senso de perseguição”, quando os jogadores tomam sustos brutais com o gigantesco inimigo.
3. Dino Crisis, 1999, como diretor e produtor
Eis um jogo que jamais hiberna na memória dos fãs do gênero! Dino Crisis conseguiu tirar aquela engessada imagem dos “dinossauros bonitinhos” de nosso imaginário e trouxe seres brutais numa ilha em que a agente Regina fica confinada. A “troca” de zumbis por dinossauros foi muito válida e trouxe o mesmo pavor – mais uma vez, pergunto: qual é a receita, Mishima?
4. Resident Evil Code: Veronica, 2000, como produtor
Tido por muitos como o melhor jogo da saga, RE Code: Veronica dedicou atenção a Claire Redfield, irmão de Chris e uma das personagens mais queridas da série. Essa é uma das grandes sacadas de Mikami: trazer personagens consagrados à ativa e criar uma intertextualidade voltada aos fãs.
5. Dino Crisis 2, 2000, como produtor executivo
O game não teve o mesmo sucesso que o primeiro – e entrou na onda de “deixar mais ação e menos terror” –, até porque Mikami só bancou a empreitada e supervisionou de longe o projeto, mas, ainda assim, é marcante. O sistema de upgrades de armas e o dinamismo entre os personagens trouxe mais litros de sangue e mais espécies de dinossauros – famintos por carne humana, é claro.
6. Resident Evil (remake), 2002, como diretor
É, senhoras e senhores. Esse clássico, nascido no GameCube, teve novamente o toque do mestre. Os marinheiros de primeira viagem terão a chance de experimentar essa pérola nos novos consoles. Até hoje, aquela mansão me dá arrepios.
7. Resident Evil 4, 2005, como diretor
Nove anos se passaram desde que esse divisor de águas foi lançado. O jogo – que seria um Devil May Cry – marcou a transição da série para um novo patamar. Ousado, Mikami apostou em novas mecânicas ao mesmo tempo em que conseguiu manter aquele resquício do terror com Leon, um dos personagens mais queridos da franquia. A soma deu certo. Um clássico imperdível que ditou tendências dos futuros jogos de ação (a mira sobre os ombros é uma delas).
8. Vanquish, 2010, como diretor
Com Vanquish, Mikami provou que tem versatilidade. O título é fast-paced total, com um toque de Gears of War e Ninja Gaiden e, apesar de não ser referência máxima no gênero, é uma bela experiência. O artista saiu do terror, mas manteve seu charme, mesmo com essa pegada futurista.
9. Shadows of the Damned, 2011, como produtor criativo
Suda + Mikami. A soma é insana, assim como toda a experiência com Shadows of the Damned, que é um Resident Evil 4 “lá no inferno”. O personagem canastrão e as referências clichês dão o tom sádico do game, que não deve passar batido pelos fãs.
10. The Evil Within, 2014, como diretor
Eis a soma de um pouco de tudo que Mikami acumulou em sua trajetória. Aqui, temos pitadas de Resident Evil 4, Alone in the Dark, Alan Wake, Silent Hill e até mesmo Dead Space. The Evil Within não tirou 92 no BJ à toa: ele representa o ápice do gênero com as melhores fórmulas que ele pode ter.
Existem outros títulos memoráveis no portfólio de Mikami. God Hand, Viewtiful Joe e Onimusha: Warlords estão numa luxuosa lista que exprime os talentos do artista em diversos cargos, mas é principalmente como diretor que ele se sobressai.
E você, curte o cara ou não? Opine abaixo.
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