Quase 10 anos. Esse é o tempo de existência de Uncharted, uma das franquias mais importantes da família PlayStation. Nascido com um hype razoavelmente moderado em 2007, o game de Nathan Drake, tido como “Lara Croft” de cueca, foi uma daquelas Sessões da Tarde inesquecíveis, com uma mistura fantástica de Indiana Jones, Tomb Raider e, é claro, o tempero infalível da Naughty Dog.
A trilogia se firmou de maneira iminente com o lançamento de Uncharted 2: Among Thieves e Uncharted 3: Drake’s Deception, sem falar no belo spin-off Uncharted: Golden Abyss, para PS Vita. O herói já passou por poucas boas: a floresta de Bornéu, as montanhas do Tibete, as ruas de Londres e de Colômbia, o deserto arábico de Rub'al Khali e diversas outras locações exóticas.
Ao final do terceiro game, aliás, o protagonista deu a entender que (spoiler adiante) deixaria o coldre encostado e se “aposentaria” da vida de explorador. Mas a cortina jamais pode fechar, e o espetáculo que nos aguarda em Uncharted 4: A Thief's End será, certamente, uma experiência definitiva aos donos de PS4. E quem não tem um já pode ir guardando o rico dinheirinho para comprar.
A bagagem acumulada em Uncharted e The Last of Us, o “Cidadão Kane” dos games
A sequência não seria um jogo da Naughty Dog se não for um verdadeiro definidor de paradigmas. A ideia de levar a experiência – seja ela cinematográfica ou funcional – a outro patamar é apenas uma das competências da desenvolvedora, que vai usar e abusar de todo o conhecimento acumulado nos Uncharted anteriores e em The Last of Us, tido por alguns como o “Cidadão Kane” dos games.
O engraçado é o caráter “simples” que jogos dessa bagatela têm. Em termos de jogabilidade, não há revoluções. Há evoluções de tudo o que existe no gênero de ação, um dos mais antigos e queridos dessa indústria. O que impressionou em Drake’s Fortune, por exemplo, foi sua ação cinematográfica – que remete a filmes como “Indiana Jones”, “A Lenda do Tesouro Perdido” e tantos outros de caça ao tesouro lendário –, seus personagens carismáticos (Drake especialmente), a história agradável e, é claro, os gráficos embasbacantes, que deixavam a calça do canastrão molhada por um tempão – impactante à época.
Já The Last of Us, premiadíssimo e aclamadíssimo, preferiu focar a experiência numa jornada emocional, emocionante e, por que não, emotiva, uma vez que, em termos de gameplay, se pararmos para refletir, apenas segue a cartilha do gênero. Joel e Ellie estarão para sempre em nossas memórias. Bagagem, portanto, não falta à Naughty Dog.
Visual, história, gameplay ou trilha sonora? Tudo
As toneladas de informações reveladas em matéria feita pela GameInformer e publicadas aqui no BJ fazem um jogador básico, intermediário ou avançado refletir sobre os principais quesitos tidos hoje como imprescindíveis pela indústria. O visual, por exemplo, é um aspecto que ganhou suma importância como definidor de opiniões. Mas só isso basta? Jamais.
“Aprendemos muito com o porte de The Last of Us para PS4. Foi fundamental para dominarmos o console. É por isso que, hoje, divulgamos seguramente essas novidades de Uncharted 4. Estamos em boa forma”, diz o sempre enfático Neil Druckmann ao referido veículo.
Conforme destacamos aqui no BJ, assim que o desenvolvimento de Uncharted 3 acabou, um pequeno grupo de desenvolvedores já estava trabalhando no novo título. Detalhes minuciosos em renderizações de fundo – lembrando que todas elas são feitas em tempo real nas cenas de corte –, partículas de areia, design das armas, remodelagem dos rostos e do figurino são “fichinha” para a talentosa equipe.
Mais carga emocional
Atualmente, a carga emocional que uma trama pode transmitir é praticamente um quesito à parte em qualquer jogo que se preze. O conceito foi se moldando ao longo dos anos e, agora, transformou-se em exigência. Com a experiência adquirida em The Last of Us, a equipe trabalhou com a ideia de poder “impactar as pessoas” e “mudar as expectativas emocionais” que cada um tem.
“Honestamente, é um jogo difícil de desenhar [Uncharted 4] porque é tão acessível. (...) Muitas coisas foram pensadas e repensadas. The Last of Us nos deu novos conceitos sobre como devemos evoluir as coisas. Como jogadores, queremos jogar um game que tenha a experiência máxima em Uncharted. Há um potencial enorme aqui”, explicou Bruce Straley, um dos membros do panteão de desenvolvimento.
Para dar mais ênfase a momentos que tenham alta carga emocional, a Naughty Dog vai imprimir seu toque especial: animações. Serão mais de 60 diferentes apenas para Drake coletar alguma coisa – sim, 60 só para isso. Essas, na verdade, são algumas das animações “corporais”. A equipe “perdeu as contas” da quantidade de expressões faciais.
Novo sistema de ventos altera até a forma como Drake se movimenta!
Se os detalhes da água chamaram a atenção desde o primeiro Uncharted, eles não passam, agora, de uma mera mesa de rascunhos para a Naughty Dog. Uncharted 4 terá um novo sistema de ventos que afeta diretamente o gameplay.
Drake pode se movimentar com mais lentidão ou mais rapidez dependendo da ocasião. Em alguns momentos, seu cabelo, suas pernas ou até mesmo sua região peitoral se comportam de forma diferente. A folhagem reflete os mínimos detalhes da temperatura. Em uma geada, por exemplo, folhas, galhos e outros detalhes ficam com partículas minúsculas que demoram para sair dali.
Os artistas querem mostrar mais “maturidade” nesse sentido. Há um senso maior de passagem de tempo agora, e os cenários, conforme divulgamos aqui, estão muito mais abertos. A linearidade continua, mas com mais liberdade, o que será importante para o novo sistema de ventos.
Três anos depois dos eventos de Uncharted 3 e mais maturidade (spoilers adiante)
Como se sabe, a trama de Uncharted 4 se passará três anos após os eventos de Uncharted 3. Sam, irmão mais velho de Nathan, tem cinco anos a mais que o herói. Contudo, o rapaz é menos prudente que o protagonista e é ciumento, vendo o herói como “o irmãozinho menor que é melhor em tudo”.
Teoricamente, Nathan pensava que Sam estava morto. Quando o irmão mais novo reaparece, o explorador sente o “cheiro de perigo” e imagina sua feliz união com Elena desmoronar. A Naughty Dog se resguarda para falar sobre os dois com mais detalhes justamente por entender que isso "aprofunda a trama” e poderia dar eventuais spoilers.
Tudo o que se sabe é que, no contexto de Uncharted 4, a vida de Sam depende do sucesso de Nathan em encontrar um artefato de Henry Avery. Compelido ao sentimento de amor pelo irmão – apesar dos pesares –, Nathan encarna a filosofia “sangue é sangue” e sai de sua paz para voltar a ser um caçador de tesouros. A história leva os irmãos para Libertalia, uma colônia mística em Madagascar fundada por piratas, em que o herói enfrentará dois caçadores rivais chamados Rafe e Nadine.
“Todo tesouro tem seu preço. Estamos explorando o preço dessas aventuras na vida de Nathan Drake. Por que alguém faria isso [caçar tesouros]? Por que alguém entraria nesse tipo de vida e perseguiria essas coisas, colocando tudo em perigo continuamente? E através da relação de Drake com seu irmão, que sabe muito sobre o herói, vamos explorar o passado [de Nathan]”, explica Druckmann.
A evolução da exploração
Pela primeira vez na franquia, a Naughty Dog aposta em uma navegação mais livre. O aspecto linear permanecerá, mas muito menos limitado. A demo à qual o GameInformer teve acesso mostrou que diferentes obstáculos podem aparecer diante do jogador e que os cenários estão mais “largos”, possibilitando um leque de opções na exploração.
Claro que não se trata de um mundo aberto. Mas é possível, por exemplo, que você chegue até um determinado ponto através de uma caverna ou por cima de uma montanha. A forma como cada jogador explora pode pavimentar diferentes caminhos que desembocam no mesmo ponto.
“É o mesmo conteúdo que você poderia imaginar, mas, agora, em uma escala maior. Como temos mais ferramentas, temos mais formas de integrar as coisas. Não se trata apenas de escalar montanhas. Há uma série de elementos combinados que aumentam a exploração e a utilização do cenário”, explicou Ricky Cambier, designer do game.
Os puzzles estarão bem inseridos no contexto de jogo, todos eles. Nada vai aparecer “à toa”; tudo deve fazer sentido. “Os puzzles são sempre direcionados. Quem deixou aquelas pistas? Por quê? Que mecânicas devo utilizar?”, indaga Straler.
Inteligência artificial refinada e multiplayer confirmado
Melhorar a IA dos inimigos foi uma das prioridades da Naughty Dog. A equipe quis repensar a distribuição dos personagens nos ambientes do jogo, a reação às ações de Drake e as iniciativas que os agressores podem adotar perante o herói.
“Nós realmente fizemos um retratamento na IA. Tivemos que repensar na distribuição do espaço e na forma como cada inimigo vê Drake, o melhor caminho que eles podem escolher para chegar até o herói e tentar estudar a maneira mais eficiente de abater o alvo. Um grupo pode chamar reforços ou se dividir para caçar Drake estrategicamente”, relata Straley.
Assim como em The Last of Us, você também terá a IA ao seu lado aqui. Sam, por exemplo, tem boas habilidades de combate e pode ajudar Nathan a encontrar determinados artefatos espalhados pelos cenários. “Queremos explorar a sensação de se estar perto de Drake, que já é tão bom. Como eles vão trabalhar juntos? De que forma vai se dar esse relacionamento?”, completou.
O modo multiplayer já foi confirmado. A novidade não é tão impactante porque a modalidade online existe na série desde Uncharted 2. A equipe ainda não está segura para revelar quaisquer detalhes, mas é possível especular um modo competitivo e, quem sabe, um cooperativo.
A equipe do GameInformer teve acesso a uma demo que nenhum outro veículo conferiu ainda. Assim que o vídeo brotar na rede, atualizaremos esta matéria. Por enquanto, fica o gostinho de quero mais!
Uncharted 4: A Thief’s End será lançado até o final deste ano exclusivamente para PlayStation 4.
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