No momento em que este texto é escrito, faz aproximadamente seis meses que DriveClub deixou o campo das promessas e das apresentações em eventos pelas prateleiras. Em outubro do ano passado, o imaginário construído em meses pela Sony era, portanto, colocado em seu teste definitivo. Afinal, uma vez lançado, um título perde definitivamente a proteção de campanhas onerosas, ficando à mercê dos critérios dos consumidores, os quais dificilmente perdoam.
Na ocasião, o que se viu foi o universo de corridas em ambiente social prometido pela Evolution Studios cerrar as portas, deixando aos jogadores esperançosos uma porção offline que se parecia muito pouco com o que havia sido prometido. Entretanto, de lá para cá, muita coisa mudou.
Em seis meses de um trajeto pedregoso — em que não faltava quem atestasse uma morte prematura —, a Evolution, lenta e constante, trabalhou em atualizações, incluiu funcionalidades, pistas e veículos, a fim de mostrar que DriveClub não era apenas mais um título banhado pelo puro brilho de “ouro de tolo” do hype.
O DriveClub de hoje é outro
Dessa forma, o que se tem hoje é um jogo que — é preciso reconhecer — se parece muito mais com o discurso empolgado e com os cartazes de neon que precederam o anúncio de DriveClub. Afinal, conforme uma reelaboração pesada de servidores devolveu ao título suas dimensões online vitais, os referidos conteúdos extras serviram de “mimos” para acalmar fãs indignados.
Por outro lado, a versão do game prometida gratuitamente para pagantes da PlayStation Plus ainda resta como um tópico “a escapar” para a desenvolvedora — juntamente com os lobbys privados e os representantes da indústria automobilística nipônica.
Seja como for, a pergunta parece inevitável: como seria a análise de DriveClub hoje, após meses de aperfeiçoamento e inclusões variadas — mesmo que alguns “buracos” tenham permanecido?
Uma (re)análise parece justa
Quando este redator testou originalmente DriveClub, uma prerrogativa à época quase levou a um engano. Basicamente, o BJ teve acesso ao título antecipadamente, e, naqueles primeiros contatos, tudo parecia funcionar exatamente conforme o previsto — embora, naturalmente, não houvesse muita gente para formar clubes e lançar desafios.
Não obstante, alguns dias depois, com o lançamento do jogo, veio a surpresa: a infraestrutura da Evolution Studios parecia simplesmente não aguentar a enorme massa de jogadores que buscavam no título a porta de entrada para os jogos de corrida da oitava geração — tecla pressionada várias vezes tanto pela desenvolvedora quanto pela Sony.
Como resultado, DriveClube acabou como uma enorme frustração, sendo mesmo completamente impossível sequer conseguir uma conexão com os servidores (obviamente insuficientes). Isso me levou, à época, a uma conclusão que ainda me parece bastante razoável para aquele primeiro período:
“Apesar de ser um jogo belíssimo e com ótimas sacadas, DriveClub acaba falhando seriamente em dar conta das próprias pretensões online/sociais.”
Ok, talvez um jogo que tenha sido construído “em prestações” não mereça tanta condescendência quanto um título que saia do forno e agrade logo de cara. Entretanto, parece igualmente injusto atribuir definitivamente os defeitos daquele “primeiro” DriveClub — daquele título obviamente incompleto — a este jogo que, hoje, tem se mostrado igualmente belo, divertido e surpreendentemente funcional.
Portanto, permitam-me revisitar alguns dos pontos levantados durante aquela primeira análise. Mas não entenda mal, a ideia aqui não é buscar uma redenção — seja do jogo ou do autor. Trata-se apenas de ver no que, exatamente, aquele primeiro “esboço” se parece com o game atualmente disponível.
Os modos online agora funcionam
“Embora DriveClub ainda seja um bom jogo de corrida em ambiente offline, seria difícil considerá-lo, nessas condições, como o próximo passo dos títulos de corrida em consoles. Talvez a solução agora seja esperar... Para ver se a Evolution ainda consegue se aprumar e colocar as coisas em ordem.”
Talvez seja aqui que a diferença mais brutal entre o “novo” e o “velho” DriveClub apareça. Conforme qualquer um que tentou experimentar as funcionalidades online do game no ano passado poderia atestar, era praticamente impossível conseguir mesmo uma mínima amostra. Os servidores apenas alternavam a instabilidade por uma completa ausência — transformando a proposta de corrida colaborativa em mais um título entre o arcade e a simulação.
Bem, adiamentos, atualizações, promessas e diversas postagens apaziguadoras depois, DriveClub parece ter se tornado o jogo que havia sido prometido. Embora o atraso de meio ano ainda seja duro de engolir, é fato que as dimensões online hoje funcionam. É possível lançar desafios, acessar a rankings, formar clubes e convidar membros etc.
Se isso tudo vai realmente comprar as audiências modernas, entretanto, aí já é outra história. Particularmente, tenho que dizer que me agradou saber que buscava um resultado específico deixado por um dos desafiantes e que poderia convidar jogadores/pilotos habilidosos para integrar a minha própria equipe.
Talvez não seja aconselhável arriscar um palpite sobre a longevidade dessa mecânica e sobre a relevância dessas mecânicas para futuras gerações de jogos de corrida... Mas, por enquanto, até parece bem interessante. De qualquer forma, muito melhor do que a espera eterna por contato com os servidores do ano passado.
A I. A. ainda apronta das suas
“É bastante comum que um [dos demais competidores] simplesmente ignore a sua existência — o que já é bem frustrante —, ‘enchendo’ a traseira do seu carro. Como resultado... Você mesmo é penalizado pelo acidente.”
A Evolution apresentou uma boa sacada para evitar que o jogador estilo “Joselito” ganhasse todas as corridas cortando curvas pelo meio e utilizando os demais carros como anteparo. Desde o lançamento de DriveClub, esse tipo de comportamento é frustrado em duas etapas: Advertência e perda de pontos; e Advertência, perda de pontos e desaceleração compulsória do carro.
O problema, entretanto, é que a desenvolvedora parece ter confiado demais na I. A. (inteligência artificial) do game. Além de as mesmas desvantagem não valerem para os pilotos controlados pelo computador, você ainda acabava penalizado quando um dito cujo batia na sua traseira.
Bem, diferentemente do modo online, o quesito “inteligência artificial” não parece ter sido atacado com a mesma veemência pela Evolution. Embora algumas mudanças sutis façam crer que os demais carros sejam controlados por algo semelhante a um piloto profissional, fato é que as frustrações ainda ocorrem de tempos em tempos.
E isso mesmo quando não ocorrem penalizações oficiais. Senão, tente fazer uma ultrapassagem por dentro em uma curva — unicamente para ver o sujeito “ultrapassado” jogar o carro estupidamente sobre você, provavelmente lhe mandando para fora da pista (e aí ainda pode haver a penalização oficial, é claro). Enfim, a Evolution diz que a I. A. ainda está no foco e também pede feedbacks. Quem sabe se não há uma melhora mais perceptível adiante?
“Eu amo carros europeus”
“Talvez a única questão curiosa em relação aos carros de DriveClub seja a completa ausência de veículos japoneses e americanos entre os modelos que acompanham o jogo. Talvez a única exceção aqui seja o Hennessey Venom GT — embora isso seja até um tanto controverso, considerando-se o processo de fabricação multinacional do modelo.”
A lista de carros atualmente disponível em DriveClub é com certeza impressionante. Lamborghinis, McLarens, Ferraris, Bentleys e por aí vai — com o rol se tornando mais extenso conforme mais e mais atualizações são disponibilizadas, como parte do Season Pass.
Não obstante, há uma falta notável que ainda permanece: não há carros japoneses e praticamente não há veículos americanos — com apenas três exceções, incluindo o Hennessey Venom GT, o Chevrolet Corvette Z06 Centennial Edition e o Dodge SRT Viper GTS. Passados seis meses do lançamento, a Evolution ainda mantém essa curiosa negligência relacionada a marcas de fora da Europa.
Ainda o mais belo jogo de corrida para um console
“A experiência de correr contra o sol poente, por exemplo, é algo que não se esquece facilmente. Ou melhor, talvez isso seja ofuscado apenas pelas corridas noturnas. Mergulhar no mais completo breu, utilizando a câmera de dentro do cockpit e voando a centenas de quilômetros por hora... Isso é algo que certamente não se esquece.”
Passados seis meses do lançamento de DriveClub, ainda é fácil reiterar o que foi dito na análise da época: trata-se do mais belo jogo de corrida já produzido para um console. Na verdade, em alguns quesitos, a Evolution conseguiu mesmo se superar.
“Embora alguns efeitos ainda devam ser adicionados — tais como chuva e neve —, é difícil olhar para o horizonte e não se surpreender com o realismo das nuvens, da iluminação e da vegetação.”
Senão, experimente correr com chuva, sob nevasca ou “contra o sol poente”. Nesses momentos, torna-se inegável a habilidade do estúdio em obter o melhor do que tem sido considerado como a pedra angular das atuais gerações: o processamento de partículas — que o diga quem já viu o vento batendo nas gotículas do para-brisas molhado pela água da chuva. Sem dúvida um espetáculo visual.
Depois da queda, a retomada
“No estado atual, é realmente difícil avaliar DriveClub em sua totalidade. Afinal, conforme dito anteriormente, há neste momento uma eterna roda de carregamento separando a porção offline do game de toda a dimensão online e social planejada (e propagandeada) por muito tempo pela Evolution Studios.”
Como um fã de jogos de corrida (independe da plataforma que seja), realmente me agrada saber que a conclusão daquela primeira análise não poderia mais se aplicar a DriveClub. Depois do que parecia uma queda certa rumo às piadas prontas e ao esquecimento, foi realmente notável a habilidade da Evolution ao manejar o terrível início de jornada do seu título.
Atualmente, há finalmente um título que não faz feio frente às ambições pintadas pela Sony — mesmo que, em alguns pontos, talvez não tenha se tornado o suprassumo que muita gente imaginava possível.
É claro, ainda há diversas questões por resolver — sendo o lançamento de uma versão gratuita para assinantes da PS Plus provavelmente a mais constrangedora delas. Mas, seja como for, já é possível acreditar que a Evolution conseguiu escrever um bom prólogo para o futuro dos jogos de corrida.
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