No dia 21 de janeiro de 1998, uma obra-prima era lançada e marcaria os fãs de terror para sempre: Resident Evil 2 chegava às lojas. E podem acreditar: na época, isso era a coisa mais sensacional e assustadora que havia. Confesso que quando joguei e tinha meus 6 ou 7 anos de idade, aquilo me aterrorizava: a ideia de ter zumbis na porta de casa me deixava em pânico.
O primeiro game já havia sido um sucesso e ajudou a definir um gênero (o survival horror) e colocar a franquia nos holofotes. Por conta disso, a sequência era muito aguardada, algo que a Capcom soube desde o início e não pensou duas vezes ao investir em marketing (o que gerou até comerciais na TV dirigidos por Geoarge A. Romero, o pai dos “zumbis modernos” e diretor de clássicos como “A Madrugada dos Mortos”).
E não deu outra: Resident Evil 2 bateu recordes na época e foi o jogo que vendeu mais rapidamente em um curto período de tempo nos Estados Unidos, passando games como Super Mario 64 e Final Fantasy VII. Com investidas de marketing tão agressivas, é de se imaginar o porquê de o game ser tão marcante. Entretanto, a sua fama não precede apenas de imagem: o título realmente oferecia tudo isso e mais, marcando para sempre o coração dos fãs.
Por que Resident Evil 2 foi tão bom?
O primeiro Resident Evil tinha todos os aspectos de um bom terror: monstros, um grupo que deve escapar de uma situação tensa e uma mansão nos confins das montanhas que corta toda e qualquer comunicação, impedindo o resgate dos membros da S.T.A.R.S. Afinal de contas, o que é um terror clássico sem o isolamento e uma casa sinistra? Não é por menos que a localização do nome japonês “Biohazard” chegou como “Resident Evil”.
É aí que Resident Evil 2 entra em cena: o ambiente não era mais a mansão inóspita ou aquele clássico local macabro com cara de “vai dar merd@”. Dessa vez, o terror sondava as ruas da cidade de Raccoon City. Lojas, ônibus, becos, quadras de basquete e, ironicamente, até uma delegacia, um local que pode ser interpretado como um porto-seguro. Sem dúvidas, uma desconstrução bem legal que cria um ótimo local para situar um game de terror.
A foto é de Resident Evil 3, mas podemos ver uma bandeirinha de boas-vindas para o primeiro dia de Leon na RPD.
É interessante analisar hoje, 20 anos depois do lançamento, o quão diferente Resident Evil 2 era de seu predecessor, mas também o quão similar ele se manteve. Muito da estrutura permaneceu a mesma e passamos boa parte do tempo em um casarão grande – que era a delegacia. A progressão era bem parecida também: coletar chaves para progredir, enfrentar chefões no meio da trama e ir até um laboratório no fim.
Resident Evil 2 foi diferente do game original, mas manteve uma premissa e estrutura bem familiar para os fãs
Foi o clássico: “é parecido, mas é diferente”. Apesar de ter uma estrutura familiar (que só seria mudada mais radicalmente em Resident Evil 3), Resident Evil 2 teve adições e mudanças substanciais, como novos inimigos e personagens que se tornariam bem importantes para a franquia. Dessa vez, era possível pegar partes de armas e aprimorá-las, coletar itens especiais logo no começo do jogo, cutscenes em 3D (saindo do formato live action) e muito mais. Mas, sem dúvidas, o que mais marcou foi a campanha dividida.
Campanhas alternadas, trama interessante e extras legais
Se você jogou Resident Evil 2, há uma grande chance de você ter zerado na ordem errada. O game tinha dois CDs, cada um deles com uma campanha: o CD 1 era o de Leon e o 2 o da Claire. Isso era bem legal, já que poderíamos ver coisas diferentes com cada personagem, incluindo armas distintas, chefões diferentes, puzzles únicos e até mesmo uma história com cenas novas.
A ordem está errada nos discos? Talvez. Ou talvez a Capcom simplesmente não sabia o que seria canônico em 1998
Essa era uma confusão comum, afinal, o Disco 1 deveria ser o primeiro, não? Porém, a ordem canônica é a menos óbvia: os jogadores tinham que começar pelo CD 2, da Claire, para jogarem o cenário A com a protagonista e o cenário B com Leon. Isso gerava confusão, mas não tinha problema, pois o game tinha uma qualidade tão grande que a maioria das pessoas zerou das duas formas.
Esse fator replay de Resident Evil 2 foi realmente incrível e incentivou bastante os jogadores a explorarem tudo que o título tinha a oferecer. Ambas as tramas, mesmo que estruturalmente iguais, tinham nuances diferentes e bacanas de aproveitar, com cenas extras e trechos em que controlávamos outros personagens (quem se lembra do sufoco de jogar com a Sherry ou ver o lado de Ada Wong?).
E as novidades não paravam por aí: tínhamos diversos extras, como o The 4th Survivor, The Tofu Survivor e o Extreme Battle, todos bem desafiadores e que marcaram a franquia para sempre (afinal, todos os jogos da série desde então tiveram o seu modo Mercenaries ou algo similiar). Apesar de tudo isso ser incrível nos dias de hoje, Resident Evil 2 poderia ter sido bem diferente.
Resident Evil 1.5? O que era isso?
Claire Redfield conhecendo Leon S. Kennedy em um posto de parada de Raccoon City e fugindo em um carro de polícia se tornou uma cena bem famosa (e uma das mais queridinhas da época do PS1). Contudo, tudo poderia ter sido bem diferente, já que a versão inicial de Shinji Mikami, diretor do game, tinha algumas alterações bem drásticas.
Chamado de Resident Evil 1.5, Resident Evil 2 Prototype ou Resident Evil 2 Beta, esse projeto chegou a ser desenvolvido em etapas avançadas de produção, mas foi descartado perto do fim, pois Mikami não estava satisfeito com o resultado. Basicamente, teríamos Leon no papel principal, mas Elza Walker como a segunda personagem, e não Claire Redfield.
A trama se passaria em uma versão da delegacia mais moderna, similar aos prédios comuns. A ideia seria ter muitos mais zumbis em cena, mais inimigos diferentes (como gorilas, crocodilos e outros monstros de laboratório) e até mesmo mais personagens jogáveis, tudo com uma experiência um pouco mais rápida, menos cadenciada e focada no combate.
Parte dessas ideias viriam em jogos posteriores, como as armas automáticas, mas muitas ficaram no limbo, como a chance de equipar coletes e outros equipamentos que aumentavam a defesa do personagem. De qualquer forma, há alguns vídeos vazados e partes da história reveladas que atiçam a curiosidade dos fãs a respeito de Resident Evil 1.5. Afinal, como será que ele seria se tivesse sido lançado? Melhor? Pior? Difícil dizer, mas legal de especular.
Mais curiosidades do game
Sem dúvidas, Resident Evil 2 foi bem marcante para série, que hoje tem dezenas de títulos. Apesar de o Remake estar longe, a trama e cenários seriam revisitados no futuro, garantindo alguns pontos de vista diferente dos acontecimentos, reforçando que os fãs adoram o game e ainda consomem muito conteúdo.
Não muito tempo depois, Resident Evil Outbreak foi o primeiro jogo a revisitar os cenários do segundo jogo da série. Para quem não se lembra, esse era o título mais focado no multiplayer (mesmo sendo da era PS2) e trazia uma jogabilidade arcade, algo que não impediu os jogadores a regressarem aos laboratórios subterrâneos da Umbrella – agora completamente em 3D, e não mais pré-renderizados.
Porém, o que mais se destacou (além de ser o mais recente) foi Resident Evil: The Darkside Chronicles, que trouxe os pontos essenciais da campanha de Resident Evil 2 em um shooter sob trilhos em primeira pessoa. A maior diferença é que, nesta aventura, a história é contada como se Leon e Claire estivessem juntos o tempo todo.
Outro fato curioso de Resident Evil 2 é que ele foi lançado para diversas plataformas: PlayStation, GameCube, Dreamcast, PC e até mesmo para Nintendo 64. Essa última versão foi especialmente interessnate, pois muitos diziam que esse port era impossível, pois a memória limitada dos cartuchos do console não iria comportar a campanha inteira junto com as cutscenes em 3D. Porém, a Angel Studios realizou o improvável: não só o jogo coube, mas ele também teve alguns extras, como arquivos de texto que eram exclusivos dessa versão.
Uma versão para Sega Saturn chegou a entrar no forno (vale lembrar que o console da Sega recebeu o primeiro game), mas a Capcom cancelou o projeto por causa de problemas técnicos.
O Remake está por vir! O que esperar?
Não há dúvidas: mesmo que Resident Evil 2 não seja o seu jogo favorito da franquia, se você jogou ele, certamente ele tem um lugar no seu coração. De uma forma ou de outra, ele é um dos mais marcantes, e isso ajudou a Capcom a observar que seria o título mais cotado para um remake, algo que os fãs já pediam há muito tempo.
Desde agosto de 2015, temos o anúncio de Resident Evil 2 Remake, mas nada de informações até a data de publicação desta matéria. Ontem, dia 21 de janeiro de 2018, foi o aniversário de 20 anos do game e muitos especulam o que a Capcom tem reservado para o remake. Até o momento, alguns boatos apontavam problemas no desenvolvimento e outros diziam que tudo corria bem.
De uma forma ou de outra, estamos em uma época conturbada para especular o que viria de um remake. O conceito sobre o que é refazer um jogo varia para cada um de nós, mas a visão mais aceitada por todos é que se trata de trazer um jogo antigo para novas audiências, o que implica adaptar o gameplay. Nesse ponto, as câmeras fixas estariam de fora, restando as opções de jogar em terceira ou primeira pessoa. Mas será que isso corresponderia bem ao estilo de Resident Evil 2?
É difícil fazer um remake. Ao mesmo tempo que o novo jogo deve capturar e transmitir com maestria a essência original, ele também deve oferecer uma experiência refrescante e moderna, algo que nem sempre bate. Sem dúvidas, a Capcom está em uma sinuca de bico com o projeto. Até hoje, apenas a equipe de fãs que estava tentando recriar Resident Evil 2 viu o progresso da Capcom, e por conta disso muitos especulam que Resident Evil 2 Remake pode assumir a câmera sobre o ombro.
Toda essa bagunça é compreensível e justificável, facilitando o nosso entendimento sobre a demora por informações do projeto. De qualquer forma, o original continua ali, do jeitinho que era. Resident Evil 2 ajudou a perpetuar o estilo que o primeiro game começou e hoje, mesmo datado para as novas gerações, continua um jogo muito bom.
Portanto, parabéns pelos 20 anos, Resident Evil 2! E obrigado por criar uma nova leva de jogos de terror!
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