Todos que acompanham de perto o mundo dos video games sabem que já estamos naquela época em que uma nova geração de consoles é iminente — afinal, PlayStation 4 e Xbox One já estão há quase 5 anos no mercado. No entanto, somente com a chegada da E3 tivemos a garantia de que novos hardwares estão sendo preparados e não vamos ter a repetição do grande ciclo testemunhado pelo Xbox 360 e PlayStation 3.
A primeira a falar sobre novos hardwares foi a Microsoft, que tratou o assunto de forma mais ampla: na conferência da empresa, Phil Spencer garantiu que suas equipes já trabalham em novos hardwares e vão continuar dando suporte aos fãs da marca. No entanto, coube à Bethesda a tarefa de falar com todas as letras: uma nova geração está vindo por aí, e jogos já estão sendo feitos para ela.
Na apresentação da desenvolvedora, Todd Howard confirmou que tanto Starfield — primeira IP inédita do estúdio em 25 anos — quanto o vindouro The Elder Scrolls VI estão sendo pensados para novas plataformas. Embora companhias como a CD Projekt RED também tenham projetos semelhantes, essa foi a primeira vez que tivemos a confirmação de títulos que não poderão ser jogados no Xbox One ou no PlayStation 4 — ao menos não com toda a qualidade possível.
Nota: por próxima geração de consoles, estamos falando neste artigo somente dos esforços da Microsoft e da Sony, empresas consideradas atualmente os principais nomes do mercado. A Nintendo costuma operar por regras e tendências diferentes e o mercado de PCs também é diferenciado o suficiente para ser difícil falar em gerações quanto nos referimos a ele.
O que podemos esperar?
Quando falamos da nova geração de consoles, temos que ser cuidadosos: apesar de diversos rumores relacionados a um suposto “PlayStation 5” estarem circulando há tempos, as informações disponíveis são imprecisas e muito especulativas. Da mesma forma, ainda não temos dados suficientes para saber como a Microsoft pretende superar o já impressionante Xbox One X.
Assim, é preciso “pinçar” algumas declarações de executivos se queremos entender qual será o foco dos novos hardwares. No entanto, algumas coisas estão claras: podemos esperar máquinas já prontas para a resolução 4K (que não vão depender tanto de técnicas de resolução dinâmica) e que vão trazer um grau ainda maior de detalhes — diminuindo um pouco a distância que os PCs poderosos da atualidade já estão apresentando.
Uma das novidades que devemos ver é um foco maior no framerate: enquanto os consoles atuais se acostumaram a trabalhar com os 30 FPS (com algumas exceções pontuais), as novas plataformas devem se focar em entregar mais quadros por segundo — algo que se traduz em experiências mais fluídas, algo importante em gêneros que exigem respostas rápidas do jogador.
“Se você olhar para as coisas do Xbox que estamos fazendo hoje, como framerate variável... penso que o framerate é uma área em que os consoles podem fazer mais no geral. Você vê o equilíbrio entre CPU e GPU nos consoles de hoje e eles são um pouco desbalanceadas comparadas ao que vemos no lado do PC e acredito que há algo que podemos fazer aí”, afirmou Phil Spencer em uma entrevista ao site Giant Bomb realizada após a E3.
A declaração do executivo é feita especificamente em relação aos produtos da companhia, mas também pode se estender aos planos da Sony. Com a resolução 4K “resolvida” por ambas as competidoras, fatores adicionais com a quantidade de detalhes em tela e o próprio desempenho dos jogos podem ser o “critério de desempate” que vai convencer os jogadores a ir para um ou outro lado dessa disputa.
Geração baseada em serviços
Enquanto games devem continuar a ser o foco das empresas, critérios adicionais devem ajudar a tornar as plataformas centros de entretenimento — e produtores de conteúdo — mais completos. É difícil imaginar um novo console vindo sem recursos de streaming de vídeo e música ou que deixam de lado ferramentas que permitem interagir com comunidades ou fazer transmissões de sua jogatina.
É difícil imaginar um novo console vindo sem recursos de streaming de vídeo e música
Nesse sentido, a Microsoft tem certas vantagens. É muito improvável que ela vá abandonar o sistema do Game Pass, que oferece aos “novatos” de sua plataforma o acesso instantâneo a mais de 100 jogos e garante a possibilidade de jogar grandes lançamentos exclusivos na data em que eles chegam às lojas.
Somando ao fato de que a empresa também não deve abrir mão de sua retrocompatibilidade, podemos ter em mão uma plataforma que não sofre com um problema clássico de plataformas novas: a falta de jogos feitos para ela. Todos sabemos que o primeiro ano de um console costuma ser “magro” em matéria de lançamentos, então a possibilidade de continuar jogando os games antigos que já temos (com possíveis melhorias gráficas) é bastante atraente na hora de convencer alguém a gastar em um hardware novo.
A seu favor, a Sony já tem uma estrutura pré-estabelecida para o streaming de jogos, tendência que executivos como Yves Guillemot — o CEO da Ubisoft — apontam como um possível futuro da indústria. Através do PlayStation Now, a empresa já entrega a possibilidade de jogar vários games de plataformas anteriores (e alguns jogos mais recentes) no PlayStation 4.
Obviamente, isso vem com algumas desvantagens: serviços do tipo são muito dependentes de servidores e de uma boa conexão de internet. Ou seja, para tudo funcionar direito, você não somente tem que possuir uma banda larga de alta velocidade, como precisa viver em uma região geográfica beneficiada pela proximidade de um servidor parrudo.
Com a entrada de mais empresas nessa área — incluindo a Microsoft, que já afirmou estar desenvolvendo um serviço do tipo, algo que a EA também fez —, a tendência é que a estrutura de servidores seja ampliada e a opção se torne disponível para mais pessoas. No entanto, essa ainda é uma área um tanto sensível: a realidade nos mostra que, mesmo em grandes centros urbanos, ainda é difícil que todos tenham conexões de alta qualidade, e apostar em um modelo baseado somente no streaming pode deixar de lado muitos jogadores.
“A grande mudança no consumo da mídia do entretenimento nos últimos cinco anos é a combinação de streaming e assinaturas”, afirmou o CEO da EA, Andrew Wilson, durante sua apresentação na EA Play. “ Como consumidores assistindo a filmes, assistindo TV, escutando música, lendo livros, isso nunca foi tão fácil. E acreditamos que essa mudança vai ter um impacto profundo na nossa indústria nos próximos anos”.
Força do digital
A próxima geração de consoles também deve reforçar uma das tendências que já vemos atualmente: o fortalecimento constante do meio digital. Isso não quer dizer que não vamos mais ter os jogos em caixinhas ou a opção de jogar offline, mas algumas decisões recentes mostram que uma quantidade ainda maior de títulos vai exigir que você esteja online para aproveitá-los.
Através do sistema de “games como serviço”, a indústria Triplo A deve reforçar seu portfólio digital, seja através do oferecimento de microtransações (que não devem ir embora) ou de pacotes de conteúdo adicionais. Quer prolongar sua aventura em um RPG? Certamente haverá um menu no qual você pode comprar um novo DLC de histórias ou conferir um pacote de missões moldado a seu gosto pessoal.0
Através do sistema de “games como serviço”, a indústria Triplo A deve reforçar seu portfólio digital
Isso deve resultar em jogos que serão bastante diferentes um ou dois anos após seu lançamento do que quando chegaram às lojas, ajudando a mudar o conceito do que consideramos uma experiência completa. Entre as empresas que já apostam nesse modelo está a Ubisoft, que na E3 divulgou alguns games já acompanhados pelos planos que ela tem para o Ano 1 e o Ano 2 após seus lançamentos.
O lado bom para o consumidor é o fato de que as aventuras a que estamos acostumados devem se tornar ainda maiores e mais ricas, oferecendo conteúdos suficientes para nos ligarmos a elas durante um tempo prolongado — ou seja, seu dinheiro tende a ser valorizado. O lado ruim é que, como escolhas tem que ser feitas, não serão todos os jogos do estilo que ganharão comunidades capazes de sustentá-los a longo prazo.
Títulos como Guitar Hero Live já mostraram que os planos para “jogos como serviços” funcionam muito bem enquanto eles são populares. Por outro lado, quando expectativas não são cumpridas e as contas não fecham, muitos consumidores podem ficar na mão com experiências “capadas” quando a parte online e “ao vivo” sair do ar quando servidores são desligados.
Outro obstáculo para o crescimento do digital é o tamanho dos games em si: muitos jogos recentes já ocupam facilmente mais de 100 GB com seus assets e vídeos em 4K. Enquanto o espaço ocupado por conteúdos incha em um ritmo constante, o mesmo não acontece com nossas conexões de internet — não é todo mundo que tem a paciência para baixar dezenas de gigas em conteúdos adicionais antes de começar a jogar.
Nesse caso, os discos de alta densidade são uma opção bastante atraente: o Xbox One X já possui um drive de Blu-Ray 4K, que permite a leitura de mídias com capacidades generosas. A tendência deve ser mantida pela empresa e “copiada” pelas concorrentes para atender às demandas dos consumidores e das desenvolvedoras, que continuarão a oferecer produtos com qualidade visual e sonora cada vez maior.
E os hardwares?
Quando falamos em hardwares, podemos seguir dois caminhos: avanços incrementais, que pegam o que já temos e entregam de foram mais sofisticada, ou revoluções que mudam o que pensamos sobre games e nos entregam experiências diferentes — a segunda área sendo a especialidade da Nintendo nas última gerações.
O PlayStation 4 e o Xbox One usam APUS, hardwares que combinam o poder de CPUs e GPUs de forma customizada, entregando em um único “pacote” diferentes capacidades de processamento. Embora muitos acreditem que o mesmo modelo vai ser mantido no futuro, também há rumores de que podemos ver hardwares mais especializados (como os do PC) em jogo — algo que traria mais desempenho ao custo de um maior consumo energético.
“Cada nova geração traz consigo um novo conjunto de capacidades: CPUs, GPUS e coisas do tipo, mas também controles e novos tipos de displays. Se você voltar aos anos 1970, era a TV em cores. Esse era um novo tipo de display”, afirmou Mark Cerny, um dos engenheiros do PlayStation 4, em uma entrevista à Digital Foundry conduzida em maio de 2017.
Segundo ele, uma nova plataforma deve trazer uma nova arquitetura de CPU, mais memória, armazenamento expandido e uma capacidade gráfica expandida, próxima ao nível dos 8 Teraflops. Infelizmente, mais detalhes nesse sentido ainda estão incertos: supondo que ambas as empresas vão depender novamente da AMD, é de se supor que veremos chips baseados na primeira geração da arquitetura Ryzen, e não nos modelos Vega apresentados mais recentemente.
“Cada nova geração traz consigo um novo conjunto de capacidades: CPUs, GPUS e coisas do tipo, mas também controles e novos tipos de displays"
O motivo para isso são custos: arquiteturas mais antigas tendem a ser mais baratas, fator que ajuda empresas a oferecer consoles mais acessíveis ao público — no entanto, ainda é cedo demais para saber qual caminho as empresas vão seguir. Além de um hardware mais poderoso, os consoles também vão ter que se focar em oferecer ferramentas de desenvolvimento fáceis e acessíveis de usar.
“De um ponto de vista do desenvolvimento, um grande software e ferramentas de desenvolvimento podem fazer toda a diferença do mundo. Quanto mais fácil é para nós levar nossos games entre plataformas sem ter que começar tudo de novo, essa é a maior vitória para um estúdio. Poder é ótimo, mas uma maneira eficiente de usar esse poder é ainda melhor”, afirmou Jeremy Dunham, da Psyonix, ao site US Gamer.
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E você, o que espera da nova geração de consoles? Acredita que versões mais parrudas e atualizadas do que vemos no PlayStation 4 e Xbox One são suficientes ou gostaria de ver algo diferente? Compartilhe suas opiniões e expectativas sobre o assunto em nossa seção de comentários.
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