Coluna do Carpe #23: o futuro incerto do Nintendo Switch

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O sucesso do Nintendo Switch, até aqui, é inquestionável. Teve um ótimo lançamento e primeiro ano, com números capazes de rivalizar alguns dos consoles mais bem sucedidos da história.

Foi o maior lançamento da Nintendo em solo norte-americano desde sempre, e se compararmos somente as vendas no primeiro ano, superou até mesmo o PlayStation 2.Enquanto que o gigante da Sony vendeu 3,016 milhões de unidades entre março e dezembro de 2000, o Switch atingiu a marca de 3,258 milhões no mesmo período do ano de 2017. Estamos comparando com nada menos que o videogame mais vendido de todos os tempos.

Vale ainda lembrar que a Nintendo teve problemas em atender a demanda, com falta de estoque em lojas no mundo todo durante o ano passado, indicando que estes números poderiam ser ainda maiores.

Switch

Nada disso é à toa. Diversos fatores contribuíram para tamanha adesão, como uma proposta interessante, diferente e bem executada; preço competitivo; ótimos jogos exclusivos já no primeiro ano e um marketing certeiro.

Entretanto, o futuro do console ainda é permeado por algumas incertezas. O apoio das third-parties é tímido, lembrando o fantasma do Wii U, e a vindoura nova geração de consoles pode estabelecer uma disparidade técnica grande demais para ser contornada.

A Nintendo já garantiu que planeja um ciclo de vida maior do que os tradicionais 5 ou 6 anos para o seu console híbrido, mas como isso será possível? Como conseguirão manter o console forte e relevante pelos anos que virão?

Tirando leite de pedra

O Switch é um verdadeiro monstro, levando em conta sua proposta. Facilmente o console portátil mais poderoso já feito, surpreende ao se mostrar capaz de executar jogos bastante exigentes como DOOM e Wolfenstein II: The New Colossus.

Isso se dá através de vários sacrifícios nos visuais e na performance, claro, mas consumindo um décimo da energia elétrica e permitindo a jogatina em qualquer lugar. É um tablet que roda alguns dos mesmos games que os consoles de mesa desta geração. Troca justa, eu diria.

No entanto, estes jogos fazem parte da exceção, não a regra. DOOM e Wolfenstein II, por exemplo, miram na taxa de 60 quadros por segundo em ambos os consoles “tradicionais”, Xbox One e PlayStation 4, enquanto que o Switch é limitado a metade disso. São títulos onde há uma "gordurinha" pra se abrir mão.

Mas e quanto aos jogos que já levam o hardware dos consoles de mesa ao limite? Ports de games como The Witcher 3: Wild Hunt, Final Fantasy XV, Fallout 4 e Assassin's Creed: Origins acabam se tornando extremamente improváveis. São jogos com mundos gigantes, altíssima fidelidade gráfica e vários tipos de simulações acontecendo simultaneamente. Muito mais do que o Switch foi feito para suportar.

Switch

Se este é o cenário atual, como será então a disparidade técnica com a chegada de novos consoles? Diversas fontes, como o site Thurrott, Windows Central e o Game Informer, apontam que os sucessores do Xbox One e PlayStation 4 estão programados para o final de 2020, quando o Switch estará completando quatro anos no mercado. É bem antes do que a Nintendo planeja para o fim do suporte ao console.

Acredita-se que as novas máquinas serão pelo menos 8 vezes mais poderosas que os consoles base da atual geração (é o salto médio da tecnologia entre gerações de videogame). É possível que os jogos desenvolvidos daí em diante, projetados para estes hardwares mais robustos, sejam ainda mais difíceis de serem adaptados para o console da Nintendo.

Se este é o cenário atual, como será então a disparidade técnica com a chegada de novos consoles?

Vamos relembrar o fantasma do Wii U: em seus primeiros anos, enquanto que os concorrentes diretos eram o Xbox 360 e o PlayStation 3, ele até recebeu jogos multiplataforma de peso, como Mass Effect 3 e Assassin's Creed 3. Porém, com a chegada do Xbox One e PlayStation 4 isso foi ficando cada vez mais raro.

Por muitos anos, a biblioteca de jogos do console se resumiu aos títulos exclusivos da Nintendo, com longos meses de intervalo entre um lançamento e outro. Apesar da inegável qualidade destes jogos, é pouco, se comparado a oferta diversificada dos concorrentes.

O suporte das thirds

Outro ponto fatal para o Wii U foi sua base instalada pequena e pouco interessada nos títulos de empresas terceiras. Como se não bastassem as baixas vendas do console, jogos multiplataforma como Watch Dogs e Call of Duty: Black Ops 2 parecem não ter tido o apelo esperado com o público do Wii U, desmotivando o port de vários outros jogos.

Felizmente, o Switch não passa por este problema. Apesar de jovem, já possui uma base instalada impressionante, maior do que o Wii U conquistou em todo o seu ciclo de vida, além de vários jogos multiplataforma bastante populares, como Fortnite, FIFA 18, Paladins, Minecraft, Rocket League, Skyrim e DOOM.

Switch

A biblioteca inclui vários indies interessantes, alguns ports milagrosos e remasterizações de verdadeiros clássicos, e que, no geral, estão vendendo muito bem, diferentemente da maioria dos títulos publicado por terceiros no Wii U.

Mesmo assim, precisamos ser sinceros: a maioria dos títulos triple-A ficam de fora do híbrido da Nintendo. É um console que não recebeu um título sequer das franquias Call of Duty, Assassin's Creed, Battlefield e Destiny, verdadeiros gigantes do mercado. E, pelo visto, não receberá Red Dead Redemption 2, Shadow of the Tomb Raider, Anthem e vários outros.

Alguns dizem que não há port impossível: se há demanda, haverá oferta. A versão de Call of Duty: Black Ops para o Nintendo DS prova isso. É um jogo completamente diferente do original, mas não deixa de representar a franquia no console portátil (nem que seja de maneira quase simbólica).

Precisamos ser sinceros: a maioria dos títulos AAA ficam de fora do híbrido da Nintendo

Então é possível que, mesmo com o sucesso da plataforma, ainda permeie uma incerteza entre as publicadoras quanto ao futuro do console, por se tratar de uma proposta diferente do usual. É claro, o desenvolvimento e port de jogos costuma levar anos. Pode ser que diversos estúdios iniciaram seus projetos recentemente, após as notícias do sucesso comercial do Switch até aqui, e que ainda veremos os frutos.

Porém, ao menos por enquanto, o suporte tímido das thirds, seja pelo hardware inferior aos demais consoles ou outros motivos, ainda é uma realidade.

O novo 3DS

Qual seria a saída, então? A alternativa mais lógica, pelo menos ao meu ver, é transformar o Switch no novo 3DS, como o principal console portátil da empresa.

Por mais que a portabilidade já faça parte da proposta do console desde o seu lançamento, o Switch ainda é visto pela Nintendo como um console de mesa que permite a jogatina on the go, e não o contrário. É promovido pela empresa como um aparelho para a casa, um por família, e não como o 3DS, onde a ideia é vender um por pessoa.

É possível que, através de cortes de preço e versões alternativas sem os acessórios dispensáveis para o modo dock, a Nintendo consiga associar o console a uma proposta semelhante ao de seu bem sucedido portátil.

Levando em conta que os sucessores do Xbox One e PlayStation 4 não chegarão custando pouco, uma grande diferença no preço do console da Nintendo pode torná-lo bastante atraente como uma plataforma secundária. Assim, o Switch se distanciaria ainda mais de seus concorrentes diretos, sem a obrigatoriedade de atender ao mesmo público.

Switch

A biblioteca de jogos do 3DS é excelente, mesmo não apresentando os grandes títulos que marcaram os consoles de mesa durante seu ciclo de vida. Por ser promovido como um portátil, os consumidores não veem problemas em abrir mão de jogos como The Division 2 e Fallout 76, por exemplo.

Os portáteis da Nintendo costumam ter ciclos de vida maiores do que os dos consoles de mesa, e isso bate com o que a Nintendo disse sobre o suporte prometido ao Switch. Só reforça essa possibilidade e que eles já podem ter isso em mente.

No fim das contas, creio que o Switch tem um futuro brilhante pela frente. É uma excelente plataforma e dificilmente a Nintendo deixará a peteca cair, visto as várias decisões acertadas até aqui. Se vão se distanciar cada vez mais dos consoles de mesa ou não, acredito que pouco importa. No fim das contas, cada plataforma deve ser apreciada segundo sua proposta e execução.

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