Seguindo a tendência da indústria de criar remakes de grandes clássicos, como vimos com as franquias Resident Evil e Final Fantasy, agora chegou a vez de a Konami reinventar um dos maiores sucessos da história dos games: Silent Hill 2. Após muitas polêmicas, anúncios, adiamentos e cancelamentos, a franquia Silent Hill ficou em um limbo criativo e de produção.
Desde o cancelamento do último título anunciado, que seria produzido por Hideo Kojima e Guillermo del Toro, os fãs ficaram receosos com os caminhos duvidosos que a Konami parecia estar tomando para a série aclamada. Embora um remake seja considerado comercialmente mais seguro, ainda existe o risco de desagradar fãs nostálgicos que possam não gostar de alterações significativas na experiência.
No entanto, de maneira geral, as críticas a essa revisita de Silent Hill têm sido muito positivas. Entre as principais novidades do título, destacam-se o uso da Unreal Engine 5, que oferece suporte a gráficos impressionantes e ao famoso ray tracing em tempo real; uma reformulação dos sistemas de combate; e um novo ângulo de câmera com visão em terceira pessoa "over the shoulder", abandonando a câmera fixa.
Por último, mas não menos importante, este relançamento da franquia traz uma variedade de funções de acessibilidade, tema que discutiremos nesta análise. Será que a equipe da Bloober Team conseguiu recriar Silent Hill 2 de forma acessível para jogadores com deficiência? Descubra na nossa análise completa voltada para esse quesito.
Gostaria de ressaltar que a acessibilidade é uma experiência única para cada pessoa. Estas são minhas impressões pessoais sobre o jogo como alguém com baixa visão. Meu objetivo é destacar as opções presentes que tornam o jogo mais inclusivo.
Esta análise foi realizada com uma chave do jogo para PC, cedida gratuitamente pela equipe da Nuuvem.
Interface
Uma boa interface é essencial para qualquer produto digital interativo. Nos games, há dois tipos principais de telas: os menus, que contêm as configurações gerais, e a tela de gameplay, onde encontramos elementos como o ícone de vida do personagem ou o retículo da mira de uma arma. Nesta análise, vamos examinar individualmente cada um desses tipos de interface, tanto dentro quanto fora do jogo, e avaliar seus aspectos de acessibilidade.
A interface de Silent Hill 2 inclui recursos e customizações como a opção de ajustar a opacidade, espessura e cor do retículo de mira da arma do protagonista, além de permitir a modificação do tamanho do ícone de interação com objetos. Os tamanhos dos ícones de travessia e dos eventos rápidos (QTE) também podem ser ajustados, proporcionando maior flexibilidade para atender a diferentes necessidades de acessibilidade.
Há também opções para ativar ou desativar o desfoque de movimento e ajustar sua intensidade, além de ligar ou desligar os efeitos visuais no inventário para facilitar a leitura e visualização dos itens. Para jogadores que sentem enjoo de movimento, existe a opção de ativar um ponto fixo no centro da tela.
Por fim, temos o recurso de alto contraste, que oferece controle total sobre as cores de diferentes elementos do jogo, como o protagonista, inimigos, itens interativos e outros objetos importantes do cenário. Esse efeito visual ajuda jogadores com algum nível de baixa visão a identificar e localizar facilmente os aspectos relevantes do jogo.
Com essa vasta gama de opções de interface, admito que tenho poucas críticas, pois considero tudo muito bem implementado. A alta variedade de customizações é abrangente e oferece um excelente nível de individualidade para que cada jogador decida como a HUD do jogo será apresentada. No entanto, tenho uma crítica pontual ao recurso de alto contraste e sua implementação. Sua função principal é destacar itens relevantes, como objetos interativos, mas notei algumas limitações em sua execução que poderiam ser aprimoradas para uma experiência mais consistente.
No entanto, um ponto crítico no uso do alto contraste é que ele não destaca as portas, que são extremamente importantes no gameplay. Ao explorar os cenários macabros do jogo com essa função ativada, as portas acabam ficando ocultas, pois o recurso reduz a visibilidade de aspectos de fundo que não são considerados interativos ou relevantes. Sem o destaque adequado para as portas, elas praticamente se camuflam no cenário, o que dificulta bastante a exploração do ambiente e a navegação pelo mundo.
Fica, portanto, esse aviso: caso você precise do alto contraste e tenha visto na internet que o jogo oferece essa função, saiba que o problema de implementação ainda não foi solucionado pelos desenvolvedores. Se essa função for essencial para sua experiência, eu recomendaria aguardar futuras atualizações do jogo.
Legendas e textos
As legendas, famosas nos filmes, séries e redes sociais, não servem apenas para traduzir diálogos de um idioma para outro; elas também são essenciais para tornar o conteúdo acessível a diversos públicos. Para muitas pessoas, elas são a principal forma de acompanhar a narrativa em mídias como filmes e jogos, especialmente para aqueles que não contam com feedback auditivo e, por isso, não conseguem captar diálogos e sons de forma clara, a menos que esses elementos estejam disponíveis em formato textual.
As principais opções para textos e legendas em Silent Hill 2 Remake são: ativar ou desativar as legendas, legendas não verbais que descrevem sons importantes em formato textual para jogadores com diferentes níveis de deficiência auditiva, a possibilidade de adicionar fundo ao texto, personalizar a cor do texto, exibir o nome de quem está falando, ajustar o tamanho da fonte e escolher o tipo de fonte, com opções padrão, negrito e uma fonte adaptada para pessoas disléxicas.
A parte mais interessante dessas opções é que elas não se aplicam apenas às legendas do jogo. Todas as configurações que mencionei estão presentes em outros tipos de textos, como tutoriais, dicas e até mesmo nas transcrições de documentos do game.
De longe, essa é a melhor implementação de legendas que eu já vi no mundo dos games, pois ela é completamente customizável para diferentes tipos de jogadores. Além disso, essas amplas opções se estendem a todos os textos do jogo, proporcionando liberdade total para que o jogador ajuste como cada tipo de texto será apresentado na tela.
Dificuldade
Ter uma boa variedade de modos de dificuldade é sempre bem-vindo quando falamos de videogames, pois oferece ao jogador a possibilidade de escolher a melhor forma de experienciar o jogo. Embora a opção de tornar o jogo mais fácil não seja, de fato, um recurso de acessibilidade, ela ainda pode ser útil dependendo da situação. Em certos casos, ter essa flexibilidade pode ajudar jogadores a se concentrarem mais na história ou em outros aspectos do jogo, sem a frustração de desafios excessivos.
Os modos de dificuldade de Silent Hill 2 Remake trazem uma proposta bastante interessante, pois não se resumem a opções gerais como fácil, normal ou difícil. Aqui, temos a possibilidade de escolher dificuldades diferentes para aspectos distintos do jogo de forma individual. Esse tipo de adaptabilidade é excelente, pois permite que o jogador ajuste cada aspecto do título conforme suas dificuldades pessoais. Assim, é possível ter uma experiência equilibrada, com um nível de desafio adequado para cada jogador, sem comprometer outros elementos do jogo que ele possa achar mais acessíveis.
Os aspectos individuais das mecânicas que podem ter o nível de dificuldade definidos separadamente são o combate e os enigmas. Assim, caso você seja um jogador que deseja uma experiência mais focada na narrativa, com alguns sustos e combate, é possível deixar os enigmas mais simples, com dicas e respostas mais visíveis, por exemplo.
Por outro lado, se você não for um excelente atirador, mas curte um bom quebra-cabeça, pode inverter as dificuldades e focar mais nos enigmas, ajustando a experiência de acordo com suas preferências. O mais importante é garantir uma experiência personalizada e prazerosa para cada jogador, permitindo que ele se concentre nos aspectos que mais gosta do jogo.
Controles
Ter uma boa variedade de customizações para os controles é extremamente importante em qualquer jogo, pois oferece aos jogadores com deficiência motora a oportunidade de adaptar os comandos de acordo com suas necessidades. Isso permite que eles joguem de forma mais confortável e sem limitações, proporcionando uma experiência mais inclusiva e acessível. A possibilidade de personalizar os controles é essencial para garantir que todos os jogadores, independentemente de suas habilidades físicas, possam aproveitar ao máximo o jogo.
Astro Bot é muito foto, mas erra feio em quesito importante! Veja review de acessibilidade
As opções de controles em Silent Hill 2 Remake poderiam ser melhor organizadas, pois atualmente estão distribuídas em áreas diferentes dos menus. Algumas opções estão nos menus de acessibilidade, enquanto outras ficam nas configurações de controles.
Entre as opções disponíveis, encontramos o remapeamento dos controles, assistência de mira magnética, a possibilidade de alterar a sensibilidade dos analógicos e inverter os comandos de mira nos eixos X e Y. Também há a opção de ajustar a interação nos momentos que exigem manter um botão pressionado, como durante a corrida, onde o jogador pode configurar para pressionar o botão uma única vez, em vez de mantê-lo pressionado.
O mesmo vale para os momentos de Press-Turn-Reaction (PTR), onde o jogador precisa apertar repetidamente o botão para realizar uma ação rápida, como escapar de um inimigo. Nesses casos, é possível configurar o comando para manter o botão pressionado, sem a necessidade de pressioná-lo várias vezes até que a ação seja executada.
Essas opções são especialmente úteis para jogadores com dificuldades motoras, pois tornam a experiência de jogo mais acessível e confortável.
Apesar da falta de organização, as opções de controle em Silent Hill 2 Remake são realmente boas e abrangentes. A única coisa que senti falta foi de uma variação nas mecânicas de correr e nos QTEs, que também poderia ser aplicada aos momentos de mira.
Seria interessante ter a possibilidade de alternar entre manter o gatilho pressionado para mirar em um inimigo ou simplesmente apertar uma vez o botão, fazendo a ação ser executada sem precisar segurar o gatilho. Além disso, uma opção para que a câmera gire automaticamente junto com o personagem, permitindo que o jogador use apenas um analógico para controlar a movimentação, seria um recurso bastante útil.
Embora essas críticas sejam pontuais, elas são bastante significativas para melhorar a experiência de acessibilidade para jogadores com dificuldades motoras. No entanto, é importante ressaltar que os recursos presentes no jogo são muito completos e bem implementados, proporcionando uma experiência inclusiva para muitos jogadores.
Gameplay
Além das novidades estéticas e mecânicas, o ciclo de gameplay principal de Silent Hill 2 Remake permanece fiel ao original. Temos novamente a clássica dinâmica de levar e trazer itens para resolver quebra-cabeças e encontrar chaves que permitem avançar no jogo, tudo isso intercalado com momentos de sustos e combates, claro, pois estamos falando de um jogo de terror.
O grande diferencial, no entanto, é o novo ângulo de câmera em terceira pessoa (over the shoulder), que eleva significativamente a imersão e a tensão. Nunca foi tão aterrorizante explorar as ruas e os ambientes de Silent Hill, com o jogador sentindo-se mais próximo da ação e mais vulnerável aos horrores que surgem a cada esquina. Essa mudança faz com que a experiência de exploração se torne muito mais angustiante e impactante, tornando o remake uma versão ainda mais envolvente do clássico.
Por outro lado, quando se trata da acessibilidade das mecânicas de gameplay em Silent Hill 2 Remake, o jogo deixa bastante a desejar. A maioria dos recursos voltados para jogadores com deficiência foca principalmente na HUD e na interface, oferecendo opções como o ajuste no tamanho de ícones e textos. No entanto, se você está em busca de recursos como auxílio de navegação ou adaptações mais focadas em deficiências visuais, o jogo acaba não oferecendo muitas opções.
O ponto mais fraco do jogo, em termos de acessibilidade, é justamente a exploração e o combate. Esses aspectos centrais da experiência não contam com muitos ajustes voltados para tornar a aventura mais acessível. Por exemplo, para jogadores com baixa visão como eu, acompanhar o mapa do jogo foi um grande desafio. A equipe de desenvolvimento optou por manter o mapa no estilo mais imersivo, como nos títulos originais da franquia, o que é interessante para os fãs nostálgicos, mas para mim, foi uma barreira significativa. A falta de recursos para facilitar a navegação e a exploração é um dos maiores contras no que diz respeito à acessibilidade no gameplay do título.
Vale a Pena?
A acessibilidade em Silent Hill 2 Remake é bastante eficiente nas áreas onde se propôs a ser desenvolvida, como na HUD e nas interfaces. As possibilidades de customização presentes na UI do jogo são impressionantes, oferecendo uma grande flexibilidade para adaptar a experiência às necessidades dos jogadores.
O recurso de alto contraste, por exemplo, funciona muito bem, ajudando jogadores com baixa visão a identificar objetos importantes e áreas interativas. No entanto, como mencionei anteriormente, ainda vejo espaço para aprimoramento na implementação desse recurso. Em determinados momentos, como no destaque das portas, o alto contraste acaba ocultando elementos essenciais, o que dificulta a exploração do jogo. Portanto, embora o recurso seja útil, acredito que um refinamento adicional poderia torná-lo ainda mais eficaz.
Admito que tinha expectativas baixas em relação à acessibilidade de Silent Hill 2 Remake, então posso dizer que fui surpreendido positivamente. O estúdio tem uma grande jornada pela frente para tornar a experiência mais redonda para um público mais amplo, pois ainda faltam alguns recursos importantes. No entanto, tudo o que foi implementado foi feito com muito cuidado e atenção aos detalhes, trazendo ao mercado um jogo extremamente customizável e polido no quesito acessibilidade.
Embora existam algumas opções para jogadores com deficiência visual, como o tamanho personalizável dos ícones e o recurso de alto contraste, não posso recomendar o jogo para jogadores cegos ou com baixa visão, pois a arte de exploração e a navegação no mapa deixam bastante a desejar. No entanto, para outros públicos com deficiência, o jogo é bastante inclusivo, oferecendo uma experiência completa e levando o gênero de terror a um novo nível de acessibilidade para jogadores com deficiências diversas.
Silent Hill 2 Remake já está disponível no PC, PS5 e Xbox Series S e X.
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