Antes de mais nada, um grande disclaimer: Acho importante dizer logo de início que eu não tinha ideia da existência de Ordem Paranormal quando recebi Enigma do Medo para fazer esse review. Ou seja, é bom ter em mente que essa será uma análise focada nessa perspectiva e levando em conta apenas o que o game proporciona aos seus jogadores e não o que RPG de mesa e seu programa semanal na Twitch disponibilizaram anteriormente aos seus fãs.
Felizmente, o game não parece exigir conhecimento prévio, mesmo que dê para perceber que alguns assuntos e personagens parecem bem estabelecidos nesse mundo e não contam com muita explicação no jogo em si. Com algum contexto e com certas situações e pistas que ocorrem ao longo da história, já dá para entender o suficiente do que é a Ordem e sobre os personagens que encontramos no caminho, então se estiver interessado em conferir Enigma do Medo e nada mais, não haverá nenhum problema.
Logo de cara, alguns aspectos do game me lembraram bastante Lone Survivor e Evil Tonight, além de jogos de adventure clássicos e focados no sobrenatural, como Gabriel Knight: Sins of The Fathers, por exemplo. Acredito que quem curte jogos desse tipo terá um prato cheio com Enigma do Medo, mas a similaridade também pode desanimar quem esperava ver algo mais inédito, diferente ou inovador.
Uma surpresa positiva
Eu não vou dizer ou mostrar nada que tenha spoilers porque esse é o tipo de jogo que é melhor de se experimentar e de se descobrir por si próprio, mas já adianto que a narrativa e os enigmas são os aspectos que mais me conquistaram. Nós ficamos no papel de Mia, que acompanhada do cachorrinho Lupi, precisa encontrar Veríssimo, seu pai e o líder da Ordem. Nossa investigação se inicia em uma antiga mansão, mas logo se expande para outros locais tenebrosos e bem diversos.
A trama em si é bem simples, mas efetiva e bem amarrada no geral. Apesar de ser algo usado em diversos jogos de terror indie nos últimos anos, o uso de fitas cassete para apresentar o desenvolvimento e histórias antigas de vários membros da Ordem funcionou muito bem e me deixou curiosa de começo a fim. Um ponto positivo extra fica para a excelente dublagem dos personagens, que conta com um grande elenco de vozes bem conhecidas dos brasileiros.
Já para realizar as buscas, temos algumas ferramentas básicas, como uma lanterna ultravioleta, um pé de cabra e uma pistola, por exemplo. Além disso, é possível passar o controle para Lupi para sentir odores e passar por lugares estreitos que Mia não alcançaria sozinha. De resto, é preciso usar a cabeça, ler as diversas pistas que estão espalhadas pelo cenário e deduzir o que aconteceu e como resolver os puzzles para seguir em frente.
Para quem gosta de uma abordagem mais clássica e até mais parecida com sistemas de RPGs de mesa, dá para jogar na dificuldade em que suas descobertas não são exibidas em um menu, então é preciso anotar tudo por conta própria. Mesmo jogando na dificuldade padrão, eu acabei fazendo tudo dessa forma por puro esquecimento do recurso de "mapa mental" de Mia e acredito que essa é realmente a maneira mais divertida de aproveitar Enigma do Medo.
Erros e acertos
O que não foi tão divertido foi o combate do game, que realmente deixou a desejar em diversos momentos, seja usando a pistola ou ataques corpo a corpo. A sensação é que o combate estava meio deslocado com o resto do gameplay e que me tirava do que realmente estava funcionando perfeitamente momentos antes. Embora seja possível evitar lutas com inimigos mais lentos, há embates contra chefões e outros inimigos que precisam ser derrotados para prosseguir ou investigar melhor um local específico.
Eu acho que isso poderia ser melhorado em um update futuro, mas no estado atual não é algo que me divertiu e deixou mais a sensação de algo que tenho que fazer para chegar na parte boa do jogo. Como fã de D&D, eu entendo que em RPGs de mesa, é natural errar ataques que parecem certos e ter lutas mais desajeitadas, mas não achei que isso foi traduzido da melhor forma no combate em tempo real de Enigma do Medo.
Partindo para algo que me agradou bastante, tenho que falar que adorei o visual e os efeitos sonoros do jogo. Os dois elementos contribuem bastante para criar uma boa atmosfera de terror, mesmo que os personagens tenham uma aparência mais "fofinha" no geral. Talvez a única coisa que deixasse isso tudo ainda melhor fosse uma trilha sonora mais presente, já que é algo sempre tão importante em games de terror.
Outro ponto que preciso comentar é a performance do game, que estava bem ruinzinha quando recebi o game inicialmente, mas que já melhorou bastante com diversos updates lançados nas últimas semanas. Recentemente, o jogo também recebeu uma atualização com diversas mudanças, então mantenho o otimismo de ver ainda mais aprimoramentos no futuro.
Vale a pena?
Mesmo com zero conhecimento prévio, eu me diverti bastante com Enigma do Medo e imagino que seja um jogo praticamente obrigatório para fãs de Ordem Paranormal. Para quem estiver na mesma situação que eu, esse é um game que eu recomendaria se você for fã de jogos de adventure ou daqueles games de terror mais antigos, em que a atmosfera e os puzzles possuem mais destaque e o combate não é o ponto central do gameplay.
Apesar de ter alguns pontos negativos, tenho certeza que são todos aspectos que podem ser aprimorados futuramente. Com cerca de umas 20 horas de campanha, Enigma do Medo foi uma boa surpresa em 2024 e trouxe aquele molho brasileirinho para um gênero em que geralmente é difícil de se destacar.
Nota do Voxel: 84
Pontos positivos:
- Narrativa e personagens carismáticos;
- Estilo visual muito bonito e com boa atmosfera;
- Enigmas interessantes e fora dos clichês de jogos de terror;
- Excelente dublagem.
Pontos negativos:
- Combate parece deslocado do jogo;
- Falta uma trilha sonora mais marcante;
- Problemas de otimização atrapalharam a experiência no começo.
Enigma do Medo já está disponível para jogar no PC. Uma chave do game foi cedida pela Nuuvem e a Dumativa para a realização da review.