Desde 1996 a série Metal Slug é figurinha carimbada em arcades ao redor do mundo. Com sua gameplay frenética repleta de diferentes armas, inimigos e veículos, o título, que também sempre transbordou carisma e um senso de humor peculiar, não demorou muito para cair nas graças dos fãs e rapidamente sair do universo dos arcades e virar sucesso também nos consoles.
Infelizmente essa sequência de sucesso da franquia principal chegou a um hiato no longínquo ano de 2009, com o lançamento do último título Metal Slug 7. Desde então, a famosa série que marcou o final dos anos 90 sobreviveu apenas de remakes e spin-offs que nunca foram capazes de retratar a experiência, ou sucesso, dos jogos originais.
Em mais uma tentativa de abraçar o espírito original da saga, a Dotemu lança, neste dia 5 de novembro, Metal Slug Tactics, trazendo o mundo de Metal Slug de tática isométrica. Com um título desses, a dúvida que sempre fica é se ele será capaz de trazer de volta a amada franquia para o sucesso que merece ou se cairá como uma tentativa esquecida com o tempo. Você descobre mais, na nossa análise a seguir.
Mover, atirar, pensar... nessa ordem
Primeiramente é preciso falar do gameplay de Metal Slug Tactics. Por se tratar da primeira vez que a franquia se aventura no mundo da tática isométrica, aliado ao fato de que esse gênero vem sendo explorado cada vez mais nos últimos anos, muitos fãs ficaram apreensivos com o que Metal Slug teria a oferecer de diferente ou especial em sua nova iteração. E, embora o game não revolucione o gênero, Metal Slug Tactics faz um excelente trabalho em introduzir novas mecânicas e reusar algumas já existentes para traduzir a experiência dos jogos originais para esse novo mundo.
Um dos grandes alicerces do título, e o que difere de outros jogos de tática, é o seu sistema de defesa. Embora possamos usar de objetos do cenário para nos dar cobertura, e assim aumentar nossa resistência a dano no turno do adversário, a principal forma de reduzir o dano dos inimigos é se movimentando o máximo no tabuleiro, já que quanto maior a distância percorrida pelo seu personagem antes dele realizar a ação do turno, maior será sua pontuação de esquiva (o status de defesa do game). Somando isso ao fato de que seu recurso para usar ações especiais também está atrelado a sua movimentação, o game faz um excelente trabalho em traduzir a mecânica de gun and run presentes nos Metal Slug originais.
Se movimentar pelo mapa é fundamental para seu sucessoFonte: Dotemu/Divulgação
Outro ponto que é fielmente reproduzido no gênero de tática com grande ênfase é o fator cooperação. Se nos jogos originais no arcade era normal que jogássemos eu dupla para tentar vencer as dificílimas fases e chefes, em Metal Slug Tactics o trabalho em equipe entre seus personagens é peça fundamental para superar cada estágio.
Funciona da seguinte forma: sempre que você realizar um ataque em um alvo que esteja no alcance da arma de outro personagem seu, esse mesmo também fará um ataque, chamado sync, com sua arma principal. Isso pode parecer simples à primeira vista mas, à medida que você começa a dominar a mecânica, não demora para notar-se que além de adicionar uma boa camada de complexidade ao jogo, essa técnica é muito interessante e usá-la corretamente em sequência para todos seus ataques é uma experiência extremamente recompensadora e eficiente.
Mas é claro que não esse não seria um jogo de Metal Slug se não tivéssemos armas especiais e veículos, não é mesmo? Por sorte os desenvolvedores do título compartilham dessa opinião e ambas as marcas registradas da franquia também dão a cara por aqui. Além de cada personagem possuir uma arma especial, que assim como nos jogos de arcade possuem munição limitada, é possível pilotar veículos clássicos da série (que podem aparecer em alguns estágios ou serem invocados com ações especiais), como tanques e bípedes, para destruir os adversários.
Armas, Carros e Robôs
Se engana quem acha que é apenas no gênero tactics que Metal Slug resolve entrar de cabeça, já que Metal Slug Tactics também absorve muito de outro estilo de jogo em ascensão nos últimos anos: os roguelikes, mais especificamente roguelites. Para os que não estão habituados com a expressão, se trata de um jogo onde morrer é apenas parte da experiência, já que a cada tentativa, além de acumular conhecimento sobre os inimigos e as mecânicas, você consegue melhorar seus personagens, tornando as runs subsequentes mais fáceis.
Em Metal Slug Tactics tudo começa com a escolha de sua equipe, que conta inicialmente com os famosos Marco, Fio e Eri, enquanto outros personagens são desbloqueados a cada run bem sucedida. Aqui já começa uma decisão importante, já que cada um dos personagens da franquia que dão a cara aqui, possuem características e habilidades completamente diferentes uns dos outros. Se Marco é focado nos ataques de sincronia com seus aliados, temos do outro lado Eri, especialista em combates com diferença de altura, ou Trevor com sua mobilidade no campo de batalha. É claro que por se tratar de um roguelike, a cada run você terá a opção de modelar as habilidades e mods de cada personagem, mas é importante já na escolha de sua equipe pensar em diferentes combinações e como cada herói pode se complementar.
Depois disso é hora de escolher uma das áreas iniciais do game e partir para o combate. Cada área tem uma temática (padrão, deserto, floresta e cidade) e possui uma gama de estágios para o jogador desafiar. Cada estágio possui uma missão principal, como escoltar uma personagem, sobreviver a um número determinado de rounds ou fugir até um ponto específico, e uma missão secundária que traz mais recompensas se for completa. No geral as missões trazem uma boa variedade a cada run, visto que a forma de enfrentar a fase varia muito baseado no seu objetivo. Já os cenários, apesar de bem feitos e darem espaço para criatividade e estratégia, infelizmente começam a ficar repetitivos após algumas runs.
Após vencer três estágios sem falhar, o jogador é então desafiado pelo chefe da área, que é sempre o mesmo a depender de qual região você está. Todos eles são alguma variação de robô gigante que é capaz de interagir e atacar enormes partes da fase, logo é preciso saber usar o ambiente ainda melhor que nas batalhas normais.
Uma boa dica aqui é lembrar que, apesar do level também ser repleto de inimigos normais, o seu foco deve ser derrotar o chefe o mais rápido possível, pois isso lhe dá a vitória automaticamente, independente de quem mais estiver vivo no cenário. Embora essas lutas sejam muito divertidas, no começo do jogo sendo o ponto alto de suas runs, elas não demoram para ficarem meio repetitivas, visto que o cenário inicial é sempre o mesmo e a progressão de seus ataques segue um padrão que é facilmente identificado pelo jogador após algumas tentativas. Embora isso seja um problema comum mesmo em grandes jogos do gênero roguelite (como Hades), fica aqui a crítica.
Chefes podem ser desafiadores, especialmente a medida que o tempo passaFonte: Dotemu/Divulgação
Ao derrotar o boss e reconquistar uma determinada área, o jogador tem a escolha de ir direto para a área final do jogo (onde se encontra o chefe final que dá fim a run) ou tentar conquistar outras áreas para se fortalecer mais antes de enfrentar o último desafio. Enquanto alguns personagens só podem ser destravados ao completar uma run com apenas duas ou três áreas, normalmente a melhor decisão é limpar todo o mapa, visto que a cada conquista de região o jogador tem a possibilidade de melhorar habilidades, comprar itens de uso único ou adquirir modificadores para suas armas, tornando as batalhas subsequentes mais tranquilas.
Um ode a nostalgia
Embora o gameplay claramente seja o foco da experiência de Metal Slug Tactics, outros pontos são dignos de elogios e críticas. De um lado temos a direção de arte do jogo que faz um excelente trabalho em trazer os elementos dos jogos originais e as diferentes habilidades de cada personagem e traduzir para os tempos modernos. Os designs dos inimigos também são muito bons mas sofrem da falta de versatilidade, com vários deles diferenciando-se entre si apenas por seu esquema de cores e ataques. Isso pode, inclusive, atrapalhar em algumas fases pois podemos confundir um inimigo que atira suas espadas de longe com um que ataca apenas a curta distância, por exemplo.
Visual de Metal Slug Tactics é um dos pontos forte do títuloFonte: Dotemu/Divulgação
As músicas do jogo, embora sejam divertidas e extremamente fiéis as que víamos no arcade, acabam sofrendo do mesmo problema de repetição, perdendo seu brilho a cada hora de gameplay, algo que acaba ofuscando os divertidos efeitos sonoros das armas e inimigos.
Por fim, embora claramente não tenha sido o foco de Metal Slug Tactics, é preciso citar a, rasa, história do jogo. Com um general inimigo fugindo de uma prisão, cabe a nós impedi-lo antes que ele consiga reunir novas tropas e tentar um golpe de estado. Evitaremos spoilers sobre o chefe final, mas algo que senti falta foi um avanço na narrativa (que por si só já é muito simples) assim como temos em Hades ou outros roguelikes, a cada run feita. Embora tenhamos alguns diálogos interessantes (e alguns divertidos) entre os personagens ao realizar objetivos entre eles, no geral sente-se uma falta de um motivo maior para continuar jogando Metal Slug após algumas runs bem sucedidas.
Vale a pena?
Metal Slug Tactics é, acima de tudo, um jogo de tactics com excelente gameplay e variabilidade estratégica que faz jus ao legado deixado pela franquia já esquecida por gerações mais jovens. Se em alguns pontos, quase todos pecando no quesito repetição, ele deixa de ser perfeito, com sua adição no gamepass e com um excelente preço fora dele (R$ 74,99) aliado a já citada diversão que ele é capaz de proporcionar, é impossível não recomendar o título, especialmente para aqueles que são fãs de tactics e roguelikes.
Nota do Voxel: 85
Pontos positivos (prós):
- Gameplay divertida e desafiadora;
- Bela direção de arte;
- Preço muito em conta.
Pontos negativos (contras):
- Repetição no design dos inimigos;
- Falta de uma narrativa melhor elaborada.
Metal Slug Tactics chega em 5 de novembro no PC e consoles, com lançamento direto no Xbox Game Pass. Uma cópia do game para computador foi cedida para review pela desenvolvedora.
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