O mês do Halloween está entre nós, e para iniciar outubro, por que não aproveitar um joguinho de terror? E já que estamos nos aquecendo para o Dia das Bruxas, que tal falar sobre o remake de um neo-clássico do PlayStation 4, agora para a atual geração de consoles?
Lançado originalmente em 2015, quase 10 anos atrás, Until Dawn fez muito sucesso ao trazer os jogos narrativos de escolhas para o gênero de terror. A mistura não poderia ter dado mais certo, já que temos todos os subgêneros do cinema de horror contemplados aqui, desde o slasher até o filme de casa mal-assombrada. Tudo isso em uma experiência que dá ao jogador uma sensação de liberdade para tomar decisões e se desesperar com as consequências. Aqui, essas consequências vêm embaladas com muitos gritos e sangue, pois o que não falta são jovens morrendo e sustos repentinos (jumpscares).
No remake, lançado para PlayStation 5 e PC, as principais novidades incluem uma nova perspectiva de câmera em terceira pessoa, uma maior variedade de finais e missões alternativas, além de entrevistas e making-of do jogo original. Porém, a novidade que mais chamou minha atenção — e me motivou a escrever esta coluna — foi o anúncio de novos modos de acessibilidade para jogadores com deficiência. Então, a pergunta que fica é: será que Until Dawn Remake finalmente tornou esse clássico do PlayStation 4 acessível? Confira nossa análise completa.
Gostaria de ressaltar que a acessibilidade se aplica de maneira única a cada pessoa, e essas são minhas impressões pessoais do jogo como alguém com baixa visão. Meu objetivo é destacar as opções que estão presentes no jogo e que o tornam mais inclusivo.
Esta análise foi feita com uma chave do jogo para PS5, cedida gratuitamente pela equipe da PlayStation do Brasil.
Interface
A interface de Until Dawn é onde o jogo apresenta suas opções mais inovadoras, mas também algumas das mais decepcionantes. A interface é a principal forma de interação do jogador com o game, portanto, quanto mais opções, melhor. O minimalismo é uma característica marcante da interface, já que o jogo tenta a todo momento emular a experiência de assistir a um filme. No entanto, ainda oferece excelentes opções para jogadores com deficiências diversas.
As principais opções de interface em Until Dawn são: auto-contraste nos textos que definem as escolhas do jogador, leitor de tela, e, por fim, a opção que mais me ajudou durante a jogatina — a possibilidade de alterar a escala do tamanho dos botões nos momentos de ação para um tamanho extremamente grande.
Comapração dos tamanos dos botões de ação em Until Dawn.Fonte: Captura de tela do PS5
No entanto, nem tudo são flores, e infelizmente o jogo apresenta uma grande variedade de problemas na implementação desses recursos. O leitor de tela funciona apenas nos menus, e, considerando que Until Dawn é um jogo narrativo com muitos documentos para ler e escolhas a serem feitas o tempo todo, fiquei bastante frustrado com a simplicidade dessa ferramenta. Com essa aplicação limitada, o leitor de tela acaba não sendo eficaz para seu principal público-alvo: pessoas cegas.
Until Dawn traz recursos de acessibilidade, mas não aplica as funções de maneira correta.
A escala dos botões durante os quick time events é impressionante e funciona muito bem nos momentos de ação. No entanto, quando estamos explorando o mundo do jogo, os botões e sinalizações de interação na HUD são pequenos e difíceis de enxergar. Além disso, não há nenhum tipo de filtro de tela para pessoas com algum nível de daltonismo, um recurso de acessibilidade bastante básico. A interface de Until Dawn Remake reflete tanto os melhores quanto os piores aspectos da acessibilidade no jogo. Ainda assim, acredito que isso possa ser resolvido em uma futura atualização, já que falta pouco para que este seja um jogo 100% acessível.
Legendas
Until Dawn Remake apresenta uma boa variedade de customizações interessantes para os textos das legendas. Essa gama de opções é muito bem-vinda, especialmente para jogadores com algum tipo de deficiência auditiva que dependem dos textos para acompanhar a narrativa.
As opções oferecidas incluem: ajuste do tamanho das fontes, exibição do nome do personagem que está falando, uma fonte específica para disléxicos que destaca palavras-chave, exibição de fundo para destacar as legendas do cenário, e, por fim, as legendas ocultas que descrevem os sons do jogo de forma escrita para pessoas com deficiência auditiva.
Comparação da escala das legendas em Until DawnFonte: Captura de tela do PS5
De modo geral, o jogo oferece uma boa variedade de customizações para suas legendas, criando uma experiência bastante agradável para grande parte do público que necessita desse recurso. Se eu pudesse dar um feedback sobre o que senti falta nesse quesito, seria que o tamanho máximo das legendas poderia ser maior, e que poderia haver uma maior variedade de cores para possibilitar um contraste mais adequado, dependendo da necessidade visual de cada jogador.
Controles
Ter uma boa variedade do opções para customizar os controles do jogo internamente é sempre uma praticidade principalmente para jogadores com alguma deficiência motora, em Until Dawn Remake temos uma variedade interessante de customizações para os comandos do jogo assim deixando a experiência do gameplay mais inclusiva.
Algumas das opções disponíveis incluem: remapeamento de controles, a opção de girar a câmera automaticamente para onde o personagem está olhando, ajuste da sensibilidade da câmera e da mira e inversão dos eixos X e Y tanto na câmera quanto nos movimentos dos personagens. O jogo também traz a possibilidade de alterar o minigame de "não se mexa" entre um modo ativo, onde o jogo utiliza o controle de movimentos, e um modo passivo, que utiliza os controles analógicos para essas sessões.
Menu de configurações dos controles.Fonte: Captura de tela do PS5
Juntando essas opções com a possibilidade de configurar os quick time events como automáticos, Until Dawn Remake oferece uma experiência bastante completa para jogadores com deficiência motora. Praticamente tudo dentro dos comandos é customizável, proporcionando uma experiência excelente para quem necessita desse tipo de auxílio.
Gameplay
O gameplay de Until Dawn Remake é simples e segue um ciclo mecânico básico, mas extremamente imersivo. O modo história funciona como um longo filme interativo onde o jogador toma decisões que podem determinar quem vive e quem morre. As principais mecânicas de interação com o mundo incluem exploração, quick time events, escolhas de diálogos e momentos onde o jogador precisa mirar e atirar em inimigos ou objetos.
Cena de gameplay de Until Dawn Remake.Fonte: Captura de tela do PS5
As principais ferramentas de acessibilidade disponíveis durante o gameplay de Until Dawn Remake são: uma leve assistência de mira, opções para reduzir o enjoo de movimento, vibrações adicionais no controle que indicam pontos de interação e sucesso automático no minigame "não se mexa". O título também inclui seis opções para os quick time events:
- Modo padrão, pausa ao exceder o tempo;
- Sucesso ao exceder o tempo;
- Sucesso automático;
- Fracasso automático;
- Automático com tempo esgotado;
- Modo aleatório.
Essa grande variedade de opções para os momentos onde é necessário pressionar o botão certo na hora certa e muito bem vinda pois possibilita ao jogador uma ampla gama de variedades de dinâmicas de gameplay onde menos nos momentos de ação do jogo dá a liberdade para que o player defina a melhor forma para sua situação específica.
Vale a pena?
Until Dawn Remake com certeza é a experiência definitiva desse clássico do PlayStation e traz novidades muito bacanas para a grande maioria do público, tanto para jogadores que precisam de acessibilidade quanto para aqueles que não utilizam essas ferramentas. Acredito que o jogo contempla uma gama bastante ampla de jogadores com diferentes tipos de deficiência, que, neste relançamento, podem encontrar uma gameplay mais inclusiva e bastante customizável.
No entanto, não posso deixar de ressaltar que a falta de opções, como um auxílio de navegação e a implementação básica do leitor de tela, são aspectos que deixam bastante a desejar na experiência. Quando vemos o quão pouco falta para que Until Dawn Remake seja um jogo acessível para todos os públicos, como Forza Horizon ou The Last of Us, é bastante decepcionante perceber que os recursos estão presentes no game, mas não em sua completude.
O relançamento de Until Dawn traz funções para cobrir praticamente todos os públicos que utilizam ferramentas de acessibilidade, sejam deficiências motoras, auditivas, neurotípicas, entre outras. No entanto, quando falamos de deficiências visuais, como baixa visão ou cegueira completa, o jogo é bastante básico.
Espero que a equipe de desenvolvimento de Until Dawn esteja interessada em continuar atualizando o jogo para que a implementação dos recursos seja mais redonda e melhor aplicada. Até aqui, eles já fizeram um trabalho excepcional e estão muito perto de chegar a um jogo 100% acessível. Com um toque aqui e outro ali, este pode vir a ser o jogo mais acessível do ano.
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