Eu não sou exatamente favorável a fazer comparações durante uma análise de games pelo simples motivo de que caso o meu interlocutor não conheça a obra que eu estou citando, parte do argumento se perde. Porém, acredito ser muito importante começar a análise de Neva compartilhando minha experiência com GRIS.
O game espanhol lançado em 2018 pela Nomada Studio foi um fenômeno cult principalmente pelas suas artes deslumbrantes, sendo aquele tipo de obra que qualquer print tirado pode virar um papel de parede ou mesmo um quadro na sala. Junto a isso, a trama trabalha, ainda que de forma implícita, a superação de uma depressão e do luto, temas de fácil identificação por parte do público que tenha captado a ideia no ar.
Mesmo com toda essa genialidade artística e lírica, GRIS me incomoda por abraçar a mediocridade mecânica, apresentando uma gameplay extremamente rasa e simples. Eu entendo que há propostas diferentes no mundo dos videogames e nem todo jogo precisa ter jogabilidades extraordinárias. Digo isso como um fã de walking-simulators, em que seu único trabalho é andar para frente e eventualmente interagir com algum objeto. Entretanto, o jogo é uma espécie de “estilo sem substância”, em que tudo parece incrível, mas falta uma base sólida para sustentar o todo.
Neva: gameplay, gráficos e história do game
Em 2024, é possível ver que a Nomada Studio aprendeu com alguns de seus erros e está no caminho certo, mantendo seus acertos e corrigindo alguns de seus erros. Os visuais de Neva são tão estonteantes quanto os de seu antecessor, com minha pasta de screenshot completamente lotada só de momentos dos jogo. Com sua trama sendo dividida em quatro capítulos, cada um retratando uma estação do ano, as cores e elementos do cenário vão acompanhando magistralmente essas mudanças e ditando o ritmo e a emoção de cada etapa.
Isso contribui perfeitamente para o impacto da história e narrativa, que, junto da arte, formam a trindade das principais qualidades de Neva. A trama é menos subjetiva e mais implícita, contando a jornada de uma guerreira que, junto de uma loba filhote, devem combater as trevas. Demora pouco tempo para notar que o tema debatido na história é a maternidade.
Se por alguma acaso você achou que só o público feminino vai se identificar, está enganado. É possível olhar os acontecimentos pela perspectiva da mãe, que é quem controlamos, mas também de Neva, que vai crescendo e amadurecendo com o tempo. Ela começa como uma pequena exploradora medrosa, começa a se tornar mais ativa, corajosa e um pouco rebelde até se tornar uma adulta com um forte vínculo com a sua mãe. E é sempre bom lembrar que mãe é quem cria, já que após a morte da mãe de Neva, mostrada logo na introdução do game, quem cuida da pequena é a Guerreira, que era a tutora da loba mãe.
Com isso, Neva acerta nos mesmos pontos que transformaram GRIS em um fenômeno, mas ele vai além ao incrementar a gameplay, adicionando combate ao todo e alguns elementos de platfomers. Mas essa primavera não é tão florida assim.
Como funciona o combate?
O combate é estruturado em três ataques, uma esquiva e um botão de pulo. Conforme a história avança, Neva deixa de ser uma loba medrosa para ajudar no combate e virar um ponto importante também para a exploração e partes de parkour, com a Guerreira podendo direcionar onde ela atacará, imobilizando inimigos e ativando plataformas para caminhar, por exemplo.
Então, ainda que adicione uma certa novidade na gameplay, é tudo muito simples, pouco engajante e pouco desafiador. Jogadores com pouca experiência podem encontrar um pouco de dificuldade, mas nada que dará dor de cabeça, ainda que com algumas poucas exceções.
Praticamente todas as batalhas com chefões são muitíssimo interessantes, cada um com visuais impressionantes e padrões de ataques únicos. Esquivando na hora certa e atacando com cadência, não haverá grandes problemas, mas é o tipo de combate que exige atenção do jogador. Junto a isso, as seções de perseguição são realmente emocionantes e intensas, dando um leve frio na barriga de que o adversário vai te alcançar e acabar com você. Então mesmo que seja bem simples, ainda conta com alguns momentos marcantes e levemente desafiadores.
Vale a pena?
Neva é uma leve mudança de direção da Nomada Studio, se afastando um pouco da arte subjetiva e abraçando um estilo mais claro, sem deixar a emoção de lado. A adição de um parkour mais complexo e um combate, ainda que simples, mostram um empenho da desenvolvedora em melhorar e evoluir cada vez mais seu conteúdo, buscando apresentar suas obras para uma base maior de jogadores. Se continuar dessa forma, seu próximo jogo será ainda mais memorável que GRIS e Neva.
Nota do Voxel: 85
Pontos positivos (prós):
Arte completamente linda
História e narrativas emocionantes que falam sobre maternidade
A relação de Neva com a protagonista é emocionantes
Pontos negativos (contras):
Combate e parkour são simples demais
Uma cópia de Neva para PC foi cedida pela Devolver Digital para a realização desta análise.