Dragon Ball Sparking Zero é um emaranhado de nostalgia sem profundidade - Review

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Imagem: Divulgação/Bandai Namco

Aqueles que viveram a geração do PlayStation 2 provavelmente têm muito apreço pela franquia de jogos de Dragon Ball: Budokai Tenkaichi, conhecida como Sparking no Japão. Inspirados na obra de Akira Toriyama, os títulos entregavam uma liberdade sem precedentes com suas arenas tridimensionais e um elenco comicamente gigantesco, que dava espaço até mesmo para figuras mais esquecidas e improváveis.

Após dezessete anos de espera e de tentativas frustradas de reprisar a fórmula, finalmente temos um nome de peso para continuar o legado. Dragon Ball: Sparking Zero chega como uma sequência legítima e que busca conquistar não apenas com sua apresentação visual, fazendo uso da Unreal Engine 5, mas também com o maior elenco de personagens da sua história — mais de 180 bonecos selecionáveis.

No entanto, a sua dependência na quantidade exacerbada de conteúdo, ainda que atenda uma demanda do público, acaba resultando em um jogo redundante e sem profundidade, que fica enjoativo muito facilmente. O Voxel já testou a versão de lançamento e conta, nas linhas a seguir, tudo o que você precisa saber no review de Dragon Ball: Sparking Zero. Confira:

A luta começa já na navegação de menus

Quando experimentei o jogo pela primeira vez, em junho, durante a Gamescom Latam, senti muita falta da personalidade que os clássicos tinham já na sua interface principal. Felizmente, a versão completa traz essa característica de volta, com menus dinâmicos em que os personagens interagem entre si. Desde o início, fica claro que a intenção é agradar os fãs de longa data e devo dizer: isso deixa uma primeira impressão bastante positiva.

O problema é que a nostalgia rapidamente dá lugar à irritação por conta da má distribuição dos ícones e falta de clareza para que o jogador entenda do que se trata cada opção. A navegação é truncada, lenta e confusa — e isso é algo que se agrava ao iniciar os modos de Tutorial e História. O jogador perde muito tempo em um cabo de guerra com a interface a ponto de drenar a vontade de iniciar uma partida.

Fonte:  Divulgação/Bandai Namco 

A história que todos já conhecem, mas com um toque de novidade

Quando pensamos em Modo História nos jogos de Dragon Ball, logo vêm à mente os arcos que todos já conhecem e que foram explorados à exaustão nas últimas décadas. Em certo nível, isso também é verdade aqui em Sparking Zero, mas a execução também tem um mérito próprio.

É possível escolher entre diferentes sagas, protagonizadas por personagens como Goku, Jiren, Trunks, Freeza e até mesmo Black — afinal, este é o primeiro título da linha Budokai Tenkaichi a incluir acontecimentos de Dragon Ball Super. Ao iniciar uma história, o jogador tem acesso a uma linha do tempo que retrata momentos-chave do anime de forma bastante resumida — sem grandes surpresas.

O destaque, no entanto, está em rotas alternativas que podem ser percorridas ao cumprir requisitos secundários em combate ou tomando decisões importantes. Isso acaba levando o jogador a cenários hipotéticos com personagens específicos. Já imaginou os desdobramentos se Gohan impedisse a invasão em O Renascimento de Freeza? Ou se Vegeta resistisse ao feitiço de Babidi na saga de Majin Buu?

A qualidade desses capítulos é inconsistente e nem sempre as escolhas dos jogadores têm consequências interessantes — o roteiro acaba recorrendo a conclusões simples e apressadas. A interface atrapalha bastante na hora de descobrir como acessar esses episódios, pois falta clareza nos objetivos. Também vale mencionar vários problemas de localização que alteram o sentido de frases e dificultam o entendimento. Mas há, sim, momentos que conseguem entreter os fãs mais engajados. As sagas mais interessantes são a do Gohan, Piccolo, Trunks e Goku Black.

Exemplo de texto que carece de revisão durante a campanha de Dragon Ball: Sparking ZeroExemplo de texto que carece de revisão durante a campanha de Dragon Ball: Sparking ZeroFonte:  Reprodução/Bruno Magalhães 

Jogo de PS2 com roupagem moderna

Agora, falando de gameplay. Dragon Ball: Sparking Zero toma como base os jogos anteriores da série, mas com uma jogabilidade muito mais ágil e responsiva. Isso pode soar como uma boa notícia para os fãs que querem uma experiência mais alinhada com os clássicos, mas, por outro lado, esse é um jogo que carece de profundidade de gameplay e que fica repetitivo muito facilmente.

O motivo é simples: os mais de 180 personagens jogam de um jeito muito parecido. Claro que há alguns arquétipos, incluindo bonecos mais lentos e de tamanhos variados, mas a estrutura de combos e plano de jogo se mantêm inalterados de modo que nem existe uma lista de comandos dedicada para cada um. As únicas mudanças estão nos especiais de Ki e técnicas, que utilizam um contador próprio.

Após conferir a primeira dezena de lutadores, o sentimento foi de já ter visto tudo o que o jogo tinha a oferecer. É um conteúdo redundante e que não instiga a experimentação. Algumas mecânicas ofensivas e defensivas foram adicionadas na tentativa de deixar os combates mais técnicos, incluindo defesas direcionadas, parries e quebras de combo, mas elas são desajeitadas e logo ficam repetitivas também.

Depois que o jogador dominar a movimentação pelo cenário e o tempo exato para executar os contra-ataques, a dificuldade também deixa a desejar. Na campanha, isso rende alguns momentos constrangedores em que você precisa se deixar ser acertado para engatilhar eventos e destravar rotas alternativas. Quando isso acontece, urge a vontade de enfrentar outros jogadores no modo online.

Infelizmente, eu não tive a oportunidade de colocar o netcode de Dragon Ball: Sparking Zero para teste no período de pré-lançamento. Vale mencionar, no entanto, que o produtor Jun Furuya, em entrevista ao Famitsu, já declarou que ele não tem suporte a netcode de rollback. Por isso, é de se esperar que as partidas online terão atraso de inputs em caso de instabilidade, o que deve atrapalhar bastante na hora de executar comandos mais precisos. Assim que o jogo estiver disponível, eu prometo dar impressões nas minhas mídias sociais.

Fonte:  Divulgação/Bandai Namco 

Apresentação gráfica impressiona

Já os visuais são um aspecto que falam por si só, mas vale ressaltar como esse provavelmente é o jogo tridimensional mais bonito de toda a franquia. Ainda não chega ao nível de capricho quadro a quadro de Dragon Ball FighterZ, mas os modelos são bem-feitos e coloridos. É muito interessante como o jogo utiliza um contorno que ressalta ainda mais os lutadores e torna a apresentação mais bonita.

Os efeitos especiais também chamam a atenção e parecem saltar direto dos animes e mangás de tão fiéis. As animações também prestam homenagens a momentos marcantes dos lutadores, então os fãs devem se divertir ao dedicar um tempinho para assistir aos especiais e transformações dos seus personagens favoritos.

O jogo não apresentou muitos problemas de desempenho, embora tenha sido possível observar quedas na taxa de quadros no PS5. Em vez disso, houve bugs de progressão no modo campanha e momentos em que o adversário controlado pela inteligência artificial ficava completamente congelado após ser arremessado, deslizando no chão.

A câmera também é bastante problemática, especialmente em cenários com mais obstáculos pelo caminho. É preferível que as pessoas que tiverem cinetose mexam nas configurações de acessibilidade para evitar que passem mal. Outra ressalva é que, por limitações técnicas, o modo multiplayer local só tem suporte ao estágio Sala do Tempo, que é muito mais simples que os demais.

As músicas também já deixam um pouco a desejar: a maior parte é genérica e não gera identificação com a franquia. A Bandai Namco perdeu a oportunidade de licenciar músicas da obra original — a única exceção é Genkai Toppa x Survivor, de Dragon Ball Super, com a qual nem tiveram a decência de aplicar um loop mais suave nos momentos de combate.

Fonte:  Divulgação/Bandai Namco 

Vale a pena?

Dragon Ball: Sparking Zero é tão fiel aos jogos originais do PlayStation 2 que serve de lembrete de que eles talvez não fossem tão bons assim. Embora isso não soe como um problema para uma parte do público, aqueles que esperam um sistema de combate mais interessante e diversificado podem se decepcionar. Na prática, é um jogo inchado e que fica enjoativo com facilidade.

O título acerta ao trazer a história que todos conhecem, mas com cenários hipotéticos (what if) à disposição para serem explorados e enriquecer a experiência. É um conteúdo que pode garantir dezenas de horas de gameplay, caso a intenção seja aproveitá-lo ao máximo. A parte triste é ter de lidar com sua interface de usuário burocrática e nada intuitiva, que se esforça para deixar a jogatina cansativa.

Em resumo, esse é um jogo que deve entreter jogadores mais casuais e que tenham lembrança afetiva pelos clássicos. Só tenha em mente que os originais são fruto de uma época em que o multiplayer local era o padrão, e depender de um modo online baseado em delay pode trazer dores de cabeça. A recomendação é esperar uma promoção, pois nada aqui é particularmente imperdível.

Nota do Voxel: 75

Pontos positivos (prós):

  • História vai além do cânone e traz cenários hipotéticos interessantes;
  • Todas as atividades garantem recompensas;
  • Visuais de altíssima qualidade e que não descaracterizam charme do anime.

Pontos negativos (contras):

  • Os personagens jogam de maneira idêntica e ficam repetitivos;
  • As interfaces são confusas pela overdose de informações;
  • Trilha sonora deixa a desejar;
  • Problemas de localização e textos sem revisão;
  • Alguns bugs visuais e de progressão no modo de campanha.

A análise de Dragon Ball: Sparking Zero foi realizada no PlayStation 5 com uma chave fornecida gentilmente pela assessoria de imprensa da Bandai Namco. O lançamento do jogo está agendado para o dia 11 de outubro, também com versões para PC (Steam) e Xbox Series S/X.

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