Seguindo a controversa tradição anual, a Activision Blizzard se prepara para a chegada de um novo Call of Duty! Desta vez, a promessa para limpar o gosto amargo de Modern Warfare 3 (2023) fica para Black Ops 6, previsto para o próximo mês de outubro. Sob o desenvolvimento da Treyarch, Raven e parceiros, o lançamento está recheado de novas mecânicas e supostas otimizações que devem reposicionar a franquia no competitivo pódio dos FPS — os Jogos de Tiro em Primeira Pessoa. Mas será que há tanto para esperar?
Bom, além dos trailers divulgados, não há muito para comentar sobre a vindoura campanha de Black Ops 6 — modo de jogo que mais recebeu críticas em Modern Warfare 3. No entanto, os modos multiplayer ganharam um generoso período aberto de testes, possibilitando que todos os interessados confiram o título em primeira mão. É claro, o Voxel participou e te conta tudo sobre!
Reinicialização necessária por atualização — de novo, e de novo
Alguns problemas antigos não mudaram, e nossa opinião também segue a mesma: a experiência de inicialização de Call of Duty é incompreensivelmente frustrante. Criticado desde o lançamento de Call of Duty Modern Warfare (2019), o design que exige abrir um jogo somente para reiniciá-lo após minutos de espera é ruim por si só, mas ainda conseguiram piorá-lo.
Com a chegada do Call of Duty HQ, inicializador exigido para jogar os últimos lançamentos da franquia, o problema da reinicialização simplesmente dobrou. Desde então, quando há uma atualização, é necessário reinicializá-lo, aguardar até poder selecionar o título desejado, somente para ter que começar tudo novamente quando este exigir sua própria atualização independente. É tão confuso quanto soa, e tão frustrante quanto parece — afinal, estamos falando de um jogo que ultrapassa 150 GB de armazenamento, com carregamento lento até mesmo em um SSD NVME.
Black Ops 6 herda problemas de design de Call of Duty antigo.Fonte: Adriano Camacho
Se você é veterano na franquia, deve estar se perguntando o motivo para ainda estarmos criticando este problema, já conhecido. Pois é, também sentimos o mesmo quando iniciamos Black Ops 6 e demos de cara com algo que deveria ter sido solucionado há cinco anos. Apropriadamente, decidi iniciar este texto com bastante imersão, trazendo parágrafos similares à experiência de iniciar o jogo pela primeira vez — demorados, desnecessariamente confusos e desanimadores. Com isto esclarecido, falemos da parte boa: a jogabilidade!
O ouro que buscávamos, mesmo em meio a problemas
Após tanto esperar, somos recebidos com um vídeo carismático dos desenvolvedores comentando sobre o período de testes, e logo podemos jogar. Pouco depois de conhecer o novo sistema de movimentação, iniciamos a busca por partidas, que não demorou e nos levou direto ao bom e velho Mata-mata em Equipe. Na prática, a jogabilidade está melhor do que nunca — e não é preciso fazer cerimônia para confirmar isso. Há muito mais fluidez nos combates, com disputas mais cinematográficas e estilosas. Os saltos, giros e deslizamentos tornam tudo mais dinâmico e trazem frescor para a franquia.
No entanto, ainda há mesma essência de sempre esperada de um Call of Duty moderno, especialmente no ritmo acelerado e frenético. Ressalto o moderno, pois, dificilmente a jogabilidade terá de volta algumas características de jogos clássicos da franquia, como o Black Ops 2. Por exemplo, as armas seguem com um distinto peso, por conta da abordagem realista, e dificultam o uso de armas mais poderosas como as snipers — que outrora possuíam um saque mais rápido.
Similarmente, ainda há a presença do infame “sistema de pareamento por habilidade” (SBMM), que nivela as salas pelo seu desempenho a cada duas ou três partidas. Na prática, o algoritmo torna a experiência das partidas muito mais disputada e competitiva, já que sempre há um bom jogo, com muitas eliminações, você deverá manter o mesmo nível de desempenho adiante. Nos jogos anteriores, a experiência era mais diversificada, com jogadores novatos e experientes em uma mesma sala.
Confesso que esse sistema acaba tornando o multiplayer cansativo, ao menos na minha experiência, pois cria um ritmo insustentável de jogabilidade — daqueles que deixam as mãos suando. As primeiras duas horas são interessantes, mas logo você percebe que não há espaço para muita experimentação casual, já que seu melhor desempenho é sempre exigido. Não é raro ter duas ou três partidas excepcionais para, em seguida, ser devastado sem explicações na próxima — e aí, você entende que estava em uma sala “fácil”, frustrando seu senso de mérito.
De todo modo, há muito capricho em Black Ops 6, e isso é inegável. Apesar dos problemas, que considero herdados e não intencionais, o jogo é muito divertido. Também me surpreendi com a otimização de desempenho, que parece mais madura e rica em ajustes gráficos. Após esperar o carregamento dos shaders, tudo funcionou como deveria e com boa qualidade visual. Foi uma mudança muito bem-vinda, já que os últimos títulos não rodaram com a mesma fluidez, nesse mesmo computador.
Mas e aí, Black Ops 6 vale a pena?
Nesse conjunto de observações, fica parecendo que Black Ops 6 é um belo tesouro escondido em meio à muita espera, inconivências e problemas. E, de fato, foi como percebi o jogo nestas primeiras impressões — há tanto cuidado em criar uma jogabilidade inovadora, mas tão pouco na apresentação inicial. Isso é bastante prejudicial, no longo prazo, especialmente pensando no preço do título.
Custando R$ 339, Black Ops 6 não justifica as centenas de gigabytes necessários em cada atualização, a interface inconveniente do Call of Duty HQ, e as partidas artificiais do multiplayer. Tudo isso torna a experiência de jogar mais burocrática, menos casual, e mais cansativa — o jogo é divertido, mas sua jogabilidade é insustentável e pouco prática.
Fidelizar novos jogadores, nesse contexto, é uma tarefa muito mais complicada do que era há 15 anos. Com títulos de peso como Fortnite, Rainbow Six Siege, CS2, Valorant e tantos outros para competir, Black Ops 6 parece ter uma alternativa gratuita para cada ponto positivo que oferece. É claro, nenhum deles realmente oferece o mesmo sabor de Call of Duty, mas quando se considera o retorno para um investimento tão alto, a perspectiva fica pouco favorável para o blockbuster da Blizzard Activision.