Já faz quase 3 anos que a internet foi pega de surpresa com um projeto audacioso de um estúdio até então desconhecido no ocidente. Black Myth: Wukong, segundo título da empresa chinesa Game Science impressionou a todos em especial pelos seus incríveis gráficos, impulsionados pela Unreal Engine 5, e sua gameplay, que foi revelada ainda muito cedo, mas já com características que pareciam muito promissoras.
Desde então, mesmo com o longo ciclo de desenvolvimento, as expectativas pelo jogo nunca esfriaram, pois a cada pequeno vídeo que a Game Science mostrava, a esperança no título continuava acesa pela comunidade de jogadores. É claro que no meio dessa empolgação também havia uma certa desconfiança, afinal se tratava de um projeto extremamente ambicioso feito por um estúdio que só havia lançado um jogo antes dele.
Será que agora, com seu lançamento, temos algo digno do hype, ou seria Black Myth: Wukong apenas mais um game que prometeu demais? Você confere isso na nossa análise a seguir, realizada com a versão de PC do jogo.
A jornada ao oeste
Primeiramente é importante ressaltar que, embora os gráficos e gameplay do jogo tenham sido o grande chamariz nos primeiros trailers, outro ponto que chamou a atenção é a narrativa e as referências de Black Myth: Wukong. Inspirado no romance chinês A Jornada ao Oeste, onde são originalmente narrados os feitos e lendas do lendário Sun Wukong, o game conta com uma forte influência da cultura chinesa, desde seus elementos narrativos até seus visuais e músicas.
Aqui cabe um dos primeiros elogios que faremos nessa análise. Um dos receios de parte da comunidade, e que eu compartilhava, era a possibilidade de o título, assim como diversos outros projetos feitos na Unreal Engine 5, ser um tanto genérico no quesito visual.
Embora não parecesse ser o caso baseado nos trailers de Wukong, esse é um problema comum em títulos feitos na popular engine com assets mais populares, digamos assim. Após algumas horas de gameplay, esse medo, felizmente, cai por terra.
Black Myth: Wukong, além dos visuais lindos que já havíamos visto nas apresentações do jogo, conta com uma bela direção de arte. Vale dar um destaque especial para os trajes e personagens vistos durante a jornada, que, aliados às já citadas músicas tradicionais, fazem da imersão um ponto muito forte da experiência.
O jogo também se destaca na implementação técnica. Graças a uma parceria com a Nvidia, o jogo chega com suporte para DLSS 3.0, que utiliza inteligência artificial para aprimorar o desempenho do game. Além disso, o título traz suporte para Ray Tracing completo, trazendo tecnologias de Path Tracing para garantir iluminação mais precisa e realista.
Não entraremos em muitos detalhes da história para evitar spoilers, mas é relevante citar a forma em que ela é contada. Quando o game foi anunciado, muitas pessoas acreditavam que o título teria uma forte inspiração na série Souls da From Software e, embora isso não se reflita no gameplay (falaremos mais disso adiante), é possível ver alguns pontos em que isso se prova verdade. Dentre todos eles, o maior e mais relevante é a maneira que a narrativa é mostrada ao jogador, muitas vezes de forma indireta (por meio de itens e descrições dos inimigos) e, por vezes, até enigmática.
Um exemplo disso são algumas cutscenes estilizadas que são mostradas ao longo do jogo, onde, ao invés de ter um foco direto no que foi jogado até o momento, uma alegoria da cultura chinesa é apresentada. Embora sejam lindas (e acreditem, são), em alguns pontos fica até difícil conseguir fazer a associação delas com a trama principal do jogo. Aqui nos cabe esperar que algum youtuber (talvez o lendário VaatiVidya) destrinche todos os mistérios que o Black Myth: Wukong tem a oferecer.
Olha o macaco
Agora que deixamos uma das maiores preocupações de lado e já sabemos que Black Myth: Wukong entregou o prometido no quesito visuais e direção de arte, é hora de atacarmos o que para mim é o ponto mais importante de um jogo como ele: a jogabilidade. Já vamos começar dizendo: o jogo NÃO é um souslike. Como algumas prévias já haviam apontado, a jogabilidade e sistemas de RPG do jogo tem como clara inspiração a série God of War moderna, mesmo que com uma velocidade levemente maior que a franquia da Santa Mônica.
Como um fã de souls, à primeira vista isso me pareceu algo negativo, afinal eu acreditava que a inspiração, em especial na dificuldade, seria mais semelhante aos títulos da From Software que das aventuras de Kratos, mas logo vi que essa minha decepção não duraria muito tempo. Black Myth: Wukong é facilmente um dos melhores jogos de ação lançado nos últimos anos, e muitas vezes era difícil parar minhas sessões de jogatina pois sempre me pegava naquela “mais um chefe” ou “mais um checkpoint”, tamanha a diversão que o título me proporcionava.
Combate contra chefes é o ponto alto do jogoFonte: Game Science/Divulgação
Munido principalmente do lendário bastão do rei macaco, a jogabilidade é frenética, focando principalmente em ataques leves e rápidos, mas que, em momentos específicos, são alternados por ataques fortes e lentos, que só podem ser executados após adquirir uma certa quantidade de ki. Além disso, também contamos esquivas rápidas que, assim como em um sistema de parry, podem ser executadas no instante exato em que seríamos atacados, garantindo alguns benefícios se feita de forma correta. Falando dessa forma parece que a gameplay do jogo é, de certa forma, genérica, o que à primeira vista realmente parece o caso, mas o grande trunfo de Black Myth: Wukong está nos sistemas que permeiam o combate físico.
Ao longo da jogatina, nós destravamos habilidades mitológicas de Son Wukong, como a possibilidade de se tornar pedra para refletir ataques ou invocar clones para ajudar no combate. Além disso, há transformações que nos permitem, temporariamente, assumir a forma de inimigos derrotados em nossa jornada.
Também existem 3 diferentes formas de combate com o bastão, que alteram o ataque pesado do personagem e a forma de se portar em batalha. Tudo isso somado com o sistema de RPG, que nos permite investir pontos de experiência em habilidades e status e os equipamentos, que também proporcionam perks de combate e exploração, torna a experiência de jogar Black Myth: Wukong extremamente variada, já que existem diversas formas de experimentar todas as mecânicas disponíveis.
Usar todas as habilidades disponíveis é essencial no combate.Fonte: Game Science/Divulgação
Lembra que falei que o jogo não era tão difícil quanto um Soulslike? É preciso salientar que, embora esse seja o caso, o título passa longe de ser fácil, em especial nos seus chefes. Mesmo que acertar precisamente cada desvio e ataque não seja tão crucial quanto em um souls, saber usar todas as ferramentas de combate que temos à disposição é fundamental para conseguir superar as batalhas mais complicadas do game.
Cada canto guarda um segredo
Apesar de contar com fases e capítulos lineares, isso não significa que faltam motivos para explorar os cenários de Black Myth: Wukong. Além da já citada beleza dos ambientes e dos itens que podemos encontrar pelo caminho, o jogo é repleto de segredos, contando inclusive com chefes opcionais e até mesmo áreas inteiras completamente secretas, que só podem ser acessadas ao realizar determinadas ações ou quests de NPCs que, em outra semelhança com souls, não são apresentadas de maneira tradicional em um “menu”, se fazendo necessária a atenção a cada diálogo.
Vale muito a pena explorar o mundo de Black Myth: Wukong.Fonte: Game Science/Divulgação
Inclusive uma recomendação pessoal é tentar explorar ao máximo para garantir que nenhum chefe, seja ele normal ou um dos secretos já citados, fique para trás. Afinal, praticamente todos os grandes inimigos são um show à parte, tanto no quesito gameplay quanto no visual, tendo pouca repetição de elementos entre eles.
Vale a pena?
Infelizmente nem tudo são rosas em Black Myth: Wukong. Alguns pontos que deixam a desejar no título são a dublagem em inglês, que apesar de não ser necessariamente ruim, não acompanha a mesma qualidade que o resto do jogo. Além disso, também temos a performance que, embora tenha me surpreendido positivamente dada a beleza do jogo, acaba engasgando um pouco em alguns momentos, em especial em algumas cutscenes com muito movimento.
Mesmo assim, é inegável que o título entrega uma experiência à altura do hype que foi criado aos já três anos atrás, mostrando que o longo tempo de desenvolvimento trouxe os resultados esperados. Black Myth: Wukong não é só uma bela demonstração do poder gráfico que podemos esperar da Unreal Engine 5, como é um excelente jogo de ação e um possível candidato a corrida de Jogo do Ano (GOTY) em 2024.
Nota do Voxel: 93
Pontos positivos (prós):
- Gameplay variada e divertida;
- Visuais lindos;
- Direção de arte.
Pontos negativos (contras):
- Performance em algumas cutscenes;
- Dublagem em inglês.
Uma key para review no computador foi cedida pela Games Science. Black Myth Wukong chega em 20 de agosto no PC e PS5. Futuramente, o jogo também receberá uma versão para Xbox.
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