Flintlock: The Siege of Dawn é a versão bem light da fórmula souls - Review

Por Felipe Gugelmin Valente

17/07/2024 - 11:006 min de leitura

Flintlock: The Siege of Dawn é a versão bem light da fórmula souls - Review

Fonte :  Divulgação/A44 Games 

Imagem de Flintlock: The Siege of Dawn é a versão bem light da fórmula souls - Review no tecmundo

Desenvolvido pelo estúdio A44 Games, que trabalhou anteriormente em Ashen, Flintlock: The Siege of Dawn é descrito por ele como um “soulslight”. Ou seja: ao mesmo tempo em que traz questões como inimigos desafiadores e um progresso que pode ser perdido com a morte, o game também apresenta uma história mais acessível e direcionada.

No fim das contas, o experimento da empresa rendeu uma experiência que, se tem um lado “souls”, na prática se aproxima muito mais de um hack’n’slash tradicional. E, curiosamente, sua maior contribuição para o gênero acaba não sendo exatamente sua acessibilidade, mas sim a aposta em uma exploração mais verticalizada.

Flintlock nos leva ao mundo de Kian, que há 10 anos lida com um portal misterioso pelo qual os mortos escapam do submundo. Disposta a acabar com isso, uma força militar encabeçada por Nor Vanek (dublada por Olive Gray) decide destruir a passagem pela qual eles estão surgindo — o que só vai acabar desencadeando um desastre ainda maior.

Flintlock é uma aventura direto ao ponto

Após os eventos da introdução, no qual a protagonista ocasiona um grande desastre e só não morre graças à intervenção do deus Enki (voz de Alistair Petrie), o jogo já deixa clara qual é a nossa missão. Para salvar o mundo do caos, precisamos matar os três deuses responsáveis pelo desastre, enfrentando um exército de mortos-vivos, bandidos e cavaleiros corrompidos no caminho para esse objetivo.

Flintlock é um jogo de ação em terceira pessoa com visão sobre o ombro que, embora se diga inspirado pelo “gênero souls” (Dark Souls, Bloodborne, Elden Ring), na verdade traz muito mais semelhanças com o God of War de 2018. Isso porque, embora possa ser difícil nos momentos iniciais, ele se torna relativamente fácil em questão de pouco tempo.

Se no começo a protagonista Nor conta somente com um machado como arma, logo ela destrava uma espingarda, diversas opções de granadas, armas adicionais e vários tipos de armaduras. Além disso, embora ela não ganhe níveis, os pontos de experiência adquiridos (chamados aqui de reputação) também podem ser usados para fazer upgrades e destravar novas habilidades — caso você morra, eles caem no chão, e podem ser recuperados enquanto você não for derrotado novamente.

Embora tenha semelhanças com outros RPGs de ação em terceira pessoa, o título testa algumas ideias bastante novas. Seu sistema de experiência, por exemplo, se baseia em uma série de apostas: mate um inimigo sem ser atingido e você pode multiplicar seus pontos de experiência, que só são coletados no momento em que você preferir.

Em outras palavras, quem for bom o bastante vai poder acumular as recompensas de diversos inimigos, multiplicando-as em diversas vezes antes de “sacar” o valor. No entanto, um erro de execução qualquer pode fazer com que você perca todos esses pontos e saia de longos trechos da aventura com as mãos vazias.

Flintlock experimenta com seu sistema de reputaçãoFlintlock experimenta com seu sistema de reputação

Isso cria um sistema interessante de risco e recompensa, que se adapta tanto a quem é mais aventureiro quanto àqueles que gostam de ser mais conservadores. Da mesma forma, os jogadores podem fazer ataques com Enki que, se não são poderosos, contribuem para encher uma barra especial e para atrair inimigos mais distantes.

Quando ela está cheia, seus adversários ficam paralisados temporariamente e suscetíveis a finalizadores devastadores. Em meu tempo com o jogo, descobri que explorar esse recurso é o caminho mais fácil para destruir a maioria dos adversários, e até mesmo chefes não resistem muito tempo à combinação certa de equipamentos e habilidades que exploram esse recurso.

Também vale mencionar o sistema de contra-ataques, que podem ser acionados tanto usando a defesa no momento certo, quanto acionando a espingarda de Nor. Embora essa seja uma ferramenta poderosa, a A44 encontrou meios para que não possamos abusar dela — com disparos limitados, a arma só pode ser recarregada após acertamos quatro ataques nos inimigos.

Os combates de Flintlock não são desafiadores quanto essa tela pode dar a entenderOs combates de Flintlock não são desafiadores quanto essa tela pode dar a entender

E confie em mim: você vai querer ter sua arma cheia o tempo todo, já que ela é a única forma de revidar contra muitos ataques poderosos, indicados por um brilho vermelho nos inimigos. Com isso, o jogo estimula o jogador a agir de maneira agressiva, mesmo nos momentos em que isso não parece o certo a fazer.

Para completar, o arsenal de Nor conta com armas de longo alcance, lança-chamas, granadas e canhões de mão. Eles são bem mais poderosos, mas contam com cargas limitadas que só são recarregadas quando chegamos a um ponto de descanso, então é preciso usá-los de maneira mais pontual e estratégica.

Aposta na verticalidade

Outro ponto que diferencia Flintlock de outras opções do gênero conhecido como “souls” é sua verticalidade. Logo no começo da aventura descobrimos que Nor é capaz de dar saltos duplos e um pequeno “dash” no ar, o que é bom tanto para sobreviver aos combates quanto para explorar os ambientes.

Embora a aventura seja bastante linear e dure somente aproximadamente 15 horas, essa característica permite que os pequenos desvios do caminho ganhem mais opções do que uma primeira impressão pode dar a entender. Os saltos, junto aos portais de transporte rápido que Enki é capaz de abrir, acabam revelando alguns desafios de plataforma bastante interessantes e inesperados para um jogo do estilo.

A verticalidade é uma marca registrada de FlintlockA verticalidade é uma marca registrada de Flintlock

Ao mesmo tempo, são poucas as batalhas que se aproveitam bem desse recurso que, na maior parte do tempo, serve como uma espécie de “cheat” para escapar dos inimigos. Em compensação, especialmente no segundo chefe, ele se torna essencial para permanecer vivo enquanto você espera o momento certo para encontrar uma brecha para atacar.

Por falar nisso, um dos problemas do jogo é que, embora os inimigos batam forte o tempo todo, eles nunca chegam ser exatamente desafiantes. Mesmo os subchefes que se repetem algumas vezes logo ficam fáceis, tanto porque Nor se fortaleceu, quanto pelo fato de eles possuírem poucas animações e todas serem bastante telegrafadas.

Para complicar um pouco mais as coisas, Flintlock possui uma variedade limitada de inimigos. Como não demora muito tempo até que você domine completamente como lidar com cada um deles, depois de algumas horas de jogo só há qualquer espécie de desafio quando grandes grupos se unem contra o jogador ou você cai em alguma emboscada.

Você vai ter um arsenal cheio de opções ao chegar no final do gameVocê vai ter um arsenal cheio de opções ao chegar no final do game

Mesmo que falte desafio da metade do game para frente, confesso que ainda assim me diverti bastante com ele. Chegar em um campo de batalha e passar pelos inimigos como uma faca quente pela manteiga é uma experiência prazerosa, especialmente quando a protagonista exibe suas animações de execução e diversas explosões e efeitos passam sobre ela. 

No entanto, os chefes finais podiam ser mais resistentes e não serem mortos após somente dois ou três minutos de luta.

Flintlock peca pela falta de polimento

Mais do que a falta de desafio, o principal problema de Flintlock está em sua falta de polimento. Logo no tutorial da aventura, jogando no PlayStation 5, o título me ensinou que era preciso usar o botão “O” para pular — quando, na verdade, a opção correta era o “X”. Isso demonstrou uma falta de atenção aos detalhes que se repetiu várias vezes durante a aventura.

Outro problema comum se mostrou na forma de inimigos que simplesmente desistiam de lutar ou sequer eram ativados quando a protagonista se aproximava deles. Embora não fosse algo que acontecesse em todas as lutas, isso apareceu vezes o suficiente para se mostrar uma questão evidente de falta de polimento.

Mais comum do que isso foram as vezes em que, ao ativar uma animação de finalização, Nor era jogada para fora de alguma plataforma. Embora o jogo não puna isso com a morte, mais de uma vez me vi obrigado a repetir os mesmos trechos de plataforma somente para voltar ao local do qual nunca deveria ter caído.

Para completar, também sofri com um bug de som que afetou o jogo durante um longo período. Ele parece ter sido resultado de deixar o PlayStation 5 em repouso durante vários intervalos, e a única maneira de corrigi-lo foi salvar o game e reiniciar sua execução. No entanto, a mesma questão acabou retornando após algumas sessões adicionais.

Vale a pena?

Apesar de Flintlock quebrar as expectativas de quem espera um jogo da fórmula souls e claramente sofra com problemas de orçamento e polimento, ele se mostra satisfatório no geral. Embora tenha saído do game querendo um pouco mais de variedade, me vi querendo retornar a seu universo para aproveitar o nível de desafio mais intenso (terminamos a aventura no normal para este review).

Apesar de seus defeitos, Flintlock é um RPG de ação bastante honestoApesar de seus defeitos, Flintlock é um RPG de ação bastante honesto

Mesmo não sendo tão bem-acabado quanto outros RPGs de ação, o título conquista pelo universo que cria e, principalmente, pela relação entre os protagonistas Nor e Enki. Além disso, as missões secundárias se mostram bastante recompensas, embora isso tenda a acontecer mais do ponto de vista narrativo do que por conta dos itens obtidos com elas.

Embora tenha seus defeitos, a aventura em geral é bastante satisfatória e tem um preço bastante condizente — por somente R$ 104, a versão PC é a que traz um custo-benefício mais justo. Já no Xbox, os R$ 147,45 ainda valem a pena, embora seja mais proveitoso aproveitar o título no Game Pass. No entanto, quem joga no PS5, no qual o título custa R$ 199,50, pode achar melhor esperar por uma promoção para adquiri-lo.

Nota do Voxel: 75

Pontos positivos (prós):

  • Boa verticalidade dos ambientes
  • Sistema de armas e habilidades divertido de explorar
  • Uma boa história central
  • Missões secundárias recompensadoras

Pontos negativos (contras):

  • Faltou polimento em questões como interface e gameplay
  • A dificuldade some a partir da segunda metade do jogo
  • Pouca variedade de inimigos
  • Chefes pouco criativos e fáceis demais

Uma cópia de Flintlock: The Siege of Dawn foi cedida ao Voxel pela Kepler Interactive/Théo Games para o review no PlayStation 5. O jogo também será lançado no PC e Xbox Series S e X, chegando no lançamento ao Xbox Game Pass. 


Por Felipe Gugelmin Valente

Especialista em Redator

Redator freelancer com mais de uma década de experiência em sites de tecnologia, já tendo passado pelo Adrenaline, Mundo Conectado, TecMundo, Voxel, Meu PlayStation, Critical Hits e Combo Infinito.


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Fontes

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