Beyond Good and Evil desperdiça chances em remaster datado e frustrante - Review

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Imagem: Divulgação/Ubisoft

Beyond Good and Evil: 20th Anniversary Edition é uma remasterização muito honesta em sua proposta: resgatar o clássico cult da Ubisoft, que é considerado um dos jogos mais amados da publicadora francesa, e entregá-lo a um novo público em sua melhor forma, com visuais atualizados e outras melhorias de qualidade de vida.

Na prática, isso significa preservar a experiência do título de 2003, com todos os seus prós e contras, ao mesmo passo em que implementa conteúdos cosméticos e cenas desbloqueáveis que a conectem com Beyond Good and Evil 2 — que promete ser uma prequela e que já está em desenvolvimento há pelo menos dezesseis anos à esta altura.

Mas com tantos bons exemplos de remasterizações que tivemos recentemente, Beyond Good and Evil: 20th Anniversary Edition passa a sensação de que podia fazer maie soa como um lembrete apressado de que a sequência ainda existe, em algum nível, no inventário da publicadora. Você confere os detalhes a seguir, no review completo do Voxel.

As chamas da revolução

A história de Beyond Good and Evil tem uma execução bastante simples, mas com ideias que conversam com o momento político que vivemos atualmente e que se utiliza do poder da desinformação para o controle de massas.

A aventura se desenrola em Hillys, um planeta marítimo peculiar que enfrenta uma ameaça alienígena chamada DomZ, que visa sequestrar a população. Uma força militar chamada de Divisão Alfa supostamente consegue conter os invasores do espaço e toma as rédeas da segurança pública, controlando até mesmo os serviços de informação para divulgar propaganda em favor do seu regime militar.

No entanto, ainda há relatos de cidadãos que estão desaparecendo e isso chama a atenção de um grupo de resistência chamado Iris, que não confia na Divisão Alfa e busca documentar provas de que ela estaria em conluio com os alienígenas em um esquema de tráfico de pessoas.

Sob esse contexto, o jogador controla a fotojornalista Jade, que vive com seu tio adotivo Pey’j em um farol onde cuidam de várias crianças órfãs. Após sofrerem um ataque dos DomZ, Jade e Pey’j são contatados pela Iris e acabam aceitando a tarefa de fotografar evidências da conspiração alienígena na tentativa de ganhar a opinião pública com reportagens e instigar uma revolução.

Uma remasterização que podia ser mais

A execução de Beyond Good and Evil é bastante simples e o enredo por muitas vezes é desnecessariamente acelerado, criando soluções simples e não dando tempo para que o jogador crie vínculos com personagens. Isso é um reflexo do título original, já que a história não passou por mudanças e muito menos por adições relevantes.

Isso é algo que traz sentimentos mistos. Por um lado, o universo do game é bastante rico para a época, oferecendo um mundo semiaberto para exploração e uma diversidade étnica muito bem representada, com pessoas que reagem aos acontecimentos da história — seja em diálogos ou até mesmo em protestos conforme expomos as mentiras da Divisão Alfa.

Por outro, o jogo traz cerca de dez horas de duração e parece ter muita pressa para chegar logo aos finalmentes. Muito conteúdo foi cortado do título original, conforme revelado pela galeria desta edição de aniversário, então seria interessante se a remasterização fosse além de aspectos técnicos e expandisse a experiência com fases ou até mesmo elementos de história.

Beyond Good and Evil aposta em muitos momentos de ação furtiva ao longo da campanha.Beyond Good and Evil aposta em muitos momentos de ação furtiva ao longo da campanha.Fonte:  Divulgação/Ubisoft 

É por esse motivo que a minha percepção é de que Beyond Good and Evil: 20th Anniversary Edition é uma oportunidade perdida. É uma remasterização que não vai além do mínimo. O conteúdo que se conecta com o próximo jogo, que é um ponto de venda, não passa de cosméticos e cenas pré-renderizadas, que mergulham na infância da protagonista e podem ser vistas no YouTube.

Já que a Ubisoft se deu ao trabalho de adicionar esse conteúdo e até mesmo localizar o jogo em português do Brasil, a experiência seria mais enriquecedora se buscasse atualizar suas mecânicas datadas, que podem ser uma dor de cabeça, ou recuperar fases que foram cortadas do título original — afinal de contas, muito conteúdo ficou de fora e poderia ser reaproveitado em algum nível nesta nova edição.

É preciso jogar sob a ótica da época

Com tudo isso dito, fica claro que Beyond Good and Evil: 20th Anniversary Edition é mais bem aproveitado se o jogador tiver a consciência de que se trata de um jogo de mais de vinte anos atrás. Ainda assim, ele chama a atenção com mecânicas que fazem bastante sentido com a sua protagonista.

Para começar, Jade é uma fotojornalista, então a sua máquina fotográfica é uma parte central do gameplay. O jogador pode registrar diferentes espécies que encontrar pelo caminho para enriquecer o acervo de uma colecionadora e ganhar créditos em troca, que podem ser usados para comprar itens.

É uma mecânica que lembra bastante clássicos como Pokémon Snap, e eu não ficaria surpreso se essa tiver sido uma inspiração. Quando o rolo de filmes chega ao fim, o jogador é recompensado com uma pérola, que é a moeda mais importante para destravar upgrades necessários para avançar na história.

A mecânica de fotografia é uma das principais de Beyond Good and EvilA mecânica de fotografia é uma das principais de Beyond Good and EvilFonte:  Divulgação/Ubisoft 

Claro, há outras formas de ganhar pérolas, incluindo minigames e tesouros espalhados pelo mundo. O problema é que chega um ponto em que o jogador inevitavelmente terá de caçar as pérolas, e isso pode representar uma quebra de ritmo um pouco frustrante na experiência de jogo.

Isso se torna um problema, em especial, por conta da interface de usuário, que é desnecessariamente burocrática. O mapa não é muito intuitivo e quase tudo que o jogador coleta abre um menu que pausa a ação e mostra o item obtido. Também existe o agravante da interface de desafios do Ubisoft Connect, que por vezes invade a tela ao pressionar triângulo sem querer, que é um botão de ação recorrente no gameplay.

Gameplay e repetição

O sistema de combate também é bastante simples: Jade pode desferir combos com quadrado e se esquivar. Caso mantenha o botão pressionado, ela executa um ataque em área para atingir vários inimigos ao mesmo tempo. Está longe de ser um combate responsivo e engajante, mas funciona na medida do possível.

O jogo também conta com um sistema de parceiros, que podem executar ações especiais e contextuais. Ou seja, eles podem ajudar tanto em quebra-cabeças como também nos combates. É uma ideia bastante interessante, mas que também rende inconvenientes porque o prompt dos comandos não é consistente.

O maior problema disso tudo é a repetição de inimigos, que vai totalmente na contramão da diversidade étnica do universo do jogo. A maior parte do tempo o jogador está enfrentando soldados genéricos da Divisão Alfa, que são os mesmos do início ao fim do jogo. Também há uma insistência em trechos de ação furtiva que podem ser maçantes e punitivos.

O jogo ganhou um sistema de salvamento automático, mas que pode colocar o jogador em algumas enrascadas. Por vezes, o respawn acontece antes de passar de um trecho inteiro de inimigos. Também houve um momento, já no fim do jogo, que eu voltei a vida com praticamente nada de vida no combate contra chefe, tornando mais frustrante do que deveria.

Visuais e desempenho

Curiosamente, Beyond Good & Evil: 20th Anniversary Edition traz um modo de performance e de gráficos. Isso se deve ao suporte à resolução 4K nas plataformas modernas, que é algo que poucas pessoas podem usufruir na prática.

Ambos os modos rodam a sessenta quadros por segundo, mas há momentos em que algumas quedas de desempenho são bem nítidas. Não é nada que atrapalhe a experiência, mas não deixa de ser curioso. O jogo também agrada visualmente, mas muito por mérito da sua direção artística.

Algumas faixas da trilha sonora também receberam um novo tratamento e estão orquestradas. Isso também pode agregar bastante à experiência, em especial para as pessoas que são fãs do clássico e têm apego emocional às músicas originais.

Beyond Good and Evil traz remasterização simples e com cenas desbloqueáveis que mergulham no passado da protagonista.Beyond Good and Evil traz remasterização simples e com cenas desbloqueáveis que mergulham no passado da protagonista.Fonte:  Divulgação/Ubisoft 

A parte mais enriquecedora dessa remasterização é, sem dúvidas, a galeria comemorativa. Nela é possível acessar não apenas esboços da fase de conceito do jogo, mas também kits de imprensa, materiais de divulgação e, como mencionei, vários conteúdos que estariam no jogo original, mas que acabaram sendo cortados — denunciando que o escopo original do projeto era muito maior.

Tudo é acompanhado por uma explicação que é um prato cheio para pessoas que se interessam pela preservação dos videogames ou que querem saber mais a fundo as decisões de design por trás do jogo. Pode parecer curioso, mas esta foi a parte do jogo que eu mais gostei de visitar.

Vale a pena?

Beyond Good and Evil: 20th Anniversary Edition perde a oportunidade de atualizar mecânicas datadas e entregar uma experiência mais satisfatória para um novo público. Ele passa a impressão de ser um lançamento apressado, apenas para lembrar que a marca ainda existe no catálogo da Ubisoft.

No entanto, é inegável que o jogo é, sim, a melhor forma de revisitar ou até mesmo conhecer este clássico nos dias de hoje. É preciso ter a consciência de que suas decisões de design são um reflexo da época original de lançamento e, portanto, a experiência de jogo pode ser aquém do que se espera em títulos atuais.

É um jogo ideal para quem quer um título de curta duração e com carinha retrô, mas que ao mesmo passo mostra um potencial de expansão do seu universo com um mundo semiaberto e personagens divertidos. Mas se comparado a outras remasterizações recentes, Beyond Good and Evil: 20th Anniversary Edition deixa a desejar e não entrega mais do que o mínimo.

Nota do Voxel: 65

Pontos positivos (prós):

  • Personagens divertidos;
  • Variedade de atividades em um mundo semiaberto;
  • Galeria completa e com conteúdo interessante;
  • Localização em português do Brasil.

Pontos negativos (contras):

  • Interface de usuário datada;
  • Mecânicas um pouco desajeitadas;
  • Repetição de inimigos;
  • Enredo muito apressado.

A chave de Beyond Good and Evil: 20th Anniversary Edition foi fornecida pela assessoria de imprensa da Ubisoft para a produção desta análise no PS5. O jogo foi lançado em 24 de junho com versões para PC, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X|S e Nintendo Switch.

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