Final Fantasy VII é sem dúvidas um dos jogos mais influentes de todos os tempos. Ele não apenas foi o responsável por popularizar a franquia da Square Enix fora do Japão, mas também por pavimentar o gênero de RPG na era dos 32-bits e servir de porta de entrada para toda uma geração de entusiastas. O seu mundo e personagens são enxergados com muito carinho e apelo nostálgico ainda hoje, então é natural que a tarefa de reimaginar o título original seja particularmente desafiadora.
Ainda assim, a produtora alcançou um excelente resultado com o lançamento de Final Fantasy VII Remake, em 2020. Este seria o primeiro passo de um projeto ambicioso, pensado como uma trilogia, a fim de abarcar a imensidão desse universo com um nível de profundidade e atenção aos detalhes sem precedentes. O primeiro jogo se limitou apenas a uma parcela muito pequena do clássico de PSOne, com foco na cidade de Midgar — mas retrabalhada o bastante para sustentar uma experiência autocontida, com mais de trinta horas de duração.
Quatro anos mais tarde, finalmente chegou a vez de Final Fantasy VII Rebirth. O jogo é uma sequência direta do Remake e se passa em um momento que, no título original, o mundo se revelava ao jogador. Agora temos um cenário livre para exploração, com suas regiões bem demarcadas e uma incrível quantidade de conteúdo relevante. Isso vale tanto para o enredo principal quanto para as atividades secundárias, que buscam aprofundar o relacionamento entre os personagens do grupo.
O resultado é um jogo que faz Final Fantasy VII Remake parecer minúsculo, representando uma nítida evolução do seu escopo. Tudo aquilo que tinha dado certo no título anterior foi mantido, e um reflexo disso é que cerca de 90% do time de desenvolvimento retornou para trabalhar na sequência. Mas será que tudo isso realmente faz valer a espera?
Nós do Voxel já pudemos experimentar a versão completa de Final Fantasy VII Rebirth antecipadamente e você confere os detalhes nas linhas a seguir. Vale lembrar que o jogo chega em 29 de fevereiro, exclusivamente para PlayStation 5, com legendas em português do Brasil. Confira:
A vastidão do planeta
Nada mais justo do que começar esta análise com um dos maiores pontos de venda do jogo: a sua exploração. Não é fácil construir um mundo que seja genuinamente divertido de explorar, em especial sob um contexto em que o planeta está morrendo. Os cenários de Final Fantasy VII Rebirth contam uma história de quando ainda existia a República de Junon, que foi derrubada pelas forças militares da Shinra. O resultado disso são vestígios da guerra, com muitas ruínas e terreiros desolados por todos os lados.
Sob essa condição, o jogador se junta a um velho conhecido, Chadley, para localizar pontos de interesse e compartilhar os chamados informes globais. É possível descobrir torres que apontam objetivos próximos para nortear a exploração. A forma de escalar e ativá-las varia conforme a progressão, funcionando como espécies de quebra-cabeças.
A partir disso, o jogador pode investigar nascentes com concentração de energia vital do planeta para se aprofundar na história e cultura de cada região; santuários dedicados a divindades protetoras, que servem para fortalecer as matérias de invocação; casas de Moogle para abrir lojinhas especiais; inimigos peculiares em desafios de combate; e muito mais.
Final Fantasy VII Rebirth abarca o conteúdo do primeiro disco do clássico e reproduz vários cenários icônicosFonte: Reprodução/Bruno Magalhães
Todos esses informes ajudam no progresso de cada região e concedem pontos que podem ser utilizados para adquirir matérias exclusivas com o Chadley. Conforme avança, o jogador também descobre as misteriosas protorelíquias, que são narrativas paralelas com personagens familiares e surpresas até mesmo para os fãs de jogos antigos da série Final Fantasy.
Como Final Fantasy VII Remake tinha cenários muito lineares, o time de desenvolvimento precisou mexer na forma como os controles funcionam em Rebirth. Por isso, a navegação agora está muito mais dinâmica, sendo possível escalar e saltar pequenos desníveis. É um pouco frustrante descobrir os limites dessa mecânica e ela parece um pouco truncada no início, mas é tudo uma questão de costume. No fim, passear sem rumo é uma tarefa bastante convidativa e, quanto mais nos engajamos com o mundo, mais somos recompensados.
Também vale citar os Chocobos, que podem ser adestrados e têm habilidades únicas para cada localidade, deixando a exploração ainda mais diversificada e vertical. Em Junon, por exemplo, eles são capazes de escalar paredes específicas. Em Nibelheim, eles podem criar gêiseres que servem como propulsão para voar pelo mapa. Todos são bastante úteis, embora os de Cosmo Canyon, que podem planar no ar, tenham me decepcionado por serem muito burocráticos.
A relação entre os personagens é uma das principais características do jogo, tanto para a história quanto para o gameplayFonte: Reprodução/Bruno Magalhães
A exploração do mundo e os seus segredos garantem dezenas de horas de gameplay por si só, mas vale lembrar que também temos as cidades. Elas funcionam como hubs e estão cheias de vida, com vários NPCs conversando e exercendo alguma atividade. Para quem jogou o clássico do PSOne, é uma sensação indescritível ver a dimensão de lugares como Kalm, Junon, Costa Del Sol, Gold Saucer, Gongaga, entre outros. Não foram raras as vezes que me emocionei e passei um tempo apenas olhando ao redor, apreciando a trilha sonora.
As cidades também têm murais com solicitações dos seus cidadãos, que são as missões secundárias. Elas estão muito melhores em comparação ao título anterior, pois agora têm um ritmo mais agradável e objetivos variados. Os seus NPCs e histórias também divertem bastante, incluindo diálogos que realmente agregam valor ao universo do game. O jogador pode completá-las no seu próprio ritmo, e elas costumam apresentar alguma micromecânica ou minigame exclusivo.
Um sistema de combate perfeito
Um dos pontos mais positivos do jogo é o destaque dado ao relacionamento do grupo de protagonistas, e há até mesmo uma barra que indica o seu nível de amizade com eles. Durante as missões secundárias, algum membro sempre toma a dianteira para resolver a situação com o Cloud, então é a oportunidade perfeita para que eles interajam e se conheçam mais. Os personagens seguem o padrão de qualidade do Remake e estão muito bem-escritos, portanto suas interações realmente aquecem o coração. Também há momentos da história em que eles se espalham pela cidade e é possível conversar, apresentando opções de diálogos que são uma chance de estreitar laços.
Em outras palavras, os fãs podem se envolver com os personagens em um nível que vai muito além do título original. E isso também traz implicações no sistema de batalha que, embora seja idêntico ao do Remake, inclui melhorias significativas. Os bonecos agora têm as chamadas Ações e Habilidades de Sinergia. A primeira consiste em técnicas em dupla que podem ser executadas a qualquer momento segurando R1. Já a segunda equivale aos poderosos Limit Breaks, pois são especiais cinematográficos que concedem bônus em combate, como por exemplo a isenção de custo para magias e maior tempo de atordoamento.
Essas habilidades em dupla também colaboram para aprofundar o relacionamento dos personagens e é possível destravar novas de acordo com o Nível do Grupo. Essa é uma nova métrica utilizada pelo jogo, permitindo distribuir Pontos de Habilidade para destravar técnicas e bônus de atributos progressivamente. Há até mesmo magias elementais que não gastam mana disponíveis, permitindo novas estratégias. É possível restaurar os pontos a qualquer momento, então a ideia é dar liberdade para que o jogador experimente combinações sem a pressão de perder seus recursos.
Os jogadores têm a oportunidade de estreitar laços com os personagens no decorrer da história de Final Fantasy VII RebirthFonte: Reprodução/Bruno Magalhães
O time de desenvolvimento também fez ajustes no gameplay, em especial para deixar os combates aéreos menos frustrantes. Por exemplo, Cloud agora pode disparar projéteis com sua espada e avançar rapidamente contra os inimigos. Algumas Habilidades de Arma antigas também estão de volta, assim como há algumas inéditas que entregam novas formas de pensar suas estratégias.
É muito divertido dominar as mecânicas de cada um dos personagens, mas isso é algo um pouco desafiador no início. Acontece que o jogador tem logo de cara cinco personagens para utilizar, e gerenciá-los pode parecer um pouco sufocante. Por isso, é natural que o combate pareça um pouco confuso ou desajeitado nas primeiras horas. A câmera também não ajuda muito e é sem dúvidas um dos maiores problemas do jogo, já que é comum que ela tome ângulos esquisitos e dificulte a visualização da batalha.
Uma conveniência para que os jogadores dominem seus personagens é a possibilidade de criar até três grupos de combate e alternar livremente entre eles, com o pressionar de um único botão durante a exploração. Dessa forma, é possível se planejar melhor antes de entrar em combate no mundo aberto, evitando a burocracia dos menus. Também é muito charmoso como os membros ativos do grupo andam próximos, enquanto os reservas ficam mais distantes. Ainda assim, todos os bonecos caminham juntos e transmitem a sensação de que realmente estão em uma aventura.
O sistema de combate de Final Fantasy VII Rebirth consegue melhorar mecânicas que já eram consideradas perfeitasFonte: Reprodução/Bruno Magalhães
Em outras palavras, um dos maiores méritos de Final Fantasy VII Rebirth é dar mais margem para a expressividade do jogador, refinando sistemas que já eram considerados perfeitos no título anterior. A adição de personagens como Red XIII, Yuffie e Cait Sith ao elenco também colabora para dar ainda mais identidade ao jogo, seja com seus respectivos papéis na história, que estão muito maiores, ou com suas mecânicas divertidas.
Em certos momentos, o roteiro também força que o jogador utilize grupos específicos de personagens, servindo como uma oportunidade para dominar mecânicas que ainda estejam um pouco nebulosas. Essas ocasiões também incluem cenários mais lineares, lembrando a fórmula do jogo anterior.
Enredo e minigames
É óbvio que não podemos entrar em muitos detalhes sobre a história de Final Fantasy VII Rebirth, mas o jogo basicamente abrange o conteúdo do primeiro disco do título original, de 1997. Na minha experiência, levei cerca de 70 horas para terminar a campanha e, mesmo experimentando diversas atividades secundárias, ainda restaram muitas. Portanto, esse é facilmente um jogo que pode passar das cem horas de gameplay.
O jogo toma decisões muito inteligentes para introduzir personagens como Yuffie e Cait Sith ao grupo do jogador, e ambos são muito carismáticos. Os arcos da história também foram escritos com muito carinho e estão na medida certa. Mais do que mudanças em relação ao clássico, o jogo trouxe adições muito bem-vindas e que enriquecem a experiência, dando mais nuances ao que conhecemos do jogo original.
Naturalmente, o começo da história é um pouco lento para ambientar o jogador e estabelecer regras, mas eu fui completamente fisgado já a partir de Junon, em especial com o divertidíssimo minigame do desfile militar. Desse ponto em diante, foi muito difícil esconder o sorriso e a alegria genuína que Final Fantasy VII Rebirth consegue proporcionar. E ele é igualmente implacável ao construir situações tensas e emocionantes, que realmente fazem nossas mãos suarem de nervosismo.
Visuais e trilha sonora
É inegável que Final Fantasy VII Rebirth é um jogo muito bonito e que faz bom uso do potencial do PlayStation 5. No entanto, o fato de ser um jogo com cenários abertos traz alguns baques notáveis, especialmente na qualidade das texturas e no surgimento repentino de elementos do cenário. Por vezes, a iluminação também fica um pouco descontrolada e pode causar estranhamentos.
No escopo geral, esses são problemas muito pequenos e que não apagam o brilhantismo do jogo. Mas é muito claro que há margem para melhorias, especialmente se considerarmos um hipotético lançamento para PC. Também vale pontuar que os nossos testes aconteceram antes da atualização pensada para o Modo de Performance, que no momento traz uma imagem muito borrada e que gera desconforto.
Não há dúvidas de que jogos de ação funcionam melhor a 60 quadros por segundo, mas o Modo de Gráficos, a 30 quadros por segundo, rodou muito bem e não causou estranhamento. Eu optei por jogar dessa forma do início ao fim. Além disso, foi possível notar em vários momentos como o jogo é até mesmo mais bonito que o seu antecessor, esbanjando modelos de altíssima qualidade, cenários densos e ótimos efeitos de iluminação.
Todos os momentos da história de Final Fantasy VII Rebirth estão significativamente maiores e coesosFonte: Reprodução/Bruno Magalhães
As ressalvas com relação ao jogo são puramente técnicas. Também vale mencionar que enfrentei dois bugs mais sérios: um deles foi de progressão, em que um personagem importante congelou no caminho em que deveria me guiar; e outro foi mais situacional, em que um ataque do Cait Sith acabou deixando todo o áudio do jogo abafado. Ambos foram resolvidos facilmente reiniciando o jogo, então não passou de um susto.
Por fim, é impossível falar de Final Fantasy VII Rebirth sem elogiar a sua trilha sonora, que é um espetáculo à parte. Vários temas clássicos têm diferentes arranjos, incluindo suas versões de combate no mundo aberto.
Poucas vezes um videogame me deixou tão arrepiado quanto o momento em que escutei o tema de Cosmo Canyon pela primeira vez — e esta é apenas a cereja do bolo. Algo que também denota o capricho é que o famigerado encontro de Gold Saucer tem nuances no tema dependendo do personagem que for nosso par. São detalhes pequenos, mas que tornam o conjunto da obra ainda mais apaixonante.
Vale a pena?
Final Fantasy VII Rebirth é como um sonho sendo realizado. A imensidão do universo dessa obra merecia um jogo que estivesse tecnicamente à altura para retratar seus cenários, personagens e histórias com a tecnologia dos consoles atuais. Felizmente, o resultado é mais do que satisfatório e entrega um jogo que, ao mesmo passo que respeita o legado do título original, não tem medo de contribuir ao seu modo com novos elementos que engrandecem a experiência como um todo.
Não importa se você quer gastar seu tempo explorando, fazendo missões secundárias, se divertindo nos minigames ou avançando na história principal. Tudo é igualmente recompensador e tem grande margem para rejogabilidade, com muitos segredos para serem descobertos e desafios que exigem um domínio das suas mecânicas de gameplay. Além disso, os conteúdos são bem-amarrados e não pressionam o jogador, permitindo avançar no seu próprio ritmo.
Seus personagens nunca foram tão encantadores quanto agora e é muito fácil de esboçar sorrisos com as interações mais banais. Essa ênfase na relação dos personagens do grupo, assim como seus arcos de história de dedicados, permitem uma identificação muito pessoal com suas motivações e crenças. O jogo dá tempo necessário para que todos cresçam no enredo e esse é sem dúvidas um dos seus maiores acertos.
Em suma, Final Fantasy VII Rebirth eleva ainda mais a barra de qualidade do projeto de remake, uma tarefa que parecia praticamente impossível. Ele é um jogo indispensável para fãs de longa data, assim como para jogadores que buscam um título recheado de conteúdo relevante, com mecânicas divertidas, personagens carismáticos e uma história com mensagens fortes.
Nota do Voxel: 95
Pontos positivos (prós):
- Mecânicas de exploração recompensadoras;
- Personagens bem-escritos;
- Sistema de combate ainda mais envolvente e divertido;
- Missões secundárias têm bom ritmo e conteúdo relevante;
- História emocionante e com adições bem-vindas;
- Trilha sonora impecável.
Pontos negativos (contras):
- Texturas com baixa qualidade ou que demoram para carregar;
- Câmera desajeitada;
- A iluminação pode incomodar em alguns momentos;
- A exploração em Cosmo Canyon podia ser menos burocrática.
Final Fantasy VII Rebirth chega em 29 de fevereiro no PS5. O jogo foi testado no console da Sony com uma cópia cedida pela Square Enix.
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