Se tem algo que me encanta no mundo dos games são as releituras de períodos históricos pouco explorados, como é o caso do Colapso da Idade do Bronze. O que mais me impressiona é que este contexto sempre casou com o que conhecemos de Total War: uma franquia com características únicas e que engloba estratégia política, desenvolvimento e disputa por territórios por meio de batalhas sangrentas.
E confesso: estava um pouco cansado das leituras fantásticas da série Warhammer, que tomaram conta da franquia nos últimos anos — mas isso não significa que sejam ruins. Me diverti muito com elas, embora a fórmula tenha pouco inovado. Claro que neste meio tempo tivemos alguns títulos que focaram na realidade histórica, como Thrones of Britannia, Troy e Three Kingdoms, mas para mim, ficou evidente o foco no mundo da fantasia, dos monstros e seres espetaculares. Não à toa foram três jogos da série.
Tentando quebrar este paradigma, fiquei empolgado com os primeiros anúncios de Total War: Pharaoh, produzido pela Creative Assembly Sofia para computadores e que chega esta semana ao mercado.
O fim de uma era
Total War: Pharaoh tem como pano de fundo a maior crise que já se estabeleceu sobre uma nação poderosa. Este é um tema que desperta muita curiosidade, já que engloba uma das maiores dúvidas da humanidade. Até hoje, os arqueólogos tentam entender o que se passou na época, sem muitas pistas ou provas do ocorrido.
Por volta de 1200 a.C, uma série de catástrofes tomou conta da região compreendida pelo Egito. A foz do Nilo foi atacada, assim como o Levante, da Palestina até a Síria. Junto a tudo isso, houve a destruição promovida em terras do Império Hitita, onde suas cidades foram queimadas e as rotas comerciais abandonadas.
A história do jogo se passa um pouco antes deste período, que vitimou duramente o Egito. Nosso tempo é a Idade do Bronze Tardio, no final da vida do Faraó Menerptá, onde diversas facções entraram em conflito para assumir o poder.
Escolhas alternativas, mas familiares
Em Total War: Pharaoh o jogador poderá escolher 8 líderes, divididos em 3 culturas: egípcia, cananéia e hitita. Entre os egípcios é possível optar por quatro heróis. Seti, filho de Menerptá, que só conhece a língua da guerra. Tausserte, que utiliza da inteligência para chegar ao grande posto. Amenemessés, herdeiro mais velho, que só pensa no dinheiro e Ramsés, um jovem ambicioso que possui guerreiros de elite e velocidade em batalhas.
Pharaoh lembra muito do encontrado em Troy, produzido pela C.A. Sofia, lembrando em muitos momentos uma repaginação do título — lançado em 2020. Para termos ideia, os líderes seguem com mais características para mudar o cenário de batalha do que sua facção. Isto foge do encontrado nos primórdios da série.
Os heróis possuem forças e fraquezas distintas, além de algumas características principais. É possível escolher entre dezenas de deuses, que modificarão o andamento da aventura, trazendo pontos positivos e negativos para sua história. Você pode, como em outros jogos, subir o nível de seu personagem e pode optar por títulos para beneficiar características próprias e dos soldados. Cada um deles também pode colocar em prática decretos reais para bonificar sua região ou batalha.
Ser Faraó não será fácil
No mapa, algumas diferenças podem ser encontradas. Além das cores mais vivas, a otimização de desempenho está excelente, mesmo na resolução 4K. É possível passear pela região sem se incomodar com os problemas encontrados em jogos antigos.
Ainda nos cenários, é possível encontrar entrepostos espalhados pelas áreas de construção. Eles serão cruciais para auxiliar o jogador, melhorando economicamente cada região ou, até mesmo, suas forças militares.
São muitas novidades implementadas, e que necessitam de tempo de gerenciamento acima do normal. Isso colocará até mesmo os jogadores acostumados com a série em um grande dilema: utilizar o tutorial inicial ou não? Optei por não utilizá-lo e tive dificuldades de entendimento em muitas partes do que poderia ser feito.
Esta talvez seja a primeira crítica, já que estamos longe do encontrado em jogos antigos, onde existia um equilíbrio entre as ações de um jogo na velocidade 4x e o que é visto nos campos de batalha.
Por exemplo, o modo por turnos recebeu adições como um novo modo de gestão da corte do Faraó, com diversas situações que interferem em suas ações de jogo. São micro-dilemas, micro-decisões que deixam o jogo com mais cara de um título de Grande Estratégia e que podem afastar os acostumados a apenas batalhar.
Batalhas climatizadas
Por mais que os elementos 4x tenham recebido grande parte da atenção, algumas modificações foram traçadas no campo de batalha. Além do Stance, o clima interfere diretamente na sua estratégia em campo.
O sistema de posicionamento, chamado Stance, já foi utilizado em outros games da série, mas não como em Pharaoh. Ele permitirá que o jogador coloque objetivos em cada uma das suas tropas, seja para conter avanço dos inimigos, atacar com mais ímpeto e até mesmo recuar em certos pontos do mapa para criar estratégias.
O clima interfere diretamente no rendimento dos seus soldados e você poderá utilizar as melhores estratégias para se destacar no campo de batalha. Cada decisão tomada vai interferir no futuro de sua nação, portanto é importantíssimo pensar muito antes de aprovar ou desaprovar uma sequência de ações.
Os grupos de soldados são bem diversificados e conseguem representar muito bem o encontrado na época. Fica evidente que a estratégia é crucial para ter sucesso nos confrontos. Caso o jogador não tenha muita experiência neste quesito, poderá sofrer muito, mesmo tendo uma tropa muito superior à do seu inimigo.
O fogo também ganha destaque, já que ele pode auxiliar no ataque ou na defesa. Durante o combate alguns elementos podem pegar fogo, atrapalhando o andamento de sua batalha. Este foi um ingrediente que já deveria ter entrado em cena há mais tempo. Ponto para a produtora!
Idade das Trevas
No início deste texto, expliquei muito sobre a história do jogo — e não foi para enrolar. Era para contextualizar uma das inserções mais interessantes em Total War: Pharaoh. Quando os problemas começam a tomar conta da região, eles interferem diretamente nas ações de jogo e cabe ao jogador ter jogo de cintura para tirar vantagem disso.
Este é um super ponto positivo, mas prepare-se para enfrentar elementos que fogem da lógica. Isto fará o jogador ter que quebrar a cabeça para solucionar problemas que, até então, não estavam no roteiro da aventura.
Se já não bastasse tudo isso, outra questão interessante e não menos importante é a invasão dos “Povos do Mar”, que vão assolar os gamers na reta final da campanha.
Vale a pena?
Total War: Pharaoh mantém a linha de sucesso dos seus anteriores, com mecânicas de jogo muito parecidas e adições interessantes. O jogo pode assustar os mais experientes, devido a demanda de ações no mapa, mas nada como o tempo para se habituar ao encontrado
Os combates seguem empolgantes e com ingredientes que podem adicionar elementos surpresa, dando um fator replay ainda maior ao jogo.
Nota do Voxel: 80
Pontos positivos (prós):
- Adições interessantes;
- História empolgante;
- Gráficos e customização.
Pontos negativos
- Poucas facções disponíveis;
- Menos foco nas batalhas.
Total War: Pharaoh foi enviado pela Sega para a realização desta análise.
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