Se existe um estúdio que ganhou os holofotes da indústria de games nos últimos anos, esse título pertence a From Software. Liderada pelo genial Hidetaka Miyazaki, a empresa foi responsável por criar um gênero próprio, e que é copiado por diversos títulos, além de faturar dois prêmios de “Jogo do Ano” do The Game Awards, com Sekiro e Elden Ring. O que poucos sabem, é que a empresa existe desde 1994, muito antes da chegada de Miyazaki e possui diversas outras IPs fora do universo “souls like”.
Uma dessas propriedades é Armored Core, jogo focado na construção e combate de robôs gigantes, os famosos mechas, que teve seu primeiro lançamento no longínquo ano de 1997, com Armored Core: Master of Arena. Agora, mais de 25 anos após o primeiro game, Armored Core VI: Fires of Rubicon veio carregado de um grande hype causado pelo recente sucesso da empresa. Será que o título é fiel às suas origens, ou o gênero souls like também acabou se infiltrando no combate mecanizado da franquia? Saiba mais na nossa review!
Souls ou mecha?
Antes de começarmos a falar diretamente sobre Armored Core VI, é preciso tratar o elefante na sala que foi motivo de discussão desde que os primeiros trailers do título saíram: seria esse mais um game Souls Like, mas apenas com skins de robôs? Por se tratar de uma franquia que, até então não, é muito conhecida no ocidente, muitos acreditavam que essa seria a forma que a From Software escolheria para criar a nova iteração da saga. Posso afirmar categoricamente que esse não é o caso.
Armored Core VI só possui uma forte semelhança com seu “primo” Souls: sua dificuldade e ciclo de aprendizado. Assim como o gênero que tornou a empresa o que é hoje, em Fires of Rubicon você irá morrer diversas vezes enquanto tenta descobrir os padrões ou estratégias para superar os desafios que o título joga em você. No que diz respeito a todo resto o game claramente possui uma alma própria e um estilo bem diferente, mas não se preocupe que vamos destrinchar calmamente cada um desses pontos.
O Fogo de Rubicon
Logo de cara, a primeira coisa que Armored Core faz diferente dos outros jogos da empresa é a forma de contar sua narrativa. Isso mesmo, você não terá que ficar lendo textos de itens ou procurar vídeos do famoso youtuber Vaatividya para compreender o enredo do jogo. Assumindo a identidade de um mercenário geneticamente modificado para o trabalho, você é jogado em Rubicon, um planeta que é a fonte de um dos recursos mais importantes do universo: o Coral. Usado para fornecer energia e melhorar a tecnologia humana no geral, a matéria prima é altamente cobiçada por muitos, o que causa uma guerra comercial, e muitas vezes bélica, entre diferentes corporações.
Fires of Ibis foi responsável pela destruição de RubiconFonte: Bandai Namco/Divulgação
Rubicon, entretanto, é hoje um planeta cheio de cinzas, graças ao evento chamado “Fire of Ibis” responsável pela queima de uma quantidade massiva de Coral e que acabou devastando boa parte do planeta. No meio desse confronto nós devemos realizar diferentes trabalhos como mercenário para as diferentes corporações presentes em Rubicon ou até mesmo para os locais que lutam para defender a extração de Coral de seu planeta.
A história é interessante e traz escolhas ao longo do gameplay.
Sem entrar muito em spoilers, posso afirmar que a história é muito interessante e te dá algumas escolhas ao longo do gameplay, incluindo diferentes finais. Esse acabou sendo muitas vezes um combustível que me movia nos momentos mais desafiadores do game, pois os mistérios e conflitos presentes na trama ficam cada vez mais interessantes ao longo da nossa jornada em Rubicon.
Um mecha para chamar de seu
Antes de você explorar Rubicon, você precisará de um mecha capaz de aguentar os diferentes perigos que o planeta e suas missões lhe trarão. Aqui entra um dos pontos mais positivos e divertidos de Armored Core VI: o sistema de personalização do mecha. Enquanto que inicialmente você está “preso” a um mecha mais padronizado, lembrando muito os da série de anime Gundam, quanto mais dinheiro e reputação são acumulados, mais o leque de opções para seu robô se expande.
De armas corpo-a-corpo passando por uma gigantesca opções de armas de alcance até diferentes partes estruturais como braços e torso, a forma que seu mecha jogará é diretamente ligada às peças que você optar por usar antes de cada missão. Prefere um combate corpo a corpo e mais mobilidade? Prepare-se para usar peças que deixam seu mecha mais leve, ao custo de possuir menos pontos de vida. Sua praia é usar armas gigantes e destruir seus oponentes com força bruta? Opte por um corpo e pernas de tanque que lhe permitirão usar armamentos mais pesados ao custo de mobilidade.
Prepare-se para gastar algumas horas na oficinaFonte: Bandai Namco/Divulgação
Há uma grande variedade de combinações possíveis tanto para você quanto para os mechas inimigos que enfrentamos, não existindo um arranjo melhor ou perfeito, mas sim aquele que se adequa melhor ao seu estilo de jogo e a missão que está por vir. Um exemplo claro de como o sistema pode ser chave foi quando eu, após ficar alguns minutos travados no mesmo chefe, voltei para a oficina para apostar em propulsores que me davam mais mobilidade no chão, ao custo de perder impulso aéreo, pois era o que eu estava sentindo falta na luta em questão. Não demorou muito para que, com essas mudanças, eu acabasse derrotando o chefe.
Mas se engana quem acha que a customização para por aí. Para você que é fã do “Fashion Souls”, termo criado para designar a escolha de equipamentos pela sua estética ao invés de suas propriedades em jogos da From Software, Armored Core VI também é recheado de opções. Além de ter a possibilidade de usar diferentes adesivos que são desbloqueados ao longo da jornada, é possível customizar inteiramente a cor de cada peça do seu mecha, Você também ainda pode escolher o nível de desgaste do metal, fazendo com que, aliado às inúmeras peças que já citamos, achar dois mecha iguais seja uma tarefa quase impossível.
Sistema de combate iniciado
Após ouvir o relatório de sua missão e preparar seu mecha, é chegada a hora de enfrentar o que Rubicon tem a oferecer. O jogo funciona “à moda antiga” no que diz respeito à progressão, já que ao invés de termos um mundo aberto ou conectado, nós temos um sistema de missões. Embora isso seja uma visão pessoal, eu acho esse formato muito bom, já que, aliado ao fato de que podemos pausar o jogo, algo não muito comum em jogos da empresa, é possível jogar sempre que tivermos um tempo, sem ter a necessidade de dispor de vários minutos ou horas para progredir no título.
Partindo para o que todos querem saber, é até difícil explicar como é o combate de Armored Core sem referenciar os títulos antigos da franquia, afinal o gameplay aqui é algo único e que difere bastante dos títulos recentes da From Software. Uma coisa que posso adiantar é que, se assim como eu, você encarar Fires of Rubicon como um sous like, suas primeiras horas de jogo serão muito complicadas.
Combate frenético é ponto alto do gameFonte: Bandai Namco/Divulgação
Além de não possuir alguns conceitos como rolagens e frames de invencibilidade, o combate de Armored Core é extremamente mais frenético e vertical que qualquer título da From Software e, talvez, esteja nos primeiros lugares dentre todos os games de ação que já joguei no quesito. Não só você estará constantemente se movendo e disparando suas armas, como muitas vezes a forma correta de desviar de um ataque é uma mudança brusca de direção ou um salto para sair do chão o mais rápido possível.
O combate de Armored Core é extremamente mais frenético e vertical que qualquer título da From Software.
É difícil não considerar Armored Core VI: Fires of Rubicon como o suprassumo do combate de mechas. Além da refinada precisão dos controles e dinamismo do combate, temos uma enorme variedade de gameplay no que diz respeito não só ao seu estilo de jogo, que muda drasticamente baseado no robô que você construiu, mas também a de seus inimigos. Embora o título possua alguns chefes mais tradicionais, enormes e com movimentos mais lentos, o jogo brilha realmente no combate de mecha vs mecha, sendo com certa facilidade o ponto alto da experiência no quesito jogabilidade.
Alta octanagem
Mas não é só do modo história que Armored Core é feito, já que possuímos algumas outras opções para “passearmos” com nosso robô. Uma delas é a Arena, um simulador que nos permite enfrentar diferentes mechas desde desconhecidos até alguns relevantes e fundamentais na história. Lembra que eu falei que o combate entre robôs era o ponto alto do título? Não é de se estranhar que a Arena acabe sendo muitas vezes até mais legal que progredir na história, já que podemos usar ela de laboratório para testar diferentes combinações de peças, além de enfrentar outra variedade de opções que nossos adversários podem trazer. Posso afirmar que mesmo focando na história para fazer esse review, muitas vezes acabei voltando para a arena para enfrentar o mesmo adversário outras vezes, seja para testar algo novo ou pelo simples prazer do combate.
Duelos mecha vs mecha roubam a cena em Armored CoreFonte: Bandai Namco/Divulgação
E é aqui que temos o modo multiplayer de Armored Core. Ao contrário de outros jogos da From, aqui não teremos invasões ou cooperação no modo história, mas sim frenéticas batalhas 1vs1 ou 3vs3 no mesmo modo do Arena. Se jogar contra a CPU já foi uma experiência incrível, imagine jogar contra outros oponentes e as mais loucas combinações que esses são capazes de fazer com o objetivo de lhe derrotar. Mal posso esperar para revisitar o jogo após seu lançamento para encarar o modo com alguns amigos!
O melhor que o gênero mecha tem a oferecer
Armored Core VI: Fires of Rubicon não é um jogo perfeito, tendo como alguns notáveis defeitos sua relativa curta duração (tanto em número de missões como em confrontos na Arena) e o seus picos de dificuldade (em muitas missões o jogo chega a ser fácil enquanto em outras temos enormes desafios). Mesmo assim, é inegável que mais uma vez Miyazaki e sua equipe fizeram um trabalho sublime e criaram o que hoje é o melhor jogo de mecha que a indústria de jogos tem a oferecer. Se você é fã de robôs gigantes, ou gosta de ação frenética, vale, e muito, conferir o que Rubicon tem a oferecer.
Nota Voxel: 93
Pontos positivos (prós):
- Enorme leque de customização de mechas;
- Combate frenético e divertido, especialmente em mecha vs mecha;
- História e personagens envolventes.
Pontos negativos (contras):
- Dificuldade mal distribuída, sendo muitas vezes muito fácil ou muito difícil;
- Campanha e Arena podiam ser mais extensos.
Armored Core VI: Fires of Rubicon foi cedido pela assessoria de imprensa da Bandai Namco para análise no PS5. O jogo também está disponível no PC, PS4, Xbox One, Xbox Series S e X.
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