Não há dúvidas de que Diablo é uma franquia com fãs apaixonados e com convicções bem fortes sobre o que faz essa série ser tão especial. Inclusive, é quase impossível encontrar um desses fãs que não tenha um título específico como seu favorito, o que geralmente também dita quais são suas preferências sobre o tom, as mecânicas e o estilo geral que realmente dá alma à Diablo.
Se assim que nem eu, você tem o primeiro Diablo como seu favorito, é bem possível que goste de uma atmosfera mais sombria e um senso de puro terror ao não saber se vai ganhar sua próxima batalha ou se vai ser confrontado por dezenas de demônios com habilidades de longo alcance que vão te matar em questão de segundos. Se gosta dessa temática, mas prefere um gameplay mais ágil, mais opções de como personalizar a build do seu personagem, foco na história e exploração, Diablo 2 pode ser mais interessante. Já os grandes fãs de Diablo III podem dar uma preferência pela experiência mais arcade e apenas ter a intenção de explodir dezenas e dezenas de demônios com seus amigos sem ter que pensar muito no assunto.
Mas e se existisse um jogo que pegasse os melhores elementos dos títulos que citamos acima, aprimorasse mecânicas datadas, fizesse ajustes de qualidade de vida, se livrasse dos problemas irritantes de seus antecessores e pudesse resgatar aquela experiência de jogar Diablo pela primeira vez? Definitivamente é isso que muita gente espera de Diablo IV e há aqueles que aguardam por esse jogo desde 2000, já que não consideram Diablo III como a sequência que queriam do segundo game da série.
Com expectativas assim, dá pra entender como era uma tarefa quase impossível para a Blizzard entregar o Diablo IV que tantos fãs tanto sonham em ter há anos. E não se enganem, sempre haverá nostalgia suficiente para estragar qualquer Diablo que não seja aquele seu favorito que mencionamos acima, mas não há dúvidas de que a Blizzard ouviu seus fãs e nos levou de volta ao inferno de maneira espetacular.
Perfeito para iniciantes e veteranos
Antes de entrarmos em mais detalhes sobre o jogo, é importante mencionar que, por se tratar de uma análise antecipada, não podemos falar ou mostrar imagens sobre a trama além do prólogo e do Ato 1, que já foi visto extensivamente durante os testes beta que ocorreram nos últimos meses. Além disso, também não tivemos a oportunidade de conferir a loja do game ou o passe de batalha, elementos que estarão no ar no lançamento do título. Por fim, ainda por se tratar de uma build pré-lançamento e mais exclusiva, também não foi possível aproveitar a campanha em multiplayer. Então, é bom ter em mente que tudo o que vou mencionar sobre o jogo será contado sob uma perspectiva single player e sua experiência pode variar caso for acompanhado de outros jogadores durante sua jogatina.
Dito isso, vamos começar falando de um ponto importante para muitos dos interessados em Diablo IV, que é a possibilidade de jogar o título sem necessariamente ter se aventurado em seus antecessores. Embora eu sempre vá incentivar todo mundo a experimentar a maravilha que é Diablo I, não há dúvidas de que este é um game bem datado e que funciona de maneira bem diferente de suas sequências. Em contrapartida, Diablo II e Diablo III são bem mais acessíveis, seja pela remasterização do segundo jogo ou pela relativa pouca idade do terceiro. Ainda assim, é totalmente compreensível se não quiser lidar com o gameplay antigo antes de mergulhar no game novo. Felizmente, quase tudo o que você precisa para aproveitar Diablo IV já está realmente presente nele mesmo e não será necessário ter conhecimento prévio, pelo menos em termos de gameplay, para aproveitá-lo.
A trama de Diablo IV é muito bem apresentada para aqueles que não sabem muito sobre o lore dos jogos anteriores.
O game faz um bom trabalho em te apresentar suas mecânicas, na maioria das vezes através de quests em vez de apenas textos aparecendo no meio da tela. Isso vale principalmente para o funcionamento de alguns dos vendedores importantes que você encontrará na maior parte das cidades, seja para melhorar suas poções, para criar pedras preciosas, refinar recursos, encantar itens e muito mais.
Mesmo a trama de Diablo IV ainda é muito bem apresentada para aqueles que não sabem muito sobre o lore dos jogos anteriores. É perfeitamente possível entender o que está acontecendo e saber quem é quem, ainda mais se você se der ao trabalho de ir atrás do diálogo adicional dos NPCs em vez de só ouvir as falas principais. Ainda assim, eu recomendo que veja algum vídeo sobre os acontecimentos e a história dos outros jogos, já que isso te dá um contexto bem melhor de tudo.
Escolha sua classe
Um outro fator que muitos já sabem é a quantidade de classes disponíveis na versão de lançamento de Diablo IV. Desta vez, contamos com cinco classes: Bárbaro, Necromante, Mago, Renegado e Druida. Todas já fizeram sua aparição de uma forma ou de outra na franquia, mesmo que sob outros nomes, como é o caso do Renegado, que é uma mistura do antigo Assassino e Caçador de Demônios, por exemplo. Como de praxe, é esperado que a Blizzard adicione mais classes futuramente através de expansões, como sempre ocorreu com a franquia no passado.
Com o curto tempo disponível para esta análise, eu dei uma rápida testada em cada classe, mas foquei em me aprofundar na campanha apenas com um Mago. Assim como em Diablo II, temos novamente um sistema de árvore de habilidades para você montar sua build, com direito a skills básicas (que em vez de custar recursos, podem ser usados para restaurá-los), habilidades passivas e skills especiais que podem custar mana. Além disso, você poderá equipar itens lendários (sejam armaduras, armas ou acessórios), pedras preciosas e códices específicos de cada classe para tirar o máximo de proveito da build que montar com as skills escolhidas.
Há diversas melhorias nas mecânicas de Diablo IV em relação aos seus antecessoresFonte: Blizzard/Reprodução
Não há dúvidas de que você encontrará dezenas de builds prontas para seguir na internet logo após o lançamento de Diablo IV, mas ainda é possível fazer seus próprios experimentos sem sofrer muito com falta de dano no começo. A única dica é tentar não espalhar seus pontos de habilidades em várias skills incompatíveis e fazer o possível para encontrar uma boa sinergia entre suas escolhas. De qualquer forma, você sempre pode pegar os pontos usados de volta ao pagar um pouco de ouro, que é um recurso relativamente abundante no jogo.
Quanto ao equipamento, temos um sistema bem mais amigável do que em jogos antigos. Em vez de rezar para que certas peças lendárias tenham os efeitos que você precisa, é possível extrair o aspecto desejado de um item lendário (o que destrói o item em questão) e colocá-lo em outra peça. Também é muito simples inserir ou remover as pedras preciosas sem ter que destruir nada, algo muito bem vindo já que você provavelmente mudará bastante de equipamento enquanto ainda estiver subindo de nível na campanha.
Focando mais na estética, temos a agradável surpresa de ter como vestir nossos personagens como quisermos. No início não há muitas opções, mas quando você destrói qualquer pedaço de equipamento com o ferreiro, se desbloqueia aquele visual no seu guarda-roupas. Ainda dá para salvar seus estilos favoritos e mudar a cor de partes das roupas, o que possibilita ainda mais opções de ficar bonito durante a interminável matança de demônios. Como sabemos, essa é obviamente uma das partes mais importantes para destravar seu verdadeiro potencial em Diablo.
Um admirável mundo aberto
Possivelmente uma das maiores novidades que temos em Diablo IV é o seu mundo aberto, que foge completamente daquela experiência linear com a qual nos acostumamos tanto em seus antecessores. Após passar pelo prólogo, você terá total liberdade para ir para onde quiser, tendo até como iniciar missões de outros atos de forma simultânea. Embora exista a opção de montaria a partir de certo momento do jogo, você ainda passará um bom tempo explorando tudo à pé, mas isso nunca chega a ser cansativo tendo em vista a quantidade de inimigos, masmorras, porões e sidequests que encontrará em seu caminho.
A verdade é que é bem fácil de se distrair dos seus objetivos principais com tanta coisa ao seu redor, algo que ficou ainda mais em evidência por eu estar jogando sozinha em comparação à experiência em grupo que pude aproveitar durante os testes do beta. Outra coisa interessante de se observar enquanto jogava solo era a dificuldade apresentada pelo game, especialmente em masmorras e certas missões da campanha principal.
Ao iniciar o game pela primeira vez, você pode escolher entre as dificuldade Aventureiro e Veterano, com outras duas mais desafiantes se tornando disponíveis após o término da campanha. Eu joguei no modo Veterano para ter uma noção melhor do que a maioria dos fãs de longa data podem esperar. Na maior parte do tempo, fazendo uma build bem simples de Mago, eu consegui lidar bem com os inimigos, mas tive certa dificuldade com alguns chefes, especialmente os que invocavam muitos inimigos secundários para a batalha.
Em Diablo IV, você definitivamente vai ter que lutar com mais estratégia.
A sensação que eu tive é que esses chefes em especial seriam bem mais tranquilos se eu tivesse pelo menos uma outra pessoa jogando comigo, já que a atenção dos demônios estaria melhor dividida em vez de totalmente focada em mim. Sendo acertada repetidas vezes, sem a possibilidade de usar a habilidade básica para restaurar a mana com mais rapidez e sem poções de HP sendo disponibilizadas após matar os demônios, a experiência se tornou frustrante em certos momentos.
Como o nível dos inimigos também escala de acordo com o seu nível, o que é o esperado para um jogo de mundo aberto com tanta liberdade, você também nunca tem aquela sensação comum de Diablo II e III de se sentir uma força imparável enquanto nenhum demônio é capaz de chegar perto de te matar. Em Diablo IV, você definitivamente vai ter que lutar com mais estratégia, usar bem seus recursos, se posicionar de forma esperta, saber quando esquivar, aprender os padrões de ataques de certos inimigos e ficar atento ao cooldown de suas habilidades especiais.
É claro, tudo isso é relatado levando em conta a minha experiência sem um grupo para me ajudar, então o game pode ser muito mais fácil para você se tiver como jogar com amigos e seguir builds mais ideais para a sua classe.
A perfeição está nos detalhes
Mudando um pouco de assunto, não tinha como deixarmos de mencionar alguns detalhes bem positivos, a começar pela localização de Diablo IV para o nosso idioma. Se você acompanha os jogos da Blizzard há algum tempo, não vai ser surpresa nenhuma saber que tudo está devidamente traduzido e dublado em português em excelente qualidade. A dublagem em especial está fantástica, tanto nas cutscenes como nas conversas normais que você tem com os NPCs pelo mundo.
Outro aspecto que deve agradar muita gente é que o visual e direção artística do game estão mais sombrios novamente, com aquela pegada que adorávamos em Diablo I e II. Isso se reflete bastante especialmente em conjunto com a trama, cujo tom é mais pesado e menos espalhafatoso do que o Diablo III. Para completar, há várias pequenas referências aos jogos mais antigos, seja com visitas a certos locais conhecidos, músicas que vão destravar memórias nostálgicas ou até chefes icônicos que podem te matar em dois segundos com um cutelo na cara.
A direção artística do jogo está exatamente como imaginamos de um verdadeiro sucessor de Diablo IIFonte: Blizzard/Reprodução
Já alguns elementos que não pudemos experimentar, além do gameplay em multiplayer, foram os seguintes: a loja, o passe de batalha e, é claro, as temporadas que logo farão parte essencial do endgame de Diablo IV. Esses são alguns dos pontos negativos de se fazer uma análise antecipada de um game online que oferecerá serviços, conteúdo novo e atualizações constantes a cada alguns meses aos jogadores. Mesmo muitas das informações que te oferecemos sobre o título nesta análise poderão se tornar defasadas após algumas semanas, então é importante ter isso em mente.
Vale a pena?
O jogo ainda pode mudar bastante, mas não há como negar que é muito divertido e cativanteFonte: Blizzard/Reprodução
Conforme mencionamos, sem ter experimentado tudo o que estará disponível no dia de lançamento de Diablo IV, é complicado fazer uma análise tão completa como gostaríamos. O que podemos afirmar é que este título realmente parece uma evolução natural da franquia, ainda mais em relação à Diablo II, um jogo com o qual ele tem tanto em comum em termos de estética, tom e mecânicas.
É óbvio que ele pode mudar muito com seus passes de batalhas, temporadas e até mesmo expansões nos próximos anos, mas não há dúvidas de que, neste momento, Diablo IV torna a nossa volta ao inferno em uma experiência divertida, viciante e que transforma até aquela tarefa impossível da Blizzard em algo concreto e real.