A indústria dos games foi pega de surpresa nesta quarta-feira (26). A Competition and Markets Authority (CMA), que é o órgão comercial regulador do Reino Unido, bloqueou a compra da Activision Blizzard pela Microsoft ao rejeitar os argumentos de que a aquisição não seria danosa para o mercado ou prejudicaria as concorrentes.
Com a decisão, o negócio de quase US$ 70 bilhões está seriamente ameaçado por discordâncias entre Microsoft e CMA, em especial uma preocupação sobre o tratamento que a empresa daria à distribuição de jogos da desenvolvedora na nuvem e também a situação de lucrativas franquias como Call of Duty, Overwatch e Warcraft.
Mas quais são os possíveis desdobramentos dessa decisão? Há hipóteses extremas e outras mais razoáveis, mas o que parecia encaminhado agora virou um cenário imprevisível.
Microsoft vai recorrer e tentar aquisição
A situação mais otimista possível para a Microsoft é que a empresa apele da decisão inicial da CMA e, na próxima resposta do órgão regulador, os britânicos mudem de ideia e liberem que a aquisição aconteça. Por enquanto, não há um prazo para que essa etapa comece, mas a gigante teria que sanar todas as dúvidas sobre as "insuficiência significaticas" apontadas pelos britânicos.
We remain fully committed to our acquisition with @ATVI_AB and will appeal today's determination by the CMA. Here's our statement. pic.twitter.com/ylvDP5RUqQ
— Brad Smith (@BradSmi) April 26, 2023
"Nós nos mantemos totalmente comprometidos com essa aquisição e vamos recorrer. A decisão da CMA rejeita um caminho pragmático para tratar de concorrência, preocupa e desencoraja em relação à inovação tecnológica e aos investimentos no Reino Unido", diz a Microsoft em comunicado. A marca alega que está desapontada após "longas deliberações" e que essa decisão "reflete uma compreensão falha do mercado e como tecnologias na nuvem de fato funcionam".
Para convencer a CMA a mudar de ideia, a empresa terá que produzir novos relatórios que comprovem que ela não terá um domínio sobre a distribuição de jogos na nuvem. Em nota, a Activision Blizzard também reforça que está disposta a fazer parte desse projeto conjunto e vai recorrer.
Mais bloqueios podem ocorrer
Com a falta de aprovação na CMA, a compra fica bloqueada em curto prazo. Porém, esse não é o único obstáculo restante para Microsoft e Activision Blizzard: outros órgãos reguladores importantes ainda não divulgaram as decisões sobre a aprovação ou não dessa aquisição.
São aguardadas as decisões da Federal Trade Commission (FTC), dos Estados Unidos, e da European Comission, da União Europeia. Ambas são essenciais para que as negociações avancem e não estão muito inclinadas a aceitarem a situação atual — algo que pode acontecer especialmente após a decisão da CMA.
Algumas das séries envolvidas na compra.Fonte: Microsoft
No caso norte-americano, há preocupações com a competitividade entre Xbox e PlayStation após a adição de um enorme catálogo de franquias e licenças ao acervo da Microsoft. Já os europeus, para evitar o surgimento de um potencial monopólio, podem fazer exigências que envolveriam até a venda da franquia Call of Duty para outro estúdio.
Além de Reino Unido, outros órgãos já se manifestaram sobre o caso: o Brasil aprovou a negociação rapidamente e, meses depois, foi seguido pelo Japão.
O que acontece se a compra for anulada?
Outra possibilidade ruim para a Microsoft envolve toda a burocracia de uma negociação de grande porte: esses processos levam tempo e a compra tem um prazo para ser aprovada por todos os órgãos reguladores e ser oficializada.
O prazo final para a confirmação do acordo é 18 de julho de 2023. Entretanto, a decisão da FTC deve sair apenas no início do ano que vem, talvez já com a aquisição confirmada ou encerrada.
Aprovação nos principais órgãos reguladores do mercado é indispensável para compra acontecer.Fonte: Microsoft
Um caso parecido aconteceu com a Nvidia, que teve o acordo com a ARM anulado após não conseguir a aprovação de órgãos fiscalizadores no tempo necessário — em especial por preocupações sobre a formação de um monopólio e a pressão de concorrentes, situação similar à atual.
Activision pode voltar ao mercado (e ser comprada por outra)
Caso a Activision Blizzard de fato não seja mais comprada pela Microsoft, o conglomerado voltaria à situação anterior de empresa no mercado de ações. Se a desistência de fato acontecer, a Microsoft teria que pagar uma multa de US$ 3 bilhões para a Activision Blizzard. Além disso, nada impediria que ela fosse comprada por outra gigante interessada.
O problema aqui é o alto valor envolvido (US$ 69 bilhões, no caso da oferta da Microsoft), que não é uma verba baixa mesmo para gigantes da tecnologia, e ter que passar novamente pelos órgãos reguladores, sob as mesmas desconfianças do caso atual.
É possível que a Activision Blizzard esteja disposta a ser comprada, já que a companhia passa por momentos de instabilidade após mudanças corporativas decorrentes de inúmeros processos por assédio e denúncias trabalhistas, em uma situação que colaborou para que ela aceitasse a oferta.
Por outro lado, o chefe da divisão de games da Microsoft, Phil Spencer, já afirmou em entrevista que a marca Xbox continuará existindo normalmente, mesmo se o acordo não der certo.