Tudo o que é bom um dia chega ao fim, e por mais que a nossa querida Electronic Gaming Expo já estivesse definhando aos poucos a cada ano que passava, a notícia do cancelamento oficial da E3 2023 acabou pegando muita gente de surpresa e despertando nostalgia e pesar na maioria do público que ama videogames.
Desde que o Los Angeles Convention Center recebeu a primeira edição da feira lá em 1995, o que não faltam são momentos memoráveis para qualquer um que tenha crescido acompanhando o noticiário e o hype da indústria. Afinal, era por lá que as produtoras revelavam as principais novidades de hardware e software, como relembramos nesse vídeo especial:
Pergunte a um leitor do Voxel qual é o seu momento favorito da E3 e você certamente ouvirá as mais diversas respostas. Afinal, Nintendistas, Seguistas, Caixistas e Sonystas foram muito bem servidos ao longo de décadas por conferências, apresentações, trailers e memes simplesmente atemporais.
Consoles fracassaram ou dispararam rumo ao sucesso impulsionados por suas demonstrações no evento. Figurões da indústria foram alçados ao estrelato ou desgraça com o seu carisma no palco. Muitas promessas foram feitas, e se algumas delas tombaram feio, outras tantas foram ainda além do mais otimista dos hypes! E essa é certamente uma história digna de se celebrar.
O elemento humano
Não que isso seja novidade, mas o grosso das apresentações e eventos são exaustivamente roteirizados, ensaiados e testados pelas empresas a fim de causar as reações desejadas pelo público. Até por isso, em seus piores momentos a E3 podia ser um tanto sem alma e focada excessivamente no lado mais corporativo da coisa toda. E alguns dos momentos que mais grudam na memória são justamente aqueles em que esse "protocolo" é violado!
Pegue, por exemplo, as infames conferências da Ubisoft. Tradicionalmente elas costumavam ser um tanto tediosas e constrangedoras, misturando celebridades muito bem pagas para fingir gostar de games, apresentações musicais desconexas e trailers vagos. Mas em 2017 algo de mágico aconteceu por lá, mais precisamente durante o anúncio de Mario + Rabbids Kingdom Battle.
Enquanto a lenda Shigeru Miyamoto estava no palco revelando o projeto, ele parou para enaltecer o diretor criativo do jogo, Davide Soliani, que prontamente foi às lágrimas com o ato. Essa expressão de vulnerabilidade nos lembra que sempre há seres humanos dando duro e criando os jogos que tanto amamos, e sintetiza tudo de mais maravilhoso que existe sobre o evento!
A alta pressão do evento também ajuda a potencializar o carisma daqueles que são corajosos o bastante a ponto de superar o seu auto declarado nervosismo em nome da paixão aos videogames. Na última E3 antes da pandemia, em 2019, a então diretora criativa de Ghostwire: Tokyo subiu ao palco da Bethesda para falar um pouco sobre o projeto e, no processo, encantar milhares de pessoas com seus trejeitos e esforço para falar inglês. Até hoje a breve apresentação de Ikumi Nakamura é muito lembrada pelos fãs, e se essa for mesmo uma das últimas conferências físicas que tivemos na E3, ao menos a sua despedida foi em grande estilo!
Definindo as vendas da geração
Parece loucura imaginar que uma simples feira de videogame possa influenciar as vendas mundiais de consoles ao ponto de, em grande parte, definir os rumos da geração. Mas desde os seus primórdios a E3 já tinha esse poder! Primórdios mesmo, já que logo na primeiríssima edição a SEGA cometeu um grande erro estratégico e a Sony tratou de capitalizar em cima disso em um momento clássico:
Para a surpresa de muitos, inclusive dos varejistas, em 1995 a SEGA revelou o Saturn no próprio evento e, de quebra, anunciou também que ele poderia ser comprado nas lojas já no mesmíssimo dia por "apenas" 399 dólares. A notícia foi até bem recebida na ocasião, mas imediatamente depois a Sony foi ao palco proclamar apenas um número: "299". O preço mais baixo do PlayStation 1 e sua recepção bombástica foram o melhor pontapé inicial possível para a Sony no mercado de videogames, e o início da derrocada da SEGA.
Curiosamente, nesse jogo de executivos tentando elevar os seus produtos ao custo de menosprezar os adversários, poucos souberam jogar tão bem com esse marketing quanto a Sony. Muito tempo demais, já em 2013, a Microsoft estava revelando o seu Xbox One, enquanto a gigante japonesa apostava no PlayStation 4, e muita incerteza pairava no ar.
Cientes de que a trilionária empresa americana estava mostrando um produto que em um primeiro momento prometia ser caro, dependente do Kinect, mais focado em entretenimento e travado para o uso de games usados, impossibilitando o empréstimo de mídias físicas, a Sony habilmente mudou os seus planos de última hora e fez uma apresentação sob medida para queimar a sua rival direta.
Deu muito certo para ela, e a Microsoft passou anos fazendo controle de dano até limar Don Mattrick e colocar o muito mais capacitado Phil Spencer no comando para levar o nome Xbox de volta ao seu merecido lugar de destaque. Já a Nintendo encontrou em Reggie Fils-Aimé o "personagem" perfeito para dar a volta por cima em vendas e, com um discurso matador em sua estreia na E3 2004, o "Reggienator" ajudou a reposicionar a Big N como uma competidora mais agressiva e disposta a retomar a liderança em vendas, o que ela de fato conseguiu com o Wii e DS:
Hype, hype, hype!
Os jogos são a alma dos videogames, então é natural também que alguns dos principais momentos da E3 girem ao redor de revelações e trailers de tirar o fôlego. Quando isso acontecia em um palco ao vivo então, nossa senhora, que coisa linda de se ver que era!
Ter a galera em êxtase pirando com um game novo era um sentimento mágico demais, e algumas das apresentações mais emblemáticas da feira incluem pesos-pesados como:
Deixará saudades!
Embora esses sejam alguns dos elementos mais públicos da E3, já que tudo foi gravado e transmitido ao redor do planeta, muito da mágica da feira jamais chegou às massas. Afinal, é impossível capturar em vídeo a experiência de estar caminhando pelos gigantescos pavilhões do Convention Center com centenas de jogos diferentes para experimentar ao lado de milhares de fãs igualmente apaixonados por videogames!
Ter um espaço para a indústria celebrar a si mesma e, mais importante, celebrar os jogadores e criadores, era algo verdadeiramente especial. Falando agora apenas por mim, eu cresci lendo revistas de videogames e assistindo a programas como StarGame, e por isso ficava sonhando com a possibilidade de, um dia, estar lá no meio dessa magia toda. Algumas décadas depois, consegui, e genuinamente gostaria que todo mundo pudesse também experimentar esse sentimento tão bom.
Porque no fim das contas, é isso: os momentos mais incríveis da E3 não são essa ou aquela apresentação, mas sim as memórias que você criou com os seus jogos e amigos. Aquela noite em claro com o pessoal conferindo juntos os trailers. As discussões com a galera sobre "quem venceu a E3". Os memes bem humorados. Enfim, a jornada que compartilhamos juntos a essa lendária feira por anos a fio!
Então se você também tem boas memórias com a E3, compartilhe elas com a gente nas redes sociais e no canal do Voxel!