Trazendo uma mistura de ficção científica com estética tribal, Horizon Forbidden West chega para expandir conceitos e corrigir problemas do seu antecessor Horizon Zero Dawn.
O jogo, produzido pela Guerrilla Games e distribuído pela Sony, é o primeiro grande exclusivo dos consoles Playstation em 2022 e traz grandes melhorias em relação ao seu antecessor – que já era um jogo fantástico. As melhorias incluem a maior verticalidade tanto na exploração quanto no combate com a adição de um planador e um gancho, dando mais dinamismo durante a expedição dos vastos cenários do oeste proibido.
Mas será que Horizon Forbidden West é um jogo acessível? As capturas dessa análise foram feitas em uma cópia de Playstation 4 cedida pela Sony para resenha de acessibilidade.
Eu gostaria de ressaltar que a acessibilidade se aplica de maneira única para cada pessoa e essas são minhas impressões pessoais do jogo como pessoa com baixa visão, meu objetivo é destacar as opções que estão presentes no jogo e que deixam ele mais inclusivo.
Descrição da imagem a protagonista uma mulher ruiva, de costas em frente a uma paisagem linda com flores vermelhas e arvores.Fonte: Captura do PS4
Menus e Legendas
As legendas têm mais funções do que você pode imaginar, especialmente para pessoas com algum tipo de deficiência cognitiva ou até para pessoas surdas acompanharem o que se passa dentro do jogo, por isso ter uma grande variedade de opções de legendas é tão importante.
No caso de Forbidden West existe a possibilidade de alterar as fontes das legendas para deixá-las bem grandes, assim como a possibilidade de adicionar uma cor de fundo para que as legendas se destaquem do cenário.
Descrição da imagem exemplo do tamanho das legendas, uma cena do jogo onde uma mulher ruiva olha para câmera encruando fala algoFonte: Captura PS4
No geral funciona muito bem, mas talvez fosse interessante a possibilidade de poder alterar a cor das legendas ou ter uma cor para cada personagem, isso destacaria melhor para quem acompanha a narrativa somente pelas legendas qual personagem está falando. Nos textos aparecem o nome do personagem que está falando, mas certamente cores distintas para cada NPC acabaria sendo uma solução muito mais dinâmica. Mas as legendas funcionam muito bem.
Agora falando de menus que a coisa fica complicada, pois as letras dos menus são minúsculas e diferentemente das legendas, os textos dos menus não têm a possibilidade de alteração de fonte. Estamos falando de um jogo com uma grande dose de RPG em suas mecânicas e a leitura de itens e equipamentos e grande parte da evolução do seu personagem, até para escolher as opções de acessibilidade eu tive dificuldade de ler os menus.
Descrição da imagem menus do jogoFonte: Captura PS4
Descrição da imagem menus do jogoFonte: Captura PS4
Descrição da imagem menus do jogoFonte: Captura PS4
Descrição da imagem menus do jogoFonte: Captura PS4
Uma solução simples é fazer como em outros jogos como Guardiões da Galáxia e trazer uma opção para alterar as fontes dos menus, isso para mim é o grande calcanhar de aquiles em questão de acessibilidade de Horizon Forbidden West.
Outro ponto negativo é a inexistência de um tipo de leitor de tela, como em alguns jogos atuais como, por exemplo, Watch Dogs Legion e The Last of Us Part 2.
Copiloto
Essa opção de acessibilidade funciona de uma maneira bem interessante: o jogador pode ter um copiloto na sua aventura passando para o controle 2 tarefas que ele tenha dificuldade para realizar, como, por exemplo, um jogador fazer as partes de movimentação e o outro as de combate como mirar e atirar.
Esse sistema funciona extremamente bem e quebra barreiras de acessibilidade além de deixar o jogo mais divertido. Contudo, não posso deixar de salientar que nos consoles da família Xbox essa função é nativa da plataforma e pode ser feita em qualquer jogo, enquanto na plataforma Playstation depende dos desenvolvedores a implementação dessa função.
Movimentação e Exploração
Para mim, a parte de movimentação é um dos maiores destaques do jogo no quesito acessibilidade, pois temos várias opções que atendem vários tipos de jogadores com deficiências diversas.
Temos, por exemplo, a possibilidade de deixar marcado a todo momento no cenário os locais escaláveis, assim facilitando a identificação desses ambientes, funcionando muito bem para sinalizar os pontos em que Aloy pode se pendurar, algo que ajuda especialmente pessoas com deficiências visuais diversas. Quando ela não está ligada, essa opção ainda possibilita ver os pontos escaláveis, mas somente quando o Foco é ativado.
O foco e um aparelho que a protagonista utiliza na sua cabeça que tem a função de destacar itens interativos no cenário.
Descrição da imagem mulher ruiva olhando para pontos escaláveis no cenário do jogo, os pontos são marcados em amareloFonte: Captura PS4
Ainda falando de locomoção, eu parabenizo os desenvolvedores por terem criado maneiras alternativas para a execução de certas ações de maneira automatizada para quem precisa.
Destaco aqui a possibilidade de não precisar segurar um botão para executar uma ação que necessite que o jogador fique pressionando e segurando algum comando do controle. Essa opção se aplica principalmente a jogadores com algum tipo de deficiência motora e que não conseguem segurar por muito tempo os comandos do controle, além de termos a opção da automatização do planador de Eloy que se ativa quando necessário de maneira autônoma.
Descrição da imagem mulher ruiva pulando com um planadorFonte: Captura PS4
Dentro da parte de exploração tenho somente uma crítica negativa: a impossibilidade de aumentar o ícone que indica o objetivo. O GPS acima da tela funciona muito bem, mas a opção de aumentar o símbolo que mostra o ponto de objetivo facilitaria para jogadores com baixa visão, já que quase todo momento o ícone se misturava com o cenário de tão pequeno. Um jogo em que ter a alternativa de aumentar os ícones e funcionou muito bem, ao meu ver, foi Spider Man Miles Morales, também distribuído pela Sony.
Combate
O combate de Forbidden West se divide em várias frentes: temos a parte de furtividade, combate corpo a corpo e com arco e flecha, sendo este último focado em alvos à distância. Então vou tratá-los como subtópicos dentro da parte de combate para facilitar o entendimento.
Furtividade
Dentro deste mundo, a estratégia é muito importante para a protagonista não acabar morta pelas máquinas, por isso a furtividade e elementar dentro do combate – já que é nesse momento que o jogador analisa os dinossauros com o Foco para identificar seus pontos fracos e qual arma vai usar para cada tipo de inimigo.
Descrição da imagem uma mulher ruiva a espreita de um robô dinossauroFonte: Captura PS4
No jogo anterior, essa era uma das partes mais complicadas para mim que tenho baixa visão, pois para identificar as informações do robô e assim entender qual ferramenta utilizar para derrotá-lo era necessário manter a mira apontada para a máquina e visualizar as informações enquanto ela caminhava. Eu não conseguia acompanhar a movimentação do inimigo ao mesmo tempo em que tinha que identificar em um HUD minúsculo e meio transparente de difícil visualização qual era seu ponto fraco.
Na sequência esse problema foi resolvido em partes, pois, agora quando o inimigo é analisado, a mira o acompanha automaticamente, assim me dando a oportunidade de me concentrar em quais são os pontos fracos sem ter que me preocupar em ficar acompanhando o dino com a mira e inviabilizar a análise das fraquezas.
Também houve melhorias na transparência da tela holográfica em que as informações aparecem. Minha única ressalva neste ponto em relação ao tamanho dos ícones que representam as fraquezas dos inimigos que são de difícil visualização assim como todos os menus e interface do game.
Entretanto, o que achei realmente fraco dentro da parte de furtividade foi a sinalização de visibilidade que não informa se alguém está vendo o jogador pelas costas, isso é muito importante para quem não tem um feedback sonoro e não tem como saber se está sendo detectado por algum adversário.
Uma solução interessante se apresenta com os clássicos arcos de visibilidade dos inimigos que vemos em tantos títulos.
Descrição da imagem mulher ruiva escondida de dinossauros mecânicosFonte: Captura PS4
Corpo a Corpo
O combate mano a mano recebeu grandes melhorias comparado ao primeiro jogo , recebendo até uma árvore de habilidades própria e muito mais.
E quando se fala de acessibilidade, ela funciona muito bem. Um detalhe interessante sobre essa parte do combate é que sempre que a protagonista está prestes a ser atacada por algum inimigo humano, o game emite um efeito sonoro para avisar que está na hora de desviar. Isso é incrível, pois os feedbacks sonoros são de extrema importância para quem não enxerga bem.
Arco e Flecha
Pode-se dizer que o combate à distância é a principal forma de defesa contra as máquinas e humanos nesse mundo pós-apocalíptico. Para pessoas com deficiência visual o ato de mirar e atirar pode ser um grande desafio na hora do combate dentro de jogos.
No caso de Forbidden West, temos uma opção de auxílio de mira que deixa os confrontos a distância mais acessíveis para quem tem algum tipo de baixa visão.
Descrição da imagem mulher ruiva mirando em inimigos robôs com arco e flechaFonte: Captura PS4
Ainda falando de armas a distância, temos uma opção de deixar o tempo em câmera lenta enquanto o usuário abre a roda de armas para trocar entre elas. Horizon Forbidden West já deixa o tempo em câmera lenta quando essa ação é executada, mas, quando ativada, a opção câmera lenta fica ainda mais devagar, dando mais tempo para o jogador trocar de arma se necessário.
Descrição da imagem roda de armas do jogoFonte: Captura PS4
Remapeamento de Botões
O remapeamento de botões, como o nome sugere, se define como a possibilidade de fazer a troca dos botões de ação do jogo. O recurso está presente em Horizon Forbidden West e o principal uso dessa ferramenta se aplica para pessoas com algum tipo de dificuldade motora e que tenha a necessidade de modificar um comando para uma jogatina com maior conforto.
Lembretes contextuais
Essa função traz lembretes constantes durante a aventura como, por exemplo, qual tipo de arma utilizar para qual tipo de máquina.
Essa opção se aplica principalmente para pessoas com algum tipo de deficiência cognitiva e por isso tenha algum tipo de dificuldade de atenção, eu utilizei essa ferramenta na minha jogatina e funciona muito bem pois, a protagonista fica lembrando para o jogador a melhor forma de lidar com inimigos diferentes.
O jogo é acessível
De forma geral, Horizon Forbidden West talvez seja um dos jogos mais genuinamente divertidos que joguei nos últimos tempos, com um universo fascinante, uma história intrigante e um combate extremamente fluido e estratégico.
Em resumo, o título entrega tudo que foi prometido e o que se esperava para uma sequência de Zero Dawn, aprendendo com os feedbacks e refinando o que já era ótimo no primeiro título, e isso se aplica a acessibilidade também, pois na primeira entrada da franquia mal tínhamos opções de legendas (além de ligado e desligado). Então em relação ao primeiro jogo, existe sim uma evolução considerável nesse aspecto.
Porém, quando se trata de onde queremos alcançar no aspecto de acessibilidade na indústria como um todo, a impressão que tive é que essas opções foram implementadas muito tarde no desenvolvimento do jogo, pois existem aspectos do game design que não são muito acessíveis, como as partes de investigação por exemplo. Talvez se a acessibilidade fosse uma diretriz desde o início do projeto, veríamos mais formas interessantes para acessibilizar certos trechos e mecânicas.
Em suma, Horizon Forbidden West está acima da média quando se trata do tema acessibilidade quando comparado a maioria da indústria. Talvez, por ser um jogo da Sony que tem em seu catálogo de exclusivos The Last of Us Part 2 (que é referência em acessibilidade), eu esperasse algo nesse nível – e não é o caso. Contudo, o jogo com certeza está com boas opções e tudo que ele aplica dentro desse aspecto funciona extremamente bem.
Se você tem interesse em jogar esse título e acha que essas opções que listei podem fazer sua experiência mais acessível, pode ir fundo, pois tudo funciona muito bem e acho que a Guerrilla Games está indo no caminho certo principalmente em relação ao primeiro jogo. Espero ansiosamente para ver no próximo Horizon onde eles podem chegar para fazer seus jogos ainda mais inclusivos.
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