A aquisição da Activision Blizzard pela Microsoft, anunciada hoje (18), gerou dezenas de questionamentos na indústria dos games. Dentre eles, está a pergunta sobre como a dona do Xbox lidará com os escândalos públicos de casos de abuso e assédio que a responsável por franquias como Call of Duty está sofrendo (e respondendo judicialmente).
Sabendo, obviamente, da situação e tudo o que a transação representa, Satya Nadella, presidente da Microsoft, disse que tanto a Activision Blizzard quanto seu CEO estão dispostos a mudar a forma de trabalho.
“Ao longo de mais de 30 anos como CEO da Activision Blizzard, Bobby Kotick transformou-a em uma das empresas de entretenimento mais bem-sucedidas e influentes do mundo e sou grato pela liderança dele e compromisso com a mudança cultural real”, afirmou Nadella em uma fala a investidores.
Em comunicado assinado por Phil Spencer, chefe da divisão do Xbox, foi garantido que Kotick ficará no comando da publisher/desenvolvedora. A questão é que não se sabe, por enquanto, se ele será mantido depois que o negócio for autorizado pelas autoridades antitruste.
A relação entre Microsoft e Activision Blizzard ainda é uma incógnita. Em um contexto onde a pressão sobre a Activision Blizzard aumentou, justamente por causa das situações de assédio relatadas, o próprio Spencer chegou a dizer, em e-mails obtidos pela Bloomberg, que estava “avaliando todos os aspectos do relacionamento” com a empresa.
Microsoft passará a responder
Uma reportagem da Vice lançada hoje lembra que, além da posse de propriedades intelectuais como Crash, Spyro, Tony Hawk, Diablo e COD, a Microsoft adquiriu junto a isso o “pacote de responsabilidade” por responder pela Activision Blizzard.
“A Microsoft está comprando os jogos, mas isso também significa que agora precisa lidar ativamente com alguns dos piores abusos que vimos na indústria de video games — em vez de ficar de lado e apontar o dedo para a concorrência”, lembrou a Vice.
Os casos relatados por funcionários e ex-funcionários da Activision Blizzard são chocantes. O Departamento de Emprego e Habitação da Califórnia chegou a apresentar uma ação judicial contra a empresa afirmando haver uma toxicidade generalizada nos escritórios.
No ano passado, centenas de funcionários da Activision Blizzard fizeram um protesto demandando ações da empresa contra os casos de assédio.
O documento aponta que funcionários de alto escalão apresentaram vários comportamentos erráticos, como abusos sexual e verbal, xingamentos e comentários inapropriados. Em uma das ocorrências mais graves, uma mulher cometeu suicídio, e o ambiente da empresa chegou a ser apontado como uma das possibilidades para esse ocorrido.
Em outras palavras, além da tarefa de como lidar com grandes franquias de jogos amados pelo mundo todo, a Microsoft será desafiada a mostrar que consegue mudar uma empresa gigante que há muito tempo parece ter uma cultura permissiva com comportamentos inaceitáveis (e criminosos).
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