Inscryption molha suas cartas com sangue de esquilos inocentes

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Imagem: Devolver Digital

Se tem um gênero que dominou o mundo dos video games em 2021 foi o rogue-lite. Após o sucesso estrondoso que Hades teve em 2021, vencendo dezenas de prêmios de Jogo do Ano, muitos estúdios decidiram criar aventuras em que o jogador tem que começar do zero caso falhe em suas missões, mas que seja recompensado com algo que o ajude na próxima tentativa.

A Devolver Digital ficou ligada nessa tendência a ponto de ter investido em três projetos desse tipo só neste ano, o mais recente deles sendo o que vamos falar hoje. Mas antes, eu preciso discorrer brevemente sobre um nome: Daniel Mullins. Muitos podem não conhecer, mas o jovem desenvolvedor canadense já fez seu nome na indústria por conta de seus dois primeiros títulos solo, Poney Island e The Hex.

Os elementos que os definem estão presentes em seu mais novo game, Inscryption. Nele, há uma temática obscura, quebra-cabeças inteligentes e uma história extremamente intrigante. Mesmo que a receita seja muito parecida, o bolo é totalmente diferente. Confira o porquê na nossa análise a seguir.

Jogue as cartas certas ou pague por isso

Há muito para se falar sobre Inscryption, mais do que se pode imaginar. Vamos começar pelo mais importante: o combate. Todos os confrontos são feitos a partir de um jogo de carta parecido com Magic: The Gathering, com criaturas apresentando um custo, pontos de ataque e defesa, além de habilidades especiais. Para invocá-las, é necessário fazer um pagamento em sangue por meio de sacrifícios de outras criaturas ou de ossos vindos de outros seres que morreram em campo de batalha.

Nós ficamos realmente impressionados com o quão balanceado o sistema é, o que não é nem um pouco fácil de se fazer. Claro que algumas cartas se destacam, como o Louva-a-Deus, que dá três ataques em três direções por turno — mas ele é raro, não sendo comum encontrá-lo por aí. Com a pontuação funcionando como uma balança, pesando para os lados conforme as jogadas vão, o entendimento de seu sistema é fácil, o que pode agradar até aqueles que não são muito familiarizados com jogos de cartas.

Por fim, caso os confrontos estejam difíceis, há alguns itens que podem ser usados para dar aquela "mão amiga", sendo um esquilo de graça para ser sacrificado, uma tesoura que corta uma criatura adversária, um alicate que te dá um ponto a mais e muitos outros disponíveis. Garanto que eles foram essenciais em diversos momentos da nossa aventura, pois, como é de se esperar, às vezes a sorte não está do nosso lado.

Cada esquilo sacrificado será um peso em nossa consciência.Cada esquilo sacrificado é um peso em nossa consciência.Fonte:  Francesco Casagrande/Voxel 

A morte não me parece tão ruim

Mas onde entra o rogue-lite nisso tudo? Antes, vamos contar um pouco da história de Inscryption. Nós acordamos em uma cabana estranha e escura com um homem misterioso na nossa frente; então, ele nos obriga a jogar cartas em uma espécie de tabuleiro, permitindo-nos escolher nosso caminho. Em cada casa que andamos, algo acontece, como ganhar uma nova criatura ou melhorar uma que já está em nosso deck. Caso tenhamos duas falhas, nós morremos e voltamos ao início, perdendo o todo o progresso.

Com isso, há toda mecânica de construção de deck que precisa ser dominada para escolher as melhores cartas e chegar o mais longe possível. Essa parte não é fácil, pois necessita de um equilíbrio e de um senso estratégico que vai sendo desenvolvido com o passar do tempo. As cartas mais fortes sempre vão chamar mais atenção, mas os custos vão complicar muito a vida, principalmente quando não houver nada para ser sacrificado.

Escolha com sabedoria ou pague por isso.Escolha com sabedoria ou pague por isso.Fonte:  Francesco Casagrande/Voxel 

Sendo um rogue-lite, diferente de um roguelike, ele te dá algum tipo de recompensa caso a morte venha, e é aí que uma das melhores mecânicas aparecem: antes de iniciar uma nova aventura, o jogador cria uma carta usando características de outras conquistadas pelo caminho. Assim, é possível dar vida a criaturas extremamente fortes e muito baratas, que podem ser encontradas e escolhidas nas próximas tentativas.

Por isso, o desbalanceamento do sistema de combate "vai para as cucuias" por causa do próprio jogador. Essa ferramenta é extremamente poderosa, mas ainda envolve um pouco de sorte. Na maioria das vezes, criamos cartas importantes para a nossa jogatina; já outras não escolheríamos nem se fossemos obrigados.

De sem noção esse Joselito não tem nada!De sem noção esse Joselito não tem nada!Fonte:  Francesco Casagrande/Voxel 

Pequenas e grandes pedras no sapato

Enquanto a maioria dos confrontos pareceram justos, teve um tipo que nos deixou extremamente frustrados, e fizemos questão de evitar: os desafios de totens. Nessas batalhas, uma tribo específica de criaturas (insetos, canis lupus, répteis etc.) ganham uma habilidade especial, mas só as do adversário. E, quando elas ganham a habilidade de voar, meu amigo, é uma derrota instantânea.

Depois dos primeiros fracassos, evitamos sempre que possível essa parte para não nos estressar sem necessidade. E, para ficar mais claro, ficamos mais sem paciência com esses momentos do que com as batalhas contra os chefões, que tinham as próprias complicações.

Não, minhas cartas não são ouro… sai daqui!!!Não, nossas cartas não são ouro… sai daqui!Fonte:  Francesco Casagrande/Voxel 

Falando nelas, cada batalha de chefe é contra um personagem diferente, tem duas fases e tem características únicas que tornam cada um complicado à sua própria forma. O garimpeiro, o primeiro deles, é bem simples, já que a dificuldade dele é que ele transforma suas criaturas em ouro no começo da segunda parte. Porém, depois de duas tentativas, já é possível acabar com ele sem grandes problemas.

Já o segundo, o pescador, incomodou por encher o tabuleiro de tubarões bem fortes. Ainda assim, foi só aprender mais informações sobre as jogadas dele e montar de forma mais inteligente o nosso baralho que os problemas foram para o espaço.

Além desses citados, há outros dois que não vamos entrar em detalhes para não estragar a experiência, mas a dinâmica com eles foi a mesma citada, incluindo as complicações.

O Segredo da Cabana

O jogo não se resume somente aos combates. Quando fora deles, é possível explorar toda a cabana escura que está lotada de segredos. Enquanto alguns dão cartas especiais, outros continuam a história que é contada por criaturas falantes. A movimentação é bem limitada, o que aumenta o clima de terror e tensão que o título se propõe a ter.

Mesmo resolvendo todos os puzzles desse tipo, eu ainda não entendi a lógica deles.Mesmo resolvendo todos os puzzles desse tipo, nós ainda não entendemos a lógica deles.Fonte:  Francesco Casagrande/Voxel 

Alguns dos puzzles são simples, precisando procurar no lugar certo, fazer associações ou mesmo "ir no chute"; outros precisam de um pouco mais de perspicácia ou até mesmo realizar ações dentro de partidas — isso adiciona diversas camadas de complexidade, o que enriquece ainda mais a história daquele lugar. Caso o jogador não tenha feito todos os passos certos, derrotar o último chefão não vai continuar a campanha, mas sim o obrigará a voltar ao início.

Você não leu errado. Derrotar o final boss não termina a história, mas não daremos detalhes para evitar spoilers. O que podemos dizer é: após a suposta última batalha, a nossa cabeça foi explodida muitas vezes, tanto com a trama extremamente misteriosa quanto com as mudanças bruscas na gameplay. É o clássico tipo de situação “quanto menos você sabe, melhor”, então caso tenha se interessado, corra para jogar o quanto antes.

O que #&@%$ é isso?O que #&@%$ é isso?Fonte:  Francesco Casagrande/Voxel 

Vale a pena?

Inscryption não é só o trabalho mais maduro de Daniel Mullins, por conta de suas mecânicas bem-trabalhadas, sua história complexa e sua virada de chave impressionante, mas também é um dos melhores games que pudemos jogar em 2021.

Como um todo, é uma obra intrigante que vai te fazer ficar pensando em novas estratégias ou mesmo tentar entender o que está acontecendo, inclusive enquanto dorme — o que é um mérito e tanto. E, para fechar, essa é mais uma prova de que a Devolver Digital raramente erra, então "fique de olho" em tudo o que eles publicam.

Nota Voxel: 95

Inscryption faz pensar e repensar em cada jogada, além de instigar sua curiosidade para entender tudo o que está acontecendo naquela cabana no meio do nada.

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