Não há como negar que a Nintendo é detentora das franquias mais influentes dos games, que ditam tendências à indústria desde os tempos do NES. Tal qual Mario Kart representa uma revolução para os títulos de corrida, Super Smash Bros. foi um divisor de águas nos jogos de luta, colocando seus icônicos mascotes em pequenas arenas de batalha cujo objetivo não se resume a reduzir a barra de vida dos oponentes, e sim a arremessá-los para fora do estágio.
Enquanto Street Fighter, Tekken, Mortal Kombat e Dead or Alive exigiam complexas combinações do jogador, Super Smash Bros. reinventou a roda com um combate acessível, isto é, menos técnico, em que é possível desferir combos caprichados a partir de poucos botões, eliminando assim a árdua tarefa (pelo menos para mim) de memorizar golpes. Numa época em que as desenvolvedoras de jogos de luta se orgulhavam de suas mecânicas difíceis de serem digeridas, o brawler da Nintendo dirigiu na contramão a fim de trazer uma experiência equilibrada, convidativa a novatos e calejados na pancadaria virtual.
Fiel à premissa de Smash, Nickelodeon All-Star Brawl é, para bem ou para mal, uma “xerox” da franquia que o influenciou, colocando os personagens de sua marca, uma das principais do entretenimento, para caírem na porrada. De modo geral, All-Star Brawl funciona bem, mas suas muitas limitações — fruto de um valor de produção menor —, bem como sua necessidade de replicar Smash até nos mínimos detalhes, o impedem de alçar voos mais altos. As semelhanças com Smash, aliás, estão por todos os lados, desde a voz do narrador e na maneira como ele apresenta os eventos até menus e miudezas visuais. Confira a análise completa.
Pancadaria que reaviva nostalgia
Que atire a primeira pedra quem nunca sentiu uma pontada de nostalgia ao ver personagens da Nickelodeon na tela de um game, não é mesmo? Independentemente da geração, o fato é: Bob Esponja Calça Quadrada, Rugrats: os Anjinhos, Tartarugas Ninja e “Avatar: A Lenda de Aang fizeram parte da vida de todos nós, seja de forma direta ou indireta.
Fonte: VoxelFonte: Voxel
Ver muitos dos personagens que nos acompanharam durante a infância saindo no soco (sem perder a amizade) desperta o mesmo fascínio de quando vimos os mascotes da Nintendo caindo na porrada pela primeira vez em Super Smash Bros., lá no Nintendo 64. As lutas de All-Star Brawl proporcionam momentos hilários, capazes de arrancar sorrisos de crianças e adultos, valorizando a leveza e o humor característico das produções da Nickelodeon.
Embora a sensação de nostalgia jogue a favor, logo de cara eu já tenho uma ressalva a destacar aqui: a lista de personagens é bastante limitada, sobretudo ao traçarmos um comparativo com o elenco colossal de Super Smash Bros. Ultimate, um exemplo a ser seguido com quase 100 nomes jogáveis incluindo DLCs. Temos aqui a presença de Bob Esponja, Sandy Bochechas e Patrick, trio do desenho protagonizado pelo Calça Quadrada, Michelangelo, Leonardo e April O'Neil de “Tartarugas Ninja”, além de representantes de The “Legend of Korra”, “Ren & Stimpy”, “Invasor Zim”, “Os Thornberrys”, “Aahh!! Real Monsters”, “The Loud House”, “Rugrats: Os Anjinhos”, “Avatar: A Lenda de Aang”, “CatDog”, “Danny Phantom” e “Hey Arnold”. Ufa!
Por mais que muitas das séries da Nickelodeon estejam representadas, não há como saber ao certo os critérios que o Ludosity e Fair Play Labs (os dois estúdios que desenvolveram o game) usaram para compor o elenco. É difícil entender o motivo de terem optado por Helga Pataki, por exemplo, de “Hey Arnold”, em vez do próprio protagonista, o cabeça de bigorna; ou Nigel Thornberry, o pai da família, ao invés de Eliza, heroína de “Os Thornberrys”.
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Confesso que senti falta não apenas de outros protagonistas, mas também de algumas franquias exibidas pela Nick que são tão famosas quanto as que foram adicionadas ao título, como “A Vida Moderna de Rocko”, “Doug” e “Rocket Power”. Em um brawler que não esconde suas influências em Smash, é essencial que haja um elenco à altura, tanto em volume quanto em qualidade — e All-Star Brawl, a meu ver, não se sobressai em nenhum desses dois aspectos.
Hashtag “Nicktreta”
Se tem uma coisa que faz a experiência ficar mais gostosa e nostálgica é o gameplay. O combate do brawler da Nickelodeon é competente o bastante para manter o jogador empenhado em aprender e dominar as técnicas dos 20 lutadores, cada qual com uma especialidade. Ainda que não tenha o “peso” e o impacto dos golpes de Smash, posso te assegurar que há muita diversão nas mecânicas de luta.
Os bonecos têm ataques leves, pesados e especiais, com variações na corrida e no ar, que podem mudar dependendo da combinação que você executa com os direcionais. Embora cada personagem tenha uma lista ímpar de movimentos, os botões de ataque a serem combinados são sempre os mesmos, não importando a escolha. Fiquei positivamente surpreso com a diversidade de habilidades, algo que contribui para tornar os heróis bem diferentes entre si.
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Apesar da ausência de tutoriais pipocando na tela, o game entrega um modo de treinamento em que é possível praticar com NPCs de diferentes níveis de dificuldade, além de uma lista detalhando os movimentos específicos dos competidores, recursos muito úteis aos marinheiros de primeira viagem. Aos jogadores que já estão familiarizados com Super Smash Bros. Ultimate: pulem direto para o gameplay, pois vocês se sentirão em casa.
O arroz com feijão e nada mais
Mesmo oferecendo um sistema de combate divertido e acessível, podendo também ser complexo aos que buscam profundidade, All-Star Brawl cai muito rápido na repetição, justamente por não ter modos para sustentar esse ótimo gameplay. Você pode se aventurar pelo clássico arcade, que traz cinco dificuldades, encarando adversários em sequência até alcançar o chefe final — uma das conquistas, aliás, exige que o modo arcade seja concluído com todos os heróis, o que propõe um desafio considerável ao jogador com espírito complecionista.
Já no modo batalha, o mais casual, nós temos apenas três opções: o “Stock”, no qual o número de vidas é limitado, o “Timed”, em que é preciso derrotar os oponentes dentro do limite de tempo e, por fim, as lutas esportivas, cujo objetivo é acertar uma bola no alvo, no “gol” da equipe rival.
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Na verdade, todos esses modos que mencionei acima são ótimos se você estiver acompanhado, tendo um ou mais amigos ao lado para complementar a jogatina. No entanto, fica difícil recomendá-los a quem deseja jogar sozinho, até porque quase não há opções de personalização. Encare o título como um party game que esse buraco existente nos modos não vai comprometer tanto a sua experiência. Os mais de 20 mapas jogáveis, sendo um por personagem, até amenizam um pouco essa ressalva em relação ao conteúdo.
O modo online, por sua vez, traz modos casuais e competitivos, mas ainda sofre com problemas de servidor quase um mês após o seu lançamento. Além de o ping ser alto no Brasil, há problemas frequentes de desconexão e uma demora excessiva na busca por partidas. Do jeito que o multiplayer está hoje, você mais vai passar raiva que se divertir.
E sobre o visual, eu gostei de como o game transpôs ao 3D os nomes conhecidos dos desenhos, padronizando diferentes traços, de estúdios e artistas distintos, a uma única estética. Também é preciso destacar o capricho que as desenvolvedoras tiveram na hora de recriar os ambientes mais marcantes de cada série, da casa dos Loud aos campos de águas-vivas de Bob Esponja. Em um dos meus estágios favoritos, o de Ren & Stimpy, os lutadores se enfrentam em uma mesa de cozinha, com direito a uma piscina de cereais ao centro no melhor estilo “Querida, Encolhi as Crianças”.
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Veredito
Inspirado até demais no modelo brawler de Super Smash Bros., Nickelodeon All-Star Brawl é um bom passatempo, especialmente a quem busca um jogo de luta descompromissado, com estrutura de party game. Ele não está à altura de sua fonte de inspiração em nenhum aspecto, mas ao menos carrega o carisma das séries da Nickelodeon e entrega um combate simples, agradável e funcional. Sempre que puder, jogue acompanhado para potencializar o nível de diversão.
Nickelodeon All-Star Brawl foi gentilmente cedido pela GameMill Entertainment para a realização desta análise
Nota do Voxel: 70
Pontos positivos
- O combate funciona bem, apesar de não imprimir “peso”
- Divertido, sim, mas fica bem melhor com os amigos, como party game
- Personagens diferentes entre si
- Levando em conta o escopo, há um bom número de fases
- Visual agradável considerando o valor de produção
Pontos negativos
- Limitadíssimo em modos de jogo
- Poucos bonecos no lançamento, com algumas escolhas questionáveis no elenco
- Trata-se de uma simples “xerox” da principal franquia de luta da Nintendo, sem agregar nada à experiência