No fim de julho, a Twitch anunciou diminuição de 66% no valor das chamadas subs para canais brasileiros que realizam lives na plataforma. Com o reajuste, o preço padrão nas inscrições caiu de R$ 22,99 para R$ 7,90. A medida repercutiu bastante mal na comunidade de streamers, chegando a gerar uma espécie de “sindicato” e até uma promessa de greve.
A reclamação dos produtores de conteúdo é que a diminuição nos valores acabará afetando a renda e consequentemente a sobrevivência de quem trabalha realizando lives, de gameplay ou não.
Na última quarta-feira (18), pessoas anônimas criaram uma página no Twitter chamada Apagão da Twitch, que está mobilizando os streamers para realizarem uma “greve” em 23 de agosto. Na data, os envolvidos prometem não realizar lives.
Apagão da Twitch: grupo está espalhando imagem nas redes com as reivindicações.
“Nós temos uma pequena comunidade e estávamos pensando em um meio de nos mobilizar e conversar sobre as recentes decisões da Twitch. No nosso debate acabou surgindo a ideia de fazer um ‘apagão’ para mostrar nossa insatisfação. Tudo foi bastante espontâneo”, explicou ao TecMundo um participante do grupo responsável pela iniciativa.
O grupo se autointitula “anticapitalista” e faz questão de frisar que não tem líderes. Atualmente, cerca de 40 pessoas fazem parte da comunidade. Outra participante que falou com a reportagem explicou que praticamente todos os integrantes do Apagão da Twitch que fazem lives são streamers pequenos.
“Como a decisão da plataforma é bem recente, nós ainda não sentimos um impacto tão grande. O fato é que muita gente está ansiosa e com receio, já que a probabilidade de o dinheiro na conta ser menor é bem grande. Além disso, a Twitch só permite o saque quando um streamer alcança US$ 100 (cerca de R$ 538 na cotação atual). Nós conhecemos pessoas que fazem lives há 2 anos e ainda não conseguiram alcançar essa meta”, argumenta a jovem.
Demandas
Os participantes do movimento anticapitalista, que preferiram não se identificar porque disseram que estão recebendo hate nas redes sociais, comentaram que já estão sendo apoiados por grandes produtores de conteúdo que prometeram aderir à greve na semana que vem.
Eles comentaram que não têm muitas demandas, já que tudo é bastante recente. Contudo, a principal reclamação é em relação à repartição injusta do valor pago por cada inscrição, que de acordo com eles é de pouco mais de R$ 2. “Nós temos nosso público, que gosta de acompanhar nossas lives e quer nos ajudar financeiramente. Contudo, com o pagamento, nossos viewers acabam ajudando mais a Twitch do que nós, os produtores de conteúdo”, comenta o representante.
No fim, eles defendem que não devem parar com o movimento e que continuarão se mobilizando até que a plataforma da Amazon saiba “que eles existem”.
Além dos próprios streamers, a greve convoca que os viewers não acessem a plataforma em 23 de agosto. Inclusive, a hashtag #apagaotwitch, criada pelo movimento, chegou a entrar nos trending topics no Brasil, com mais de 2,2 mil tweets por volta das 18h de ontem.
O “sindicato”
Antes mesmo do surgimento do Apagão da Twitch, já havia aparecido nas redes sociais a União dos Streamers. Apesar de ser apelidado de “sindicato dos streamers”, o grupo na verdade é uma reunião de produtores de conteúdos que têm reivindicações para a plataforma:
- Isenção dos 30% de impostos pagos ao governo norte-americano para que o repasse aos streamers brasileiros seja mais justo.
- Transparência nos canais em que foi testado o novo preço do sub em cada país/região.
- Gráficos de progressão no dashboard do usuário com dados citados pelo representante oficial da Twitch BR em uma entrevista.
- Melhores condições para o staff da Twitch BR incrementar as pessoas da equipe.
“A postura da Twitch faz com que dúvidas acerca da confiabilidade sejam constantemente alimentadas, tornando incabível que se peça confiança aos seus contribuintes enquanto a empresa busca construir uma via comunicativa de mão única”, diz o trecho de um comunicado redigido e publicado pela União dos Streamers.
A União dos Streamers conta com produtores de conteúdo com mais de 500 mil seguidores.
O grupo está colhendo assinaturas e, de acordo com o site oficial, já tem a concordância de 2.595 streamers e 2.692 viewers (até ontem). A soma das comunidades dos produtores de conteúdo que assinaram o manifesto conta com mais de 13 milhões de seguidores.
Nossa posição sobre o apagão dos streamers. #apagaotwitch #twitchmelhore pic.twitter.com/JVVBltEa3i
— União dos Streamers (@uniaostreamer) August 18, 2021
O que diz a Twitch?
O Voxel entrou em contato com a Twitch para questionar as demandas e o diálogo cobrado tanto pela União dos Streamers quanto pelo Apagão da Twitch.
Até o fechamento desta reportagem, porém, a empresa não se pronunciou. A matéria será atualizada caso os questionamentos sejam respondidos.
[ATUALIZAÇÃO - 23/08/2021, às 17h]: Em comunicado enviado ao Voxel, a Twitch disse "apoiar o direito" dos streamers de se manifestarem. Ela ainda disse que está ouvindo o feedback dos produtores de conteúdo. Veja, abaixo, a íntegra da resposta enviada pela empresa:
"Apoiamos os direitos de nossos streamers de se expressarem e chamarem a atenção para questões importantes em nosso serviço. Estamos ouvindo este feedback e continuaremos a trabalhar para fazer da Twitch o melhor serviço para os criadores de conteúdo criarem e promoverem suas comunidades".