Ah, premiações. Oscars, Grammys, Emmys... É sempre divertido acompanhar uma premiação artística, independentemente do resultado. A expectativa, a cerimônia, a abertura dos envelopes, os discursos constrangedores. Entretanto, quando falamos de jogos eletrônicos, há poucas premiações e as que existem deixam muito a desejar. Para analisar o problema, precisamos primeiro saber qual é a importância de um prêmio.
À primeira vista, os benefícios de uma premiação parecem ser apenas para os artistas em si: uma massagem no ego e, dependendo de qual premiação estamos falando, possivelmente um impulso na carreira. Porém, há aspectos que beneficiam tanto os realizadores quanto o consumidor: prêmios (ou promessas de prêmios) podem ajudar a chamar atenção para obras que passariam despercebidas e a viabilizar projetos que, de outra forma, jamais sairiam do papel — por não se encaixarem no que os estúdios considerariam uma aposta segura. E é um ciclo virtuoso, porque ao ser exposto a obras mais ousadas e/ou de qualidade superior, o público em geral refina o seu senso crítico e passa a demandar obras ainda mais ousadas e de qualidade ainda superior.
Claro, o sistema não é perfeito. Premiações, independentemente de serem escolhidas por críticos, pelo público em geral ou por membros da indústria, são votações — e qualquer votação, no fim das contas, é um concurso de popularidade. Como resultado, obras que dividem o público, como aquelas que abordam tópicos sensíveis ou que estão muito à frente do seu tempo, dificilmente acabam ganhando os principais prêmios. No longo prazo, aqueles que deram contribuições significativas à mídia geralmente acabam sendo reconhecidos (um caso clássico disso é Cidadão Kane, que perdeu o Oscar de Melhor Filme), mas, no curto prazo, um ponto para se ter em mente. Outra possibilidade é abuso de poder econômico na forma de campanhas milionárias para convencer os eleitores de uma determinada premiação. Quando tudo isso é considerado, passamos a entender por que não faz sentido perder muito tempo discutindo se tal obra deveria ou não ter ganhado.
De qualquer forma, os benefícios de uma premiação compensam com folga os reveses. Então, a próxima questão que precisamos responder é: por que premiações de jogos eletrônicos não têm o impacto que poderiam ter? Bom, vamos analisar as candidatas.
The Game AwardsFonte: The Game Awards
A maior premiação de jogos eletrônicos hoje (com muita folga) obviamente é o The Game Awards, comandado por Geoff Keighley. Muitos já o consideram "o Oscar dos jogos eletrônicos", embora essa seja uma comparação imprecisa — o Oscar é decidido por membros da indústria, enquanto que o The Game Awards é decidido por jornalistas e (parcialmente) pelo público. O evento teve seus altos e baixos ao longo dos anos, mas estabilizou, cresceu bastante e agora mantém um público cativo. Por ser a maior premiação da mídia no momento e por ter uma série de problemas, vale a pena discutir esse caso em detalhes.
O principal problema com o The Game Awards é que a premiação em si parece ser apenas uma desculpa para passar horas e horas de anúncios. Frequentemente acontece, por exemplo, de os vencedores receberem os prêmios durante os intervalos ou de anunciarem vencedores tão rapidamente que uma ida curta ao banheiro pode fazer alguém perder meia dúzia de categorias. Já comerciais e trailers são extremamente frequentes e têm todo o tempo que precisarem. Evidentemente, o evento precisa de patrocinadores, mas atender a esses patrocinadores não deveria vir ao custo do objetivo pelo qual uma premiação é criada para início de conversa.
E ei... Chamar celebridades de outras indústrias pode até te dar mais audiência, mas que tal focar em quem de fato contribuiu para os jogos eletrônicos? Em 2020, chamaram o Christopher Nolan para anunciar o Jogo do Ano — seria uma surpresa se ele soubesse o nome do irmão do Mario.
É difícil afirmar o que precisaria para o The Game Awards corrigir esses problemas todos, mas ignorá-los seria jogar uma grande oportunidade no lixo. Uma audiência do tamanho que esse evento tem hoje é algo raro e, até o momento, inédito no que diz respeito a premiações de jogos eletrônicos.
Game Developers Choice AwardsFonte: Game Developers Choice Awawrds
Há outras premiações na área de jogos eletrônicos, claro. É possível citar o Game Developers Choice Awards (que é parte da Game Developers Conference), a D.I.C.E. Awards (organizada pela Academy of Interactive Arts & Sciences) e o BAFTA Games Awards (organizada pela British Academy of Film and Television Arts). Em contraste ao The Game Awards, esses três são organizados e decididos por desenvolvedores, o que os torna mais similares a um Oscar.
São eventos com credibilidade, bem elaborados e que poderiam ser grandes expoentes, mas, com relativamente poucos espectadores e consequentemente pouco investimento financeiro, é difícil acreditar que isso vá acontecer. Portanto, nesses casos, a solução é simples: prestigiar tais eventos.
BAFTA Game AwardsFonte: Wired
Não há dúvidas de que uma premiação do tamanho de um Oscar, Grammy ou Emmy seria benéfica no longo prazo para jogos eletrônicos, independentemente dos problemas inerentes ao processo. O potencial para tal premiação existe, a audiência existe, bons modelos existem. Então, não estamos falando de uma questão em aberto. Ainda assim, é muito fácil errar caso não tenhamos em mente aquilo que realmente importa: exaltar a mídia e contribuir para o seu avanço.
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