Os nossos leitores mais velhos devem lembrar bem disso, mas o Brasil foi um dos poucos países no mundo onde o Master System conseguiu vender mais do que o Nintendinho, que era praticamente sinônimo de videogame no resto do planeta. Graças ao grande trabalho da TecToy por aqui, os heróis 8 bits da SEGA dominavam o imaginário popular, entre eles um moleque orelhudo chamado Alex Kidd.
Lançada originalmente em 1986, a sua aventura de estreia, Alex Kidd in Miracle World, rapidamente provou o seu valor como um dos principais títulos do console graças às suas mecânicas de plataforma bem diferenciadas e criativas. Mais de três décadas depois, temos a chance de voltar a esse mundo milagroso com o remake Alex Kidd in Miracle World DX. Quer saber como ficou esse lançamento? Então confira a nossa análise completa a seguir!
De volta para o futuro
Se você ama o jogo original e está morrendo de saudades dele, não tem muito erro por aqui. Apesar de não ser uma recriação fiel 1:1 do título de Master System, quase tudo parece e se comporta exatamente como você estava esperando, com direito a um botão que alterna entre o visual moderno e clássico para a alegria dos puristas.
Eu disse "quase" porque há uma série de mudanças aqui e ali, desde bem-vindas melhorias de qualidade de vida como menus mais acessíveis e intuitivos, até uma alteração no sistema de continues. Diferente da experiência mais punitiva da década de 1980, agora é possível usar continues infinitos para voltar ao começo das fases ao invés de ter que rejogar tudo do zero.
Além disso, no menu de opções ainda dá para configurar vidas infinitas, de forma que jogadores menos habilidosos ou pacientes possam abusar dos checkpoints para aprender o caminho das pedras. Tudo isso ajuda um pouco a tirar a sensação de que Alex Kidd in Miracle World DX poderia nascer datado, e a maioria das outras alterações também são bem-vindas.
Logo na primeira tela de jogo os veteranos vão notar que alguns NPC foram adicionados, assim como balões de diálogo que ajudam a contextualizar a trama da jornada. Se pensarmos que hoje em dia mal existem revistas de videogame ou manuais de instruções, essa foi uma forma esperta de trazer o lore de Alex Kidd para dentro da aventura em si.
Outros pedaços mais crípticos do game também foram adaptados a fim de tornar a experiência toda menos irritante. Por exemplo, no Castelo de Radaxian é impossível progredir sem pegar todos os itens, e os personagens agora passam instruções mais claras sobre o que fazer.
Sinais da idade
A atualização mais notável, sem dúvidas, é a adição de alguns níveis inéditos com diferentes temáticas, desde fases no deserto até níveis temáticos de pântanos e lava. No geral, o seu design é coerente o suficiente com o restante do jogo, e eles servem para dar um pouco mais de valor a um título que, de outra forma, poderia ser finalizado bem rápido, ainda mais com as já citadas melhorias de qualidade de vida.
Novos jogadores provavelmente nem notarão que essas fases foram feitas mais de trinta anos depois do jogo original, o que acaba sendo um atestado de seu sucesso e bom planejamento. Mesmo assim, há algo a se criticar no design do jogo original por aqui, já que a qualidade e duração de seus níveis variava bastante.
A curva de dificuldade do game antigo era muito ingrata e instável, com níveis curtos e longos se alternando sem aviso, com alguns trechos mais apelativos escondidos em algumas esquinas sem aviso prévio. Especialmente por isso, apesar de todas as atualizações, é melhor abordar o remake com a ótica da nostalgia, e não tentando compará-lo a outros jogos de plataforma mais recentes e bem-sucedidos.
Até alguns recursos de outros remakes modernos são implementados de forma um pouco atabalhoada por aqui. Por exemplo, a já citada transição entre o visual moderno e clássico é algo que deveria acontecer instantaneamente, como em Diablo 2 Resurrected, e não através de uma tela de transição que dura quase um segundo.
Especialmente porque, nesse meio tempo, os objetos e inimigos do jogo continuam se movendo. Então, caso você tente mudar entre as diferentes versões do jogo em uma área perigosa, é quase certo que o herói vai perder uma vida sem aviso, o que pode ser frustrante.
Tradição vs. modernidade
A nova direção de arte também tem os seus pontos altos e baixos. Alguns níveis se beneficiam bastante dos detalhes extra que foram adicionados aos cenários de fundo, que agora mostram cachoeiras ou muralhas em chamas. Mas outros, especialmente nos cenários das cavernas, erraram um pouco em suas escolhas de cores.
Mais de uma vez acabei batendo a cabeça no teto e errando um pulo por pensar que ele era apenas cenário de fundo, e não um objeto intransponível. O pior é verificar a versão original e notar que, lá, a distinção entre o fundo e os objetos na mesma dimensão do Alex Kidd era perfeitamente evidente! Nem todas as releituras das melodias clássicas acertam em cheio também, e seria legal poder jogar com o visual moderno e músicas 8 bits de fundo misturadas.
Para piorar, a versão final do jogo conta com alguns pequenos bugs e glitches inconvenientes. Ao longo de três zeradas, acabei esbarrando com um travamento completo do sistema que me obrigou a recomeçar uma fase do zero, além de morrer sem explicação em duas ocasiões. Em uma delas, um pedaço inofensivo do terreno tirou a minha vida mesmo sem nenhum inimigo por perto, mas imagino que isso possa ser resolvido facilmente com patches.
Vale a pena?
Entre erros e acertos, Alex Kidd in Miracle World DX consegue se apoiar na nostalgia dos jogadores mais velhos para provar o seu valor. Se você sente saudades do clássico de Master System, essa é uma ótima forma de revisitar memórias queridas em grande estilo, mas os jogadores mais jovens provavelmente vão estranhar o quão datado e obtuso o design geral do jogo pode ser, com níveis de duração e dificuldade bem díspares. Ainda assim, o remake acerta o bastante para garantir boas horas de diversão aos entusiastas do gênero!
Alex Kidd in Miracle World DX resgata os problemas e virtudes do original com muita nostalgia
Nota Voxel: 80
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