Ratchet e Clank já são figurinhas carimbadas nos consoles da Sony desde o Playstation 2. A dupla surgiu em 2002 e se tornou mascote da marca, cativando adultos e crianças com games de plataforma e ação que focam muito bom humor, personagens carismáticos e uma jogatina gostosa sem compromissos.
Quase 20 anos se passaram, e os heróis estão de volta, agora com uma missão especial, tanto no game quanto na vida real. Enquanto no jogo, eles devem parar de vez os planos malignos do Dr. Nefarious, na vida real o novo título da série tem a missão de mostrar ainda mais o poder do SSD ultrarrápido do PS5 e outras características que o console pode oferecer.
Como está o jogo? Vale a pena comprar? O game é tão legal quanto os trailers mostraram? As respostas dessas e de outras perguntas vocês vão saber agora.
Confira também nossa análise em vídeo:
Um pouco de história
Ao contrário do que muitos podem pensar, Rift Apart (Em Uma Outra Dimensão) não é uma continuação do remake do jogo de 2016, mas sim, das aventuras da dupla em Ratchet & Clank: Into The Nexus, lançado para o Playstation 3 em 2013.
Para situar todos, vou contar um pouco do contexto do game. Ratchet é um mecânico habilidoso da raça Lombax que sonhava em ser um herói e em encontrar outros seres de sua raça, já que era o último. Ele viu uma oportunidade ao entrar para um grupo de heróis, conhecido como Patrulheiros Galáticos, e durante essa jornada conheceu o robozinho Clank.
Muito tempo e muitas aventuras se passaram e, agora, os dois se encontram em uma parada gigantesca para comemorar. No fim, Clank espera presentear seu parceiro de longa data com um aparelho chamado Dimensionador. Essa máquina permitirá que Ratchet viaje pelas dimensões para finalmente encontrar outros Lombaxes. Contudo, o Dr. Nefarious invade a festa, rouba o Dimensionador e causa um fuzuê no espaço-tempo. Agora, a dupla deve seguir o vilão pelas dimensões e pará-lo.
O belíssimo universo de Ratchet & Clank
Logo ao iniciar a aventura, somos surpreendidos pela belíssima ambientação. Importante aqui, essa análise foi feita no modo FIDELIDADE, que prioriza o visual do game que é um show. Esse é o único modo disponível antes do update de Day 1, no qual serão adicionados o Performance e o Performance RT.
No modo Fidelidade, temos uma resolução 4K rodando em 30 FPS e, com todos os recursos gráficos ativados, como ray tracing, iluminação aprimorada e efeitos visuais adicionais.
Dá para ver cada pelinho do rosto de Ratchet, o reflexo da luz no metal de Clank, mas o destaque vai para a ambientação cheia de NPCs, extremamente colorida e com muitas partículas na tela, desde confetes sendo jogados pela multidão até os pedaços das caixas que quebramos para coletar os parafusos, que é o “dinheiro” do jogo.
O que nos faz querer usar o modo foto quase o tempo inteiro, falando nisso, esse modo é tão completo quanto o do jogo do Homem Aranha, oferecendo até criação de pontos de luz.
O Ray Tracing é quase impecável, essa é com certeza a melhor demonstração dessa tecnologia no PS5, com reflexos de raios de luz que espelham tudo ao redor e iluminação global, criando um ambiente bem realista, rebatendo diversas fontes de luz no cenário e até cores de objetos, trazendo uma simulação física, Em Ratchet & Clank de 2016, a ambientação já era bem bonita, mas o salto dado quando comparamos aqui é de cair o queixo.
Mas por que eu disse “quase” impecável? Bem, se eu quiser ser bem "cri-cri", dá pra dizer que alguns objetos dinâmicos, como as malas do primeiro planeta, tem reflexo “mais simplificado", se analisarmos bem, percebemos que apenas as silhuetas desses objetos estão refletidas, enquanto objetos estáticos do cenário, como as plantas, são refletidas com suas cores. Mas, como eu disse, é algo bem específico que só vendo o jogo quadro a quadro é realmente notável.
Resumindo, graficamente Ratchet & Clank é um jogo extremamente belo e que presta atenção nos detalhes, seja quando você está em um ambiente de cidade, cheio de luzes e neon, seja quando você está em um planeta mais selvagem e pantanoso.
Entretanto, por mais que as tecnologias avancem, os mundos se tornam muito mais estruturados e belos, temos SSDs, temos ray tracing, temos vários aspectos. Ainda não nos livramos das malditas paredes invisíveis. Sim, isso me irrita um pouco.
Um arsenal incrível
Continuando com a tradição dos jogos da franquia, Em Uma Outra Dimensão também oferece um arsenal muito legal, com 20 armas bem diferentes umas das outras. Snipers, torretas, lançadores de granadas, metralhadoras e escopetas espaciais fazem parte desse pacote.
Cada uma dessas armas conta com um sistema próprio de evolução com níveis, inicialmente chegam até o nível 5, o que modifica não só seu poder mas também o seu nome e sua aparência. Após terminar o jogo uma vez, é liberada a versão Ômega do arsenal, o que permite a evolução até o nível 10.
Usando um minério chamado raritânio, o jogador pode fortalecer cada arma da maneira que achar mais conveniente. Se você preferir poder de fogo, basta comprar os nodos de dano, se você quer atirar mais rápido, basta se ater aos nodos que oferecem mais cadência de tiro.
É claro que em determinado momento é possível upar completamente as armas, mas escolha da prioridade de o que upar é totalmente sua.
Como dito, isso já é de praxe na franquia, entretanto nesse jogo, por conta do Dualsense, temos novidades. Cada arma oferece uma sensação diferente no controle, as que contam com um estilo escopeta, por exemplo, fazem o periférico vibrar bem mais forte do que as outras ao disparar.
Armas que precisam carregar o tiro, como o Colisor Negatrônico, começam com uma intensidade de vibração bem leve até carregar completamente e soltar a rajada. Pode até parecer bobagem descrevendo, mas isso promove uma imersão muito legal ao game.
Os gatilhos adaptativos também recebem o holofote aqui. Algumas armas têm diferentes tipos de tiro, usando a Pistola de Rajada como exemplo, apertando o R2 só até a metade ela dá tiros cadenciados, com intervalos longos entre um e outro e bem precisos. Ao afundar o dedo no botão, a pistola atira de forma bem mais rápida, mas com uma piora na precisão.
Esse é só um exemplo, armas diferentes reagem de formas diferentes aos gatilhos adaptativos do Dualsense.
Uma nova protagonista
Ratchet & Clank: Em Uma Outra Dimensão tem outra novidade: uma nova protagonista, a lombax Rivet. Ela seria a contraparte dimensional de Ratchet, sendo bem parecida com ele, não só na aparência, mas também no jeito determinado e aventureiro.
O jogo é praticamente 50-50, em alguns mundos o jogador controla Ratchet, enquanto em outros controla Rivet, que dividem o mesmo arsenal, portanto ao evoluir as armas com um, o outro também terá acesso.
Ela é uma líder rebelde que luta para livrar sua dimensão do terrível imperador Nefarious, a contraparte do Dr. Nefarious. Então, ela é super-respeitada pelos membros da resistência apesar de esconder várias inseguranças.
Rivet tem uma evolução legal durante o jogo, podemos dizer que ela foi uma ótima adição para franquia e espero vê-la em futuros jogos. Sua presença no game é tão natural que, em alguns momentos, o jogador nem vai perceber se está jogando com ela ou com Ratchet. Contudo, esse pode ser seu maior problema: a garota poderia ter sido um pouco mais bem trabalhada, além das poucas diferenças físicas entre ela e Ratchet, os gameplays dos dois são quase idênticos.
Atravessando as dimensões
Agora, vamos falar sobre um dos aspectos mais importantes do game: as rachaduras dimensionais. O maior trunfo do game durante as campanhas de marketing da Playstation foi a possibilidade de atravessar o espaço-tempo utilizando um tipo de grappling hook.
Ao assistir a trailers e vídeos do jogo, parece que é um sistema que estará o tempo inteiro acontecendo, que a qualquer momento do jogo uma dessas rupturas vai aparecer e levar o gamer para uma outra dimensão, em um lugar completamente diferente e que dali ele vai continuar a fase até outra ruptura aparecer e assim por diante.
Bem, é mais ou menos isso, mas de uma maneira mais simples do que os trailers e os vídeos do jogo fazem parecer. Nas fases, existem dois tipos de rupturas.
Amarelas: Fazem chegar de um ponto a outro instantaneamente, quase como um teleporte.
Roxas: Essas são bem mais interessantes, elas te transportam para uma dimensão completamente diferente de onde o protagonista deve cumprir um desafio para ganhar uma parte de armadura.
Isso lembra BASTANTE as fases bônus nos games do Crash, aquelas que você pisa em uma plataforma com um ponto de interrogação e vai para uma área diferente.
O que é legal aqui é que isso ocorre instantaneamente, sem a necessidade de uma tela de carregamento, em um momento você está em uma dimensão e no outro você está em outra com uma estrutura completamente diferente.
Existem algumas fases ou momentos de perseguição que o jogador usa essas rupturas roxas para atravessar vários mundos de uma vez só. Contudo, são cenas scriptadas. Não deixa de ser sensacional, mas também não quer dizer que do nada em uma fase, vai ser encontrada uma dessas rachaduras e o gamer estará em outro planeta que pode ser explorado, não é assim que funciona.
Há dois planetas que permitem o jogador alternar entre duas dimensões usando uns cristais roxos, um deles é o Blizar Prime. Enquanto em uma das dimensões é um planeta que tem uma enorme fábrica de mineração; em outra, o local está completamente destruído e abandonado. A transição entre um mundo e outro é em um piscar de olhos, basta bater no cristal.
Esse tipo de transição, apesar de ser incrivelmente rápida e transformar o planeta inteiro, não é algo inédito. Se ela fosse feita do mesmo jeito que a da ruptura roxa, aí sim seria mais impressionante. Não me entendam mal, ainda acho incrível, e o jogo realmente mostra o poder do SSD do Playstation 5, mas eu esperava por algo mais impactante quando assisti aos trailers do game.
A dublagem
A dublagem em Ratchet & Clank não é novidade, o remake de 2016 foi totalmente localizado. Mas sendo um pouco chato aqui, a voz de Clank em inglês é bem mais chamativa e icônica, não que o trabalho de dublagem em português foi ruim, mas a voz do robozinho em inglês junto de sua risada metalizada me marcaram nos tempos de PS2 e PS3, achei que eu fosse me acostumar depois do game de 2016, mas me enganei.
Também acho que a voz do Ratchet não combina tanto assim com ele, mas nem de longe isso é um problema. Entretanto, as vozes de Rivet e do Capitão Quark em português brasileiro são até melhores do que as originais em inglês. No jogo do PS4, a voz do capitão já tinha dado um show, com entonações bem engraçadas.
Dificuldade e duração
Uma Outra Dimensão, assim como em outros jogos da franquia Ratchet & Clank, é um game para quem curte aquela jogatina descompromissada, quando você quer apenas relaxar a mente e se divertir com uma obra bem-humorada. É o mesmo sentimento de assistir a uma sitcom depois de passar horas assistindo a um filme mais cabeça. De maneira nenhuma isso é algo ruim.
Apesar dos minigames serem fáceis demais, eles são divertidos. Dando alguns exemplos: em um, o jogador toma controle de uma nanorobô chamada Glitch, que precisa lidar com um vírus de dentro de algumas máquinas; em outro, Clank precisa fazer suas “probabilidades dimensionais” chegarem até uma porta usando alguns artifícios pelo cenário.
Tem também uma arena que é possível visitar para ganhar prêmios vencendo alguns desafios, como derrotar chefes mais poderosos ou então hordas de inimigos, algo que também não é novo na franquia.
Entre a constante evolução do arsenal, idas e vindas em planetas para pegar colecionáveis (como os já conhecidos parafusos dourados), bem como adquirir mais dinheiro e raritânio para melhorar o arsenal, eu terminei o jogo em 15 horas. O que é um tempo bem interessante, levando em consideração que ainda existe um New Game+ que aumenta a dificuldade do jogo, permite a compra e evolução das armas Ômega, mas que não tem nenhuma diferença na história.
Vale a pena?
Ratchet & Clank: Em Uma Outra Dimensão é incrível, um jogo muito divertido para todas as idades. Por mais que ele tenha essa cara de jogo colorido voltado para o público infantil, qualquer pessoa vai se divertir nele. É o tipo de game que deveria vir junto do Playstation 5 para mostrar ainda mais o poder da nova geração. Esse jogo e o remake do Demon’s Souls e Spider-Man: Miles Morales foram os primeiros passos.
Em Uma Outra Dimensão apresenta transições rápidas de um mundo para o outro, nenhuma tela de carregamento, existe aquele loading disfarçado de cutscene, mas também são extremamente rápidos e feitos de maneira que fazem muito sentido com o que acontece na gameplay.
Uma qualidade gráfica sensacional com um uso muito bem feito de tecnologias como o Ray Tracing, Global Illumination e muito mais. É um jogo que empolga bastante para o que vai vir mais para a frente nessa geração.
Contudo, apesar da inserção de uma nova personagem, quem já jogou outros jogos da franquia Ratchet & Clank não vai achar muitas evoluções na gameplay. Por mais divertida que ela seja, ainda é mais do mesmo se levarmos em consideração as lutas com chefões ou contra hordas de inimigos e exploração dos cenários. Não estou dizendo que não há coisas novas, podemos usar a personalização de armaduras como exemplo disso. Porém, a adição da Rivet poderia dar um estilo de jogo diferente, mesmo ela sendo a contraparte dimensional de Ratchet. A garota poderia ter habilidades distintas, mas as diferenças entre eles ficam apenas no gênero, na cor e no fato de Rivet usar uma marreta como arma, e não uma chave inglesa como Ratchet. O que quero dizer: é uma ótima personagem, mas ela poderia ter sido ainda mais bem aproveitada.
O game ainda tem algumas arestas para reparar, como o reflexo dos objetos dinâmicos, paredes invisíveis chatas e hitboxes que não fazem sentido, mas nada disso tira o brilho desse jogo que abre muitas portas para os próximos exclusivos do PS5.
Jogo Ratchet & Clank: em uma outra dimensão, PlayStation 5
Em Ratchet & Clank explore novos locais e os já conhecidos, só que em outras dimensões! Com jogabilidade dinâmica, volte para casa um incrível arsenal e experimente a mistura de fendas dimensionais.