A emoção de visitar um fliperama já é uma memória distante para a maioria dos jogadores, e muitos de nossos leitores sequer devem saber como era ter que usar fichas em trocas de continues, nem mesmo conhecer a adrenalina de ser abruptamente desafiado por um estranho em seu jogo de luta favorito.
Os fliperamas eram um espaço social único e vibrante e representaram um capítulo crucial na história do desenvolvimento do mercado de video games. Berço de algumas das maiores franquias da história, eles realmente são algo digno de ser preservado em museus, e até por isso é tão legal vê-los sendo tão bem tratados no Capcom Arcade Stadium.
Diversão em pacotes
Revelada de surpresa durante a apresentação do The Game Awards 2020, a coletânea chegou primeiro ao Nintendo Switch em exclusividade temporária, mas logo receberá versões para PC, PlayStation 4 e Xbox One. Em sua forma atual, ela abriga nada menos que 32 clássicos dos video games espalhados por três pacotes.
O download do launcher é grátis e traz o jogo 1943, mas o resto do conteúdo precisa ser adquirido à parte.Fonte: Capcom
Dawn of the Arcade é focado nos jogos lançados entre 1984 e 1988 (Vulgus, Pirate Ship Higemaru, 1942, Commando, Section Z, Trojan, Legendary Wings, Bionic Commando, Forgotten Worlds e Ghouls 'n Ghosts), enquanto Arcade Revolution traz os títulos disponibilizados entre 1989 e 1992 (Strider, Dynasty Wars, Final Fight, 1941: Counter Attack, Mercs, Mega Twins, Carrier Air Wing, Street Fighter II, Captain Commando e Varth: Operation Thunderstorm).
Por fim, a Arcade Evolution apresenta os jogos mais recentes, lançados entre 1992 e 2001 (Warriors of Fate, Street Fighter II Turbo: Hyper Fighting, Super Street Fighter II Turbo, Armored Warriors, Cyberbots: Fullmetal Madness, 19XX: The War Against Destiny, Battle Circuit, Giga Wing, 1944: The Loop Master e Progear). Cada pacote custa R$ 62 na eShop nacional, mas também pode-se pagar R$ 169 pela coleção completa.
Cada jogo da coletânea é representado pelo próprio gabinete no menu principal.Fonte: Capcom
Logo ao baixar o game, o jogador recebe gratuitamente 1943 – The Battle of Midway, enquanto Ghosts ‘n Goblins foi disponibilizado grátis por tempo limitado, mas hoje custa R$ 8 e pode ser comprado individualmente. Apesar de o momento atual ser bem complicado para a economia nacional, o valor cobrado parece um tanto salgado se levarmos em conta o quão curtos a maioria desses fliperamas costumam ser, ainda mais quando abusamos dos créditos infinitos para progredir rapidamente neles.
Um tempero de modernidade
Ao iniciar o Capcom Arcade Stadium, o player é recebido por um belo menu formado por dezenas de gabinetes enfileirados. Cada um deles está rodando um dos jogos da coleção, então é possível dar um pequeno passeio enquanto se escolhe o que vai jogar a seguir. Certamente, é uma apresentação simpática e imersiva o bastante, em especial por ser bem integrada ao layout visto nas sessões de gameplay.
Como os jogos foram originalmente lançados em baixa resolução, algo totalmente incompatível com os televisores mais modernos, a Capcom precisou dar um jeitinho para replicar a experiência original sem muita perda de qualidade. Além dos diferentes filtros de imagem já vistos nas outras ótimas coletâneas da mesma produtora, por padrão começa-se a jogar em uma tela diminuta, já que quase todo o resto do espaço é ocupado por uma réplica de gabinete, como mostrado na imagem abaixo.
O layout padrão é bastante imersivo, mas o jogo ocupa uma parte muito pequena da tela e é preciso forçar um pouco a vista.Fonte: Capcom
Se o jogador não gostar desse estilo de jogo, basta pausar a partida e, em poucos cliques, experimentar as várias combinações entre diversas molduras e formas de esticar a imagem, até mesmo podendo inverter a orientação da tela de jogo. Contudo, o seu controle vai muito além de ditar alterações técnicas e cosméticas.
Em todos os títulos, é possível alterar a velocidade da ação com apenas um botão, desacelerando ou acelerando a gameplay, ou mesmo rebobinando para desfazer os erros cometidos. Também é possível gravar o progresso a qualquer momento, embora o sistema de slots de gravação seja um tanto inconveniente, já que todos os jogos compartilham a mesma "pasta" de salvamento.
Por exemplo, o slot 1 pode ter um save de Forgotten Worlds e, então, sobrescrevê-lo com um save de Ghouls 'n Ghosts. Seria melhor se cada jogo tivesse a própria pasta interna de salvamentos, até mesmo para evitar salvar acidentalmente por cima de outro jogo sem querer, o que acabou acontecendo comigo nas primeiras horas de gameplay, antes de me acostumar com o estranho sistema.
Cada game da coleção permite salvar e carregar o progresso onde e quando quiser.Fonte: Capcom
Essa escolha é ainda mais intrigante se levarmos em conta que, ao tentar dar load em um save, a tela só exibe as gravações do próprio jogo que está rodando. Ou seja, o carregamento é mostrado isoladamente, o que é bom, mas na hora de gravar o progresso é tudo compartilhado. Desnecessariamente confuso!
Merecia ainda mais variedade
Outras modernidades foram mais bem implantadas, como um sistema online de placares de liderança, no qual pode-se comparar o resultado com o dos amigos ou de jogadores de todo o mundo. Também há um sistema de conquistas internas, além de desafios únicos para cada jogo e Weekly Challenges que a Capcom disponibiliza semanalmente, como o próprio nome indica.
Também é divertido acompanhar o sistema interno de pontuação compartilhada, que premia o perfil com mais pontos conforme se joga mais e mais dos diferentes títulos, dando uma boa sensação de progresso e fazendo o jogador se sentir gratificado puramente por explorar a rica biblioteca da coleção.
Como se trata de uma coletânea relativamente grande, é possível separar os jogos de diferentes formas, como gênero ou data de lançamento, com direito a um filtro que destaca os favoritos. Não cabe aqui discutir a qualidade de cada um dos jogos presentes no Capcom Arcade Stadium, mas a sensação é de que há uma boa variedade de opções para todos os gostos.
É possível customizar a tela de jogo com diferentes molduras ou esticar a imagem.Fonte: Capcom
O principal complicador aqui é que vários jogos foram disponibilizados em outras coletâneas, mas, mesmo que você as ignore totalmente, há certa redundância na seleção do catálogo. Embora gosto seja por natureza algo subjetivo e que varia entre cada pessoa, os três pacotes atualmente à venda parecem um tanto desequilibrados em suas ofertas.
Há um claro excesso de shmups muito similares entre si, enquanto os fãs de jogos de luta não recebem muito além de Street Fighter II em várias versões. Precisávamos mesmo de tantas edições dele quando a série já recebeu inúmeros relançamentos e coletâneas próprias? Não seria melhor trocar algumas versões por fliperamas como Darkstalkers The Night Warriors (1994) ou Mega Man The Power Battle (1995)?
Veredito
Capcom Arcade Stadium é uma ótima forma de conhecer uma parte da riquíssima história da desenvolvedora nos fliperamas, com direito a uma interface inteligente e bem trabalhada, além de boas ferramentas para ajudar os jogadores, como a manipulação da velocidade de jogo e a possibilidade de gravar o progresso quando quiser. Ainda assim, a biblioteca é vendida em pacotes de qualidade bem díspar, com direito a profundas redundâncias. Street Fighter II é um clássico absoluto dos video games, mas precisava mesmo ocupar 5 dos 32 jogos disponíveis? Ainda assim, trata-se de uma linda e divertida celebração dos jogos retrô.
Nota: 82
Pontos positivos
- Boa emulação dos jogos clássicos
- Um ótimo passeio pela história da Capcom
- Vários filtros de imagem e diferentes layouts
- Possibilidade de manipular a velocidade do jogo
- Divertido sistema interno de pontuação e desafios
Pontos negativos
- Sistema de saves desnecessariamente confuso
- Falta de variedade nos jogos de luta
- Pacotes à venda com curadoria questionável
Capcom Arcade Stadium é uma ótima porta de entrada para a rica história dos fliperamas
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