A Ubisoft não deu muito espaço para a gente respirar entre Watch Dogs: Legion, Assassin’s Creed Valhalla e, agora, Immortals: Fenyx Rising, lançados num curto intervalo de tempo, cada qual com um imenso mundo aberto a ser desbravado.
Conhecido originalmente como Gods and Monsters, Immortals: Fenyx Rising é um passeio por fórmulas conhecidas do gênero, mas nem por isso cai na zona de conforto: as tentativas de oferecer uma experiência com personalidade própria existem dentro de um conjunto familiar e amigável, especialmente aos fãs de Zelda: Breath of the Wild e da mitologia grega.
Confira a videoanálise completa abaixo:
Já te vi e quero ver mais...
A mitologia grega reúne uma enciclopédia de conteúdo desfrutável em qualquer mídia. Nos games, nomes como Age of Mithology, Rise of the Argonauts, Assassin’s Creed Odyssey e, é claro, God of War, entre diversos outros, usam essa roupagem para contar histórias fantásticas sobre deuses, titãs e outras lendas aos jogadores.
Immortals: Fenyx Rising é um novo frescor a esse universo, só que sem o mesmo tom conspiratório, representado, aqui, de forma cartunesca, lúdica e amigável. O primeiro aspecto notável da narrativa é justamente a falta de seriedade dela: Zeus, Prometeu, Ares, Afrodite, Hefesto e outras divindades mitológicas proferem frases cômicas sobre sua própria existência, como se brincassem com todo esse tom adulto que o tema costuma destilar. O jogo tira uma onda com as próprias características desses personagens.
A duração do game depende do quanto você está a fim de explorar
Nesse contexto, você é o Fenyx ou a Fenyx, um mortal que deve enfrentar a ameaça do Tifão, responsável por distribuir soldados, monstros e outras aberrações pelo mundo, bem ao estilo do Ganon visto em Breath of the Wild. O seu personagem principal pode ser moldado num modesto criador desde o início da jornada – nada para gastar muito tempo, apenas o básico do visual.
Por falar em Zelda, Immortals é abertamente inspirado na franquia da Nintendo, desde a concepção visual, lotada de cores quentes e misturadas, até travessias, superfícies escaláveis, combate e resolução de enigmas nos abismos do Tártaro, que inclusive requerem a habilidade de levitar objetos.
-Fonte: Bruno Micali/Voxel
Boas ideias, personalidade própria
Eu vejo que toda e qualquer boa inspiração é válida: qual o problema de se espelhar numa obra-prima como Breath of the Wild? Até o vilão é introduzido num ritual parecido: ele fica ali, ao centro do mapa, acessível a qualquer momento da aventura, sem qualquer linearidade ou ordem específica de fatos e missões. Essa é uma rota que você, jogador, define. A duração do game depende do quanto você está a fim de explorar.
Some a isso Assassin’s Creed, Horizon: Zero Dawn, God of War, um cadinho de Darksiders e você tem, como filho, Immortals: Fenyx Rising. É possível domar animais, invocar sua montaria quando quiser, alcançar e escalar absolutamente tudo que estiver visualizável aos olhos e, com o tempo, aprimorar essas habilidades, ampliando os limites de cada uma delas, além, é claro, de aprender novos movimentos e golpes especiais.
Mundo aberto sem “inchaço” – mas formulaico
Além de se embrenhar com os deuses em missões de alta patente, Fenyx pode se envolver em inúmeras atividades pelo mundo aberto – não tão inchado quanto o de Assassin’s Creed Odyssey, Origins ou Valhalla, por exemplo, mas generoso o suficiente para te ocupar por boas 60 horas ou mais.
As tarefas não são exatamente inéditas, mas fazem bom uso da roupagem de Immortals. Aqui, você pode:
- Controlar a trajetória da flecha para acender altares;
- Posicionar esferas da constelação a partir da resolução de enigmas e do poder de levitar objetos;
- Realizar rápidas travessias por trechos específicos, inclusive planagem;
- Atravessar Câmaras do Tártaro e resolver uma série de quebra-cabeças lá dentro;
- Encontrar criaturas lendárias e mais.
Além dessas atividades, existem mosaicos que devem ser montados a partir do encaixe correto de peças.
As criaturas raras – ou exóticas, se você preferir – também não são novidade, mas podem se apresentar ao jogador de maneira completamente inusitada. Eu fiquei agradavelmente surpreso quando vi Alectrião, o Galo Lendário, acompanhado de seus fiéis escudeiros, menores, num combate lotado de diálogo que a todo tempo se esforça para ser engraçado.
-Fonte: Bruno Micali/Voxel
É tudo muito legal e diversificado, mas não se engane: o ciclo formulaico do mundo aberto da Ubisoft recai aqui como recairia em qualquer outro título com tal proposta. A essa altura do campeonato, eu diria que é inevitável.
Combate e progressão
Eu não poderia deixar de mencionar outro ingrediente marcante nessa mistura de fórmulas familiares que Immortals tem: a receita Souls. Ela se faz presente em diversos inimigos que têm imensa barra de vida e combinações específicas de movimentos que exigem um estudo mínimo do jogador. É leve e equilibrado, em sintonia com o tom do jogo.
O sistema de progressão é multifacetado: tudo pode receber upgrades ao longo da aventura, o que convida o jogador a conhecer as atividades disponíveis no mundo, uma vez que elas dão recompensas diferentes.
Immortals reserva momentos que certamente fazem os fãs de God of War se sentirem homenageados
Existem monumentos gigantescos que representam os deuses em Immortals. Essas estátuas têm altura de arranha-céu e devem ser escaladas até o topo para que a região seja observada.
-Fonte: Bruno Micali/Voxel
São momentos que certamente fazem os fãs de God of War se sentirem homenageados. Cada cantinho desse mundo reserva sua própria estética, com inimigos, animais e atmosfera exclusivos.
Bem-humorado, beleza – até demais
O “excesso de humor”, assim, entre aspas, cansa um pouco de vez em quando, pois o jogo força tentativas de graça a todo momento. É claro que isso é válido, mas nem sempre a piada é boa, correto?
Além disso, existem alguns probleminhas pontuais de frame-pacing, quando a tela dá rápidas travadas em sequência, que precisam ser corrigidos por meio de atualizações. O jogo foi analisado num PS5 e aproveita alguns dos recursos do DualSense, principalmente quando você usa o arco e percebe que os gatilhos respondem com vibrações diferentes.
-Fonte: Bruno Micali/Voxel
Veredito
Immortals: Fenyx Rising é diferente e, ao mesmo tempo, familiar. Ele aposta em boas ideias e aqui entre nós? Entre Watch Dogs Legion e Assassin’s Creed Valhalla, Immortals é o mais interessante dessa trindade que a Ubi disparou em curtos intervalos.
É um experimento que, num certo ponto, entra no “ciclo Ubisoft” e cai no sistema formulaico que a gigante implementa em suas franquias, mas reserva iniciativas mais cativantes e até um tom de ousadia para tratar a mitologia grega com tanta serenidade. A dublagem em português brasileiro ajuda a impulsionar essa energia e, unida ao conjunto da obra, dá essa cara de aventura a ser curtida nas férias.
Immortals: Fenyx Rising brilha pelo combate, concentrado nos botões de cima e nas habilidades especiais, e por suas inspirações, que regem essa orquestra de maneira inusitada, embora previsível. Às vezes tem umas piadinhas que entram por um ouvido e saem pelo outro, mas o visual compensa isso. Na verdade, compensa qualquer outra coisa.
Immortals: Fenyx Rising foi gentilmente cedido pela Ubisoft para a realização desta análise
Immortals: Fenyx Rising é uma união de ideias familiares, mas tem identidade própria e, mesmo diante da imperfeição, reluz com o principal: diversão
Nota: 80
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