Marvel's Spider-Man foi um grande sucesso. O game desenvolvido pela Insomniac conquistou milhões de jogadores pelo mundo com uma história original que não dependia de qualquer universo Marvel para existir. Agora, 2 anos depois, a desenvolvedora traz de volta um dos heróis mais populares do mundo, mas com outra identidade por baixo da máscara, e Peter Parker sai de cena para que os holofotes se voltem para Miles Morales.
Como muitos sabem, é um game stand alone, o que significa que não é uma expansão que precisa de um jogo base para funcionar nem um triple A completo. Se fossemos comparar com o mundo da TV, seria tipo um spin-off, uma daquelas séries que surgem a partir de outra que fez muito sucesso, como Better Call Saul é para Breaking Bad ou Young Sheldon é para Big Bang Theory; você não precisa ver uma para entender a outra, mas fica bem melhor se tiver assistido.
Um stand alone é menor do que um game triple A completo, mas isso não quer dizer que ele seja de qualidade inferior, e sim que tem menos conteúdo. Se jogarmos Spider-Man: Miles Morales direto, sem nos preocuparmos com missões secundárias e atividades de Nova York, é possível terminar a história principal entre 8 e 10 horas, dobrando se decidirmos buscar a platina.
A história
Miles Morales não tem uma história impressionante digna de grandes narrativas, mas faz muito bem apresentando o novato à vida como o novo amigo da vizinhança. Peter faz o possível para treinar o garoto e torná-lo um herói tão bom quanto o Spidey mais velho. Mas, assim como Peter quando era mais novo, Miles às vezes deixa as emoções falarem mais alto e acaba cometendo alguns erros de principiante. Contudo, Peter parece ser um mestre paciente e ajuda o garoto a dominar seus poderes.
Após uma boa briga contra Rhino, conhecemos um pouco mais dos inimigos que iremos enfrentar nesse novo capítulo. Primeiro, é claro, temos a Roxxon, uma empresa de energia que acaba levando a questão da "segurança" da população longe demais e deixando o poder subir à cabeça.
Do outro lado está o Underground, um grupo ativista que apesar de se opor à Roxxon não é flor que se cheire. Eles contam com aparatos tecnológicos de primeira e são liderados por um mascarado perigoso conhecido como Thinkerer.
A história gira em volta do Newform, uma fonte de energia alternativa limpa descoberta pela Roxxon e da qual por algum motivo o Underground quer se apoderar. Não vamos nos aprofundar muito nisso para não dar spoilers do game.
Fora do ambiente de vilões, há vários personagens importantes que dão mais profundidade à história, como a mãe de Miles, Rio, a melhor amiga Phin, o melhor amigo Ganke Lee e o tio Aaron Davis, que acaba sendo um mentor para ele.
É claro que não podemos nos esquecer de J. Jonah Jameson, que volta com seu programa de rádio, digamos, irreverente, mas com uma coisa que consideramos um grave problema: o dublador de Jonah mudou, e para pior. Não que o profissional tenha feito um trabalho ruim, mas a voz escolhida não tem a ver com o personagem; o modo como ele fala com o estagiário Jared, por exemplo, não é tão engraçado como no game de 2018, o que acabou fazendo que perdêssemos o interesse em ouvir os programas.
Performance
Spider-Man: Miles Morales segue os moldes de Marvel's Spider-Man. Todo o mecanismo delicioso de se balançar pela cidade é simplesmente incrível, e quase não dá vontade de usar o sistema de viagem rápida, de tão boa e fluida que é a movimentação do Homem-Aranha entre os prédios de Nova York.
O game conta com duas opções de vídeo: modo Fidelidade, rodando o game a 30 fps, com ray tracing, iluminação melhorada e efeitos visuais adicionais, além de imagem com alta qualidade em resolução 4K; e modo Desempenho, que conta com 60 fps, mas sem recursos gráficos como ray tracing, iluminação melhorada e efeitos visuais adicionais e com técnicas temporais que fornecem uma imagem em 4K com resolução inferior.
Independentemente do modo em que você decidir jogar, saiba que o conteúdo é muito bonito e ganha aquele toque especial com o ray tracing ligado, que permite ver até o reflexo do Spidey nas janelas dos edifícios da cidade.
Voltando ao recurso de viagem rápida, quase não dá vontade de usar, mas o fato de não haver nenhum tipo de tela de loading a para se deslocar entre os diversos pontos do mapa dá um belo incentivo para ficar indo de um local a outro literalmente em um piscar de tela.
Uma coisa legal é que não sofremos em nenhum momento com quedas de frames. Mas nem tudo é festa, pois demos de cara com alguns bugs e travamentos e até foi preciso reiniciar o jogo — ainda bem que o reinício é bem rápido.
O modo foto está de volta. Quem passou horas tirando boas fotos no game anterior pode se preparar para ficar ainda mais tempo aqui, pois com diversos recursos de direcionamento de luz e sombra essa opção está bem mais robusta.
Um novo Spidey, as mesmas missões
Vamos para a maior diferença entre Marvel's Spider-Man e Spider-Man: Miles Morales: o protagonista. Miles tem alguns poderes de que seu mentor não dispõe, como bioeletricidade e camuflagem natural. Ele pode acabar com todos os inimigos em uma base ou missão sem ser visto; basta ter paciência para atacar nas brechas que os adversários dão e usar essa "invisibilidade" nos momentos certos.
Se o seu estilo não condiz com esse negócio de stealth, então é melhor passar para a pancada, e nada melhor do que carregar aquele socão elétrico na cara de um malfeitor. A combinação dessas novas habilidades somadas às que já conhecemos no Homem-Aranha tornam a pancadaria bem mais diversa, mas em detrimento de outro fator, os gadgets.
Apesar de Miles contar com disparadores de minas de choque, granadas gravitacionais e um dispositivo de hologramas, seu arsenal de cacarecos tecnológicos é bem menor em relação ao que Peter usava. Assim como no primeiro game, esses gadgets podem ser melhorados com fichas de atividades que são adquiridas cumprindo missões e fazendo objetivos secundários pela cidade.
Miles também tem outros trajes além do clássico vermelho e preto: 19, bem menos do que os 41 que Peter tinha, e isso influencia também no número de habilidades especiais oferecidas pelas roupas. Mas aqui as coisas são um pouquinho diferentes; enquanto no game de 2018 você escolhia um poder de traje e três modificações, agora é possível ter duas modificações de Visor e duas de traje, o que no fim não tem lá muita diferença.
É claro que isso sem contar a aba de habilidades do herói, que oferece outras possibilidades, como aumentar o número de barras de foco, que servem para curar como no primeiro game ou para usar os poderes elétricos. Ainda assim, a quantidade de coisas a menos que Miles tem à disposição pode pesar na hora de deixar os combates mais divertidos de maneira geral.
As missões disponíveis em Miles Morales não saem muito da zona de conforto do jogo de 2018. O protagonista conta com um aplicativo em que as pessoas podem reportar problemas na cidade, assim o cabeça de teia pode ir direto resolvê-los. Funciona como um mini-hub para selecionar atividades, e basta arrastar o toque para a esquerda no touchpad do DualSense.
Treinamentos de passar por aros usando teias, corridas contra o tempo para realizar certas atividades e encontrar caixas e colecionáveis estão no leque de possibilidades; o problema é que nada foi adicionado para dar uma pegada de novidade a esses objetivos. Isso é uma pena, pois uma missão diferente com outro personagem, por exemplo, como foi feito com MJ e até com o próprio Miles em Spider-Man, seria uma boa.
Vale a pena?
Spider-Man: Miles Morales não é nada muito diferente de Marvel's Spider-Man, fora o salto de geração, que é óbvio, oferecendo qualidade gráfica e performance muito maiores. Ele serve mais para vermos o que está por vir nessa franquia com o poder do PS5. E, acredite, pode ter muita coisa legal, já que o game tem uma cena pós-créditos que nos deixou empolgados para ver uma continuação do título principal.
Apesar de o jogo usar alguns dos recursos do DualSense, como os gatilhos adaptativos e o feedback háptico, essas sensações são bem menos perceptíveis do que em Astro's Playroom, mas com o tempo novos games vão utilizar melhor as features do controle.
Não vemos Miles Morales como um must-have ou um daqueles jogos quase obrigatórios, mas abre portas. Está longe de oferecer tanto conteúdo quanto o game de 2018, e até aí tudo bem, já que é um stand alone; entretanto, apesar de estar mais bonito e com performance melhor, custar R$ 250, sem a versão melhorada do jogo anterior, é meio surreal.
Ele até tenta prender o jogador com um New Game + que permite pegar três novas habilidades e um traje, mas em relação a conteúdo não adiciona muito.
Dito isso, é importante salientar que esse ponto não faz o jogo ser ruim, até porque não é um game completo, e sob essas condições é ótimo. Mas fica aquele sentimento de que por esse preço merecíamos mais.
Spider-man: Miles Morales foi gentilmente cedido pela PlayStation para a realização desta análise.
NOTA: 83
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