Spelunky 2 é brutalmente impiedoso e dá aula de roguelike

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Quando Spelunky foi lançado no longínquo ano de 2008, o game logo se tornou o suprassumo do gênero plataforma 2D pelo gameplay dinâmico, que, convenhamos, contribuiu para moldar o gênero roguelike que conhecemos hoje. Para bem ou para mal, Spelunky sempre foi impiedoso, um game que divide sentimentos: você vai amá-lo enquanto progride, mas odiá-lo a cada morte gratuita.

Se você acredita que os jogos da fórmula souls-like são punitivos o bastante, experimente se aventurar pelas cavernas de Spelunky para conhecer sensações ainda mais intensas de recompensa e frustração. Aqui, não há brecha para falhas, não há como se recompor de uma jogada ruim.

Spelunky 2, disponível para PS4 e PC em setembro de 2020, também segue a cartilha da base assentada em sua primeira versão. Sem se reinventar, o estúdio Mossmouth, a pedido dos fãs, resolveu turbinar a dificuldade com novos obstáculos, mapas e desafios, só que sem oferecer recursos adicionais para amenizar o gosto amargo de injustiça ao término de cada rodada.

Fonte:  Voxel 

Apesar de ser maior e melhor, o novo game não faz questão alguma de se desvirtuar de seu antecessor, o que é ótimo para acolher fãs da velha guarda, dos tempos áureos do primeiro jogo no PC e Xbox 360. No entanto, se você nunca foi muito fã de roguelike, saiba que Spelunky 2 não traz mudanças estruturais suficientes para fazê-lo mudar de ideia em relação à franquia (ou ao gênero em si). Confira as nossas impressões.

Brutalmente impiedoso

Sendo bem honesto: eu penei para chegar à segunda área, uma claustrofóbica gruta com rochas envoltas em uma belíssima manta de musgo e repleta de armadilhas de espinho. A sensação boa de ter alcançado uma nova região foi interrompida por uma morte banal, logo na entrada, o que me conduziu de novo ao ponto inicial da jornada, do zero, sem poder carregar qualquer item ou melhoria que eu havia conquistado para a minha próxima rodada. Confesso que eu sequer terminei Spelunky 2 para redigir esta análise, mas é aí que reside a magia desse game brutalmente impiedoso.

Fonte:  Voxel 

Se há uma história? Bem, Spelunky 2 tem, sim, uma narrativa que serve de pretexto para explorar cavernas, porém você nem vai lembrar dela depois de concluir os tutoriais. Em resumo, a aventureira Ana descobre um Olmec gigante na superfície da Lua, onde seus pais se perderam enquanto buscavam tesouros e segredos ocultos na caverna. A partir disso, a heroína encontra o diário perdido de seus pais e parte para encontrá-los, assumindo também o papel de espeleóloga.

O modo Aventura (o da missão principal) permite que até quatro jogadores, seja em cooperativo local ou online, entrem numa mesma partida. Você também pode jogar sozinho, é claro, sem ajuda, mas a experiência torna-se mais laboriosa que o normal. O gameplay rápido abraça a simplicidade e engana o jogador direitinho com sua atmosfera despretensiosa. O personagem pode pular, agachar, arremessar objetos e desferir golpes com um chicote à la Indiana Jones.

Fonte:  Voxel 

Embora não tenha comandos complexos a serem aprendidos no controle, Spelunky 2 gosta da ideia de complicar a vida do jogador com obstáculos imperdoáveis. À primeira vista, o título se assemelha a qualquer jogo de plataforma 2D padrão. Contudo, você só precisa de alguns poucos minutos para compreender que estratégia é mais importante que habilidade, do que ter um pulo preciso, por exemplo. É necessário pensar bem antes de avançar, pois um passo errado do herói pode custar a rodada toda.

Melhorias à fórmula enraizada

O título pode não ser o roguelike ideal para quem está começando agora, uma vez que ele não explica absolutamente nada sobre como vencer os obstáculos à frente. É na base da raça, da tentativa e erro, que o jogador deve descobrir as consequências de suas ações – muitos dizem que a prática é a forma mais efetiva de aprendizado, e Spelunky faz jus a esse método. Você vai descobrir, por exemplo, que pode domar animais para se locomover com mais facilidade pelos cenários, ou então exterminá-los para usar sua carne como meio de restabelecer seus valiosos pontos de vida.

Fonte:  Voxel 

Por falar nisso, a montaria é uma das grandes novidades do segundo jogo – e a meu ver a mais importante, ao lado de novos mapas e criaturas. Pelo fato de os cenários serem gerados de forma procedural, os animais nem sempre estarão presentes no mapa para serem adestrados (nesse caso, o personagem vai depender mais de sorte do que qualquer outra coisa). Os bichos absorvem dano pelo herói e concedem a habilidade de pulo duplo, além de terem padrões únicos de ataque.

A inclusão das montarias garante uma camada extra de profundidade, um novo modo de desbravar as temerosas dungeons, como se a jogabilidade de Spelunky 2 já não tivesse muitas nuances. Para falar a verdade, eu não lembro de outro roguelike que ofereça tantas opções para se resolver um mesmo desafio – dinâmica é a palavra que melhor define a minha experiência com o game.

Fonte:  Voxel 

Spelunky 2 é um roguelike enraizado, ou seja, ele não embarca na onda de jogos recentes do gênero, como Hades e Dead Cells, em que é possível aplicar melhorias permanentes ao personagem. Se você morrer, precisará recomeçar liso, do zero, sem dinheiro nem item. O que você pode fazer durante a jogatina é utilizar a matéria-prima adquirida pelo mapa para desbloquear armas e habilidades. Portanto, o seu herói não ficará desamparado, só que perderá  tudo se cometer algum deslize. E é justamente essa característica do game que, querendo ou não, vai afastar muita gente.

Spelunky 1.5

Além do modo “Aventura”, o título traz desafios diários, em que o jogador tem somente uma chance de cumprir essas atividades. Essa é uma mecânica que o jogo utiliza para que você se sinta estimulado a retornar às cavernas todos os dias. Já no modo “Arena”, o objetivo é vencer outros usuários (que podem ser substituídos por bots) em partidas com regras específicas. Em outras palavras, o “Arena” nada mais é do que um multiplayer local com dois modos – “Segure o Ídolo” e “Mata-mata” –, sendo uma ótima forma de espairecer depois de algumas horas na penosa jornada principal.

Fonte:  Voxel 

Com relação ao visual, a charmosa estética 2D da primeira versão foi reaproveitada, só que agora conta com personagens e inimigos redesenhados. Os aprimoramentos gráficos foram pontuais, é verdade, mas imagino que seja difícil mexer de modo substancial em algo que já é excelente. A sensação de déjà-vu é inevitável, mas não há nada de errado com isso.

Veredito

Compor um veredito para Spelunky 2 não foi tão simples quanto parece. Trata-se de um dos melhores roguelikes da atual geração, praticamente sem defeitos, mas que não traz qualquer resquício de acessibilidade para atrair marinheiros de primeira viagem. Cravar se vale a pena ou não vai depender mais do quão aberto você está em dar uma chance a um game cruel e inflexível com falhas. Muitos jogadores sequer serão capazes de alcançar o final, porém, o caminho até lá, ainda que custoso, já é o bastante para tornar a experiência memorável – pelo menos aos mais persistentes.

Spelunky 2 foi gentilmente cedido pela Mossmouth para a realização desta análise

NOTA: 90

"Cruel e inflexível com falhas, Spelunky 2 robustece o conteúdo do primeiro, mas continua inacessível ao jogador sem experiência no estilo roguelike"

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