Lembra quando a Ubisoft apresentou o jogo Gods & Monsters lá na E3 2019? Não se sinta culpado caso tenha esquecido já que, desde então, muito pouco tinha sido mostrado sobre o jogo, ao menos até descobrirmos que ele foi rebatizado para Immortals Fenyx Rising.
Mas o nome não foi a única alteração desde aquele primeiro e breve trailer: sua direção de arte também parece ter sofrido muitas mudanças desde então, e pudemos conferir como ficou tudo isso em primeira mão graças a um convite da Ubisoft, que cedeu ao Voxel a chance de jogar o game desde o início por quase cinco horas ininterruptas.
O filho de Zelda e Assassin's Creed Odyssey?
Na mitologia grega, era comum encontrar histórias sobre Zeus descendo à Terra para épicas aventuras românticas, gerando filhos e filhas quase tão lendários quanto o seu criador. Immortals poderia muito bem ser parte de uma história assim, pois ele parece ter herdado "poderes" de duas figuras importantes no Olimpo dos Games.
Immortals Fenyx Rising pega muitos elementos de Zelda e Assassin's CreedFonte: Ubisoft
Sua maior e mais notória influência é The Legend of Zelda: Breath of the Wild, algo que não é nem um pouco sutil, como explicaremos melhor a seguir, mas também há bastante do último Assassin's Creed em seu DNA. Não apenas pelo óbvio contexto mitológico que cerca as duas obras, mas sim pela própria estrutura do jogo, seu mundo e missões.
No vasto mapa de Immortals, há vários desafios e personagens para conhecer, uma tonelada de missões paralelas para concluir e colecionáveis em cada canto para garantir a compra de novos poderes e melhorias de equipamento. Há tantas melhorias obtidas logo de cara que o ritmo inicial do jogo chega a ser engraçado: é como se você ganhasse um novo poder a cada missão concluída!
Faça a sua lenda
A primeira coisa que você faz ao iniciar um jogo é criar a sua própria versão da protagonista Fenyx. Você pode optar por um corpo mais musculoso e masculinizado, ou então por traços mais femininos, mas todo o sistema de criação evita limitações de gênero, e você pode criar o tipo de herói que quiser, desde uma mulher barbada até um marombeiro com voz feminina. É bem legal experimentar e brincar um pouco ali!
A protagonista Fenyx pode ter o visual que você quiserFonte: Ubisoft
E não precisa se preocupar caso pare de gostar do personagem que criou, já que o jogo apresenta uma solução bem humorada para esse problema um pouco mais adiante, quando você tem acesso ao mundo principal e encontra uma mesa de cirurgia plástica, algo "muito usado pelos deuses quando precisam vir à Terra com outra identidade", como explica um aliado.
O humor, aliás, é algo bem presente no jogo, o que me agradou bastante. Immortals Fenyx Rising faz uso de um sistema de narrativa bem esperto, já que toda a sua trama é narrada através de interações entre Zeus e Prometeu, que estão preocupados com a ameaça do principal antagonista, Tifão. Sempre que a protagonista faz algo digno de nota, uma narração em off da dupla faz considerações espertinhas sobre os eventos.
Assim, o tom da história encaixa bem com o visual mais cartunesco e colorido da jornada mitológica. Como alguém que curte bastante ler e ver obras focadas na mitologia grega, essa abordagem me agradou muito mais do que o excessos vistos em franquias como God of War. Ao invés de se limitar a banhos de sangue e ultraviolência, Immortals trabalha os personagens e se preocupa em deixá-los carismáticos, com direto a algumas boas surpresas e reviravoltas pelo caminho.
The Legend of Ubisoft
Não é de hoje que os principais sucessos dos videogames, aqueles jogos que se mostram profundamente impactantes, bem recebidos pela crítica e donos de grandes vendas servem como exemplo para outros produtos. Desde seu lançamento em 2017, The Legend of Zelda Breath of the Wild provou ser um desses títulos, e Immortals não hesita nem um pouco ao beber de sua fonte.
As lutas contra chefes divertem, mas não são particularmente marcantesFonte: Ubisoft
É até complicado destacar as principais similaridades entre tantas. A forma como Fenyx corre e escala montanhas, com um medidor de fôlego que vai sendo drenado aos poucos, é uma cópia escarrada do sistema de BOTW. Da mesma forma, aos poucos a heroína vai obtendo novos equipamentos, como o poder de alcançar objetos ao longe e então arremessá-los, de forma profundamente similar ao clássico moderno da Nintendo.
Espalhadas pelo mundo, várias fendas oferecem dungeons em miniatura, com estrutura muito, muito parecida com as shrines. Algumas delas possuem chefes, outras escondem enigmas ambientais, como encaixar grandes esferas em buracos do cenário, exatamente como já vimos no jogo da Big N. Particularmente, não me incomoda em nada ver um jogo se inspirar fortemente em um dos melhores games de todos os tempos, mas não dá para deixar de comentar essas similaridades.
Até porque, diferente de Genshin Impact, em momento algum eu senti um clima de "bootleg", ou de uma cópia meio preguiçosa. Pelo contrário, a sensação que Immortals me passou foi a de coesão e propósito, como se as mecânicas de BOTW realmente encaixassem bem no jogo e aventura que a Ubisoft queria fazer. Então, mesmo cinco horas depois, eu ainda estava com vontade de continuar explorando o seu mundinho.
Alguns puzzles parecem até demais com o que foi visto em Breath of the WildFonte: Ubisoft
Vai engrenar ou vai cansar?
A nossa demonstração estava toda dublada e legendada em português, e a Ubi contratou ótimos dubladores conhecidos de filmes e desenhos animados para dar vida aos seus personagens, o que tornou as quests ainda mais agradáveis. O maior problema é que, da mesma forma que costuma acontecer em outros jogos da produtora. o mapa geral pode ficar um tanto... poluído demais?
Quanto mais o tempo passa, mais o seu hub parece completamente atolado de coisas para fazer, o que pode sobrecarregar um pouco o jogador que só queria ver como a história vai continuar. Conheço algumas pessoas que sentiram algo parecido ao jogar aventuras grandes demais como Assassin's Creed Odyssey, e o mesmo problema parece atormentar Immortals.
As primeiras 5h me divertiram o suficiente para querer ver o resto do jogo, mas também deram medo dele ficar repetitivoFonte: Ubisoft
Ainda assim, é curioso notar como a junção de todas essas virtudes e problemas conseguiu gerar uma obra instigante. Com um combate funcional e divertido, ótimo uso de elementos mitológicos, e um mundo vasto e repleto de possibilidades, estou curioso para ver como as horas seguintes de Immortals Fenyx Rising vão se desenrolar.