Lembro bem de 2002, ano em que o Brasil conquistou o pentacampeonato, e quando o recebemos a obra prima do Senhor dos Anéis, de J. R. R. Tolkien, nos cinemas. Porém, também foi quando curti Mafia pela primeira vez. E agora, 18 anos depois, tive o privilégio de jogar a nova versão feita pela Hangar 13.
Então, coloque seu chapéu de gangster, seu terno preto e prepare-se com esta análise para uma viagem no tempo, mais precisamente para o período em que as máfias italianas tomavam conta de alguns bairros dos Estados Unidos.
Vida pacata ou agitada?
Você é Tommy, um jovem taxista, que apesar das dificuldades, leva a vida numa boa. Já está acostumado a ser maltratado por clientes ranzinzas e que não possuem amor pela vida.
Entretanto, sua trajetória mudaria drasticamente de uma hora para outra, depois de estar no meio do caminho de duas famílias mafiosas da cidade de Lost Heaven: Salieri e Morello.
Uma das gangues invade seu meio de trabalho e te aponta uma arma na cabeça. Dirija! Sua especialidade é conduzir aquele táxi charmoso da década de 1930, mas desta vez você terá que pilotar seu carro da melhor maneira possível para não ser alvejado por tiros. Mas é bom ter êxito em sua jornada, senão seus passageiros não ficarão felizes. Resumindo, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.
Depois de escapar e ser recompensado pela tarefa, os pensamentos de Tommy Angelo se dividem em continuar com sua pacata vida de taxista ou ter uma vida luxuosa ao entrar no mundo da máfia. A escolha não parece difícil, já que o período compreende a Lei Seca e a Grande Depressão que assolou os Estados Unidos.
A história é basicamente a mesma da versão de 2002, com todos os ingredientes que marcaram o clássico. Por mais que a Hangar 13 tenha expandido, o arco principal da vida do taxista foi mantido. Inclusive, dá pra notar algumas mudanças nos diálogos antigos, com as inserções da empresa praticamente dobrando o tempo de jogo.
No clássico, a história poderia ser concluída em cerca de 15 horas, porém, em Definitive Edition, a possibilidade chega a praticamente 30 horas. Lógico que tudo vai depender do seu estilo do jogo, afinal, alguns preferem explorar tudo no mundo de Lost Haven, colecionando itens e conhecendo a cidade, e outros não.
Modo de jogo transforma game em sandbox
Quando Mafia foi lançado em 2002, o mundo dos jogos sandbox ainda era algo inimaginável, muito diferente do que acompanhamos atualmente em jogos como The Witcher 3 e GTA 5.
Mapas gigantescos e uma vasta possibilidade de vasculhar locais e itens era praticamente impossível, por isso é importante salientar que Mafia possui sua aventura dividida em capítulos e a progressão da história depende totalmente do término de cada objetivo.
Com a cabeça nos tempos atuais, a desenvolvedora implementou um modo chamado Direção Livre. A ideia foi excelente, principalmente para se notar todos os detalhes gráficos e a imersão apresentada, algo que detalharemos mais à frente. Porém, ele é chato e enfadonho, servindo apenas para passear, porque eu não consegui achar graça ao explodir coisas, metralhar a galera na rua, ou simplesmente colecionar revistas.
No menu inicial ainda existe a Veiculopédia. Nela, você poderá conferir os carros disponíveis para dirigir no jogo, assim como caminhões e motos. Tem até um caminhão de sorvete para fazer um test drive!
Um colírio para os olhos
Em Mafia Definitive Edition, encontramos o motor gráfico da Hangar 13, empresa responsável por remodelar todo o jogo, tanto na parte visual, quanto em suas mecânicas.
O engine é uma evolução do mesmo utilizado no terceiro título da série, que para quem se lembra, recebeu muitas críticas referentes à otimização, e o mesmo acontece com o título atual.
Mesmo testando em um computador com uma placa de vídeo RTX 2080ti e um processador i9 9900k, o gameplay de Definitive Edition tem quedas acentuadas de rendimento, em 1080p e 4k, quando as configurações estão no máximo.
Em 1080p, o jogo praticamente roda na média de 60 fps, mas apenas em locais fechados. No mundo aberto, algumas quedas chegaram até a 35 fps. Curiosamente, ao testar em 4k, o game rodou entre 40 a 45 fps de forma consistente e com poucas quedas no mundo aberto.
Nas animações, existe consistência de 60 fps tanto em 1080p quanto em 4k, mas as tremidas provocadas na tela chamam a atenção, e também eram notadas em Mafia 3.
Apesar dos problemas de otimização, o jogo ficou lindo. Vale lembrar que saímos de uma limitação de 1 Giga e 200 megas para um salto de 36 Gigas e 700 megas. É mais do que 30 vezes a capacidade gráfica do clássico.
Podemos dizer também que é louvável o trabalho feito pela Hangar 13, se levarmos em consideração o que realmente era o jogo. Provavelmente, o fato do título não ser uma conversão direta, mas sim uma recriação total, ajudou na execução desta obra prima. Provavelmente é um dos trabalhos mais bem feitos de recuperação de um título antigo para as gerações atuais.
Todos os detalhes estão presentes. É possível reparar na dedicação da empresa em cada particularidade, seja com o personagem principal ou com os coadjuvantes. Carros, armas e objetos possuem um nível que eu jamais imaginaria ver.
É preciso destacar, que independentemente da resolução que você esteja utilizando, 1080p ou em 4k, o serviço feito foi de primeira qualidade. Vale salientar também o cenário do mundo aberto. Todos os detalhes dos prédios, construções, lojas, pedestres e ruas foram refeitos da melhor forma possível. Outros fatores podem ser muito bem vistos, como o trabalho feito com a iluminação, sombra e reflexos.
Apenas alguns problemas com relação a iluminação aparecem quando você joga em 1080p, ocorrendo geralmente durante uma transição de um lugar escuro para um iluminado, mas nada que atrapalhe a jogatina.
A vivacidade de Lost Haven é intensa, bucólica e estonteante. A representação da década de 1930, quando os Estados Unidos viveu a Grande Depressão, mostra uma cidade com o lado da riqueza e da pobreza. As belezas encontradas em Chinatown e na periferia evidenciam isto.
Sendo assim, o fator de imersão, que tem como acompanhante a bela trama, transforma Mafia Definitive Edition em uma compra obrigatória para os amantes do gênero.
Gameplay: nem tudo são flores
O grande calcanhar de Aquiles do engine utilizado pela Hangar 13 está na jogabilidade. Assim como em Mafia 3, percebemos um sistema travado e pouco responsivo, e mesmo sendo melhor do que o do terceiro título, ainda está longe do ideal.
Diferentemente do jogo clássico, a empresa implementou um recurso de cobertura, que se torna ineficaz frente a inteligência artificial dos inimigos, pois ambos não são congruentes e atrapalham demais no momento de ação.
É fácil perceber os problemas de jogabilidade ao lançar um coquetel Molotov, subir em uma caixa ou no telhado de uma casa. Durante algumas movimentações é possível perceber quebras de frame, que dão uma impressão estranha na otimização do jogo.
A física dos veículos pode ser considerada aceitável. Em diversos momentos, a impressão que temos é de estar sempre dirigindo numa pista molhada. Existe a possibilidade de editar a experiência de pilotagem, deixando mais casual ou mais próxima da simulação. Uma das novidades presentes são as motocicletas. Agora, em vez de dirigir um carro, é possível se aventurar nas ruas de Lost Haven sobre duas rodas.
Para quem gosta do gênero, Mafia: Definitive Edition pode ser considerado, como o seu nome diz, uma obra definitiva. Mesmo com alguns problemas no gameplay e na otimização, o fator imersão, a história e as diversas possibilidades disponíveis ao longo da aventura tornam o game uma obrigatoriedade para os fãs. É como diz o título deste texto e que também corresponde ao primeiro capítulo do jogo: uma proposta irrecusável.
Mafia: Definiteve Edition foi gentilmente cedido pela 2K.
NOTA: 88
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