Usar videogames para ajudar no tratamento de depressão, stress pós-traumático e da solidão que pode surgir como resultado da perda da vida em comunidade. Essas são algumas das missões da Stack Up, uma entidade de caridade que está presente na QuakeCon 2019 e cedeu um pouco de seu tempo para conversar com o Voxel.
Conversei durante o evento com Dan Wise, que explicou como a instituição acredita que games podem ser uma ferramenta de socialização forte, que ajudam pessoas a se aproximar e manter a sanidade mesmo em situações difíceis. A Stack Up trabalha diretamente com membros do exército norte-americano (e com forças aliadas) e veteranos, seja enviando consoles e jogos para regiões onde elas estão estacionadas ou permitindo que eles sejam usados como uma ponte para a criação de comunidades.
Um veterano da guerra do Iraque, Wise contou como, em sua primeira incursão, havia simplesmente muito tempo livre em que não havia muitas opções para passar o tempo ocioso. Com isso, o stress de estar em uma zona de guerra se acumulava, tornando ainda mais tensa uma situação que, por si própria, não é exatamente das mais confortáveis.
Segundo ele, os games surgiram nesse contexto tanto como uma forma de “escapismo saudável”, que permitia lembrar que havia uma vida normal a ser vivida fora de seu contexto, como também de socialização. Através dos jogos eletrônicos, eles e seus companheiros encontravam uma forma adicional de cultivar o companheirismo e o trabalho em equipe, qualidades bastante valorizadas entre os membros do exército.
Foi esse sentimento que ele e seus companheiros da Stack Up, fundada por Stephen Machuga, queriam cultivar. Além de ajudar quem ainda está em serviço, a instituição serve como uma forma de veteranos manterem o sentimento de comunidade que tinham, mesmo quando voltam para casa e estão fisicamente distantes de seus antigos companheiros.
Trabalho essencial
A Stack Up também busca formas de ajudar pessoas a lidar com assuntos graves como depressão e stress pós-traumáticos, usando sua rede de contatos para tentar prevenir suicídios que, infelizmente, são comuns entre veteranos. Wise deixou claro que a instituição em si não tem capacidades terapêuticas próprias, mas atua como uma “ponte” com profissionais que podem dar a ajuda que seus membros precisam.
Além de oferecer jogos e consoles, a caridade também organiza viagens para eventos ao redor do mundo como a PAX e a QuakeCon. A intenção é dar a muitas pessoas a oportunidade de visitar lugares que, de outra forma, eles não teriam a oportunidade de conhecer, seja por falta de oportunidade ou do dinheiro necessário para isso.
Geekwire
Em última instância, embora o foco da Stack Up sejam pessoas que passaram por instituições e treinamentos militares, seu objetivo tem um caráter bastante universal. Seus membros veem nos games algo que nem sempre é claro: mais do que ferramentas de diversão e escapismo, eles também podem ser a base para a formação de comunidades e relacionamentos que vão muito além do que está acontecendo na tela.
Wise explicou que, embora o foco da entidade seja oferecer experiências multiplayer para os jogadores, ela também leva em consideração os gostos pessoais de quem ajuda. Isso significa que aqueles que preferem um bom RPG com uma história densa terão ajuda para conseguir esse tipo de experiência – a intenção não é “impor ajuda”, mas sim usar os games como um caminho de encontrar e manter dignidade e estabilidade na vida como um todo.
A força da comunidade
Além da Stack Up, a QuakeCon 2019 também contou com a presença de caridades que usam games para ajudar no tratamento de câncer e para ajudar a encontrar lares para animais de rua. Durante o evento, também há barracas de coleta de sangue em funcionamento constante, incentivando a comunidade de jogadores a mostrar sua união e disposição de ajudar a qualquer pessoa.
Iniciativas como essa mostram que, muito além de servir como um meio de diversão, jogos eletrônicos também têm o poder de criar comunidades fortes e eliminar diferenças, tudo isso através do compartilhamento de gostos em comum. Diante disso, é até difícil acreditar que ainda exista quem pensa que o meio é causador de violência e de isolamento social, algo que, infelizmente, ainda é muito forte no senso comum.
O Voxel viajou à QuakeCon 2019 a convite da Bethesda
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