Durante a BGS 2019 o Voxel teve a oportunidade de conversar com John Romero, e o crunch (termo da indústria de games para quando as pessoas trabalham de forma intensa por horas além do limite) foi um dos assuntos discutidos com o veterano da área, co-criador de Doom.
Apesar do crunch ser geralmente associado a longas horas de trabalho, Romero diz que basta você sentir que está sendo forçado a trabalhar em um projeto para que isso seja crunch, sejam horas ou minutos. “Se alguém tem que te dizer para ficar no trabalho, você entrou em modo crunch”, completa.
Romero leva em conta o contexto do trabalho e considera que nem sempre ficar até tarde é crunch – muitas vezes o desenvolvedor fica até mais tarde voluntariamente para terminar algo que ficou pendente: “Isso não é crunch porque eles estão motivados a fazer isso e sabem que na próxima vez devem prever mais tempo para aquela atividade”. Na sua empresa, Romero Games, ele diz que cada funcionário faz o seu próprio planejamento e todos lidam juntos com os imprevistos.
Mas, e quando os imprevistos são tantos que reduzem drasticamente o tempo disponível para o desenvolvimento? Para Romero, se não for possível adiar o game (ou conseguir um orçamento maior), o jogo é que deve ser adaptado ao novo prazo “você não obriga as pessoas a fazerem crunch, isso é horrível”.
Um caso recente de uma adaptação do tipo foi, coincidentemente, com Doom Eternal. Marcado para novembro deste ano, a id Software adiou o lançamento do jogo para março de 2020 e anunciou que o modo “Invasão”, previsto inicialmente para o lançamento, será adicionado ao jogo em uma data futura. Muitas pessoas elogiaram a atitude, entendendo que foi tomada não só para melhorar o game, mas também para que as pessoas envolvidas com o projeto tivessem mais tempo para isso.
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Mas não pense que Romero é contra trabalho duro. Para ele, a paixão por fazer coisas que ninguém nunca viu requer muito trabalho duro e noites sem dormir, mas ele não entende isso como crunch, desde que a pessoa esteja fazendo por vontade própria. “Algumas pessoas não querem fazer isso, porque não é algo na qual estão interessadas. Mas outras são sonhadoras, inventoras e querem ver as coisas acontecerem. E isso exige uma porrada de esforço para acontecer”.