Não é exagero dizer que Resident Evil 4 serviu de alicerce para dezenas de jogos de quinze anos pra cá, e muito menos é exagero concluir que o jogo revolucionou não só a franquia de zumbis mais famosa de todos os tempos, mas também a indústria dos games no geral. Em janeiro de 2005, o Game Cube recebia um jogo que, para sempre, mudaria o curso da indústria.
O quarto título da saga Resident Evil completou singelos quinze anos na semana passada e neste artigo vamos fazer uma pequena viagem no tempo para exaltar o tamanho da importância deste game que, mesmo no ano de lançamento de jogos aclamados como God of War, Kingdom Hearts II e Shadow of The Colossus, não perdeu o brilho e conquistou seu espaço.
Um marco na industria: moderno e inovador
Se Leon é um dos personagens mais populares da franquia hoje em dia, pode ter certeza que foi por "culpa" de Resident Evil 4. O novato -- que em Resident Evil 2 estava em seu primeiro dia de trabalho na caótica Racoon City tomada por zumbis -- agora era um agente de elite do governo americano e obedecia ordens diretas do presidente dos Estados Unidos. A missão de Leon aqui era resgatar a filha do presidente, Ashley Graham, que foi sequestrada por uma seita religiosa.
O jogo é ambientado na Espanha, em uma espécie de vila medieval cheia de ganados, nome dado aos hospedeiros do "Las Plagas", vírus que transformou estas pessoas em uma espécie de zumbis agressivos, que utilizam de armas e ataques físicos.
Resident Evil 4, além de ter uma lore interessante e recheada de acontecimentos relevantes, tem uma ambientação fantástica, com elementos bem trabalhados em diversos cenários, sendo eles em uma vila rodeada de árvores, dentro de um castelo, ou até mesmo na área industrial de uma ilha abandonada.
Saindo das amarras estabelecidas pela santíssima trindade do PS One, deixando de lado elementos importantíssimos para a franquia até aquele momento, como a movimentação tanque com cenários estáticos e o survival horror, o quarto título da franquia, desenvolvido pelo pai de Resident Evil, Shinji Mikami, adotou diversos elementos que compuseram uma receita de sucesso.
A câmera, antes estática, deu lugar a um novo modelo, conhecido como "over the shoulder" ou "câmera por cima do ombro", como preferirem; hoje em dia é um elemento muito comum nos jogos desta geração, e saiba que Resident Evil 4 foi o principal culpado por isto.
Outro elemento que foi completamente descartado, e inclusive fazia parte da identidade da franquia, foi o gênero survival horror, este que limitava totalmente seus recursos e fazia o jogador sobreviver ao caos de forma inteligente e estratégica. Em Resident Evil 4, o gênero de ação foi predominante, já que agora era possível conseguir recursos através de compras (mercador), quebrando caixas e até mesmo recolhendo dinheiro e munição do corpo abatido de ganados.
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Olha, adotar a ação como elemento predominante no jogo deu o que falar na época e, graças a isso, Resident Evil 4 foi um verdadeiro divisor de águas da franquia, mas de forma geral, foi muito bem recepcionado pela crítica
O sistema de organização de itens também foi o diferencial aqui, e inclusive inspirou os futuros jogos da franquia a adotarem o mesmo sistema. Quem nunca passou no mínimo umas cinco horas organizando a maleta de Leon?
Além de ser o queridinho de muitos fãs da franquia, o quarto título numerado da franquia também se tornou referência para alguns jogos, inclusive da atual geração. Para efeitos de comparação, o novo God of War passou pelo mesmo processo de "readaptação", onde era necessário trocar a identidade de toda a saga, já que a mesma fórmula de sempre já estava começando a dar sinais de saturação. Advinhem qual jogo serviu de base para remodelar a gameplay da nova aventura de Kratos? Acertou quem respondeu Resident Evil 4.
Devil May Cry, o bastardo de Resident Evil 4
Liderado por Hideki Kamiya -- que tem no currículo a direção de Resident Evil 2 -- o primeiro jogo da franquia Devil May Cry deveria ser, nada mais nada menos, que Resident Evil 4. Kamiya e seu grupo, intitulados de “team little devil“, visitaram alguns castelos na Espanha para que pudessem servir como inspiração dos novos cenários do game.
No entanto, o produtor queria fazer um Resident Evil focado totalmente na ação, e estava preparado para utilizar personagens com forças sobre-humanas e tirar cenários pré-renderizados do jogo, focando na câmera dinâmica como forma de proporcionar uma experiência mais aprofundada no hack and slash.
Frente a isso, Kamiya foi orientado por Shinji Mikami a se desligar do projeto, pois acreditava que a ideia de um Resident Evil de ação frenética era uma media drástica e, consequentemente, comprometeria a identidade da franquia, que tinha outra proposta.
Uma vez livre deste padrão, Kamiya sentiu-se mais a vontade para adicionar alguns elementos essenciais que tornaram Devil May Cry um jogo tão diferente dos demais e, assim como Resident Evil 4, conquistou uma legião de fãs ao longo dos anos; além de ser considerado até hoje como o pai de todo o estilo hack and slash, inspirando grandes títulos como God of War e Bayonetta -- esse segundo, do próprio Kamiya.
Para cada estrela no céu, existe uma versão de Resident Evil 4
Resident Evil 4 e Skyrim, da Bethesda, andam num paralelo e já viraram até memes, pelo simples fato de ambos os jogos serem lançados para, absolutamente, QUALQUER video game. Parece exagero, mas o quarto título da série já recebeu versões para mais de dez plataformas. Melhor mostrar do que falar, então vamos para as versões:
Biohazard 4 (japonês) e Resident Evil 4 PAL (europeu)
A versão japonesa do game censurava a animação da decaptação de Leon pelo Dr. Salvador (ou homem da serra elétrica) e trocou o nome do mini-game de "Assignment Ada" por "Ada The Spy". Já a versão européia veio com modo easy e algumas armas mais fortes em todos os níveis de dificuldade, fora que a versão alemã do game foi fortemente censurada.
PlayStation 2, 3 e 4
Lançado dois anos após sair no Game Cube, a versão de PS2 teve quedas drásticas nos gráficos, mas em compensação trazia o mini-game "Separate Ways" -- que contava a aventura de Ada em paralelo com a de Leon --, duas armas diferentes (uma shotgun e um lança flechas explosivo), roupas alternativas para Ashley e Leon, e a arma P.R.L. 412, a famosa "arma laser", que matava qualquer inimigo com apenas um tiro.
Anos depois a mesma versão foi lançada para PlayStation 3 / 4 e Xbox 360 / One, através de um remaster, com mudanças significativas apenas para o visual repaginado e o sistema de troféus.
Vale ressaltar que esta versão de PlayStation 2 foi a responsável pela saída de Mikami da Capcom, já que o produtor foi pressionado pela empresa a lançar o game para outros consoles, coisa que se recusou a fazer desde o lançamento para o Game Cube.
PC e Ultimate HD
Esta versão foi recepcionada da pior forma possível pelos jogadores, apesar de ser a mesma lançada no PlayStation 2. Publicado na plataforma pela Ubisoft, o port tinha diversos problemas, dentre eles péssimas qualidades gráficas e sem suporte ao mouse. Felizmente, o port foi corrigido através de um patch.
A ultimate HD é considerada a versão definitiva de todas as plataformas, já que possui um visual digno de jogo da atual geração, rodando à 60 fps e bem minimalista, com cada detalhe trabalhado. Na Europa esta versão ganhou edição física.
Nintendo Wii e Switch
O grande diferencial aqui era a bela combinação que o controle do Wii (wiimote + nunchuck) proporcionava, já que era possível comprar até suporte de arma para adaptar os controles. Vale destacar que o laser da arma saiu nesta versão, dando lugar á mira do Wii. Esta versão é a mesma do PS2.
A versão de Switch foi lançada recentemente e o único diferencial que vale o destaque é a portabilidade do console, já que é possível jogar em qualquer lugar que você for.
IOS e Zeebo
Resident Evil 4 virou meme na indústria justamente por ter sido lançados para plataformas totalmente aleatórias. Para IOS, apesar de o jogo ser adaptado da forma mais simples possível, foi uma boa ferramenta para testar o poder de alguns celulares da época, já que a onda de smarthphones estava começando a dar seus primeiros passos.
Para quem não conhece, Zeebo foi o primeiro console totalmente brasileiro, e também recebeu uma versão de Resident Evil 4. Foi praticamente o mesmo port de IOS, não tinha cutscenes, trilha sonora, e foi tão censurado que os ganados ficaram azuis.
Resident Evil 3.5
Este não foi exatamente uma versão do game, e sim um protótipo, uma espécie de modelo alpha, que veio a ser descartardo mais tarde. Nesta versão, o terror sobrenatural era predominante e Leon tinha que lidar com entidades que apareciam por conta de suas alucinações. O inimigo, que tinha um gancho na mão, agia de forma parecida com a de Nemesis, e o perseguia durante toda a gameplay.
O game tinha um visual incrível e uma ambientação bem dark, mas foi descartado por ser "sobrenatural demais", desviando muito do padrão Resident Evil. Confira a gameplay desta versão:
Legado para a franquia
Em termos técnicos, Resident Evil 4 inspirou muitos games ao longo dos anos e foi um marco para a franquia. Resident Evil 5 e 6 foram lançados com a mesma premissa, mas claramente aprimorados. No quinto título, o grande feito foi a possibilidade de jogar em co-op, com dois jogadores jogando em casa ou online, e era muito divertido. Já em RE 6 a grande diferença (e obrigação) era poder andar e atirar ao mesmo tempo, além de um novo sistema que possibilitava o personagem correr mais rápido.
Na série revelations, pequenas faíscas do gênero de survival horror começaram a surgir novamente, até que em Resident Evil 2 Remake tivemos o melhor dos dois mundos: o survival horror em sua mais pura essência e a câmera over the shoulder, que havia revolucionado a franquia em outrora. Em Resident Evil 7 a premissa foi outra, já que havia abraçado totalmente o terror com o sinistro jump scare, mas isso é papo para outro artigo.
É, amigos, há aproximadamente quinze anos atrás você chegava da escola e ia correndo ligar o seu "play 2" para jogar Resident Evil 4 naquela TV de tubo de 29 polegadas da sua avó, que vivia dizendo que "video game estraga a TV". O tempo passa, não?
Qual foi o seu primeiro contato com Resident Evil 4? Conte pra gente como que foi essa experiência na sessão de comentários abaixo.
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