A franquia Call of Duty é um enorme sucesso dos video games, com títulos que saem todos os anos e vendem milhões de cópias. No entanto, as edições mais recentes de jogos da série têm investido em cenários cada vez mais futuristas, uma abordagem que já começa a mostrar sinais de desgaste entre os fãs. Segundo um dos criadores do jogo e ex-membro da Infinity Ward, Chance Glasco, essa não é a decisão que ele sugeriria se ainda estivesse no estúdio.
Durante sua palestra na Campus Party, ele contou um pouco sobre o começo de sua carreira, falando sobre seu primeiro trabalho na indústria de games, em Medal of Honor: Allied Assault, onde atuou fazendo algumas animações. Por conta de suas desavenças com a chefia, parte da equipe da desenvolvedora 2015, incluindo Glasco, resolveu sair da empresa para fundar a Infinity Ward. O objetivo era fazer jogos como os que faziam até então, mas sem “cometer os mesmos erros”.
Trabalhamos na Segunda Guerra por mais tempo do que ela durou no mundo real. Ficamos cheios disso
O resultado disso foi a criação de Call of Duty, que teve vendas lentas nas suas primeiras semanas, mas logo se tornou um enorme sucesso com a sua visão da Segunda Guerra Mundial. Depois de três títulos focados nessa época histórica, no entanto, a equipe já estava se cansando do tema. “Trabalhamos na Segunda Guerra por mais tempo do que ela durou no mundo real. Ficamos cheios disso”, disse Glasco.
O problema para mudar de caminho estava no fato de que, satisfeita com os números que a série vinha alcançando, a Activision não queria autorizar um Call of Duty situado em outra época. Foi então que o time da Infinity Ward se reuniu e, secretamente, trabalhou por dois meses sem permitir que representantes da publisher entrassem em seu escritório. O resultado foi um protótipo de CoD 4: Modern Warfare, que acabou se tornando outro grande sucesso e que Glasco define como “o projeto favorito em que já trabalhei”.
Call of Duty: Modern Warfare foi o projeto favorito de Glasco
Caminhos não explorados
Alguns anos depois, após o lançamento de Call of Duty: Ghosts, Chance sentia o peso do longo período em que passou atuando na franquia e, com um interesse crescente por realidade virtual, resolveu sair da Infinity Ward. “Você é um jornalista, então imagine como seria se você passasse 12 anos escrevendo sobre capivaras. Enjoaria, certo? Não iria mais querer fazer isso”, brincou durante uma entrevista exclusiva concedida ao TecMundo.
Ainda assim, antes de sair da empresa, Glasco chegou a participar de algumas reuniões de brainstorm para os CoDs que seriam feitos depois de Ghosts. Questionado se, agora que o público começou a demonstrar cansaço com relação à temática futurista adotada na franquia, não seria uma boa ideia seguir a deixa de Battlefield 1 e voltar para épocas mais antigas, ele deu uma resposta inesperada: “as minhas propostas para os jogos [após Ghosts] sempre iam na linha de fazer um Call of Duty jurássico com dinossauros”, disse.
O CoD "jurássico" de Glasco seria como uma versão FPS de Horizon: Zero Dawn, "só que muito melhor"
“Imagine brontossauros e pterodátilos gigantes com armaduras varrendo os campos de batalha e matando as pessoas. São coisas malucas, mas as pessoas iam curtir, ‘finalmente tem algo diferente, posso andar em um pterodátilo!’”, explicou. Questionado se sua ideia seria como um tipo de Horizon: Zero Dawn na forma de jogo de tiro em primeira pessoa, ele foi categórico: “sim, só que muito melhor! Com dinossauros mais maneiros, explosões, raios laser e coisas do tipo”.
Seguindo a deixa, perguntamos:
– Se você tivesse a chance de fazer esse Call of Duty que descreveu agora, usando a realidade virtual, aceitaria?
“No momento, não. Talvez em alguns anos, se eu achar que é o trabalho certo, mas, no ponto atual da minha carreira e vida, estou feliz tendo minha própria companhia. Eu tenho bastante certeza de que vou trabalhar em algum game VR no futuro, mas agora há um grande mercado vazio e muitas necessidades que precisam ser resolvidas, e acho que o que estamos fazendo agora é uma das mais óbvias”, explicou.
Chance Glasco também falou com o TecMundo sobre sua nova empresa, a Doghead Simulations
Com a cabeça nos negócios
Atualmente, Glasco se uniu a Elbert Perez, que atuou no projeto do HTC Vive, e a Mat Chacon, que já trabalhou em quatro companhias bem-sucedidas de software, para fundar a Doghead Simulations. A companhia atua no desenvolvimento de uma plataforma de conferências por meio da realidade virtual chamada Rumii, permitindo que pessoas em qualquer lugar do mundo possam participar de reuniões em um espaço comum mesmo sem sair de onde estão.
Questionado sobre o que o levou a decidir trabalhar com uma ferramenta de negócios, e não com um jogo, Glasco ressaltou que a tecnologia VR ainda está em seus estágios iniciais e que já há uma enorme quantidade de experiências de entretenimento em realidade virtual. Ainda assim, a base instalada de dispositivos faz com que pouco dinheiro seja investido nesse mercado.
O Rumii é uma ferramenta de conferência via VR na qual a empresa de Glasco está trabalhando
“Então pensamos: e se pudéssemos fazer algo que realmente ajude a aumentar a base instalada? Por que não fazer algo que vai permitir que as pessoas economizem milhares de dólares, dando a elas um motivo para comprar um HTC Vive, um Oculus ou um Pixel XL? Fez sentido para nós, já que agora podemos conseguir investidores para empreendimentos, com um bom orçamento”, explicou.
Segundo Glasco, as videoconferências atuais são um problema por uma série de fatores, que vão desde a distração dos participantes até a dificuldade de comunicação gerada pela ausência da linguagem corporal. “Com o VR, finalmente podemos combinar o melhor de reuniões presenciais com o melhor do trabalho remoto, colocando tudo em um lugar só. O Vive rastreia sua cabeça e suas mãos, é uma experiência muito mais natural para pessoas de todas as idades”, afirmou.