Manifestos ressaltam precariedade de redes móveis no Brasil [opinião]
Durante os últimos dias, o Brasil inteiro viu a população tomando as ruas para reivindicar uma série de melhorias no país. São diversos protestos fazendo parte de um só, pois há os que pedem o fim da corrupção, os que pedem melhorias nos políticas públicas e os que querem o fim de algumas outras políticas públicas — apenas para citar alguns poucos exemplos do que é pedido.
Mas independente das causas defendidas, nessa “era digital” é muito comum que as pessoas queiram compartilhar o que está acontecendo nas ruas. E é aí que começa a revelação da precariedade das redes móveis disponíveis no Brasil. Tornou-se praticamente impossível realizar qualquer tipo de compartilhamento de fotografias, textos ou qualquer outro tipo de dados durante as manifestações.
“Você veio protestar ou tirar foto para o Instagram?”
Algo raro é um texto do Tecmundo ser escrito em primeira pessoa, mas, como se trata de um relato, essa é a melhor saída. Durante a manifestação em Curitiba, fui surpreendido pela falta de sinal de telefonia celular em meio à multidão. Estima-se que 10 mil pessoas estivessem na mesma região que eu e tenho certeza de que não era o único a ter problemas constantes de instabilidade.
Manifestantes reunidos em Curitiba (Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)
E não estou culpando uma operadora, pois há relatos de pessoas com celulares das quatro operadoras que trabalham aqui (Vivo, TIM, Claro e Oi) e que também sofriam para conseguir enviar um único SMS. O protesto era pacífico e a maior parte das pessoas só queria enviar fotografias do que estava acontecendo ou mesmo localizar amigos que pudessem ter se perdido dos grupos dos quais fazem parte.
Repetindo: “o protesto era pacífico”. Repito isso para que fique claro que não havia uma grande quantidade de informações sendo trocadas de maneira urgente. Mas em outras ocasiões isso poderia ser um problema realmente grande. Ao menor sinal de confusão, a correria poderia gerar o desencontro de grupos inteiros. Pânico? Provavelmente sim.
E como encontrar uma pessoa em meio a 10 mil outras — ou 100 mil, como foi o caso da manifestação do Rio de Janeiro —, quando todos correm em busca de um local seguro? A primeira saída seria a utilização dos celulares, mas o congestionamento das redes acontece de uma maneira muito rápida. E isso não vale apenas para Curitiba, pois há informações de congestionamentos também em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Não é só a internet que cai
Além do sinal da internet, também há outros serviços que ficam indisponíveis. Para que fosse possível enviar uma mensagem de texto e localizar alguns amigos, era necessário tentar três ou quatro vezes o envio, até que a rede encontrasse um espaço para realizar o upload dos dados. Telefonar não era uma possibilidade, tamanhas as quedas no sinal.
Por causa das constantes alterações na disponibilidade de rede, os smartphones eram obrigados a buscarem acesso repetidas vezes, o que também causou um gasto excessivo das baterias dos aparelhos das pessoas que estavam na manifestação.
A origem do problema
Infraestrutura é a palavra que mais assusta os consumidores de redes móveis. Todos os meses, os milhões de donos de smartphones espalhados pelo Brasil pagam suas faturas e esperam qualidade no sinal. Isso é algo raro, pois nenhuma operadora consegue acompanhar o crescimento de seus mercados. Isso mesmo, o número de clientes aumenta muito mais rápido do que a capacidade das empresas de telefonia.
Quando essas pessoas acabam em algum tipo de aglomeração, temos como resultado isso que acabamos de relatar. Milhares de pessoas reunidas realizando requisições constantes às operadoras acabam gerando instabilidades na distribuição das antenas e consequente queda nos sinais. Resumindo: a infraestrutura das redes 3G brasileiras não suporta grandes aglomerações.
Outros casos similares
Grandes shows e estádios de futebol. Esses são dois exemplos que merecem ser citados. Os dois são responsáveis por acúmulos de pessoas e também podem causar instabilidades nas redes móveis. A grande diferença é que as requisições são menos frequentes, uma vez que as atenções podem ser concentradas em uma apresentação ou jogo e os uploads não precisam ser constantes — poucas pessoas precisam deixar a família tranquila em um jogo, por exemplo.
(Fonte da imagem: Baixaki/Tecmundo)
Por outro lado, qualquer pessoa que já tenha ido a um grande show (e que tenha precisado encontrar pessoas ao término das apresentações) sabe como é difícil utilizar os celulares. Ligar para algum amigo, enviar mensagens, acessar a internet ou chamar táxis — todas essas são tarefas complicadas para quem está em meio a uma aglomeração pacífica. Lembrando que qualquer confusão pode fazer tudo piorar por causa do aumento nas requisições.